quarta-feira, 30 de abril de 2014

Selo assírio de Sargão II é encontrado em Israel

Alto-relevo representando Sargão II da Assíria
A Assíria foi o segundo grande império que a humanidade conheceu, depois do Egito. 

A bem da verdade, houve duas fases bastante distintas do Império Assírio: a primeira, do século XX ao século XV antes de Cristo, em que a capital era Assur; e o Império Neo-Assírio, entre os séculos X e VII a. C., em que a capital mais conhecida foi Nínive, com um longo declínio de seu poderio entre os dois períodos.

Nínive foi a maior cidade do mundo no seu tempo, local da pregação do profeta Jonas, e os assírios eram particularmente conhecidos pela crueldade com que travavam suas guerras e pelo tratamento impiedoso com que castigavam os povos conquistados.

Situada na Mesopotâmia, a Assíria foi o grande terror dos israelitas durante boa parte do relato bíblico do Velho Testamento, mais especificamente nos livros de II Reis, II Crônicas e do profeta Isaías. Este grande profeta registrou (cap. 20, v. 1):
No ano em que Tartã, enviado por Sargão, rei da Assíria, veio a Asdode, e guerreou contra Asdode, e a tomou;
O rei assírio a que Isaías se refere é Sargão II, que reinou de 721 a 705 a.C., grande conquistador dos povos vizinhos, entre os quais o reino do Norte, conhecido como Israel, pelo que foi responsável pela primeira diáspora judaica, levando-os cativos e dispersando-os entre as nações que ele havia subjugado.

Seu filho, Senaqueribe (705 a 681 a.C.) aumentou ainda mais o poder da Assíria, e invadiu o reino hebreu do Sul, mais conhecido como Judá, tendo chegado às portas de Jerusalém (2ª Reis caps. 18 e 19), de onde retornou sem invadir a cidade sagrada em razão da intervenção milagrosa de um anjo que, numa só noite, matou 185 mil de seus soldados (2ª Reis 19:35-36).

Esse contexto histórico faz com que se receba com enorme surpresa a notícia veiculada pelo jornal israelense Ha'aretz ontem, 29 de abril de 2014, de que um selo da época de Sargão II foi encontrado em Israel.

Não há maiores especificações sobre o local e em que circunstâncias se deu o achado, mas o selo está sendo examinado pela professora Ziona Grossmark, da Universidade de Tel-Hai, em conjunto com o pesquisador Baruch Brendl, da Autoridade Israelense de Antiguidades.

Segundo a professora Grossmark, "o selo mostra uma batalha entre uma figura alada e um touro apoiado em suas patas traseiras", acrescentando que "uma pesquisa comparativa nos permite datá-lo no tempo de Sargão II" e que "aparentemente, o selo foi trazido a Israel por um de seus súditos. O que aconteceu com o selo depois disso permanece um mistério, mas selos antigos como este são muito raros - apenas alguns dessa natureza têm sido encontrados em ruínas do período romano, a maioria em sepulturas e templos".

Como sempre alertamos aqui no blog, quando se trata de achados arqueológicos dos tempos bíblicos, é melhor esperar maiores detalhes que possam ser analisados por investigadores independentes, a fim de se ter certeza da autenticidade da descoberta, mas, a se confirmar sua veracidade, teremos mais um objeto que emerge das milenares areias do Oriente Médio para confirmar os escritos do Velho Testamento.



terça-feira, 29 de abril de 2014

"Cinderelas" modernas fazem plástica nos pés para calçar sapatos de grife


Pois é, o consumismo e psiquiatria estão cada dia mais próximos, segundo a matéria da Marie Claire:

Médico se especializa em cirurgia nos pés para sapato de grife calçar melhor

Procedimento estético que muda o formato e o tamanho do pé se populariza nos EUA. Pacientes levam o sapato que querem usar após operação ao cirurgião

O conto de fadas de Cinderela poderia não ter um final feliz, se dependesse de uma nova moda em cirurgias plásticas. Segundo reportagem do jornal "The New York Times", operações para deixar os pés mais bonitos e fazê-los calçarem melhor sapatos de grife estão se popularizando nos EUA. O foco sobretudo são os dedos dos pés.

Há até nomes para os procedimentos: Perfect 10 para encurtar os dedos; Model T para crescer os dedos; e o mais radical de todos, Cinderela, no qual o pé é remodelado para o formato de um sapato que se deseja usar. Nesse caso, as irmãs invejosas não teriam problema algum para fazer o sapatinho perdido entrar em seus pés.

Os termos foram criados por Ali Sadrieh, médico de Beverly Hills, que há 13 anos deu início a uma clínica especializada em pés. Não se trata apenas de corrigir joanetes ou deformidades reais, suas pacientes querem caber em saltos de estilistas famosos.

No início, Sadrieh até achou um excesso de vaidade as pacientes que pediam para se submeter a cirurgias porque seus pés doiam ao usar sapatos de grife. Mas acabou mudando de ideia.

"As pacientes me traziam os sapatos que elas sonhavam em usar", contou ao jornal. "A princípio, parece algo superficial, mas percebi que esses sapatos são armas para se ter maior confiança, eles são parte da pele dessas mulheres. Isso é o mundo real", argumenta.



segunda-feira, 28 de abril de 2014

Papa Francisco e o enigma do jogo de poder no Vaticano


Artigo publicado no IHU:

Pôquer papal. Artigo de Massimo Faggioli


A expressão "pôquer papal" revela, de modo inconsciente, todo o risco a que a Igreja vai ao encontro com a decisão da canonização dos dois papas, que identifica cada vez mais a forma moderna do catolicismo com o seu ícone planetário, o papado. 

A opinião é do historiador italiano Massimo Faggioli, professor de história do cristianismo da University of St. Thomas, em Minnesota, nos EUA. O artigo foi publicado no jornal Europa, 26-04-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto. 

Eis o texto.


A expressão "pôquer papal" para definir a liturgia do dia 27 abril de 2014 descreve a cena de quatro papas: dois papas vivos (o reinante Francisco e o emérito Joseph Ratzinger) na canonização de dois papas antecessores seus (João XXIII e João Paulo II) – antecessores cronologicamente muito próximos, se não seus contemporâneos.

Mas a expressão "pôquer papal" revela, de modo inconsciente, todo o risco a que a Igreja vai ao encontro com essa decisão, que identifica cada vez mais a forma moderna do catolicismo com o seu ícone planetário, o papado.

É um risco do qual se fará a soma no longo prazo, como sempre acontece com aquilo que diz respeito ao catolicismo.

É um risco a partir de diferentes pontos de vista. Do ponto de vista do equilíbrio dos diversos elementos que fazem do catolicismo o que ele é há séculos: uma Igreja universal e local; uma Igreja fortemente regulada pelo ponto de vista jurídico, mas aberta ao dinamismo da experiência humana; uma Igreja de forte sistema cultural, mas também inculturada de muitas maneiras diferentes.

A elevação do papado à santidade (quase todos os papas do século XX estão a caminho da beatificação) representa, do ponto de vista da história do catolicismo, um elemento recente, que inicia entre Pio X e Pio XII, na primeira metade do século XX e acelera durante João Paulo II.

Não está claro se a canonização do grande investidor na "fábrica de santos", João Paulo II, significa um encerramento a essa fase, ou uma nova aceleração, que, neste ponto, só pode se estender para trás e sem poder evitar decisões cruciais sobre casos particularmente delicados (como o de Pio XII).

É um risco até porque, se ninguém duvida da santidade pessoal de João XXIII e de João Paulo II, é evidente que as características da sua fama de santidade são diferentes. Boa parte dos católicos que vão assistir à cerimônia do dia 27 de abril de 2014 verão em um papa, mas não no outro, a consagração de uma certa visão e experiência de Igreja.

Só poucos católicos conseguirão ver, naturaliter, sem uma operação intelectual e espiritual isenta de esforços, em Roncalli e em Wojtyla uma herança unitária.

Roncalli é o papa que abriu o Concílio Vaticano II, surpreendendo todos pela decisão e pela direção dada ao debate. Wojtyla é o papa que assumiu o Vaticano II, apropriando-se do poder de encerrar algumas questões que o Concílio tinha recém-aberto (sexualidade e contracepção), de declarar resolvidas questões que o Concílio nunca havia abordado (o papel da mulher na Igreja), mas também de ir além do ditado textual do Concílio sobre algumas questões que literalmente salvaram a Igreja do "choque de civilizações" (relação com o judaísmo e diálogo inter-religioso).

Diferentes são as memórias dos dois papas, até porque de Roncalli sabemos muito graças aos estudos históricos dedicados a ele (especialmente na Itália e em Bolonha) nos últimos 30 anos, enquanto do outro sabemos relativamente pouco – não apesar, mas justamente graças à midiatização do papado.

Sobre o longuíssimo pontificado de João Paulo II e sobre a adequação de algumas de suas decisões (sejam teológicas, sejam disciplinares, como para a teologia da libertação e os Legionários de Cristo) por um longo tempo pesará uma sombra de incerteza.

O pôquer papal é um risco, enfim, também para o pontificado de Francisco, que é uma mistura particular e totalmente original de modelos diferentes de papado. Francisco mostrou compreender os riscos inerentes a um papado superdimensionado, em que a autoridade adquirida pelo bispo de Roma funciona necessariamente por subtração de todas as outras autoridades institucionais intermediárias, mas, no fim, funciona também por obscurecimento, esquecimento e relativização do acesso às verdadeiras fontes da vida cristã, a Bíblia e os sacramentos.

Em abril de nove anos atrás, na morte de João Paulo II, parecia que a Igreja não podia não se dizer wojtyliana. Desde então, muitas coisas aconteceram: o primeiro desmentidor do wojtylismo não foi o Papa Francisco (independentemente do que digam os nostálgicos e os amigos do jornal Il Foglio), mas justamente Bento XVI.

A dupla canonização de João XXIII e João Paulo II representa, naquela cena do sagrado e do império que é Roma, uma espécie de balanço público, mas inconsciente, de um cinquentenário de história da Igreja, aquele foi aberto pelo Concílio Vaticano II.

João Paulo II é o papa que fez mais santos e bem-aventurados de todos, graças à "fábrica de santos". A grandíssima parte deles não "são" mais santos, mas "foram" santos: consumados e esquecidos. Resta ver se a memória de João Paulo II e João XXIII permanecerá ligada (como a de quase todos os outros santos) a uma nação, a uma geração, a uma ordem religiosa particular e a uma tradição espiritual, ou se se tornará algo diferente. Na roleta da Praça de São Pedro, o catolicismo fez a sua aposta.





Seu queixo cairá ao ver o que essa senhora de 80 anos de idade faz

Sarah Paddy Jones nasceu em Stourbridge, Inglaterra, no dia 1º de julho de 1934. Completará 80 anos de idade, portanto, daqui a dois meses.

No dia 12 de abril de 2014, Paddy participou do programa "Britain's Got Talent", da TV britânica, ao lado de Nicolás Espinosa (Nico), seu parceiro de dança, que havia conhecido em Gandia, na Espanha, onde morou por muito tempo depois que seu marido morreu de leucemia.

Foi após a morte de seu companheiro de toda uma vida que Paddy decidiu se inscrever na academia de flamenco de Nico, e daí saiu uma relação artística das mais impressionantes.

Os dois ganharam 100 mil euros ao vencer em 2009 o programa "Tú Sí Que Vales" da TV espanhola, e deram uma esticadinha até a América do Sul para participar do programa "Bailando 2010", versão argentina do "Dancing With The Stars".

Na edição britânica deste mês, após a dose de sarcasmo que lhe é característica, o rigoroso jurado Simon Cowell se deixou enganar pelo entediante tango com que Paddy e Nico propositalmente iniciaram sua rotina e - afoito - pressionou o botão vermelho de eliminação.

Diante do espanto geral que se viu a seguir, a jurada Amanda Holden não teve qualquer dúvida e apertou o botão dourado a que tem direito para enviar os concorrentes direto à semifinal, sem necessidade de votação.

A Simon Cowell não restou outra coisa senão pedir desculpas pelo seu (péssimo) juízo apressado.

Alertamos: não tente fazer em casa o que essa senhora de 80 anos faz, mesmo que você esteja na flor da sua juventude. O resultado poderá ser fatal!

Confira no vídeo abaixo:





domingo, 27 de abril de 2014

Com canonização de antecessores, papa tenta conciliar duas visões de igreja


Matéria publicada no Yahoo Notícias:

Dupla canonização de João Paulo II e João XXIII: um golpe de mestre de Francisco

Kelly Velásquez

A dupla canonização de João Paulo II e João XXIII é um golpe de mestre do Papa Francisco para reconciliar duas visões da Igreja e balancear o culto à personalidade suscitada pelo conservador e carismático pontífice polonês.

Elevar à glória dos altares em uma única cerimônia no dia 27 de abril na Praça de São Pedro o carismático e conservador João Paulo II (1978-2005), primeiro Papa não italiano em mais de quatro séculos, e João XXIII (1958-63), que abriu a Igreja à pluralidade do mundo moderno, gerou tanto elogios quanto críticas.

A decisão de canonizar João XXIII (Angelo Giusepe Roncalli) sem comprovação de milagres não é tomada com frequência, mas corresponde a uma prerrogativa do chefe da Igreja Católica, que quis, assim, valorizar o exemplo do chamado "Papa Bom", autor da encíclica "Pacem in terris", e equilibra de certa forma a veneração provocada pelo polonês Karol Wojtyla.

"Francisco quis santificar alguém que considera realmente um santo", embora não seja atribuído a ele nenhum milagre específico, sustenta o vaticanista do jornal La Stampa Marco Tosatti, ao se referir ao Papa italiano.

João XXIII entrou para a história como o pontífice que convocou o grande Concílio Vaticano II (1962-1965), que abriu a Igreja ao mundo ao modernizá-la. Foi uma pessoa simples e de bom humor, uma atitude parecida com a mantida atualmente por seu sucessor Francisco, primeiro Papa latino-americano e primeiro jesuíta à frente do Vaticano.

A canonização conjunta mostra, por um lado, a intenção de Francisco de manter o equilíbrio entre duas figuras tão contrastantes quanto "a água e o óleo", afirmou o especialista em assuntos religiosos espanhol Juan Bedoya.

Hostilidade na Igreja polonesa

Esta decisão valeu a Francisco críticas indiretas de uma parte da Igreja polonesa, reduto do catolicismo na Europa, que encara com inquietação o interesse do Papa argentino pelos problemas dos laicos e sua abordagem de questões sociais.

O presidente da conferência episcopal polonesa, Stanislaw Gadecki, reconheceu recentemente que "colocar em prática o estilo do papa Francisco pode ser difícil para nossa Igreja", criticando o estilo direto e pouco protocolar do pontífice que, em 2013, sucedeu o alemão Bento XVI (Joseph Ratzinger), que renunciou ao cargo.

Milhares de poloneses viajarão à Itália com todo o tipo de meios de transporte para assistir à cerimônia solene, embora considerem que será em parte ofuscada pela canonização simultânea do "Papa Bom".

A morte de João Paulo II em abril de 2005 desencadeou o grito espontâneo da multidão reunida na Praça de São Pedro para que fosse declarado "Santo Súbito"

Para o cardeal falecido Carlo Maria Martini, identificado como a cabeça pensante dos setores progressistas da Igreja, não era necessário canonizar João Paulo II, afirma em um livro o fundador da Comunidade de Santo Egídio, Andrea Riccardi.

João Paulo II "já era um homem de Deus, não era necessário torná-lo santo", declarou Martini, que havia questionado a decisão de João Paulo II de não renunciar, apesar de sua grave doença, seguida pelo mundo inteiro dramaticamente ao vivo.

A canonização do primeiro papa polonês da história é realizada em um prazo recorde, embora tenha seguido todos os passos exigidos pela Igreja, entre eles a demonstração, segundo a Igreja, de dois milagres, um deles realizado no dia de sua beatificação, 1º de maio de 2011, com a cura inexplicável da doença de Parkinson de uma mulher da Costa Rica.

Os caminhos da santidade foram muito diferentes para os dois Papas.

"Um era reformista, aberto e bonachão; o outro amava o espetáculo (Karol Wojtyla foi um jovem ator na Polônia) e era intransigente e inimigo do pensamento teológico livre", sustenta Bedoya.

A ideia de uma "Igreja dos pobres", que foi a principal proposta de João XXIII com o Concílio Vaticano II, "foi um caminho que não foi seguido por João Paulo II e Bento XVI", afirma em um artigo o renomado teólogo progressista espanhol Juan José Tamayo.

Francisco, em seu primeiro ano de pontificado, voltou a construir algumas pontes com a Teologia da Libertação, que havia sido marginalizada nos tempos de João Paulo II e Bento XVI.

A dupla canonização convida a apreciar e a venerar dois modelos de religiosos, tanto por seu modo de agir quanto de pensar, apesar da rivalidade histórica entre setores conservadores e progressistas no seio da Igreja.

Ironia da história, no ano 2000 João Paulo II beatificou (passo anterior à canonização) João XXIII junto com Pio IX, que tiveram trajetórias inversas. Enquanto o chamado "Papa Bom" passou de um eclesiástico conservador ao pontífice da abertura, Pio IX (1846-1878), com uma imagem inicial de liberal, se converteu no Papa que rejeitou o modernismo.



sábado, 26 de abril de 2014

Canonização de João Paulo II desperta reações contrárias


A cerimônia de canonização dos papas João XXIII e João Paulo II está prevista para amanhã, 27 de abril de 2014, e tudo indica que será concelebrada pelos papas Bento XVI e Francisco.

Ao que parece, a inédita reunião de dois papas vivos elevando outros dois pontífices já falecidos aos altares quer passar uma imagem de unidade na igreja, mas a BBC Brasil ressalta que subsistem controvérsias no que diz respeito ao papa polonês:

Os católicos que são contra a canonização de João Paulo 2º

Pablo Esparza

Os gritos de Santo Subito (“santo logo”, em tradução livre do italiano) que no dia 8 de abril de 2005 romperam o silêncio solene do funeral de João Paulo 2º terão seu pedido atendido em 27 de abril no mesmo lugar, a Praça de São Pedro do Vaticano, quando Karol Wojtyla será canonizado. Porém, nem todos os cristãos defendem a santidade do papa polonês.

O processo de canonização do pontífice número 264 foi o mais rápido de toda a história moderna, respondendo, do ponto de vista do Vaticano, a uma demanda dos fiéis sobre uma figura extremamente popular e carismática.

Seu funeral se tornou um evento enorme assistido por centenas de milhares de pessoas, entre elas quatro reis, cinco rainhas e 70 presidentes e primeiros-ministros.

No entanto, desde que se iniciou, primeiro a beatificação e em seguida a canonização, surgiram vozes que discordam e pedem mais tempo para esse processo ou que simplesmente seja suspenso.

'Um feito precipitado'

"Nos parece ser um feito precipitado, um processo que não teve tempo suficiente para ser analizado e colocado na balança para entender de forma objetiva o papel que João Paulo 2º desempenhou nas últimas décadas na Igreja", disse o teólogo José Sánchez, do Observatório Eclesial do México, à BBC Mundo.

Esta organização, que se declara de "inspiração cristã ecumênica, mas independente de partidos políticos e de qualquer religião", publicou recentemente um comunicado em que solicitava ao papa Francisco que suspendesse a canonização de João Paulo 2º.

"As razões têm a ver com a realidade que vivemos aqui na América Latina e com como se viveu na América Latina esse pontificado que significou para muitas igrejas um processo de perseguição, de censura, de luta de uma experiência eclesiástica que nasceu em nosso continente a partir das comunidades eclesiais de base e da teologia da libertação", disse Sánchez.

"E nesse sentido também vemos algumas omissões em relação às ditaduras militares na América Latina e que colocam em questão o papel de João Paulo 2º diante de ditadores como Pinochet, ou, em El Salvador, em relação ao caso de Monsenhor Romero, que foi assassinado e não foi homenageado", acrescenta o teólogo.

"Ele foi levado por uma linha da Igreja e deixou de lado outra que também existe, muito mais vinculada com a base, com o social, com o mundo, por assim dizer, com a modernidade", disse à BBC Mundo Raquel Mallavibarrena, membro da Redes Cristianas, um coletivo de que representa grupos cristãos de base na Espanha e que também se manifestou contra a canonização de Wojtyla.

Pederastia

Porém, além das razões ideológicas, aqueles que se opõem à santificação de João Paulo 2º citam um dos capítulos mais polêmicos de seu mandato: os casos de pederastia entre o clero católico.

Na América Latina, sua relação com o fundador dos Legionários de Cristo, o sacerdote mexicano Marcial Maciel, tem para os críticos da canonização um destaque especial.

Maciel, falecido em 2008, acompanhou João Paulo 2º em suas visitas ao México em 1979, 1990 e 1993, e é acusado de ter cometido abusos sexuais contra menores desde a década de 1950.

"Essa relação foi um erro que agora, visto o que se passou, é imcompreensível da forma como ocorreu. Há quem diga que não o informaram bem. Mas é verdadeiramente lamentável como em seu pontificado não pôde parar o desastre que havia entre os Legionários de Cristo. Isso foi uma falha", disse Mallavibarrena.

"Este é um tema sensível. Acreditamos ser um processo de canonização precipitado enquanto não forem determinadas responsabilidades em relação ao conhecimento de João Paulo 2º para estes casos de abuso sexual que foram sistematicamente ocultados da cúria do Vaticano", reforçou Sánchez.

No entanto, apesar da oposição de alguns setores, o pontífice polonês, um viajante incansável, é considerado uma dos papas mais reverenciados pelos católicos. Viajou para a América Latina 24 vezes e suas visitas se tornaram verdadeiros fenômenos de massa.

'Igrejas vazias'

Muitos lembram de seu longo pontificado - de quase 27 anos, o segundo mais extenso da história depois de Pio 9º, que durou mais de 31 anos - como uma época em que a popularidade da Igreja gozou de boa saúde. Mas há quem questione esta imagem das praças repletas de fiéis.

"Era um personagem extremamente popular que atraía milhares de pessoas, disso não há dúvidas. Outra coisa é se, além das aparências, dos grandes estádios de futebol, há algo (...). A responsabilidade de João Paulo 2º em afastar da Igreja números enormes de fiéis na América Latina e Europa é grande", disse à BBC Mundo Jaume Botey, teólogo e professor de História da Cultura da Universidade Autônoma de Barcelona.

Botey, que em 2007 assinou juntamente com outros teólogos um manifesto contra a canonização de João Paulo 2º, responsabiliza Karol Wojtyla pelo "esvaziamento das igrejas pela porta dos fundos". E aponta razões teológicas.

"O paradigma em relação ao modelo de Deus que foi redescoberto durante o Concílio Vaticano 2º, de um Deus próximo, um Deus pessoa e histórico, de um Deus que vem de baixo e se descobre por meio dos acontecimentos da vida, foi destruído por João Paulo 2º que retomou a imagem de um Deus absoluto, arrogante (...). E esta contrarreforma foi destinada ao fracasso desde o começo", diz o teólogo.

É difícil estabelecer a porcentagem de católicos que são contra a santificação de João Paulo 2º.

"A postura crítica sempre foi minoritária na Igreja", reconhece Sánchez, que alegou a necessidade de se ouvir a diversidade de vozes que compõem uma comunidade de mais de 1,1 bilhão de pessoas.

No próximo domingo, o papa Francisco rezará a missa de canonização de João Paulo 2º e João 23º, e espera-se que centenas de milhares de peregrinos assistam ao culto.

Assim, pouco mais de nove anos depois de sua morte, Karol Wojtyla voltará a transformar a praça de São Pedro em um mar de gente.



sexta-feira, 25 de abril de 2014

O estranho caso do juiz que exigia ser chamado de "doutor"

Ainda falta muito, mas parece que o país da turma do "andar de cima" e do povão do "andar de baixo", além do "você sabe com quem está falando?", começou a mudar.

A notícia é do portal Administradores:

STF nega pedido de juiz que exige ser chamado de 'doutor' por porteiros

O processo começou em 2004, após uma briga entre o magistrado e porteiro do prédio onde ele mora

A briga começou em 2004, quando o apartamento do magistrado Antonio Marreiros da Silva Melo Neto, de São Gonçalo (RJ) inundou. Ele afirma que pediu ao porteiro que o ajudasse. Sem a autorização da síndica, o funcionário negou o pedido chamando o juiz de “você” e “cara”. Foi o suficiente para que Marreiros entrasse na justiça para exigir que os funcionários do prédio onde ele mora se dirigissem a ele apenas como “senhor” ou “doutor”, sob pena de multa diária.

Na última terça-feira (22), dez anos depois, o pedido foi negado por Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), que afirmou que precisaria reanalisar as provas do processo, o que não é possível ser feito no Supremo. A decisão ainda cabe recurso à Segunda Turma do Supremo.

Antes de chegar ao STF, em 2004, quando o processo começou, o magistrado obteve uma liminar (decisão provisória) que obrigava os funcionários a chamá-lo de "doutor" e "senhor". No ano seguinte, o juiz de Niterói Alexandre Eduardo Scisinio negou o pedido, entendendo que o termo "doutor" não é pronome de tratamento, mas título acadêmico de quem faz doutorado. "O empregado que se refere ao autor por 'você' pode estar sendo cortez, posto que 'você' não é pronome depreciativo. [...] Na relação social não há ritual litúrgico a ser obedecido. Por isso, se diz que a alternância de 'você' e 'senhor' traduz-se numa questão sociolinguística, de difícil equação num país como o Brasil.

Ao Judiciário não compete decidir sobre a relação de educação, etiqueta, cortesia ou coisas do gênero", escreveu o juiz que analisou o caso na primeira instância. No pedido, Marreiros argumentou que houve desrespeito por parte do funcionário que usou a expressão “fala sério”, “você” e “cara”. Além de pedir para ser tratado por "senhor" ou "doutor", o magistrado queria que o condomínio fosse condenado a pagar indenização por danos morais de 100 salários mínimos (atualmente, o valor seria de R$ 70 mil) pela inundação no apartamento.



quinta-feira, 24 de abril de 2014

Superendividados podem ganhar proteção legal

A notícia é da Agência Brasil:

Proteção aos superendividados pode virar lei

A preocupação com o superendividamento dos brasileiros pode levar à criação de uma lei de proteção ao consumidor. O Projeto de Lei do Senado 283/12, que disciplina a oferta de crédito ao consumidor e previne o superendividamento, pode ser votado no plenário da Casa ainda este mês. O projeto faz parte da reforma do Código de Defesa do Consumidor, que também inclui proposta que regulamenta as compras pela internet.

O projeto prevê a garantia do crédito responsável, a educação financeira e a prevenção e tratamento das situações de superendividamento. Estabelece ainda o conceito do “mínimo existencial” de renda, que deve ser garantido por meio de revisão e repactuação de dívidas. De acordo com o projeto, a soma das parcelas reservadas para pagamento de dívidas não poderá ser superior a 30% da remuneração mensal líquida e, assim, será preservado o “mínimo existencial”.

O projeto também prevê que, a pedido do consumidor, o juiz poderá instaurar processo de repactuação de dívidas, com realização de audiência conciliatória. Nessa audiência, o consumidor apresentará uma proposta de plano de pagamento, com prazo máximo de cinco anos, sempre preservando o mínimo existencial.

A assessora do Procon-SP Vera Remedi considera que o mais preocupante, atualmente, são os consumidores que pagam as contas todos os meses, mas têm endividamento acima da renda. Ela lembra que muitos usam o crédito caro, como rotativo do cartão de crédito e cheque especial para rolar suas dívidas.

“O que mais me preocupa são os superendividados adimplentes. Não existem muitas propostas para renegociar dívidas. As pessoas, às vezes, têm só 20% da renda para o pagamento de despesas básicas de alimentação, transporte e moradia, daí usam cartão de crédito e cheque especial e ficam sem saída. A pessoa assume muitos contratos que não são adequados à sua situação financeira”, explica.

Para Vera, há uma irresponsabilidade na concessão de crédito no país. “Os consumidores cobrem uma dívida com juros muito altos. Ainda contribui para isso a venda casada de seguro, o crédito com troco, as ofertas de crédito por telefone ou caixa eletrônico. Tudo o que é mais fácil, tem juros mais altos. Todas são contrações feitas na base da emoção do consumidor”, ressalta.

O Procon-SP tem um programa para ajudar os superendividados. É o Núcleo de Tratamento do Superendividamento, que atende consumidores insolventes e ajuda na tomada de medidas preventivas e corretivas. Segundo Vera, 2.822 consumidores já foram a palestras sobre o assunto e 1.142 superendividados receberam orientação individualmente.

Pela internet é possível encontrar algumas ferramentas de apoio aos superendividados. O Banco Central, por exemplo, oferece em seu site uma cartilha com orientações sobre como sair do superendividamento. E na página da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o consumidor encontra uma ferramenta para organizar as receitas e despesas, o Jimbo.

Segundo a superintendente de Serviços ao Consumidor da Serasa Experian, Maria Zanforlin, pode ser considerado como superendividado o consumidor que tem mais de quatro dívidas. “Ocorre quando a pessoa fez mais compras do que pode pagar e precisa de crédito”, explica.

“O consumo estimula a economia, mas é preciso haver um consumo consciente. Só comprar o que realmente precisa. A felicidade com uma compra é muito curta”, alerta Maria Zanforlin. Segundo ela, uma boa dica é anotar tudo o que se compra para saber quanto consumiu ao final de um dia.

“No Brasil, a questão do consumo é nova. São 20 anos do Plano Real. Não tivemos educação financeira necessária”, disse.



Papa se irrita com cardeais que moram em coberturas 5 estrelas em Roma

O que tem de "pastor", "bispo" e "apóstolo" "evangélico" da prosperidade que vai gostar dessa notícia não está no gibi...

Parece que cardeais (e bispos, como os de Limburg, na Alemanha, e o de Atlanta, nos EUA) também são chegados numa mansãozinha para chamar de sua, o que tem irritado o cardeal argentino D. Jorge Mario Bergoglio, mais conhecido como papa Francisco.

A matéria publicada no Diário do Centro do Mundo:

O escândalo dos cardeais com coberturas cinco estrelas em Roma

Publicado originalmente no Il Fatto.

O Papa Francisco só soube há dois dias que o ex-secretário de Estado, Tarcisio Bertone, decidira viver em uma megacobertura com um grande terraço. O papa sabe que Bertone não ficou satisfeito com o apartamento comum desde 20 de dezembro do ano passado, quando Marco Lillo, no jornal italiano Il Fatto, publicou a notícia.

Agora, o La Repubblica relata a reação de Bergoglio, irritado com a escolha do ex- secretário de Estado de unir dois apartamentos em um: aquele atribuído a ele, onde antes vivia o ex-chefe da Gendarmeria vaticana, Camillo Cibin, que morreu em 2009; e o de Dom Bruno Bertaglia, vice-presidente do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, que morreu em 2013.

Tamanho da super cobertura: cerca de 600 metros quadrados (segundo o La Repubblica) com 100 metros quadrados de terraço. O apartamento onde Bertone passará a sua aposentadoria está localizado no Palazzo San Carlo, a poucos passos da Domus Sanctae Marthae, onde reside o Papa Francisco, que escolheu um apartamento de dois quartos de 70 metros quadrados.

Aí também vive o secretário de Estado, Pietro Parolin, que se contentou com um simples apartamento de um quarto. E no mesmo edifício também vivem (em apartamentos de dois quartos) os dois secretários de Bergoglio, Mons. Alfred Xuereb e Mons. Fabian Pedacchio Leaniz.

Mas nem todos, incluindo cardeais e altos prelados, fizeram a mesma escolha do papa e dos seus fidelíssimos. Muitos vivem em apartamentos muito maiores do que o de Bergoglio. Entre os imóveis em reforma, por exemplo, está o do chefe da Gendarmeria, Domenico Giani, interceptado pela Procuradoria de Roma enquanto escrevia em papel timbrado aos órgãos italianos de polícia para ajudar Dom Nunzio Scarano (agora em julgamento por ter recebido ilegalmente 20 milhões de euros na Itália) para recuperar 400 mil euros dados ao agente dos serviços secretos GiovanniZito.

Giani, em um primeiro momento, tinha ido morar em uma casa em Aurelia, em território italiano. Alojamento temporário. De fato, estavam terminando a reforma do seu apartamento com vista para a Via di Porta Angelica. Acima do terceiro andar, apareceu de repente um novo andar, com três janelas e duas grandes vidraças, às quais se acrescentam dois banheiros com banheira de hidromassagem e um terraço.

Mas, passeando dentro dos muros vaticanos, há muitos palácios suntuosos, com apartamentos que variam de 200 a 250 metros quadrados. Muitas deles são habitados por cardeais, que não os usam totalmente, deixando muitos quartos completamente fechados. No Palazzo Sant’Ufficio, ao lado da Praça de São Pedro, por exemplo, mora, juntamente com duas irmãs, o cardeal Velasio De Paolis, presidente da Prefeitura dos Assuntos Econômicos da Santa Sé.

O cardeal Giuseppe Bertello, presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, vive no último andar doPalácio do Governatorato. Também nesse caso, é utilizada apenas uma parte da casa. O cardeal Angelo Sodano, por outro lado, vive em um andar do palacete que abriga o Colégio Etíope, atrás de São Pedro, depois de ter que abandonar o apartamento mais suntuoso na primeira Loggia do Palácio Apostólico.

E esses são apenas alguns exemplos. Do lado de fora dos muros vaticanos – sempre em grandes apartamentos de propriedade da Santa Sé – vivem outros altos prelados. No mesmo palácio, na praça da cidade leonina, vivem, por exemplo, o cardeal Walter Kasper, teólogo alemão, e o bispo bávaro Gerhard Ludwig Müller, que teve o privilégio de viver no mesmo apartamento que antes era de Ratzinger e onde ainda se encontra parte da sua biblioteca. Esses exemplos citados são apenas alguns dos imóveis de propriedade do Vaticano.

Não existe uma estimativa pública do valor imobiliário de todos esses palácios. Nos últimos anos, segundo algumas notícias da imprensa, o patrimônio imobiliário disseminado no mundo de propriedade do Vaticano chegava a cerca de 2 bilhões de euros. Cerca de metade se encontra na Itália e se trata de 20% do patrimônio nacional.

Com um patrimônio desse porte, há anos discute-se a possibilidade de cobrar o IMU, o imposto sobre imóveis, da Igreja também. Mario Monti [ex-primeiro-ministro italiano], para evitar a multa europeia, em 2012, estabeleceu que as entidades eclesiásticas deviam pagar pela parte comercial dos seus imóveis. A regulamentação normativa, porém, não foi aprovada antes dos termos das declarações. O jogo, portanto, será decidido este ano.



quarta-feira, 23 de abril de 2014

Mesmo que o morto tenha RG, São Paulo enterra como indigente

A dor da perda de um ente querido já é algo difícil de suportar, experiência triste pela qual todos nós passamos várias vezes na vida. 

Pior ainda é quando os governantes e os funcionários públicos que, com um simples telefonema pago por nossos impostos (aqueles mesmos que pagam seus salários e aposentadorias), poderiam aliviar muito esse sofrimento, permitindo aos enlutados que - pelo menos - pudessem sepultar seus parentes e amigos com um mínimo de dignidade.

Se você pensava que isso só acontece - infelizmente - com mendigos indocumentados, saiba que, em São Paulo, qualquer um pode ser enterrado como indigente numa vala comum, mesmo se tiver com a identidade e o telefone de casa no bolso. Basta ter a infelicidade de morrer subitamente na hora e no local "errados", se é que existe algum momento "certo" para isso, e ter seu óbito processado por um desumano qualquer.

E de nada adiantará a família e os amigos procurarem pelo "desaparecido" nas instituições que deveriam atender esse pleito simples e desesperado do cidadão. Podem passar décadas até que os parentes descubram que seu ente querido foi anonimamente jogado numa cova rasa.

O horror nem sempre depende da violência física ou de uma arma letal. Basta uma canetada para perpetrá-lo.

A notícia foi publicada na Folha de S. Paulo de 22/04/14:

Mesmo identificados, 3.000 mortos são mandados para vala comum em SP

ROGÉRIO PAGNAN
REYNALDO TUROLLO JR.

Nos últimos 14 anos, a rotina do técnico em telecomunicação Cláudio Rocha, 53, inclui a procura desesperada pelo pai, desaparecido.

Desde 15 de janeiro de 2000, ele visitou um sem-número de hospitais, unidades do IML e delegacias de São Paulo, mas nunca mais teve notícias do aposentado João Rocha, que tinha 72 anos quando sumiu de casa.

Na semana passada, Cláudio recebeu um telefonema que pôs fim à sua procura.

As notícias não poderiam ser piores: o pai estava morto e, apesar de ter se identificado ao dar entrada no hospital, foi enterrado como indigente em março de 2000.

Quatorze anos de procura em vão. "Eu esperava encontrá-lo vivo até hoje. Isso é um descaso muito grande", afirmou ele à Folha.

A família Rocha foi vítima de uma falha na burocracia estadual, que, revela-se agora, mandou para a vala comum cerca de 3.000 pessoas que possuíam identificação quando morreram nos últimos 15 anos na capital paulista.

Os "indigentes com RG" foram descobertos numa investigação do Ministério Público de São Paulo, coordenada pela promotora Eliana Vendramini, que se dedica a descobrir o paradeiro de desaparecidos em São Paulo.

Ela custou a acreditar, mas descobriu que o próprio sistema funerário estatal pode ter sido responsável pelo "desaparecimento" de milhares de pessoas na capital.

Isso porque o Estado manda para as valas públicas os corpos não reclamados por parentes num prazo de 72 horas, mesmo se o morto estiver com o RG no bolso. Vale-se de norma estadual de 1993, criada no governo Fleury (PMDB).

Faz isso sem tentar avisar qualquer parente, embora tenha dados de todos os mortos. Assim, deixa famílias numa busca sem fim.

Os enterros são realizados em parceria com o Serviço Funerário Municipal nos cemitérios 1 e 2 da Vila Formosa, na zona leste da cidade –onde os corpos chegam nus em caixotes de madeira com tampas de papelão.

Antes, também eram enterrados no cemitério Dom Bosco, em Perus, na zona norte.

A responsabilidade pelos casos investigados pelo Ministério Público é do SVO (Serviço de Verificação de Óbitos), órgão ligado à Faculdade de Medicina da USP.

O órgão atende casos de mortes naturais, em que não há suspeita de violência, mas que necessitam de investigação da causa do óbito.

Agora, o Ministério Público quer saber por que o Estado não procurou as famílias dos mortos identificados.

Ao contrário da Promotoria, a direção do SVO entende que a lei não o obriga a procurar os familiares.

Diz ainda que não tem equipes para executar essa tarefa e que está disposto a colaborar com a investigação do Ministério Público.

À Promotoria, o SVO afirmou que não tinha informações suficientes para chegar aos parentes. "Mas é tão possível localizar as famílias que nós estamos conseguindo", contesta a promotora.

Vendramini diz ainda que, além da Constituição Federal, que em seu artigo 1º trata da "dignidade da pessoa humana", o Código Civil obriga o serviço a fazer essa comunicação, porque o corpo pertence à família.

"É uma questão óbvia. Vai ter uma lei para dizer o óbvio? Vai ter uma lei para dizer: 'Não enterre um corpo identificado sem avisar a família?'", questiona.

Outro problema é o fato de o SVO ser desconhecido da maioria da população, que, em geral, procura familiares desaparecidos apenas no IML –que é encarregado de lidar exclusivamente com mortes violentas ou com corpos sem identificação.

O Ministério Público quer acabar com as procuras desnecessárias das famílias e pôr fim aos enterros sem aviso.

Primeiro, está cruzando a lista dos cerca de 3.000 "indigentes identificados" que passaram pelo SVO com a lista de desaparecidos do Estado de São Paulo.

O objetivo é saber quantas famílias ainda estão buscando seus familiares para dar-lhes a notícia da morte e limpar os nomes que inflam a lista de desaparecidos.

João Rocha estava nessa lista e faz parte da primeira família avisada.

Nas últimas duas semanas, a Folha localizou outras quatro famílias. Nenhuma delas foi procurada pelos serviços do Estado e os parentes foram enterrados como indigentes.

NAS DELEGACIAS

O Ministério Público também vê problemas no trabalho da Polícia Civil.

Segundo a legislação, a polícia é obrigada a registrar boletins de ocorrência das mortes antes de enviar os corpos para o SVO. Da mesma forma, a polícia registra o desaparecimento quando as famílias dão queixa numa delegacia.

Porém, em todos os casos analisados pela Folha, os dados dos boletins de ocorrência –de morte e de desaparecimento– não foram cruzados, o que teria encerrado as buscas das famílias.

Três das cinco famílias procuradas pela Folha, que tiveram parentes ou amigos desaparecidos, disseram desconhecer a existência do SVO. Nesses casos, os reclamantes ou ainda procuravam os desaparecidos ou já tinham desistido da busca.

Em um caso, o parente havia morrido também. Em outro, a filha encontrou o pai 20 dias após a morte, já enterrado como indigente. Buscou ajuda até de um pai de santo.

Há ainda um número desconhecido de pessoas identificadas e enterradas como indigentes pelo IML, vítimas de violência ou de acidente.



Bebês choram à noite para evitar que papai e mamãe gerem novos filhos

O título deste artigo poderia parecer até uma piadinha inocente, não fosse a prestigiosa universidade de onde procede a teoria sobre o choro egoísta do bebê: Harvard!

O biólogo evolucionista David Haig escreveu sobre isso no livro "Evolution, Medicine and Public Health" ("Evolução, Medicina e Saúde Pública"), onde defende a ideia de que o bebê que berra a todo momento à noite pedindo para ser amamentado, na verdade está tentando impedir que sua querida mamãe fique grávida de novo.

Esse choro nada altruísta serviria, portanto, para impedir que outro óvulo e outro espermatozoide da mesma família se encontrem e assim gerem um irmãozinho ou uma irmãzinha com o(a) qual o bebê ranheta teria que dividir os pais.

Já que ele não poderia forçar sua mãe a tomar pílulas ou seu pai a usar camisinha, só lhe restaria o aleitamento noturno para importunar sua mamãe e assim impedi-la de ter relações sexuais com o papai, até porque o cansaço torraria a libido de ambos.

Além disso, esse incômodo todas as noites faria com que a mãe atrasasse seu ciclo fértil, devido a mudanças hormonais que, embora não seja um método contraceptivo seguro, é o único recurso de que dispõe o bebê chorão.

Haig esclarece que, obviamente, os filhos recém-nascidos não fazem isso de propósito, mas em razão de que, no passado remoto, os bebês que eram amamentados à noite tinham uma maior possibilidade de sobrevivência.

O momento em que essas demandas noturnas começam a ser percebidas acontece por volta de 6 meses de idade do bebê, e tende a aumentar significativamente nos meses seguintes.

Em apoio à sua tese, David Haig acrescenta que certas desordens genéticas herdadas de cada um dos genitores mostram o acerto de sua teoria. Bebês que recebem certos genes do lado materno dormem mais à noite, o que favorece com que sua mãe engravide logo em seguida. 

Por outro lado, os rebentos que herdam os mesmos genes do lado paterno acordam mais vezes à noite, postergando a ovulação de suas mães, o que faz sentido evolucionário, pois os pais não teriam a garantia de que o próximo bebê fosse dele, o que lhes deixaria interessados em que o ciclo fértil de sua parceira fosse interrompido por um período.

Outros cientistas ouvidos pelo portal ScienceNews chamaram a atenção para o fato de que vivemos em uma sociedade muito diferente da primitiva, e que não há como voltar no tempo para testar a teoria na época em que o ser humano surgiu no mundo.

Haig conclui que, na sociedade moderna, não é mais necessário que as mães se preocupem tanto em amamentar os filhos à noite, pois bebês que não se alimentam à noite ou tomam mamadeiras durante o dia tendem a dormir um sono mais regular sem perturbar seus pais.



terça-feira, 22 de abril de 2014

Pat Robertson prevê fim do mundo para a próxima semana

Sim, ele está de volta: Pat Robertson! E desta vez para prever o fim do mundo para a semana que vem, mais especificamente dia 27 de abril de 2014.

É que justamente neste dia o asteroide 2014 HW passará "triscando" nosso querido planeta azul, a uma distância de 806 mil km da Terra, o que - em termos astronômicos - é uma lasquinha de nada (ou de tudo, dependendo do ponto de vista, é claro)

Alertando que já havia escrito em 1995 o livro "The End of the Age" ("O Fim da Era") sobre o tema, Pat Robertson disse em seu programa The Club 700 desta semana, que a profecia de Apocalipse 8:8, "O segundo anjo tocou a sua trombeta, e foi lançado no mar como que um grande monte ardendo em fogo", se refere a um asteroide em rota de colisão com a Terra, e a hora chegou.

Logo, se o mundo acabar na semana que vem, foi porque Pat Robertson avisou 19 anos atrás, não se esqueça disso, se tiver tempo...

Como não é bobo, nem nada, Robertson deixou a porta aberta para uma desculpa, caso o asteroide siga seu rumo junto ao infinito e nos deixe aqui são e salvos, ainda que com o coração na mão, dizendo: "Pode ser na próxima semana, ou pode ser daqui a mil anos, mas de qualquer maneira nós queremos estar prontos para qualquer que seja o tempo em que o Senhor diga 'estou embrulhando tudo', será a hora de voltar para casa".

Quem viver, verá!

Eis o vídeo da declaração de Pat Robertson:




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