
O caso do Pará desnuda uma série de desvios de comportamento de autoridades que se esquecem que são funcionários públicos, que é o povo que lhes paga, e que agem como se nada tivessem a ver com os destinos humanos. O caso de Goiás revela um pequeno retrato do Brasil, em que uma classe média - nem tão alta assim -, se julga acima do bem e do mal, e considera os mais pobres como escravos a quem pode explorar livremente. Eu fico imaginando a quantidade de garotas e adolescentes que, a título de um melhor cuidado do que teriam nas suas famílias desestruturadas, são destinadas a casas de classe média onde prestam serviços domésticos sem registro em carteira, sem receber nem salário nem educação, e ainda são submetidas a todo tipo de desmando e violência, como se lhes estivessem prestando um grande favor. Quantas infâncias são perdidas neste país por falta de uma maior atenção do Estado quanto à educação, segurança, trabalho e distribuição de renda, mas quantas crianças são exploradas por pessoas insuspeitas, que se escondem nos seus apartamentos para praticar o sadismo de torturar filhos dos outros. Tudo indica que este caso de Goiânia é uma aberração, mas eu não me surpreenderia se outras aberrações pululassem nas páginas dos jornais. Resta saber se este caso é mais um daqueles que concorrerão ao Troféu Impunidade do ano. Do Brasil (e de sua classe média) tudo se pode esperar.