quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Família argentina que foi de Kombi aos EUA se encontrou com o papa


Quinze dias atrás, publicamos aqui matéria sobre a família argentina que viajou de Kombi por todas as Américas até os Estados Unidos, com o fim específico de participar do Encontro de Famílias em Filadélfia, Pennsylvania, que foi comandado pelo papa Francisco.

Apesar dos problemas típicos de uma viagem dessas, a família argentina chegou lá e, no dia 27 de setembro de 2015, domingo, receberam um telefonema às 6 da manhã dizendo que o papa queria conhecê-los.

Imediatamente, a família foi até o Seminário Saint Charles Borromeo, onde o pontífice estava hospedado, e - em menos de 5 minutos de espera - lá estava diante deles o seu conterrâneo papa Francisco que foi logo dizendo: "vocês são a família que veio de Buenos Aires? Estão loucos?", enquanto ria.

A família respondeu: "Sim, também temos uma quota de sã inconsciência como você", usando o pronome pessoal "vos" tão comum à informalidade argentina (o formal e desejável numa circunstâncias dessas seria, no mínimo, o "usted").

A seguir, todos se abraçaram e as crianças não desgrudavam do papa, que continuou: "quando me disseram que estavam aqui, eu disse que queria conhecer vocês, já que os estava acompanhando, que bom que nos encontramos!".

Depois, o papa se dirigiu em italiano a alguns membros de sua comitiva, dizendo: "isto é muito importante, uma família jovem que tem a coragem de sair numa Kombi e viver a vida com júbilo! que vai ao encontro de outras famílias".

A conversa se prolongou por mais tempo do que o previsto e o papa lhes agradeceu por terem ido a Filadélfia, e, enquanto se afastava depois de se despedir, dizia às gargalhadas: "são uns loucos".

As informações acima foram postadas na página da família no facebook.





terça-feira, 29 de setembro de 2015

Apresentador chama Andressa Urach de "sem vergonha" ao vivo na TV


E o nível rasteiro e demagógico da televisão brasileira só faz afundar.

A matéria é do portal Mais Goiás:

Andressa Urach é chamada de "sem vergonha" por apresentador

Telespectadores e fãs de Urach estão usando página oficial de Hélio Costa para xingá-lo e fazer ameaças.

Andressa Urach passou por uma situação no mínimo constrangedora ao participar do programa Jornal do Meio-Dia, exibido pela TV Record de Florianópolis. Ao discutir ao vivo com o apresentador Hélio Costa, ela acabou chorando.

A vice Miss Bumbum falava sobre os momentos da vida em que teve que se prostituir e usava como justificativa para opção a falta de dinheiro para cuidar de sua família. “Minha mãe teve seis filhos e foi trabalhar. Não caiu na sem-vergonhice igual a ti”, disse o apresentador.

Em seguida, Andressa não conseguiu se conter e chorou. Disse que estava ali para contar que havia mudado de vida. A ideia era lançar o livro Morri para Viver, em que ela relembra a própria trajetória, sem deixar de fora detalhes controversos. Costa afirmou que ainda não havia lido o livro.

Assista:


A repercussão do caso foi instantânea. De acordo com o site 'Bastidores da TV', assim que acabou o 'Jornal do Meio Dia', a direção da 'RIC TV' marcou uma reunião com o jornalista. Isso porque a Record de São Paulo pediu explicações sobre o caso. Andressa é contratada da emissora e faz constantemente reportagens para o 'Domingo Show'. Além disso, ela hoje tem a proteção de líderes da 'Igreja Universal', já que decidiu se converter evangélica e largar o passado para trás.

A reunião culminou com um pedido de desculpas nas redes sociais. Hélio Costa disse que o momento não foi apropriado para manifestar suas opiniões. Ele ainda desejou sucesso a Andressa e revelou que sua intenção não foi ofendê-la. Um outro pedido de desculpas deve ser dado no ar em breve,



Enquanto isso não acontece, o jornalista Hélio Costa sofre ameaças nas redes sociais. Telespectadores descontentes estão usando sua página oficial para xingá-lo e até dizer que vão bater nele. Um homem disse que se vê o apresentador na rua irá bater nele. Já uma mulher o chamou de preconceituoso. Boa parte dos queixosos pedem a afiliada da Record para demitir Hélio Costa, o que não deve acontecer, já que o repórter é conhecido justamente por sempre dar opiniões polêmicas. Esse tipo de âncora faz muito sucesso em telejornais locais, aumentando a audiência dos produtos jornalísticos.



segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Papa defende liberdade religiosa e elogia pioneiros protestantes dos EUA


A matéria é do IHU:

Na Filadélfia, Francisco conecta liberdade religiosa e identidade cultural

Com o salão sagrado da liberdade nos Estados Unidos como pano de fundo, o Papa Francisco usou o cenário para refletir sobre duas ideias principais para a fundação da nação: a liberdade religiosa em uma sociedade pluralista, que respeite a dignidade de todos, e a contribuição cultural dos imigrantes que "enriquecem a vida desta terra americana".

A reportagem é de Brian Roewe, publicada no sítio National Catholic Reporter, 26-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Entre uma multidão estimada de 50.000 pessoas reunidas ao longo do Independence Mall – cujos fundamentos abrigam o Sino da Liberdade e o Salão da Independência, local da assinatura da Declaração da Independência e da adoção da Constituição dos EUA – Francisco disse que a sua presença ali era "um dos momentos mais destacados da minha visita".

"Aqui foram proclamadas ela primeira vez as liberdades que definem este país", disse ele, fazendo referência à assinatura da Declaração, que confirmou que todos os homens [e mulheres] são criados iguais e têm direitos inalienáveis que os governos devem proteger.

Falando em espanhol a partir do púlpito usado por Abraham Lincoln em 1863 para proferir o discurso de Gettysburg, Francisco disse: "Essas palavras continuam ressoando e nos inspirando hoje, como fizeram com pessoas de todo o mundo, para lutar pela liberdade de viver de acordo com a sua dignidade".

Uma série de discursos, incluindo o do prefeito da Filadélfia, Michael Nutter, e do governador da Pensilvânia, Tom Wolf, e performances multiculturais do Tibete precederam a chegada de Francisco no Independence Hall.

Em cima do seu papamóvel ao chegar no Salão, um grupo de bispos hispânicos, dentre eles Dom José Gomez, arcebispo de Los Angeles, em nome da comunidade hispânica, presentearam o pontífice com uma cruz de quase dois metros de altura, chamada de "cruz de los encuentros", um símbolo do passado, presente e futuro da comunidade.

Perto do fim do seu discurso, dirigindo-se aos representantes na multidão "da grande população hispânica da América" e dos imigrantes recentes, o papa disse que muitos foram para os EUA "com um grande custo pessoal, mas com a esperança de construir uma nova vida".

"Não desanimem pelas dificuldades que vocês devem enfrentar. Peço-lhe que não se esqueçam de que, assim como aqueles que chegaram aqui antes, vocês trazem muitos dons a esta nação. Por favor, não se envergonhem nunca das suas tradições", disse Francisco.

Em particular, ele lhes implorou para não permitirem que a busca e a entrada em uma nova terra leve-os a abandonar as partes integrantes do seu passado.

"Eu repito, não se envergonhem daquilo que é parte essencial de vocês", disse.

Segundo o papa, uma das primeiras comunidades de imigrantes dos EUA – os quakers, liderados por William Penn, que fundou a Filadélfia em 1682 como parte da sua "santa experiência" como uma colônia baseada na tolerância religiosa – enriqueceu esta terra através do seu "profundo sentido evangélico da dignidade de cada indivíduo e do ideal de uma comunidade unida pelo amor fraterno".

"O sentido de preocupação fraterna pela dignidade de todos, especialmente dos mais fracos e dos vulneráveis, converteu-se em uma parte essencial do espírito norte-americano", disse.

Francisco chamou a liberdade religiosa de "um direito fundamental" que molda as interações com outras pessoas com pontos de vista religiosos diferentes e que "transcende os lugares de culto e a esfera privada dos indivíduos e das famílias".

Citando a sua exortação apostólica Evangelii gaudium, o papa disse que as religiões "tem o direito e o dever" de mostrar que é possível construir uma sociedade em que "um pluralismo saudável" que valoriza as diferenças é um "precioso aliado no empenho pela defesa da dignidade humana e um caminho de paz para o nosso mundo tão ferido".

"Em um mundo em que diversas formas de tirania moderna tentam suprimir a liberdade religiosa, ou reduzi-la a uma subcultura sem direito a voz e voto na praça pública, ou utilizar a religião como pretexto para o ódio e a brutalidade, é necessário que os fiéis das diversas tradições religiosas unam as suas vozes para clamar pela paz, pela tolerância, pelo respeito pela dignidade e pelos direitos dos demais", afirmou.

O recente clima político nos Estados Unidos tem lutado com a adequada interpretação da liberdade religiosa, seja no contexto da cobertura contraceptiva nos planos de saúde sob as regras do Affordable Care Act ou à luz da decisão da Suprema Corte dos EUA de legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Muitas vezes, a Igreja Católica dos EUA tem se posicionado à frente e no centro do debate, movendo ações judiciais contra o mandato da contracepção e expressando fortemente uma visão do casamento como sendo apenas entre um homem e uma mulher.

A história, disse Francisco, demonstrou a constante necessidade de reafirmar, reapropriar-se e defender as verdades essenciais. Falando da história dos EUA em particular, ele a descreveu como "a história de um esforço constante, que dura até os nossos dias, de encarnar" os princípios da Declaração de Independência na vida diária.

Dizendo que é importante recordar o passado, Francisco ofereceu capítulos de grandes lutas – o fim da escravidão, a extensão dos direitos de voto, o avanço do movimento operário e o enfrentamento do racismo e dos preconceitos contra os imigrantes – que "demonstra que, quando um país está determinado a permanecer fiel aos seu princípios fundadores, baseados no respeito da dignidade humana, ele se fortalece e se renova".

"Quando os indivíduos e as comunidades veem garantido o exercício efetivo dos seus direitos, eles não só são livres para realizar suas próprias capacidades, mas também, com essas capacidades, com o seu trabalho, contribuem para o bem-estar e o enriquecimento de toda a sociedade", disse.

Francisco agradeceu a todas as pessoas, "de qualquer religião", que têm servido a Deus "através da construção de cidades de amor fraterno", mediante o trabalho para defender a vida em todas as suas fases, o cuidado pelos vizinhos e assumindo as causas dos pobres e dos imigrantes.

"Com esse testemunho, que frequentemente encontra uma forte resistência, vocês lembram à democracia norte-americana os ideais que a fundaram, e que a sociedade se enfraquece cada vez e sempre que qualquer injustiça prevalece", disse Francisco.

Francisco, depois, em breve, em comentários de improviso, repetiu um tema que ele usou muitas vezes antes sobre a globalização. Ele disse que o impulso para a globalização é bom, mas que deve ser um processo que respeite as identidades individuais dos diferentes povos.

Ele comparou as imagens de uma esfera e de um poliedro, dizendo que uma esfera torna cada ponto do centro iguais, mas um poliedro é um exemplo de "respeito a cada pessoa, à sua riqueza, à sua peculiaridade".

Ele encerrou pedindo que os EUA e cada um de seus cidadãos renovem a sua gratidão pelas suas bênçãos e liberdades. "Que vocês possam defender esses direitos, especialmente a liberdade religiosa, que Deus lhes deu", concluiu, enquanto o sino no topo do Independence Hall batia um coro persistente.



domingo, 27 de setembro de 2015

NASA preocupada com a superlua desta noite


A matéria é da BBC Brasil:

Por que eclipses como o deste domingo preocupam a Nasa

Ao longo da noite deste domingo e da madrugada de segunda-feira, grande parte do mundo, incluindo o continente americano, terá a oportunidade de desfrutar do espetáculo raro de um eclipse total da Lua junto e do evento da superlua.

O eclipse total deve deixar a Lua completamente nas sombras, pois a Terra fica entre ela e o Sol. Já a superlua acontece quando a Lua cheia ou nova se encontra em seu ponto mais próximo da Terra.

Para os entusiastas de astronomia esses eventos serão belos. Mas, para a agência espacial americana, a Nasa, será motivo de preocupação.

Os cientistas temem que a falta de luz solar devido ao eclipse deixe sem energia uma de suas naves mais importantes, a Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO), cuja missão é explorar e monitorar o satélite natural da Terra.

"Duas coisas acontecem durante um eclipse: fica muito frio e não há luz para carregar as baterias (da nave). Com o eclipse, a nave vai ficar sem luz direta do Sol por cerca de três horas", disse à BBC o cientista da Nasa Noah Petro.

Apesar do temor da Nasa, a agência espacial americana já passou, com êxito, por outros três eclipses lunares nos últimos 17 meses.

"Sempre é estressante quando o eclipse está se aproximando, mas seguimos os mesmos procedimentos e não tivemos nenhum problema", afirmou Dawn Myers, do centro de voos espaciais Goddard, que faz parte da Nasa.

Lua vermelha

O eclipse total deve durar mais de uma hora. A Lua também ficará com uma cor avermelhada pois sua superfície estará iluminada por raios tênues que refletem da atmosfera terrestre.

O que gera a preocupação na Nasa é que tecnologias semelhantes às da LRO enfrentaram dificuldades durante eclipses passados. No entanto, a LRO foi projetada especificamente com esses problemas em mente.

"Normalmente a LRO recarrega as baterias com a luz do sol, então quando temos um eclipse, ficamos muito cautelosos em relação à nave", disse Noah Petro.

Mas o cientista lembra que a Nasa tem experiência em eventos como este e, desta vez, vai tomar algumas precauções.

"Vamos preaquecer a nave e desligar todos os instrumentos, exceto um para manter a nave segura", afirmou. "Como no celular, toda vez que recebo o alerta de que tenho 20% (de bateria restante), posso desligar o wi-fi ou certos aplicativos (para economizar energia)."

"Prevemos que tudo ocorrerá normalmente. Estaremos preparados e prontos para enfrentar (o eclipse). Vamos observar os níveis das baterias e estamos prontos para agir se algo não sair conforme o previsto. Vamos garantir que (a nave) saia do eclipse em boa forma", disse.

O próximo eclipse lunar total deve ocorrer em 2018 e um eclipse lunar e superlua simultâneos só devem ocorrer em 2033.

E, apesar de o fenômeno ser chamado de superlua, não será vista uma diferença tão extraordinária.

"Não é como a diferença entre um homem comum e o Super-Homem. É uma Lua ligeiramente maior, em vez de superlua", disse Alan MacRobert, um dos editores da revista especializada em astronomia Sky and Telescope.

De concreto, será vista uma Lua 14% maior e cerca de 30% mais brilhante do que a Lua cheia normal.



sábado, 26 de setembro de 2015

"Mente vazia" na infância ajuda a lidar com frustrações na vida adulta


É o que afirma, entre outras informações igualmente interessantes, matéria publicada no R7:

Pais que mimam filhos estão criando geração de adultos deslocados e incapazes de lidar com frustração

Especialistas mostram como imediatismo dos pais causa graves consequências às crianças

À mesa do restaurante, João faz manha exigindo o celular da mãe para se divertir durante o almoço. Maria se joga no chão da loja de brinquedos porque quer que o pai compre aquela boneca agora. E, sentado no sofá de casa, Pedro se irrita com os pais porque quer uma resposta urgente sobre poder ou não ir à festa dos amigos no sábado à noite. Todos eles, não importa a idade, têm algo em comum: vão se tornar adultos mimados, incapazes de lidar com as frustrações do mundo.

A culpa do destino dos três, João, Maria e Pedro, é do imediatismo que rege as relações atualmente. Temos, como pais, dito muitos “sim” para os filhos, quando, na verdade, o ideal seria dizer mais “não sei” ou “vou pensar”. Como explica a psicóloga e educadora Rosely Sayão, essa atitude traz como maior prejuízo uma alienação em relação à realidade.

— O adulto que tem o imediatismo cultivado, ao invés de controlado, tem dificuldade de compreender e se inserir no mundo.

Pressionados a responder às demandas dos filhos imediatamente, os pais acabam soltando respostas impensadas, e a consequência, na visão da coach de vida e carreira Ana Raia, é a criação de jovens pouco preparados para lidar com a vida.

Segundo ela, os pais, atualmente, não aguentam não ser imediatistas. Se no passado eles se permitiam deixar os filhos insatisfeitos por mais tempo, hoje atitudes como essa se transformaram em um dos maiores desafios na educação das crianças e jovens.

Ana acredita que a tecnologia colabore para o imediatismo a partir do momento em que, ao toque de um dedo na tela do celular, a resposta para qualquer pergunta ou busca de informação podem ser obtidas em pouquíssimos segundos.

— Não conseguimos sustentar uma dúvida por muito tempo, um incômodo. Não sabemos lidar com um mal-estar neste mundo onde a felicidade é imperativa.

E a dúvida, explica Rosely Sayão, é preciosa, assim como a espera e o pensamento, porque eles ajudam a criança a crescer e a amadurecer. Crianças que não têm momentos de “mente vazia”, por exemplo, poderão sofrer graves consequências na vida adulta.

Alguém que está sempre entretido terá para sempre a necessidade de entretenimento constante, alerta o médico Daniel Becker, criador do projeto Pediatria Integral. Segundo ele, para ser criativo, o cérebro humano precisa da criatividade.

— São necessários momentos em que ele está engajado com algo externo, e também momentos em que está ocioso, em estado de contemplação. Quando uma criança tem seu tempo completamente tomado com atividades como escola, inglês, natação, Facebook, Instagram, WhatsApp, ela fica incapacitada de ter importantes processos interiores.

Becker acrescenta que crianças que não interagem com seus pares ou com os adultos, porque passam o dia com eletrônicos na mão, terão menos inteligência emocional, menos empatia e menos capacidade de se comunicar com os outros quando crescerem.

Se este já não fosse um bom argumento, ainda haveria a opinião de outros especialistas, que enxergam o hábito dos pais de entregar celulares e tablets às crianças como algo benéfico apenas para os adultos.

Na opinião de Rosely Sayão, oferecer um eletrônico em momentos em que se espera que os filhos se socializem com a família e amigos não é um carinho, mas, sim, um comodismo.

— O celular e o tablet nestas situações têm a função do “cala a boca”, nada além disso.

Mas, então, o que fazer quando a conversa no restaurante está boa, mas os pequenos não param de dar chilique e pedir para ir embora? O pediatra Daniel Becker dá uma boa dica.

— As pessoas se esquecem que as crianças sabem conversar e que podem fazer pequenos contratos. Mesmo as menorzinhas têm essa capacidade de compreensão. Basta dizer ao filho que, nos momentos em que estiverem conversando em família, ele não terá o tablet, mas que, quando a mamãe e o papai estiverem falando só com seus amigos, ele poderá pegar o tablet emprestado por 15 minutos. Assim, se alcança um equilíbrio.

Soluções como esta são recursos para que os pais lidem não só com o imediatismo das crianças, como também o deles próprios, que pode, mesmo que de maneira não intencional, servir como exemplo negativo aos filhos, que acabam copiando as atitudes da família.

Para o pediatra presidente do Congresso Brasileiro de Urgências e Emergências Pediátricas, Hany Simon, a ansiedade e a angústia na adolescência e na vida adulta podem ser resultados do imediatismo paterno presenciado na infância. E, como reforça Rosely Sayão, viver de maneira urgente só traz impactos emocionais negativos nas crianças.

— Somos imediatistas desde que nascemos. Choramos para manifestar desconforto, somos atendidos e temos nossas necessidades básicas saciadas. Com isso, vem também uma sensação de prazer, que vamos desejar para sempre. No entanto, precisamos entender que não é o princípio do prazer que vai reger a nossa vida, e, sim, o princípio da realidade. O papel dos pais é, aos poucos, mostrar aos filhos a realidade do mundo.



sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Os brasileiros que se convertem ao Islã


Excelente matéria publicada na BBC Brasil:

Quem são os brasileiros que se convertem ao islã?

Camilla Costa

Na última sexta-feira, a paulistana Jamile Carneiro, de 28 anos, decidiu ir pela primeira vez à mesquita do Pari, motivada pela curiosidade sobre o islamismo. "Meu namorado é de Bangladesh e é muçulmano. Ele nunca falou nada sobre a religião, dizia que eu não ia entender. Mas eu falei que eu viria aqui pra entender", disse à BBC Brasil.

Durante a pregação, uma mulher a repreendeu duas vezes. Uma delas, porque ela deveria vestir uma saia por cima de suas calças jeans. Outra, porque a garota se aproximou do parapeito que separava o piso inferior da mesquita – destinado aos homens – do mezanino, onde ficam as mulheres. "Ela me disse que eu não podia olhar para os homens, mas eu só queria ver como é a oração. Não gostei muito. A primeira impressão não foi boa", afirmou, envergonhada.

Em seguida, no entanto, uma senhora de origem libanesa aproximou-se da novata, tranquilizou-a e a conduziu pelo ritual da oração. "A mulher que falou com você é uma brasileira convertida. Os brasileiros são muito fervorosos", disse.

Segundo o sheik Rodrigo Rodrigues, que conduz as orações na mesquita no centro da capital paulista, as conversões de brasileiros ao islamismo têm se tornado mais frequentes. "Acho que todo sábado duas ou três pessoas se convertem aqui. Nós não registramos, porque acreditamos que a conversão é pessoal e espontânea", disse à BBC Brasil.

O Censo 2010 do IBGE fala em cerca de 30 mil praticantes da religião no país, mas a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras) estima que o número tenha saltado de 600 mil em 2010 para entre 800 mil e 1,2 milhão de fiéis em 2015.

A maior parte dos brasileiros, segundo Rodrigues, busca informações a partir de relatos da imprensa sobre conflitos envolvendo países de maioria muçulmana. "Elas querem saber o que é o islã, quem era Bin Laden, o que é Charlie Hebdo (revista francesa que, em janeiro, teve vários funcionários assassinados em ataque extremista). E quando leem algo sobre o islamismo e escutam os muçulmanos, pensam 'pô, não é nada disso que eu imaginava. E acabam se convertendo'", afirma.

Com a chegada de mais imigrantes de origem muçulmana ao país nos últimos anos, vindos de países como Síria, Líbano, Nigéria e Gana, romances com estrangeiros também atraem brasileiras curiosas, como Jamile, aos centros islâmicos.

Na mesma sexta-feira, a mineira Sonia Aparecida de Oliveira, de 54 anos, também acompanhava a oração pela primeira vez, no dia se seu casamento com o sírio Jassi Mohammad, que chegou no país há três meses. "Nós nos conhecemos pela internet há cinco anos e começamos a namorar. Recentemente, por causa da guerra, ele decidiu vir para o Brasil. Só acreditei quando ele me mostrou a passagem e o passaporte", disse à BBC Brasil.

Apesar de "ter perdido um pouco a fé" por causa do trauma vivido em seu país, segundo Sonia, Jamil quis um casamento religioso – muçulmanos podem casar-se com mulheres que não pertencem à religião. A cerimônia é simples e curta. Sonia diz que não pretende se converter, mas é só elogios à fé do marido. "Eles são tão humanos, né. Tivemos um tratamento maravilhoso aqui, eu não esperava."

Download do Alcorão

Há cerca de três anos, o estudante de ciências contábeis Antonio Ali, de 29 anos, chegou à religião pela internet, tentando entender o conflito entre Israel e Palestina. "Comecei a pesquisar os problemas políticos daquela região e, como também estava estudando inglês, comecei a conversar com pessoas de lá, do Golfo, do Marrocos, do Paquistão, da Argélia", disse à BBC Brasil.

"Eles eram o contrário daquilo que eu esperava. Eu achava que seriam extremistas e radicais, mas eram pessoas extremamente simpáticas e muito educadas. E o que todas elas tinham em comum era a religião, mesmo sendo de regiões muito diferentes. Elas tinham a preocupação de fazer algo correto."

"Comecei a pesquisar, entrar em sites, fiz o download do Alcorão. Foi assim que eu me converti, há um ano e meio."

Foi também pelo computador que ele descobriu a comunidade islâmica em São Paulo – a maior do país. "Eu não tinha ideia como era o islã no Brasil. Mas nós, muçulmanos, temos obrigações, como fazer a oração de sexta-feira na mesquita. Aí procurei na internet e encontrei a mesquita do Brás. Depois fui conhecendo outras."

Em sua busca por informação, Ali também diz ter tido contato com discursos extremistas, como o do grupo autodenominado "Estado Islâmico", online. "Vemos porque eles colocam lá pra todo mundo ver, né."

"Não posso falar por todos (os muçulmanos), mas a maioria que eu conheço não aprova os atos deles porque eles são radicais e não seguem o Alcorão. Não tenho como aprovar um grupo que está distorcendo aquilo que foi ensinado. Existem coisas que eles fazem que seguem o Alcorão? Existem. Mas eles só seguem o que é interessante para eles."

'Aqui é o meu lugar'

A família da paulistana Carla Taky Eldim, de 38 anos, teve uma reação "péssima" ao ser informada sobre a vontade dela de se converter ao islã, 15 anos atrás.

"Meus pais e meus irmãos são muito católicos, não acreditavam que o islã era uma religião. Quando eles souberam que o islã prega que Jesus era um profeta, e não o filho de Deus, piorou a situação", disse à BBC Brasil.

Carla converteu-se meses antes de se casar com o sheik egípcio Khaled Taky Eldim, radicado no Brasil."Eu trabalhava em uma clínica dentária, ele foi fazer o tratamento e me conheceu. Em uma semana ele me mandou flores, na outra semana ele me pediu em casamento. Eu não aceitei, fiquei relutante. Mas ele me chamou a atenção pela educação e pela tranquilidade."

Três meses – e mais dois pedidos de casamento – depois, eles venceram a resistência da família. "Nesse tempo ele foi me apresentando o islã, me deu livros, me passou o endereço de uma mesquita. Fui lá, gostei muito do que eu ouvi. Pensei: 'aqui é o meu lugar'", relembra.

Assim como Jamile Carneiro, orientada por uma senhora muçulmana na mesquita do Pari, Carla Eldim diz que uma mulher mais velha que conheceu em sua primeira visita foi essencial no seu processo de conversão. "Ela me apresentou a mesquita de uma maneira tão maravilhosa. Me chamou para rezar, me ensinou a fazer a ablução (ritual de purificação antes das orações). Eu não esqueço disso até hoje."

Uma semana após dizer que sua primeira impressão da religião "não foi boa" por ter sido repreendida, Jamile diz que pretende voltar a acompanhar as orações, desta vez com o namorado bengali.

"Dia 23 vai ter uma festa na mesquita e, se a gente não for trabalhar, vamos juntos. Ele falou para eu não ir de calça e não usar roupa muito moderna. Usar roupas mais simples, sem muitos detalhes."

"Percebi que eles falam muito sobre o que acontece no mundo lá fora, a perseguição aos muçulmanos. Nas igrejas católicas fala-se muito de salvação da alma e essas coisas, mas eles não usam essas palavras. Eu achei diferente. Mas quero voltar, saber mais sobre a cultura deles e sobre o Alcorão", afirma.



quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Papa Francisco encanta multidões nos EUA


A matéria é do IHU:

Francisco se encontra com Obama e pede que se protejam a liberdade religiosa e o ambiente


O Papa Francisco se encontrou com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em um encontro público extraordinariamente lotado do lado de fora da Casa Branca nesta quarta-feira de manhã, e elogiou o presidente pelo seu trabalho na luta contra as mudanças climáticas, mas também pediu que ele proteja a liberdade religiosa no país. 

A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada no sítio National Catholic Reporter, 23-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


Na presença de uma multidão-recorde de cerca de 15.000 convidados, muitos dos quais chegaram antes do amanhecer para ver o papa, Francisco agradeceu em primeiro lugar a Obama por acolhê-lo – um "filho de uma família de imigrantes" – nos EUA.

O papa, depois, expressou a esperança de que o presidente seria "vigilante" no respeito da liberdade religiosa, mas também disse que ele e os católicos norte-americanos não buscam praticar qualquer tipo de discriminação.

"Juntos com os seus concidadãos, os católicos norte-americanos estão comprometidos com a construção de uma sociedade que seja verdadeiramente tolerante e inclusiva, com a salvaguarda dos direitos dos indivíduos e das comunidades, e com a rejeição de todas as formas de discriminação injusta", disse o pontífice ao presidente.

"Com inúmeras outras pessoas de boa vontade, eles estão igualmente preocupados para que os esforços para construir uma sociedade justa e sabiamente ordenada respeitem as suas preocupações mais profundas e o seu direito à liberdade religiosa", continuou.

"Essa liberdade continua sendo um dos bens mais preciosos da América", disse Francisco. "E, assim como meus irmãos, os bispos dos Estados Unidos, nos lembraram, todos são chamados a ser vigilantes, precisamente como bons cidadãos, para preservar e defender essa liberdade de tudo o que possa ameaçá-la ou comprometê-la."

O papa e o presidente, em seguida, se encontraram em privado por um momento, para conversar longe dos holofotes.

A visita de Francisco à Casa Branca nessa quarta-feira foi o seu primeiro encontro público durante a sua viagem de seis dias nos EUA, que também irá levá-lo para Nova York e Filadélfia.

Mais tarde, nessa quarta-feira, o papa se reuniu com os bispos norte-americanos e, depois, canonizou o missionário franciscano do século XVIII Junípero Serra, durante uma missa na Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição, em Washington.

Na quinta-feira, ele vai discursar para uma sessão conjunta do Congresso antes de ir para Nova York.

A expectativa para os eventos do pontífice tem sido extraordinariamente alta. Multidões começaram a chegar à Casa Branca nas primeiras horas da manhã dessa quarta-feira. Dentre os presentes, estavam uma ampla gama de pessoas, incluindo o clero de muitas denominações, religiosas que participam da ação Nuns On The Bus, membros do Congresso e do Gabinete de governo.

Por sua parte, Obama acolheu Francisco aos EUA com louvor generoso pelo seu trabalho e ministério – dizendo que o papa ajuda a "sacudir a nossa consciência da sonolência".

O papa, disse Obama, nos convida "a regozijar na Boa Nova e nos dá a confiança de que podemos nos unir, em humildade e serviço, e buscar um mundo que seja mais amoroso, mais justo e mais livre".

O presidente mencionou especialmente a humildade do pontífice, o seu foco no "menor destes" e o seu chamado a uma Igreja focada na misericórdia.

Obama também agradeceu novamente Francisco pelo seu papel na recente normalização das relações entre EUA e Cuba, dizendo: "Estamos gratos pelo seu apoio inestimável do nosso novo começo com o povo cubano, que mantém a promessa de melhores relações entre nossos países, uma maior cooperação em todo o nosso hemisfério e uma vida melhor para o povo cubano".

O foco de Francisco ao pedir a proteção da liberdade religiosa no país ecoa as preocupações que os bispos dos EUA manifestaram nos últimos anos, particularmente sobre o que está previsto no Affordable Care Act em relação à obtenção de contraceptivos.

Obama também mencionou a liberdade religiosa no seu discurso, focando-se particularmente nos contínuos assassinatos de cristãos no Oriente Médio.

"Aqui nos Estados Unidos, nós prezamos pela liberdade religiosa", disse o presidente. "Ela foi a base para grande parte daquilo que nos uniu."

"No entanto, em todo o mundo, neste exato momento, filhos de Deus, incluindo cristãos, são alvejados e até mesmo mortos por causa da sua fé", continuou.

"Nós estamos com o senhor na defesa da liberdade religiosa e do diálogo inter-religioso, sabendo que as pessoas de todas as partes devem poder viver a sua fé sem medo nem intimidação", disse Obama a Francisco.

O papa elogiou o presidente pelas medidas que ele tomou para reduzir a poluição do ar, dizendo que "parece-me claro também que as mudanças climáticas são um problema que não pode mais ser deixada para uma geração futura".

"Quando se trata do cuidado da nossa 'casa comum', nós estamos vivendo em um momento crítico da história", disse Francisco.

"Nós ainda temos tempo para fazer as mudanças necessárias para criar um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar", continuou o papa, citando a sua encíclica Laudato si'.

"Tais mudança demanda da nossa parte um reconhecimento sério e responsável não só do tipo de mundo que podemos estar deixando para os nossos filhos, mas também para os milhões de pessoas que vivem sob um sistema que os tem negligenciado", disse.

"A nossa casa comum tem sido parte desse grupo dos excluídos que clama aos céus e que hoje atinge poderosamente as nossas casas, as nossas cidades e as nossas sociedades", disse Francisco. "Para usar uma frase reveladora do reverendo Martin Luther King, podemos dizer que não cumprimos com uma nota promissória e agora é a hora de honrá-la".

A cerimônia desta quarta-feira na Casa Branca foi marcada por muita pompa e circunstância. Membros das Forças Armadas dos EUA anunciaram a chegada de Francisco em uniforme de gala, desfilando com dezenas de bandeiras dos EUA e do Vaticano.

A ampla gama de pessoas presentes no evento levou até um senador dos EUA a dizer que o papa havia feito algo que antes era considerado impossível.

O senador Chuck Grassley, de Iowa, tuitou que "você pode não acreditar nisto", mas os republicanos estavam conversando com os democratas enquanto esperavam por Francisco.

O pontífice falou lentamente em um inglês marcado durante a cerimônia na Casa Branca. Espera-se que ele use essa língua apenas mais algumas vezes enquanto estiver nos EUA, preferindo falar no seu espanhol nativo.



quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Quem vai beijar a mão do papa na Casa Branca?


A matéria é do IHU:

Desacordo entre a Santa Sé e a Casa Branca sobre os convidados para a recepção papal em Washington

As diferenças entre o Vaticano e a Casa Branca sobre posturas dogmáticas da Igreja católica ficaram expostas antes da chegada do Papa Francisco aos Estados Unidos para a sua visita, revelou no sábado o jornal The Wall Street Journal. O Vaticano vetou a lista de convidados para dar as boas-vindas ao Pontífice na Casa Branca, entre os quais figuram um ativista transgênero, o primeiro bispo abertamente homossexual e uma freira que criticou a Santa Sé por seu silêncio em temas como o aborto e a eutanásia.

A reportagem é publicada por Religión Digital, 20-09-2015. A tradução é de André Langer.

De acordo com um alto funcionário do Vaticano, a Santa Sé teme que qualquer foto do Papa com alguns destes convidados possa ser interpretada como um apoio às suas atividades, indicou o jornal.

Um dia após sua chegada aos Estados Unidos nesta terça-feira, Francisco será recebido por Obama com honras de chefe de Estado na Casa Branca, onde o presidente e o pontífice terão um encontro privado. O jornal assinalou que as tensões surgidas a partir dessa lista exemplificaram as preocupações de alguns católicos conservadores com o fato de que a Casa Branca poderia utilizar este momento para minimizar suas diferenças com líderes da Igreja sobre temas como o casamento entre pessoas do mesmo sexo e os anticoncepcionais.

A Casa Branca manteve em sigilo a lista destes convidados e quando o porta-voz presidencial, JoshEarnest, foi questionado a respeito, na quinta-feira passada, subestimou as reportagens da imprensa que revelaram inicialmente a inclusão destes convidados.

“Eu pediria para não tirar muitas conclusões sobre uma, duas ou talvez três pessoas da lista de convidados, porque haverá mais 15 mil pessoas aí”, disse, fazendo alusão à concorrência que se estima estará no jardim sul da residência presidencial para a cerimônia da próxima quarta-feira.

Os convidados foram identificados como a Ir. Simone Campbell, diretora executiva da Network, descrita como uma associação de lobby para justiça social. Os outros dois são o bispo Gene Robinson (na foto, à direita, ao lodo do seu companheiro), o primeiro bispo declaradamente homossexual da Igreja episcopal, e Mateo Williamson, ex-diretor da associação Dignity USA, formada por católicos membros da comunidade LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais).



segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Vaticano recebe primeira família de refugiados sírios


A matéria é do Brasil Post:

Após apelo do papa Francisco, Vaticano recebe primeira família de refugiados sírios

Em resposta a um pedido do papa Francisco para que todas as paróquias católicas recebessem refugiados, a Cidade do Vaticano informou nesta sexta-feira (18) que recebeu uma família que fugiu da guerra na Síria.

A família -pai, mãe e seus dois filhos, vieram de Damasco e são católicos da Igreja Greco-Católica Melquita, uma igreja cristã com laços próximos à Igreja Católica Romana.

O Vaticano informou em nota que a família, que não foi nomeada, chegou à Itália em 6 de setembro, o dia em que o papa Francisco fez seu apelo para que paróquias europeias abrissem suas portas para refugiados.

"De acordo com a lei, pelos seis primeiros meses após o pedido de asilo, aqueles que buscam proteção internacional não podem trabalhar. Durante este momento, eles serão ajudados e acompanhados pela Paróquia de Santa Ana", acrescentou o Vaticano.

Centenas de milhares de pessoas, em maioria fugindo da guerra e pobreza no Oriente Médio e África, fugiram para a Europa nesta ano, em um fluxo que a União Europeia sofre para conseguir absorver.



domingo, 20 de setembro de 2015

Desacelere a sua mente, elimine o excesso de informação e viva melhor!


É o que aconselha o neurocientista Daniel Levitin em entrevista concedida a Lúcia Guimarães e publicada no Estadão:

Contemplar o capim

Em livro, neurocientista desmonta o mito das multitarefas e mostra que descansar a mente libera espaço para as grandes ideias

Folgo e convido minha alma,
deito-me e folgo à vontade vendo
uma lança de capim no estio.
(CANÇÃO DE MIM MESMO, POEMA DE FOLHAS DE RELVA, DE WALT WHITMAN)

Quem tem tempo de se espalhar na grama e admirar a lança de capim em vez de conferir a tela do smartphone? Em 1855, o poeta Walt Whitman não sabia nem precisava saber o que era ser multitarefas, mas já ensinava, em seu poema clássico, que a mente precisa vadiar. Vivemos uma era de aceleração de fontes de informação como nenhuma outra na história da humanidade. Mas o nosso cérebro tem a mesma capacidade fisiológica de enfrentar esse ataque de dados que tinha o cérebro do poeta. Em um livro best-seller escrito para você e para mim, não para cientistas, o celebrado autor Daniel Levitin oferece recursos para impedir que o leitor seja soterrado pela avalanche diária de informação. A Mente Organizada combina a apresentação das descobertas recentes em estudos sobre o cérebro e sugere rotinas para assumir o controle do ecossistema de informação, e não ser controlado por ele. Levitin é um neurocientista, especialista em psicologia cognitiva e músico, autor de outro best-seller, A Música no Seu Cérebro.

Ele dirige um laboratório de percepção musical na McGill University, em Montreal, e é cofundador e diretor do programa de Ciências Sociais do Projeto Minerva, universidade fundada em 2012 em San Francisco. O Minerva é um programa de graduação com 120 alunos que visa a reformar a educação superior do século 21 para enfrentar as rápidas mudanças em vários campos de conhecimento. “Não achamos honesto cobrar altas anuidades de estudantes que, ao se formar em certos campos profissionais, não podem mais usar o que aprenderam porque seu conhecimento já está superado”, diz Levitin, em entrevista exclusiva ao Aliás. “Temos foco em pensamento crítico, solução de problemas e 25% do currículo é concentrado em promover a comunicação efetiva.” Engraçado: na era dos nerds esquisitões da tecnologia, uma escola de vanguarda privilegia o diálogo.

Em A Mente Organizada, Levitin observa o que têm em comum as pessoas bem-sucedidas e produtivas. Sugere estratégias de organizar a memória – esvaziá-la com exercício e instrumentos que chama de extensões do cérebro, como calendários eletrônicos, smartphones e cadernos de anotação. Curiosamente, ele notou, entre seus mais ocupados interlocutores, um apego físico a objetos analógicos, pequenos cadernos de anotação, fichas, canetas e lápis. E especula sobre as vantagens de manter esse hábito.

O cérebro precisa de resets neurais. São esses resets que nos tiram de situações como a de um carro atolado na lama. É frequente, depois de uma pausa de repouso, encontrar a solução para um problema que parecia fora de alcance. A neurociência, conta Levitin, comprova que contemplar a natureza oferece um poderoso reset – até mesmo olhar imagens da natureza.

A eficiência em organizar a informação nos torna mais do que produtivos. É um instrumento de libertação para o ócio, para os momentos em que podemos contemplar a grama e ter grandes ideias. Como ter inspiração para escrever o maior clássico da poesia norte-americana.

Por que falamos em sobrecarga de informações?

Para os cientistas, a sobrecarga é a diferença entre a quantidade de informação com que somos bombardeados e a capacidade do nosso cérebro de lidar com ela.

O que é a obsolescência evolucionária, que o senhor aponta como parte do obstáculo para lidar com o excesso de informação?

Todos os organismos vivos estão constantemente se adaptando ao meio ambiente. A seleção natural exerce influência sobre essa adaptação. Por exemplo, nós nos adaptamos à erosão da camada de ozônio e pessoas que adquirirem maior resistência aos raios ultravioleta transmitirão aos descendentes o gene de sobrevivência a eles. Mas é um longo e lento processo. Nosso cérebro evoluiu para lidar com um ambiente que existia há 10, 20 mil anos. O genoma humano precisa de tempo para se adaptar. Para você ter uma ideia, em 30 anos quintuplicou a quantidade de informação que recebemos a cada dia. Pense nisso como o equivalente a ler 175 jornais de ponta a ponta diariamente. Outro número extraordinário: em 1976, nos Estados Unidos, havia cerca de 9 mil produtos únicos à venda num supermercado. Hoje, há cerca de 40 mil. O consumidor americano, que compra uma média de 150 produtos, tem que navegar entre uma quantidade muito maior de escolhas.

Embora a evolução do cérebro esteja “atrasada”, há duas gerações essa obsolescência era muito menos sentida, certo?

Vamos considerar um aprendizado que foi necessário para nossos avós. Eles tiveram que aprender a usar o telefone uma ou duas vezes – tiveram que fazer chamadas com ajuda de telefonistas e depois aprenderam a discar. Hoje, os smartphones não param de mudar. Você troca de modelo e tem que aprender inúmeras funções, que daqui a poucos anos serão trocadas.

Há um site chamado “Deixe eu googlar isto pra você” inspirado na exasperação que muitos sentem quando alguém faz uma pergunta que pode ser respondida online. Qual a importância de ter tanta informação disponível em poucos segundos?

Quando eu cursava a Universidade Stanford, na Califórnia, gostava de estudar dentro da enorme biblioteca principal. Havia ali respostas para tudo o que eu queria saber. Mesmo se eu me distraísse e quisesse conferir algo que não tinha ligação direta com o trabalho em questão, era preciso levantar, localizar um livro ou publicação num sistema de classificação. Hoje, a nossa atenção é desviada o tempo todo para novas fontes e isso afeta a possibilidade de recuperar o foco inicial. Há enorme variação na nossa capacidade de virar a chave da atenção. Mulheres e jovens tendem a ser mais rápidos do que homens e idosos. Mas varia muito. Se me distraio de algo, demoro uns cinco minutos para retomar a concentração.

A palavra multitarefas, executar várias tarefas ao mesmo tempo, é indissociável da rotina do século 21. Mas o senhor diz que multitarefas não passam de ficção.

Não existem multitarefas, é um mito. O cérebro simplesmente não comporta isso. A pessoa pensa que está lidando com várias coisas ao mesmo tempo quando, de fato, o cérebro está experimentando rápidas mudanças de foco que mal percebemos, o que resulta numa atenção fragmentada a várias coisas e nenhuma atenção sólida a uma que seja. Recentemente ficou provado que conseguimos prestar atenção a, no máximo, três ou quatro coisas de uma vez. O cérebro é eficaz em provocar autoilusão. Achamos que estamos no controle das coisas. Mas executar várias tarefas ao mesmo tempo libera um hormônio de estresse, o cortisol. O cortisol tem um papel evolucionário, mas também provoca ansiedade, nervosismo e afeta a clareza de pensamento. Comparo o ato de fazer várias tarefas ao mesmo tempo com uma espécie de embriaguez. Há trabalhos que exigem essa capacidade, como tradutor simultâneo ou controlador de tráfego aéreo. E não é à toa que, nessas funções, as pessoas são obrigadas a fazer várias pausas de descanso para recuperar a capacidade de se concentrar.

No entanto, há uma noção de que as pessoas bem-sucedidas, e o senhor entrevistou mais de 100 para escrever o livro, são as que têm o poder de acumular mais tarefas do que os outros.

Exato, mas a história e a ciência de laboratório nos provam o contrário. Estudos mostram que o trabalho de quem mantém o foco numa tarefa é mais criativo. Isso vale tanto para grandes empresários, atletas e inovadores como para artistas. Valia para Da Vinci e Michelangelo. Olhe para o alto na Capela Sistina, considere grandes conquistas como o cubismo, a 5ª Sinfonia de Beethoven, a obra de William Shakespeare – tudo é resultado de atenção sustentada ao longo do tempo.

Por que o senhor diz que as crianças devem aprender na escola, já aos 10 anos, a enfrentar a sobrecarga de informação?

Qualquer criança alfabetizada sabe que pode encontrar uma informação em segundos. Mas a maior parte do que está online é desinformação. Ficções mascaradas de fatos. Até estudantes universitários se deixam confundir. Recolhem informações sem perguntar quem está por trás. Como saber que a fonte é confiável? Na escola, os professores devem ensinar, para começo de conversa, que websites não são iguais. Devem incutir um questionamento crítico na pesquisa. À medida que os alunos crescem, vão adquirindo mais nuances para se informar. Por exemplo, se a criança quer um brinquedo, pode-se ensinar a ela que o website do fabricante não é a fonte mais confiável sobre a segurança do brinquedo. Antes, no ecossistema analógico, tínhamos curadores de informação, era mais fácil distinguir a credibilidade de fontes.

O senhor diz que as pessoas mais produtivas são as que melhor estabelecem prioridades.

A maioria de nós chega ao trabalho hoje em dia e é bombardeada com o “por fazer”. É como entrar cambaleando num ambiente em que há muitas exigências e começamos a atacar o que passa pela frente. Não fazemos um esforço consciente e deliberado de evitar que o ambiente em volta nos domine. Isso aumenta o cansaço e diminui a produtividade. Todas as pessoas altamente bem-sucedidas com quem converso têm em comum o fato de que elas anotam o que há por fazer e já começam a trabalhar cientes de prioridades.

O senhor diz que uma ferramenta útil para priorizar são os chamados exercícios de limpeza da mente.

Sim. O David Allen, um guru da produtividade e autor de A Arte de Fazer Acontecer, aponta para a importância de externalizar a informação. Recomenda anotar tudo o que está se passando na sua cabeça, coisas que têm a ver com a tarefa em questão e preocupações que podem distrair a pessoa. É um processo neurológico, porque o cérebro teme esquecer o que é importante. Quando o cérebro sabe que a informação foi arquivada externamente, nas anotações, e o efeito é de nos acalmar, é libertador. Retira o entulho mental que prejudica a atenção.

A sobrecarga de informação se estende ao excesso de objetos. Por que o senhor defende uma gaveta de bagunça?

Um profissional precisa saber exatamente onde estão seus instrumentos. Pode ser um cirurgião, um dentista, um bombeiro. Este tipo de organização nos libera para pensar e tomar decisões. Mas excesso de organização é contraprodutivo, uma perda de tempo. O importante é deixar visíveis os objetos que utilizamos regularmente. Quantas vezes você encontra um parafuso, uma peça e não se lembra de onde vem? Jogue na gaveta de bagunça, a que tem objetos de utilidades diferentes. Isso é uma forma de fazer economia cognitiva, porque não é preciso classificar tudo.

O senhor aponta a correlação entre eliminar o excesso de informação e de pertences e a felicidade.

Se quiser destilar tudo o que se conhece sobre pessoas que se consideram felizes, a frase é a seguinte: elas se satisfazem com o que têm. E são as que querem conquistar algo, não receber prêmios e elogios. O que é diferente de não ter ambição pessoal ou criativa. O empresário Warren Buffett, o terceiro homem mais rico do mundo, com uma fortuna de mais de US$ 70 bilhões, mora na mesma casa há mais de cinco décadas. Ele inventou o neologismo “satisficing”, sobre as coisas que bastam. Não perde tempo com o que não lhe interessa e tem uma agenda diária de trabalho quase vazia, de poucas reuniões, que o deixa livre para ser produtivo.



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