segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Papa clama por diálogo inter-religioso na África


Matéria publicada no HuffPost Brasil:

Diálogo entre religiões é 'essencial', diz papa na África

O papa Francisco disse nesta quinta-feira (26) no Quênia, país onde têm ocorrido ataques de militantes islamistas, que o diálogo entre as religiões na África é essencial para ensinar os jovens que a violência em nome de Deus é injustificada.

Resolver as divisões entre muçulmanos e cristãos é o principal objetivo de sua primeira turnê no continente, a qual também inclui Uganda, país que, como o Quênia, tem sido alvo de uma série de ataques islamistas, e à República Centro-Africana, dilacerada por conflitos sectários.

Iniciando a viagem pela capital queniana, Francisco se encontrou com muçulmanos e outros líderes religiosos antes de celebrar uma missa ao ar livre para dezenas de milhares de pessoas encharcadas pela chuva, que cantaram, dançaram e ulularam quando ele chegou num papamóvel aberto.

"Muitas vezes os jovens estão se radicalizando em nome da religião para semear a discórdia e o medo, e para rasgar a estrutura das nossas sociedades", disse ele a cerca de 25 líderes religiosos.

O diálogo inter-religioso "não é um luxo. Não é algo extra ou opcional, mas essencial", disse o pontífice, sublinhando que o nome de Deus "nunca deve ser usado para justificar o ódio e a violência".

Ele se referiu aos ataques da Al Shabaab, grupo islamista da Somália, no centro comercial Westgate Nairobi e na universidade de Garissa, este ano. Centenas de pessoas foram mortas nos últimos dois ou três anos, e os cristãos às vezes são o alvo preferencial de homens armados.

O presidente do Conselho Supremo dos Muçulmanos do Quênia, Abdulghafur El-Busaidy, fez um apelo pela cooperação e tolerância. "Como pessoas de um só Deus e deste mundo, temos de nos posicionar, e em uníssono", disse o papa.

O giro africano de Francisco também busca a aproximação com a crescente população católica do continente, que deve chegar a meio bilhão de pessoas até 2050.

Um terço dos 45 milhões de habitantes do Quênia é católico.



domingo, 29 de novembro de 2015

Darwin e o instinto moral


Relembrando matéria publicada na Folha de S. Paulo de 20/04/13:

Antropologia de Darwin: 
Os fundamentos materiais da moral

CARLOS ALBERTO DÓRIA

RESUMO "A Descendência do Homem" (1871), de Charles Darwin, foi praticamente ignorado em nome da ideia liberal de "guerra de todos contra todos". Releituras e pesquisas recentes em torno do livro revelam uma verdadeira teoria antropológica darwiniana que aponta para as raízes biológicas da moral.

Um dos casos mais intrigantes da epistemologia das ciências biólogicas é a quase absoluta ignorância que se seguiu à publicação de "A Descendência do Homem" (1871), de Charles Darwin.

Quase ninguém se deu conta de que a obra encerrava uma revolução no conhecimento, tão importante quanto "A Origem das Espécies" (1859).

Tão certos estavam os seguidores e detratores de Darwin de que se tratava de uma "continuação" ou "aplicação" da "Origem" à espécie humana, contestando a natureza divina do homem, que nem se deram ao trabalho de lê-la. Do mesmo modo, parte do trabalho --sobre o mecanismo da seleção sexual-- foi considerado um ensaio independente, sem conexão com a origem do homem. Passou em brancas nuvens esta que é considerada agora a "segunda revolução darwiniana".

A obra vale por não repetir argumentos da "Origem", constituindo uma verdadeira antropologia na qual se fundem as dimensões biológica e cultural, como nunca se vira antes e não se viu depois, pois as ciências humanas se desenvolveram de costas para a biologia e a cultura foi considerada algo além do mundo orgânico ("superorgânica") --isto é, a vida simbólica já aparece como plenamente constituída.

Essa antropologia só é possível porque Darwin não vê diferenças de natureza, e sim de grau, naquilo que une o homem às demais espécies animais. As habilidades, os instintos, a inteligência, a capacidade de comunicação (linguagem), os comportamentos são caracteres animais difundidos por infinitas espécies.

O impacto político dessa antropologia é enorme. Ao "animalizar" o homem e seus instintos mais "nobres", deixava a igreja falando sozinha, mesmo sem haver pensado a obra como um libelo antideísta. O livro mostra que os homens pertencem a uma espécie polimórfica, na qual todos são iguais, e as diferenças secundárias, como a cor da pele, foram desenvolvidas ao longo de milênios, através de escolhas estéticas de grupos humanos.

POLÍTICA

Mas por que Darwin escreveu esse livro, se as ciências humanas não eram seu foco de atenção? A razão foi de ordem política e humanitária, conforme hoje se sabe, graças ao estudo dos biógrafos de Darwin sobre suas anotações e diários (Adrian Desmond e James Moore, "Darwin's Sacred Cause: Race, Slavery and the Quest for Human Origins", Penguin Books, 2009).

Quando Darwin esteve no Brasil, horrorizou-se com a escravidão e, desde o distante ano de 1837, começou a reunir elementos para provar a origem comum e a igualdade entre os homens no plano biológico, de modo a sepultar as principais teses dos escravistas, com destaque para a tese da poligenia (tomando raças ou variedades como se fossem espécies "criadas" independentemente, segundo sugeria a leitura que faziam da Bíblia) com a qual "justificavam" o direito à escravizar seres aparentemente distintos.

Do ponto de vista historiográfico, a trajetória intelectual de Darwin também é surpreendente: uma obra sobre o homem, provando sua igualdade (monogenia), foi ideia anterior à concepção da seleção natural. Assim, se o estudo sobre a origem das espécies favoreceu sua compreensão sobre a animalidade do homem, ela contribuiu igualmente para o amadurecimento de sua antropologia.

A nova leitura esclarecedora de "A Descendência do Homem" deve-se ao trabalho de quase 20 anos do epistemólogo francês Patrick Tort, cujo livro "L'Effet Darwin: Séléction Naturelle et Naissance de la Civilisation" (Seuil, 2008) é síntese dessa trajetória persistente.

A primeira questão que Tort busca explicar é o desprezo pela antropologia de Darwin. E sua explicação é relativamente simples: a ideia de "luta pela vida" era extremamente conveniente para a economia política liberal; reforçava a noção de luta de "todos contra todos" e triunfo dos mais fortes, e os evolucionistas liberais, como Herbert Spencer, a ela se aferraram.

"A Descendência do Homem", ao contrário, é a obra na qual Darwin sofistica os mecanismos de seleção --faz até um mea-culpa por haver exagerado o papel da seleção natural-- introduzindo na história natural as noções cruciais da cooperação e "altruísmo".

Contudo, só nos países sem tradição de economia política liberal esses mecanismos de evolução foram percebidos e valorizados, como na Rússia czarista, resultando em algumas obras discrepantes em relação à interpretação dominante, como a de Peter Kropotkin, "Ajuda mútua: Um Fator de Evolução" (1888).

Em "A Descendência do Homem", Darwin mostra como esse animal surge da evolução de formas mais simples através da convergência fortuita de vários processos: a pedestrialização (quando o animal desce das árvores), o bipedismo, a encefalização (aumento do cérebro) e o desenvolvimento da linguagem simbólica. Mas não foram só as transformações físicas que Darwin captou. Ele indicou que, ao se desenvolver no plano social, criou-se uma ruptura com o processo anterior, no qual, por força de pressões ambientais, os animais se adaptavam mediante a transformação física milenar.

O Homo sapiens já não se transforma fisicamente, mas age sobre o ambiente, adaptando-o às suas necessidades (produz vestimentas, habitação etc.). Do mesmo modo, o instinto animal evolui e aprofunda seu caráter social, impondo formas cooperativas, tornando-o um animal social bastante sofisticado, capaz de várias ações altruístas.

Mas por que o altruísmo? Não se trata da manifestação de uma "essência humana", fruto de um sopro divino, mas de uma necessidade material da vida. O instinto social é característica de várias espécies --como as abelhas, as formigas e vários mamíferos superiores. Através dele, a reprodução do grupo entra em causa, condicionando as ações e escolhas individuais.

NOVO PERCURSO

No homem, desde a divisão de trabalho entre macho e fêmea para cuidar da cria (longamente inabilitada para, sozinha, prover a vida) até o desenvolvimento das instituições sociais, como a ciência ou a medicina, um novo percurso evolutivo se instaura quando crianças, velhos e indivíduos menos aptos são protegidos, em vez de eliminados.

Uma seleção natural de instintos e comportamentos antieliminatórios (ou "antisselecionistas") vai tomando corpo e reprimindo as ações eliminatórias.

O resultado cego desse longo processo é a civilização, isto é, a repressão sistemática da "lei do mais forte" na medida em que padrões encontram formas de se impor ao grupo e se sobrepor aos do indivíduo. Tort verá nesse mecanismo a "reversão da seleção natural", ou o nascimento da civilização sem ruptura com a dimensão biológica da vida. Em outras palavras, a base material, natural, da moral.

"A Descendência do Homem" traz uma segunda parte, sobre a "seleção sexual". Nela, o cientista inglês mostra justamente a necessidade do altruísmo --a capacidade de dar a vida por outros membros da espécie-- como fator de evolução. Por que em certas espécies, notadamente de aves, o macho é muito mais belo e exuberante que as fêmeas? Simplesmente porque, ao se desenvolverem dessa forma, eles têm mais chances de serem "escolhidos" pelas fêmeas e criarem descendência. Mas o pavão, por exemplo, ao desenvolver sua beleza perde a capacidade de voar, ficando à mercê dos predadores. Essa inabilitação adquirida só se explica pelo "altruísmo": correr riscos, o autossacrifício em nome do outro, da descendência.

Por esse mecanismo da seleção sexual, o homem também terá capacidade de alterar seus caracteres secundários. Sendo espécie polimórfica, variará na cor da pele e outros traços físicos exteriores ao perseguir padrões de beleza restritos a cada grupo humano isolado. O "belo ideal" é um conceito social que se materializa nos indivíduos que ocupam a chefia do grupo, nas mulheres que utilizam adornos, nas estátuas que representam os deuses e assim por diante.

Esses padrões se tornam dominantes na medida em que passam a intervir nas escolhas matrimoniais e, por esse processo, disseminam-se pelo grupo. Nada disso precisa ser consciente para agir sobre o homem, como o instinto não é consciente no animal.

Caminhos como esse mostram, mais de um século depois, a dimensão insuspeitada de uma obra que parecia "caduca" aos olhos das ciências naturais e ciências humanas. Trata-se de um clássico que, finalmente, impõe sua grandeza intelectual.



sábado, 28 de novembro de 2015

Rodovias brasileiras matam 1,3 milhão de animais silvestres por dia


A única notícia boa é que já tem gente estudando o absurdo massacre de animais nas estradas brasileiras, conforme já tivemos oportunidade de comentar aqui várias vezes sobre o tamanduá-bandeira (leia o artigo Bandeira 2 para o tamanduá para ter uma ideia de nossa militância em seu favor).

A trágica informação vem da BBC Brasil:

Por que o Brasil massacra 1 milhão de animais por dia em suas estradas?

Thiago Guimarães

BR-101, norte do Espírito Santo, setembro de 2015. Um caminhoneiro sente um cheiro forte e localiza uma anta – o maior mamífero terrestre brasileiro – na margem da pista, em estado avançado de decomposição.

Cinco meses antes, no mesmo trecho da rodovia, biólogos encontraram uma fêmea adulta de harpia, a maior ave de rapina das Américas, debilitada por fraturas e hematomas. Por ali, restos de retrovisor de caminhão. No mês anterior, a vítima fora uma onça-parda.

As cenas com espécies ameaçadas de extinção são um retrato de um filme que não sai de cartaz no Brasil: a matança de animais por atropelamentos em estradas.

Essa é, de longe, a principal causa de morte de bichos silvestres no país, superando caça ilegal, desmatamento e poluição. São 15 animais mortos por segundo, ou 1,3 milhão por dia e até 475 milhões por ano, segundo projeção do CBEE (Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas), da Universidade Federal de Lavras (MG).

Quem puxa a lista são os pequenos vertebrados, como sapos, cobras e aves de menor porte – respondem por 90% do massacre, ou 430 milhões de bichos. O restante se divide em animais de médio porte (macacos, gambás), com 40 milhões, e de grande porte (como antas, lobos e onças), com 5 milhões.

A situação, dizem especialistas, é o resultado natural para um país que desconsiderou os bichos ao planejar as rodovias e ainda dá os primeiros passos na adoção de medidas para minimizar os impactos das vias.

Corrida contra o tempo

"Está acontecendo uma desgraça total e não temos tempo nem de estudar o que ocorre", disse à BBC Brasil Áureo Banhos, professor do departamento de biologia da Universidade Federal do Espírito Santo.

Banhos coordena um time que monitora os atropelamentos no trecho de 25 km da BR-101 que corta uma das manchas verdes mais intactas do país. É um mosaico de 500 km² (ou um terço da cidade de São Paulo) de unidades de conservação rasgado pela pista única da via.

Um exemplo do alerta do professor: das 70 espécies de morcegos identificadas na região, 47 já foram atropeladas na estrada – e uma delas era desconhecida da ciência até então. Ao todo, 165 espécies de diferentes animais perderam a vida por ali (10 anfíbios, 21 répteis, 63 aves e 71 mamíferos) – são 50 mortes por dia apenas nesse ramo da rodovia, ou 20 mil por ano.

Essa floresta integra as reservas de mata atlântica da Costa do Descobrimento, patrimônio natural da humanidade desde 1999. Por ser um raro fragmento contínuo de mata, é o último refúgio na região para várias espécies ameaçadas, como a anta, a onça-pintada, o tatu-canastra e a harpia.

O fotógrafo Leonardo Merçon, do Instituto Últimos Refúgios, fez um trabalho de registro da Reserva Biológica de Sooretama, a maior peça do mosaico verde da região. Impressionado pelos atropelamentos, acabou se engajando nas ações de conscientização para a gravidade do problema.

"Você nem precisa de dados para ver o impacto real do problema", afirma ele. Um vídeo do instituto que registrou uma onça-parda atropelada na estrada teve mais de 1 milhão de visualizações.

Em locais como esse, a perda de um único indivíduo pode ter impacto muito grande sobre a biodiversidade. "Engenheira" dos ecossistemas, por dispersar sementes e servir de presa para grandes predadores, a anta, por exemplo, leva 13 meses na gestação (com um filhote por vez) e demora dois anos entre as concepções.

Um possível caminho para os animais cruzarem para o outro lado da via são os dutos de drenagem de água sob a pista, mas nem sempre é simples mudar seus hábitos.

"No parque nacional Banff, no Canadá, os ursos demoraram oito anos para começar a usar esse tipo de passagem", afirma Alex Bager, coordenador do CBEE. No caso da BR-101, apenas 15% dos bichos atropelados usam as manilhas.

Ou seja, talvez seja mais fácil mudar os hábitos dos motoristas, por meio de ações como redução de velocidade, radares inteligentes que multam pela média de velocidade (e não em apenas um ponto) e placas de advertência.

A Eco-101, concessionária responsável pelo trecho da BR-101 em questão, diz que o segmento tem dois radares fixos, velocidade máxima de 60 km/h (especialistas defendem 25 km/h) e dez placas educativas. Afirma ainda promover ações de conscientização e que estuda a "ampliação dos dispositivos de segurança para os animais silvestres".

Ausência de normas

A situação da BR-101 no Espírito Santo – que ainda enfrenta a perspectiva de duplicação até 2025 – é uma amostra aguda de um problema nacional. São mais de 15,5 mil km de estradas atravessando áreas federais de conservação.

Os pontos críticos estão por todo o Brasil. Um levantamento do Instituto de Pesquisas Ecológicas em três trechos de rodovias de Mato Grosso do Sul (1.161 km nas BRs 267, 262 e 163) entre abril de 2013 e março de 2014, por exemplo, localizou 1.124 carcaças de 25 espécies diferentes, como cachorro-do-mato (286 mortes), tamanduá-bandeira (136) e jaguatirica (7).

E não há normas nacionais específicas para a construção de rodovias que cortam reservas naturais. Tudo tramita como um licenciamento ambiental padrão. O problema vem mobilizando a classe acadêmica no país. Paralelamente a uma explosão nos estudos em ecologia de estradas, há articulações institucionais em curso no Congresso e em órgãos ambientais.

Um fruto recente desse debate é o PL (Projeto de Lei) 466/2015, do deputado federal Ricardo Izar (PSD-SP), que busca tornar obrigatórias ações como monitoramento e sinalização em áreas "quentes" de atropelamentos, além da criação de um cadastro nacional de acidentes com animais silvestres.

Sobre essa última medida, um esforço já partiu da própria academia, com a criação do Sistema Urubu, uma espécie de rede social para compartilhamento e validação de informações sobre atropelamentos de bichos.

No ar há um ano, a iniciativa do CBEE conta com um aplicativo gratuito pelo qual qualquer pessoa pode fotografar e enviar imagens de acidentes com animais. Os registros são enviados para uma base de dados central e são validados por especialistas cadastrados no sistema, tudo online.

Já são cerca de 15 mil usuários cadastrados e mais de 20 mil fotos enviadas. Para entrar no sistema, cada registro precisa ser validado por cinco especialistas, e ter o consenso de três deles sobre qual é a espécie em questão – são 800 "validadores" ativos na rede, cada um especializado numa classe animal.

"Muitas vezes, as pesquisas sobre o tema no Brasil são muito regionalizadas, restritas ao raio da universidade por falta de recursos. Com o sistema poderemos criar um mapa de áreas críticas de atropelamentos no país e usá-lo como política pública de conservação", afirma Alex Bager, do CBEE.

Diante da perspectiva da fase mais explosiva de construção de estradas na história, com pelo menos 25 milhões de km de novas rodovias no mundo até 2050, especialistas defendem que essas intervenções passem, cada vez mais, por estudos de custo-benefício.

Seria um modo de evitar a proliferação de vias em regiões de alto valor ambiental mas potencial agrícola apenas modesto, como a bacia Amazônica. "Construir estradas é abrir uma caixa de Pandora de problemas ambientais, e ainda estamos na pré-história da mitigação de impactos", afirma Banhos.



sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Livro analisa religiosidade brasileira


Matéria publicada no IHU:

Livro coloca em perspectiva religião no Brasil


"O livro traça um rico panorama dos movimentos que marcaram um Brasil de religiosidade tradicional, buscando as origens conceituais do tema no judaísmo antigo e avançando na direção de movimentos brasileiros de raízes católicas, evangélicas e indígenas", comentam Reginaldo Prandi, professor de sociologia da USP, e Renan William dos Santos, mestrando em sociologia da USP/FAPESP, em artigo publicado por Folha de S. Paulo, 19-09-2015. 

Eis o artigo.


Coletânea de textos sobre milenarismo e messianismo traça rico panorama dos movimentos que marcaram o país.

O medo do fim do mundo nasce com a religião, que na ausência da ciência tratou de explicar como tudo começou e terminará. Esse medo persiste, mas os desígnios divinos foram substituídos pelas estripulias humanas como causas do fim do mundo. Mesmo a religião hoje aponta a ação do homem contra o planeta como razão do apocalipse.

A crença sobre o fim do mundo de cada religião forma sua escatologia. Na escatologia bíblica, que envolve a luta do bem contra o mal, nos últimos tempos o diabo ficará preso por mil anos, período em que os merecedores viverão de novo o paraíso na Terra. Após esse milênio de paz e prosperidade, o diabo será solto e derrotado, acontecendo então o Juízo Final. Isso é milenarismo.

Em certos casos, pode-se esperar a intervenção nesse episódio de um enviado divino, o messias, que deve guiar o povo para que o bem vença de uma vez o mal, promovendo o advento do paraíso terrestre. Isso é messianismo.

Interpretações dessas crenças têm sido fonte de movimentos milenaristas e messiânicos. Tanto no milenarismo como no messianismo, a religião orienta completamente a vida dos fiéis e suas coletividades. Mas essa é uma modalidade de religião extra cotidiana, excepcional. Não é para durar, não pode durar. Daí, costumeiramente, ser chamada de surto.

No livro "Messianismo e milenarismo no Brasil", organizado por João Baptista Borges Pereira e Renato da Silva Queiroz, os surtos mais famosos são tratados em ensaios de diferentes autores, de diversas áreas, muitos publicados anteriormente em veículos hoje de difícil acesso.

Do antigo sebastianismo português, passando por Canudos, até casos mais recentes, como os do Contestado e de Catulé, entre outros, o livro traça um rico panorama dos movimentos que marcaram um Brasil de religiosidade tradicional, buscando as origens conceituais do tema no judaísmo antigo e avançando na direção de movimentos brasileiros de raízes católicas, evangélicas e indígenas.

Todos esses casos têm em comum um estilo de religião hoje esvaziada em nossa sociedade, mas os milenarismos e messianismos continuam a se reproduzir, em geral, independentemente da religião. A ideia do apocalipse sobrevive ao fim das profecias religiosas. Veja-se o midiático caso do fim do mundo anunciado para 2012.

A força da religiosidade brasileira de hoje, pintada com cores generosas por analistas que se rejubilam com um improvável retorno do antigo poder da religião, não chega aos pés da intensidade dos movimentos messiânicos e milenaristas brasileiros nessa coletânea. Até por isso, uma das contribuições do livro é ajudar a pôr em perspectiva o cenário religioso atual.

*MILENARISMO E MESSIANISMO NO BRASIL
ORGANIZADORES João Baptista Borges Pereira e Renato da Silva Queiroz
EDITORA Edusp
QUANTO R$ 52,00 (280 págs.)
CLASSIFICAÇÃO muito bom



quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Como a religiosidade influi nos tratamentos de saúde


Matéria publicada na Folha de S. Paulo:

Religião é benéfica para tratamento psiquiátrico, diz associação

CLÁUDIA COLLUCCI

"É mole? Vou ao médico tratar da depressão e ele me manda rezar!". A recomendação que gerou surpresa na médica e professora universitária Maria Inês Gomes, 67, agora tem aval da Associação Mundial de Psiquiatria.

No mês passado, a entidade aprovou documento declarando a importância de se incluir a espiritualidade no ensino, pesquisa e prática clínica da psiquiatria. A SBP (Sociedade Brasileira de Psiquiatria) ainda não se posicionou sobre o assunto.

A proposta, obviamente, não é "receitar" uma crença religiosa ao paciente, mas conversar sobre o assunto. O indexador de estudos científicos PubMed, do governo americano, lista mais de mil estudos sobre o tema.

Os recursos espirituais avaliados nesses trabalhos variam bastante, desde acreditar em Deus ou um poder superior, freqüentar alguma instituição religiosa ou mesmo participar de programas de meditação e de perdão espiritual, mas a grande maioria conclui que há correlação entre espiritualidade e bem-­estar.

O maior impacto positivo do envolvimento religioso na saúde mental é entre pessoas sob estresse ou em situações de fragilidade, como idosos, pessoas com deficiências e doenças clínicas.

Não se trata, claro, da prova científica da ação de Deus –uma hipótese dos pesquisadores é que religiosidade sirva, por exemplo, para reforçar laços sociais, reduzindo a incidência de solidão e depressão e amenizando o estresse causado por doenças ou perdas.

Três meta­-análises (revisões científicas) já realizadas sobre o tema indicam que, após controle de variáveis como estado de saúde da pessoa, a frequência a serviços religiosos esteve associada a um aumento médio 37% na probabilidade de sobrevida em doenças como o câncer. O desafio é entender exatamente como isso acontece.

Uma das explicações propostas é a ativação do chamado eixo "psiconeuroimunoendócrino", em que uma emoção positiva seria capaz de alterar a produção de hormônios que, por exemplo, reduziriam a pressão arterial.

"O impacto da religião e espiritualidade sobre a mortalidade tem se mostrado maior que a maioria das intervenções, como o tratamento medicamentoso da hipertensão arterial ou o uso de estatinas", afirma Alexander Moreira-Almeida, professor de psiquiatria da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Um outro estudo recente publicado na revista "Cancer", da Sociedade Americana de Câncer, revisou dados obtidos com mais de 44 mil pacientes e concluiu que são os aspectos emotivos da espiritualidade e da religiosidade aqueles que mais trazem benefícios para a saúde física e mental de pacientes com a doença. O mesmo não acontece quando o paciente se dedica a meramente estudar ou pesquisar sobre a religião.

EFEITO NEGATIVO

Ao mesmo tempo, segundo Almeida, as crenças religiosas também podem atuar de modo negativo, quando enfatizam a culpa e a aceitação acrítica de ideias ou transferem responsabilidades.

"Piores desfechos em saúde são observados quando há uma ênfase na culpa, punição, intolerância, abandono de tratamentos médicos. A existência de conflitos religiosos internos ao indivíduo ou em relação à sua comunidade religiosa também está associada a piores indicadores de saúde."

Por essa razão, é importante que os profissionais tenham em conta a dupla natureza da religião e espiritualidade, segundo Kenneth Pargament, professor de psicologia clínica na Bowling Green State University (Ohio).

"Elas [religião e espiritualidade] podem ser recursos vitais para a saúde e bem­estar, mas eles também podem ser fontes de perigo", diz ele, que esteve no Brasil neste mês falando sobre o assunto no início do mês no Congresso Brasileiro de Psiquiatria.

Ele lembra que, por muitos anos, psicólogos e psiquiatras evitaram a religião e a espiritualidade na prática clínica. Entre as razões, estaria a antipatia pela religião que sempre houve entre os ícones da psicologia, como Sigmund Freud.

Para Pargament, é importante a compreensão de que a religião e a espiritualidade são entrelaçadas no comportamento humano e que os profissionais precisam estar preparados para avaliar e abordar questões que surjam no tratamento.

"Para muitas pessoas, a religião e a espiritualidade são recursos-­chave que podem facilitar o seu crescimento. Para outros, são fontes de problemas que precisam ser abordadas durante o tratamento. Isso precisa ser compreendidopelos profissionais de saúde."

Entre as técnicas que estão sendo estudadas para essa abordagem estão programas, por exemplo, para ajudar pessoas divorciadas a lidar com amargura e raiva, ou vítimas de abuso sexual e mulheres com distúrbios alimentares. ­

ESTUDOS SOBRE FÉ, ESPIRITUALIDADE E SAÚDE

Religião, espiritualidade e saúde física em pacientes com câncer
- Publicação: 2015, no periódico "Cancer"
- Resumo: A meta­-análise congregou resultados obtidos com mais de 32 mil pacientes para concluir que a saúde física dos pacientes com câncer melhora com a experiência de religiosidade ou de espiritualidade. Isso ocorre mais pela relação emotiva do que por aquela mais racional com a religião/espiritualidade.

Caminhos distintos entre Religiosidade, Espiritualidade e Saúde
- Publicação: 2014, no periódico "Circulation"
- Resumo: Os autores do estudo propõem separar os efeitos na saúde física que poderiam ser atribuídos à religião e os que poderiam ser atribuídos à espiritualidade. A proposta é que a religião poderia fomentar hábitos saudáveis, enquanto a espiritualidade traria melhor equilíbrio emocional

Doenças mentais, religião e espiritualidade
- Publicação: 2013, no periódico "Journal of Religion and Health"
- Resumo: A meta­-análise analisou 43 estudos do período entre 1990 e 2010 e viu que 72% deles mostram resultados positivos entre a dimensão espiritual/religiosa e a saúde física, especialmente para demência, depressão e dependência química. A Esquizofrenia e o transtorno bipolar não são afetados



quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Aprender matemática até que pode ser legal


Entrevista publicada no Estadão:

'Matemática deve ser bonita, e não chata'

Entrevista. Bob Kaplan e Ellen Kaplan

Criadores do Círculo da Matemática, Bob e Ellen Kaplan explicam que disciplina é ensinada por quem geralmente tem medo do tema

Victor Vieira


Professores da Universidade de Harvard e criadores do Círculo da Matemática, abordagem que incentiva o aprendizado lúdico e interativo com as crianças, Bob e Ellen Kaplan defendem aulas mais desafiadoras e envolventes. Em entrevista ao Estado, o casal diz que o segredo é mostrar aos alunos que não existe só uma resposta certa, mas várias. "A Matemática é um mundo maravilhoso a ser explorado", afirma Bob. 

Por que é tão difícil ensinar Matemática?

BOB: Não é só uma ciência, é uma arte, que tem sua própria personalidade. É um prazer, um divertimento. A Matemática é nossa maneira de falar com o mundo, falar sobre o mundo e falar para o mundo, ou seja, uma linguagem. O que acontece é que a Matemática é ensinada por pessoas, geralmente, com muito medo da disciplina. O que eles ensinam bem é o próprio medo. Eles pensam que só existe uma resposta certa. Nos últimos três mil anos, o que descobrimos é que não sabemos nada. Esse é o nosso diálogo. Falar com pessoas mais novas e menores, que se tornam nossos colegas na exploração desse mundo maravilhoso. Matemática deve ser bonita, e não chata.

Quais são os principais erros que os professores cometem em sala de aula?

ELLEN: Um dos erros mais comuns é a expressão nos rostos dos professores. Eles parecem assustados. Quando aparentam estar apavorados, estudantes sabem que estão com problemas. Assim, as crianças não prestam atenção na conversa. Apenas pensam que estão em um terreno perigoso, em que é melhor ficar quieto. Em um bom diálogo, deve ter aqueles que comentam, aqueles que discordam. Nas classes de Matemática, é comum que o professor faça a pergunta e todos fiquem olhando para o chão, sem querer responder.

BOB: Muitos dos professores fazem os alunos memorizarem. Se eles não entenderem, não adianta decorar. E, para ser um bom professor, você precisa de duas coisas. Uma delas, claro, é saber Matemática. Mas também deve se lembrar de como é ser uma criança. Eles têm, por exemplo, um tipo diferente de concentração.

Por que é importante focar nos alunos bem novos para ensinar Matemática?

BOB: Quanto mais novos, melhor. Assim, cria-se o prazer da invenção. Nessa fase, a criança desenvolve a autoconfiança. É possível mostrar que não faz mal cometer erros.

ELLEN: Nessa época, eles também vão perceber que a Matemática é um jogo. A Geometria, por exemplo, é meu preferido: descobrir como as formas se encaixam. 

Hoje, a tecnologia chega às crianças cada vez mais cedo. Ela é útil para aprender Matemática?

BOB: É interessante lidar com dados, usar a tecnologia. Mas a melhor forma de aprender Matemática não é com as calculadoras, mas no diálogo com os próprios amigos.Você deve estar apto para olhar alguém, discutir suas ideias e dizer por que não concorda com elas.





terça-feira, 24 de novembro de 2015

Bilíngues se recuperam melhor de um AVC


É o que diz matéria da BBC Brasil:

Falar mais de uma língua pode evitar sequelas de AVC, sugere estudo

Falar mais de uma língua não traz apenas benefícios culturais. Segundo um estudo recente feito na Universidade de Edimburgo, na Escócia, ser bilíngue pode ajudar pacientes a se recuperarem melhor de um AVC (acidente vascular cerebral).

A pesquisa foi feita com 600 pessoas que foram vítimas de AVC – o resultado mostrou que 40,5% das que falavam mais de uma língua ficaram sem sequelas mentais; entre as que falavam apenas uma língua, só 19,6% ficaram sem sequelas.

Os pesquisadores acreditam que o estudo, que foi financiado pelo Conselho Indiano de Pesquisa Médica, sugere que o desafio mental de falar vários idiomas pode aumentar nossa reserva cognitiva – habilidade que o cérebro tem para lidar com influências prejudiciais, como AVC ou demência.

O estudo – divulgado na publicação científica American Heart Association - também levou em consideração idade dos pacientes, se eles eram fumantes ou não, se tinham pressão alta e se eram diabéticos.

Resultados

De acordo com os resultados da pesquisa, a habilidade bilíngue teria um papel "protetor" no desenvolvimento de qualquer disfunção cognitiva após um AVC.

É a primeira vez que se faz um estudo estabelecendo uma relação entre o número de línguas que um paciente fala e as consequências de um AVC para as funções cognitivas.

"A porcentagem de pacientes com funções cognitivas intactas depois de um AVC representava mais que o dobro em pessoas bilíngues em comparação com aquelas que só falam uma língua", diz a pesquisa.

"Em contraste, pacientes com disfunções cognitivas eram muito mais comuns entre os que só falavam uma língua."

Aprender outras línguas é algo que exige uma "ginástica" do cérebro, e vários estudos científicos já mostraram que falar muitos idiomas pode melhorar a atenção e a memória, formando uma "reserva cognitiva" que atrasa o desenvolvimento da demência, por exemplo.

"O bilinguismo faz com que as pessoas mudem de uma língua para outra, então quando eles inativam uma língua, eles precisam ativar a outra para poderem se comunicar", explicou Thomas Bak, um dos autores do estudo na Universidade de Edimburgo.

"Essa troca oferece um treinamento cerebral praticamente constante , o que pode ser um fator relevante para ajudar na recuperação de um paciente que teve um AVC", finalizou.



segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Líder do Estado Islâmico era craque do seu time de futebol


É o que informa a ESPN Brasil:

Terrorista mais procurado do mundo 
já foi o 'Messi do Iraque'

Ibrahim Awwadty Ibrahim Ali Muhammad al-Badri al-Samarrai, mais conhecido como Abu Bakr al-Baghdadi, é o terrorista mais procurado do mundo.

O que se sabe sobre ele é que tem 44 anos, nasceu em Samarra, no Iraque, é o líder do grupo "Estado Islâmico" e tem uma recompensa de US$ 10 milhões (R$ 38 milhões) colocada pelos Estados Unidos por informações que levem à sua captura.

O que poucos sabem, porém, é que ele era um atacante de primeira no futebol.

"Ele era o Messi do nosso time, nosso melhor jogador", contou Abu Ali, amigo do extremista, ao jornal inglês The Telegraph.

Ibrahim Awwadty era o principal jogador do time da mesquita de Tobchi, bairro pobre localizado na zona oeste de Bagdá, para onde o hoje terrorista se mudou quando deixou Samarra para cursar a Universidade Islâmica da capital iraquiana.

Entusiasta dos esportes, e também descrito como muito religioso, o homem mais procurado do mundo era capitão da equipe e um líder-nato, lembra seu amigo.

"Ele tinha uma voz poderosa, e isso servia tanto para a reza quanto para comandar o time. Nós adorávamos jogar futebol juntos. Nos tempos de Saddam (Hussein), também visitávamos lugares fora de Bagdá, como Anbar, pois ele gostava muito de nadar", recordou.

O futebol, contudo, perdeu espaço na vida de Ibrahim Awwadty quando a coalizão liderada por Estados Unidos e Inglaterra invadiu o Iraque, em 2003, dando início a um conflito que até hoje deixa milhares de mortos no Oriente Médio e no resto do mundo.

Logo após conseguir seu PhD em Estudos do Islã, ele passou a se dedicar ao aprendizado e aplicação da xaria, as leis islâmicas que regem a Constituição de diversos países muçulmanos.

Silenciosamente, passou a tramar uma maneira de um dia expulsar os americanos e ingleses de seu país natal, ao mesmo tempo em que ascendia como líder regilioso nas zonas mais conflituosas da combalida Bagdá.

"Ele nunca demonstrou nenhuma hostilidade aos invasores. Ele não tinha sangue quente, como a maioria das pessoas. Imagino que ele tenha planejado tudo isso de maneira calada, dentro da cabeça dele", opinou o amigo Abu Ali.

"Era um cara insignificante. Ele liderava a reza em uma mesquita perto de onde eu morava, mas ninguém nunca prestou muita atenção nele", completou Ahmed al-Dabash, ex-colega de Ibrahim Awwadty na Universidade Islâmica.

De acordo com Dabash, o companheiro de curso era um homem "calado e tímido", que só era notado pelos óculos grossos, já que tem um alto grau de miopia.

O fato é que, à sua maneira, o hoje líder terrorista foi ganhando reputação. Primeiro, fundou o grupo militante Jamaat Jaysh Ahl al-Sunnah wa-l-Jamaah logo após a invasão do Iraque, em 2003. Três anos depois, já influente, foi convocado para o grupo MSC, embrião do "Estado Islâmico".

Em 2006, Abu Musab al-Zarqawi, líder do MSC, foi morto em um bombardeiro americano, e Abu Omar al-Baghdadi assumiu seu lugar. Quatro anos depois, Abu Omar foi morto em outro bombardeio liderado pelos Estados Unidos, e Ibrahim Awwadty acabou eleito novo líder, posição que ocupa até hoje.

Foi então que ele acabou renomeado como Abu Bakr al-Baghdadi.

"Para mim, ainda é um mistério o porquê de terem escolhido Ibrahim como líder. Havia muitos outros que já estavam na organização antes dele. O fato é que, de 11 votos possíveis entre os conselheiros, ele obteve nove", salientou Hisham al-Hashim, estrategista de segurança iraquiano, provando a influência do líder.

De acordo com Hashim, o fato decisivo na mudança de personalidade de Ibrahim Awwadty de um homem tímido e calado em um líder fanático aconteceu em 2005, quando ele foi preso pelos Estados Unidos no acampamento de Camp Bucca pela participação no grupo militante Jamaat Jaysh Ahl al-Sunnah wa-l-Jamaah.

Misterioso, manteve seus segredos ocultos, e acabou liberado em 2009. "Percebi que ele era um cara mau, mas ele não era o pior dos piores", relembrou o coronel Kenneth King, do exército norte-americano, e que conheceu al-Baghdadi em Camp Bucca .

Segundo King, a mensagem de despedida que o hoje todo-poderoso do "Estado Islâmico" deixou para o coronel e os soldados dos EUA até hoje tira seu sono.

"Vejo vocês em Nova York", previu o terrorista, antes de virar as costas e ir embora.



domingo, 22 de novembro de 2015

Papa quer igrejas abertas apesar das ameaças terroristas


A matéria é da Agência Brasil:

Papa pede que portas das igrejas estejam abertas, apesar de ameaça à segurança

O papa Francisco afirmou hoje (18) que as portas das igrejas católicas de todo o mundo devem permanecer abertas, apesar das crescentes ameaças à segurança, na sequência dos atentados de sexta-feira (13) em Paris.

"Por favor, nada de portas blindadas na Igreja, tudo aberto", disse Francisco aos peregrinos. "Há lugares no mundo em que as portas não devem ser fechadas a chave", acrescentou.

O papa não se referiu especificamente aos atentados terroristas de sexta-feira em Paris, nos quais morreram 129 pessoas e mais de 300 ficaram feridas.

As declarações de Francisco foram dadas em um contexto de intenso debate na Itália sobre a segurança do Vaticano e de Roma, vistos como potenciais alvos dos militantes islamitas.

"A Igreja foi encorajada a abrir as suas portas nestes tempos difíceis", destacou, referindo-se às pessoas à margem da instituição e aos milhares de migrantes que chegam à Europa. Ele pediu que esses migrantes sejam recebidos pelas paróquias europeias.

As autoridades italianas anunciaram esta semana o fechamento do espaço aéreo de Roma a drones (aparelhos aéreos não tripulados) durante as cerimônias do início do ano do jubileu, em 8 de dezembro, para as quais são esperados milhões de peregrinos.

A segurança foi também reforçada em aeroportos e estações de estradas de ferro, tendo sido destacadas mais 700 tropas nos espaços públicos de Roma.



sábado, 21 de novembro de 2015

TJRS condena idoso por ofensa racista contra balconista de farmácia

imagem meramente ilustrativa
Bem já dizia Rui Barbosa que "os canalhas também envelhecem"...


Piada de cunho racial gera condenação

O caso ocorreu em 2012. A autora da ação acusou o cliente de uma farmácia onde ela trabalhava de lhe fazer ofensas racistas. Na época, ela estava grávida e o homem a chamou de preta, negra, macaca e perguntou por que você não faz passaporte para a África? e, ainda, acrescentou: Lá todo mundo é preto, você deveria ir pra lá. O acusado ainda falou: Uma senhora negra, quando ganha nenê, se o parto demorar demais, é só mostrar uma banana que o nenê sai da barriga pulando.

O acusado contestou, alegando que era pessoa idosa e cliente do estabelecimento; e tentou se defender falando que acreditava ter criado vínculo sadio de amizade com a autora. Segundo ele, em momento algum, agiu de maneira discriminatória, racista ou com intuito de ofendê-la, até porque costumava brincar com os funcionários do estabelecimento.

As testemunhas ouvidas pelo Juiz de Direito que proferiu a sentença, Jaime Freitas da Silva, da Comarca de Campo Bom, confirmaram a versão da autora e esclareceram que as ofensas foram em dias separados e que ela ficou bem ofendida porque era com a filha dela.

Para o magistrado, os depoimentos foram reveladores em apontar que o homem teve a intenção de proferir injúria racial contra a autora, pois os episódios ocorreram em mais de uma oportunidade; e a piada, relacionada a esta situação, atingiu não só a dignidade humana da requerente como à de sua filha que estava por nascer.

Na decisão, o Juiz destacou que justamente por ser pessoa de idade o demandado deveria ser mais conveniente e relatou que quando o ataque é dirigido a determinada pessoa constitui-se em injúria racial, que, a propósito, nos últimos tempos vem crescendo vertiginosamente como, por exemplo o caso do goleiro 'Aranha' do time de Santos, da jornalista Maria Júlia Coutinho, da atriz Taís Araújo, do jogador do São Paulo Michel Bastos...e, certamente, isto ocorre com outras tantas 'pessoas anônimas' do nosso imenso Brasil.

Por fim, a conclusão é de que houve abalo psicológico, causador de dano moral já que a autora foi despropositadamente ofendida pelo requerido em ato de injúria racial, atingindo sua personalidade, o que determinou a condenação do acusado a pagar R$ 10 mil por racismo.

EXPEDIENTE
Texto: Patrícia Cavalheiro
Assessora-Coordenadora de Imprensa: Adriana Arend
imprensa@tj.rs.gov.br

Publicação em 19/11/2015 14:00



sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Como não louvar a Deus



Ok, o vídeo já é meio antigo, mas continua bem atual, não é mesmo?





quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Como abraçar um muçulmano


A curiosa experimentação social começou muitos meses atrás, quando o mundo ainda estava em choque pelo surgimento do Estado Islâmico, mas não tão apavorado pela selvageria e pelos atentados que se seguiram.

O programa se chamava "Blind Trust Project" ("Projeto Confiança Cega") e consistia em posicionar um rapaz de pé nas ruas de Toronto (Canadá), com os olhos vendados, braços abertos, e com dois cartazes: um dizia "eu sou muçulmano e sou rotulado como terrorista", e o outro "eu acredito em você. Você acredita em mim? Dê-me um abraço então!".

Veja o que aconteceu:


Algum tempo depois, a experiência ocorreu num lugar ainda mais complicado, em Mumbai (antigamente denominada Bombaim) na Índia, onde a histórica rivalidade entre hindus e muçulmanos já levou a guerras e conflitos constantes entre Índia e Paquistão.

Pois foi exatamente lá que um muçulmano se posicionou numa rua com um cartaz dizendo "eu sou muçulmano e acredito em você. Você acreditaria em mim o suficiente para me dar um abraço?".

O resultado você pode ver no vídeo abaixo:



Já houve inclusive a versão francesa do "abrace um muçulmano" pós-ataques a Paris na sexta-feira 13 passada, com os mesmos dizeres e uma profunda emoção, conforme você pode ver no vídeo abaixo:




É interessante ver como as pessoas reagem aos estereótipos, e depois de uma desconfiança inicial se dispõem a encarar os medos individuais e coletivos.

Peço licença aos leitores para contar uma experiência pessoal que ilustra bem o que quero dizer.

Em maio de 2014, durante um voo de Las Vegas (Nevada) a Charlotte (North Carolina), presenciei uma cena que confrontou meus medos e preconceitos.

O voo é longo, dura mais de 3 horas, e confesso que, logo no embarque, estranhei a presença de 5 jovens tipicamente muçulmanos, com suas vestes e barbas que chamavam a atenção.

Confesso que, por um instante, pensei o pior, mas logo me acalmei. 

Afinal, com toda aquela segurança nos aeroportos dos Estados Unidos, em que o passageiro é revistado, tocado, scaneado e quase despido, a probabilidade de alguém mal-intencionado passar incólume é praticamente nula.

Os aviões americanos que fazem os trajetos nacionais têm uma configuração um pouco diferente daquela que estamos acostumados no Brasil.

Os banheiros ficam no meio do avião e os passageiros são instruídos repetidas vezes para não aglomerar na frente deles.

Eu estava sentado numa poltrona do lado do corredor duas fileiras atrás do banheiro, com um jovem militar devidamente fardado na poltrona de trás e, lá pelas tantas, estranhei o fato de um daqueles jovens - aparentemente muçulmanos - estar parado em frente ao banheiro, lívido, se sentindo - ao que tudo indicava - bastante desconfortável.

Novamente, me acalmei e voltei a ler a revista que estava em minhas mãos quando, alguns minutos depois, houve uma barulhenta comoção generalizada logo à minha frente.

Levei alguns instantes (que pareciam uma eternidade) para reparar que o rapaz muçulmano havia desmaiado, e algumas pessoas se reuniam em volta dele para socorrê-lo.

Felizmente, havia vários médicos no avião retornando de um congresso médico em Las Vegas e todos foram rápidos e bastante solícitos em socorrer o rapaz que imediatamente teve uma poltrona liberada ali do lado para se recompor, enquanto recebia os cuidados dos profissionais habilitados para tanto.

Confesso que, por alguns segundos, meu coração saltou à boca e imaginei o pior, mas logo fui alegremente surpreendido pelo fato de que há pessoas que não se assustam com os estereótipos e se apressam em fazer o melhor que podem para socorrer alguém. 

Vergonha para mim.

Chegamos todos sãos e salvos a Charlotte e, na sala de conexões, os mesmos 5 rapazes apareceram para tomar um voo para Londres no portão ao lado daquele que me traria de volta a São Paulo. 

Pausa, claro, para refletir sobre como nossas reações são condicionadas pelo medo (e pelo inconsciente) coletivo e - felizmente - na imensa maioria das vezes, estamos equivocados.

Claro que tudo que tem acontecido no mundo em termos de fanatismo, decapitações, terrorismo e intolerância religiosa não pode ser explicado na simplificação de um discurso do abraço, mas não custa nada sonhar e manter a esperança de que dias melhores virão.

É o que nos resta, afinal!

Jamais despreze o poder de um abraço. Sim, pode ser que um abraço mude o mundo. 

Pelo menos um pouquinho...



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