Nos 10 capítulos anteriores, Paulo vem fazendo uma espécie de apologia da graça de Deus revelada aos gentios, e mesmo que tenha sido claro quanto à depravação tanto de judeus como de gentios, há, principalmente no capítulo 8, um hino de louvor a Deus por ter escolhido os gentios para receberem a salvação em Cristo. Entretanto, Paulo não quer correr o risco de ser mal interpretado. Para tanto, o capítulo 11 de Romanos funciona como uma espécie de freio ao entusiasmo e à arrogância que porventura pudessem contaminar os crentes gentios de Roma que, ao ler os capítulos anteriores, se sentissem melhores do que os judeus ante a excelência do evangelho da graça de Deus revelado em Cristo Jesus. Depois da dureza das palavras de Romano 10, Paulo provavelmente sentiu que devia colocar as coisas nos seus devidos lugares, sem menosprezar nem a graça de Deus nem a eleição de Israel como povo escolhido. Daí a pergunta que inicia o capítulo 11: "terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo?", à qual Paulo se apressa em responder: "De modo nenhum!". Deus não podia quebrar a promessa feita a Abraão, pois "os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis" (v. 29 – versão Bíblia do Peregrino) ou "sem arrependimento" (Bíblia de Jerusalém). Esta circunstância, da irrevogabilidade da eleição de Israel como povo santo de Deus, associada à lição paulina de que "todo o Israel será salvo" (v. 26), lança sobre o capítulo 11 um fator complicador. Afinal, de que "salvação universal de Israel" Paulo está falando? Situando este versículo no contexto, no v. 25, Paulo diz que quer revelar aos seus leitores (os romanos e nós, crentes atuais) um "mistério": "veio o endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios". Continua: "e, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades" (vv. 26-27).
Antes de nos aprofundarmos neste significado, voltemos ao início do capítulo 11, em que Paulo deixa claro que "Deus não rejeitou o seu povo, a quem de antemão conheceu" (v. 2), o mesmo "aos que de antemão conheceu" de Romanos 8:29, que Paulo aplica a todos, judeus e gentios (mais a estes, talvez), dizendo que "também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos". Comparando com a história de Elias (1 Reis 19:10-14), Paulo diz que "no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça" (v. 5), e não por causa das obras praticadas segundo a Lei mosaica (v. 6). Este remanescente do povo judeu – que havia se convertido ou ainda se converteria a Cristo - existia naquela época em que Paulo escrevia sua carta, mas também podemos entender que segue existindo hoje, e, pelo v. 26 ("todo o Israel será salvo"), podemos deduzir que seguirá existindo até o final dos tempos. Paulo segue falando que Deus não rejeitou a Israel, mas, ao mesmo tempo, se apresenta aos seus leitores com as suas credenciais de "apóstolo dos gentios" (v. 13), como se estivesse mostrando que o fato de lutar pela salvação dos seus irmãos judeus não competia com o seu trabalho pela salvação dos gentios.
Fazendo a analogia com a oliveira, Paulo compara o povo judeu, que havia sido eleito como mensageiro de Deus para o mundo na velha aliança (a da Lei mosaica), era como o galho que havia sido quebrado da árvore (v. 17), e os gentios, destinatários da mensagem da nova aliança, eram como ramos de oliveira brava enxertados na oliveira, pelo que não deviam se gloriar contra os galhos quebrados (os judeus), pois é a raiz comum (o pacto revelado ao povo judeu no Velho Testamento) que sustenta os galhos (sejam eles judeus ou gentios), e não o contrário (v. 18). Daí o conselho de Paulo, que vale para todas as situações da vida, passadas, presentes ou futuras: "Não te ensoberbeças, mas teme" (v. 20). A lógica de Paulo é que se Deus não poupou os judeus, quanto mais os gentios, daí a sua insistência em que todos PERMANEÇAM na bondade de Deus (v.22). A questão da permanência em Deus é da maior importância. Todos nós nos lembramos das palavras de Jesus no Sermão da Montanha, em que Ele diz que pelos frutos se conhecem os falsos profetas (Mateus 7:15-21). Esses versículos são muito usados para incentivar os crentes a dar frutos, embora o contexto esteja explicitamente se referindo aos falsos profetas. Assim, nos esquecemos facilmente do versículo que diz isso mais claramente:
João 15:16 Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda.
Não basta, portanto, que o crente dê fruto. O ciclo só está completo se o fruto permanece. Paulo insiste que os crentes devem permanecer na bondade de Deus. Nós geralmente reparamos muito se alguém se converte, ou se desiste na primeira batalha, e com isso nos esquecemos de observar (e admirar) aqueles que permanecem. É esta a permanência que Paulo NÃO vê na história do povo judeu. Pelo contrário, ele censura o fato deles terem tido tantas oportunidades, mas terem sido derrotados em todas elas. Apesar disso, ainda resta uma oportunidade para os judeus leitores de Paulo naquela época, e todos aqueles das gerações seguintes, de permanecer em Deus através de Jesus. É neste sentido que deve ser interpretado o "todo o Israel será salvo" do v. 26. Este é um versículo reconhecidamente de difícil interpretação, mas deve-se ter em conta que "todo o Israel" era uma expressão figurada muito comum entre os profetas e escritores bíblicos, não querendo dizer literalmente "todos os judeus de todos os tempos" (vide, por exemplo, Atos 4:10 e 13:24). Dentro do contexto do v. 26, Paulo está dizendo que "todo o Israel será salvo" quando "haja entrado a plenitude dos gentios" (v. 25), plenitude esta que se completa na consumação dos tempos (Lucas 21:24, Apocalipse 7:9). Em função desse "mistério" do v. 25, muitos estudiosos entendem que, no final dos tempos, haverá uma conversão em massa dos judeus, de maneira a significar figuradamente que "todos" se salvarão, mas isso ainda fica no terreno da especulação. Em Efésios, Paulo vai falar novamente deste "mistério", agora relacionando-o aos gentios:
Efésios 3:8 A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar aos gentios as riquezas inescrutáveis de Cristo,
Efésios 3:9 e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou,
Por fim, Paulo termina o capítulo 11, de novo, com um hino de louvor a Deus, dentro da sua estratégia de começar cada trecho (hoje capítulo) de sua carta aos Romanos, primeiro com uma ou várias perguntas, depois alguns paradoxos e comparações, para depois revelar um profundo ensinamento, até terminar exaltando a Deus. As cartas de Paulo eram lidas várias vezes na Igreja à qual era destinada, bem como se enviavam cópias a outras igrejas (daí termos hoje o Novo Testamento). Certamente, ele já as escrevia e preparava de tal maneira que pudessem ser lidas e meditadas vagarosamente, parte por parte.
Antes de nos aprofundarmos neste significado, voltemos ao início do capítulo 11, em que Paulo deixa claro que "Deus não rejeitou o seu povo, a quem de antemão conheceu" (v. 2), o mesmo "aos que de antemão conheceu" de Romanos 8:29, que Paulo aplica a todos, judeus e gentios (mais a estes, talvez), dizendo que "também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos". Comparando com a história de Elias (1 Reis 19:10-14), Paulo diz que "no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça" (v. 5), e não por causa das obras praticadas segundo a Lei mosaica (v. 6). Este remanescente do povo judeu – que havia se convertido ou ainda se converteria a Cristo - existia naquela época em que Paulo escrevia sua carta, mas também podemos entender que segue existindo hoje, e, pelo v. 26 ("todo o Israel será salvo"), podemos deduzir que seguirá existindo até o final dos tempos. Paulo segue falando que Deus não rejeitou a Israel, mas, ao mesmo tempo, se apresenta aos seus leitores com as suas credenciais de "apóstolo dos gentios" (v. 13), como se estivesse mostrando que o fato de lutar pela salvação dos seus irmãos judeus não competia com o seu trabalho pela salvação dos gentios.
Fazendo a analogia com a oliveira, Paulo compara o povo judeu, que havia sido eleito como mensageiro de Deus para o mundo na velha aliança (a da Lei mosaica), era como o galho que havia sido quebrado da árvore (v. 17), e os gentios, destinatários da mensagem da nova aliança, eram como ramos de oliveira brava enxertados na oliveira, pelo que não deviam se gloriar contra os galhos quebrados (os judeus), pois é a raiz comum (o pacto revelado ao povo judeu no Velho Testamento) que sustenta os galhos (sejam eles judeus ou gentios), e não o contrário (v. 18). Daí o conselho de Paulo, que vale para todas as situações da vida, passadas, presentes ou futuras: "Não te ensoberbeças, mas teme" (v. 20). A lógica de Paulo é que se Deus não poupou os judeus, quanto mais os gentios, daí a sua insistência em que todos PERMANEÇAM na bondade de Deus (v.22). A questão da permanência em Deus é da maior importância. Todos nós nos lembramos das palavras de Jesus no Sermão da Montanha, em que Ele diz que pelos frutos se conhecem os falsos profetas (Mateus 7:15-21). Esses versículos são muito usados para incentivar os crentes a dar frutos, embora o contexto esteja explicitamente se referindo aos falsos profetas. Assim, nos esquecemos facilmente do versículo que diz isso mais claramente:
João 15:16 Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda.
Não basta, portanto, que o crente dê fruto. O ciclo só está completo se o fruto permanece. Paulo insiste que os crentes devem permanecer na bondade de Deus. Nós geralmente reparamos muito se alguém se converte, ou se desiste na primeira batalha, e com isso nos esquecemos de observar (e admirar) aqueles que permanecem. É esta a permanência que Paulo NÃO vê na história do povo judeu. Pelo contrário, ele censura o fato deles terem tido tantas oportunidades, mas terem sido derrotados em todas elas. Apesar disso, ainda resta uma oportunidade para os judeus leitores de Paulo naquela época, e todos aqueles das gerações seguintes, de permanecer em Deus através de Jesus. É neste sentido que deve ser interpretado o "todo o Israel será salvo" do v. 26. Este é um versículo reconhecidamente de difícil interpretação, mas deve-se ter em conta que "todo o Israel" era uma expressão figurada muito comum entre os profetas e escritores bíblicos, não querendo dizer literalmente "todos os judeus de todos os tempos" (vide, por exemplo, Atos 4:10 e 13:24). Dentro do contexto do v. 26, Paulo está dizendo que "todo o Israel será salvo" quando "haja entrado a plenitude dos gentios" (v. 25), plenitude esta que se completa na consumação dos tempos (Lucas 21:24, Apocalipse 7:9). Em função desse "mistério" do v. 25, muitos estudiosos entendem que, no final dos tempos, haverá uma conversão em massa dos judeus, de maneira a significar figuradamente que "todos" se salvarão, mas isso ainda fica no terreno da especulação. Em Efésios, Paulo vai falar novamente deste "mistério", agora relacionando-o aos gentios:
Efésios 3:8 A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar aos gentios as riquezas inescrutáveis de Cristo,
Efésios 3:9 e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou,
Por fim, Paulo termina o capítulo 11, de novo, com um hino de louvor a Deus, dentro da sua estratégia de começar cada trecho (hoje capítulo) de sua carta aos Romanos, primeiro com uma ou várias perguntas, depois alguns paradoxos e comparações, para depois revelar um profundo ensinamento, até terminar exaltando a Deus. As cartas de Paulo eram lidas várias vezes na Igreja à qual era destinada, bem como se enviavam cópias a outras igrejas (daí termos hoje o Novo Testamento). Certamente, ele já as escrevia e preparava de tal maneira que pudessem ser lidas e meditadas vagarosamente, parte por parte.