O capítulo 6 de Lucas tem uma ligação com o capítulo 5, pois inicia dizendo "E sucedeu que...".Lucas provavelmente queria mostrar o quanto aqueles fariseus insistiam em fazer os discípulos se comportarem como vinho novo em odres velhos. E talvez por isto Lucas coloca dois relatos sobre discussões sobre o sábado e sua observância em sequência.
Lucas inicia o relato falando da colheita de espigas realizada pelos discípulos no sábado, algo que não era lícito. Jesus responde citando o exemplo de Davi que entra no templo para comer os pães da proposição. Em um relato paralelo Jesus falaria também dos sacerdotes realizando o serviço no templo. Jesus é o Senhor do sábado, por isto ele pode interpretar corretamente o que o sábado é. Neste caso, os discípulos que são o vinho novo, serão deitados em odres novos, que é Cristo. E Cristo é maior que o templo (Mt 12:6), logo o que Davi fez é comparável ao que os discípulos fizeram. Se colher espigas daquela forma fosse algo permitido por lei, Cristo teria apontado a lei como resposta, e provavelmente os fariseus nem teriam acusado os discípulos de transgredí-la, já que a conheciam muito bem.
Depois disto, Jesus é retratado curando uma pessoa no sábado. Conhecendo as intenções dos fariseus, Jesus pergunta sobre o caráter do sábado. É um dia de morte, ou um dia de vida? Ora, o sábado para o cristão é o descanso obtido pela fé em Cristo (Hb 4:3). Este descanso é o descanso onde Deus irá curar todos de todas as doenças e dores, como está escrito:
(Ap 21:4) Ele enxugará de seus olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.
Este é o sábado cristão, e Cristo não só corrige o entendimento dos fariseus, ele nos indica como será aquele dia. O sábado é um dia de cura, e nada mais apropriado do que aquela cura para nos mostrar o caráter do Sábado, aquele descanso que entra todos os cristãos.
Logo depois disto ele reúne seus 12 discípulos e realiza uma pregação que futuramente seria conhecida como sermão do monte, onde Cristo define o básico de sua pregação. Ser cristão envolve uma mudança de comportamentos, primeiramente em relação ao sofrimento e à riqueza. Quem sofre pode ficar feliz, pois Deus enxugará suas lágrimas. Como diz Eclesiastes, há tempo para tudo, então se hoje é o tempo de sofrimento, amanhã será o tempo de alegria. O rico deve tomar cuidado, por que se ele quer obter sua alegria das coisas que possui agora, então ele não poderá obter alegria de Deus. Ele já tem sua alegria, e Deus está dando a alegria para os que necessitam dela. E de fato o verdadeiro cristão se torna pobre, infeliz e sofredor, por que este mundo não é capaz de fornecer a alegria que ele deslumbra ao olhar para Deus. Assim, pelos frutos se conhecem as árvores, e assim como uma árvore boa não pode dar frutos ruins, o bom homem não pode dar exemplos de conduta ruim. Se ele ouve Cristo e pratica aquilo que lhe foi ensinado, então ele constitui uma casa sólida sobre a rocha, aquela sobre a qual a igreja de Cristo é fundada (Mt 16:18).
E como se fala de árvores e frutos, a discussão do capítulo 7 é sobre a fé. Diante da fé, Jesus não nega apoio a ninguém, tanto que aquele que foi enviado às ovelhas perdidas de Israel foi atender a um centurião romano. Este demonstra sua grande fé, ao acreditar primeiro que era tão pecador que não poderia estar junto com Cristo. Isto demonstra a humildade e arrependimento daquele que seria considerado um perdido por fariseus. Segundo, sua fé no fato de Cristo ser tão poderoso que poderia ordenar sua cura sem estar presente.
Depois, se fala sobre a ressurreição do filho de uma viúva. A compaixão é o que move Cristo neste ato, e por isto devemos dar glória a Deus, pois temos um juiz que se compadece de nós. Este ato assusta muitos, que dividem suas opiniões. O povo se perguntava se era um profeta ou se o próprio Deus visitava seu povo, um reflexo talvez de algumas declarações de Cristo. Isto chama a atenção de João Batista. Justamente ali que a fé entra novamente em ação. João parecia não ter certeza de ser ou não Jesus o Cristo, que confirma tudo com atos. Somente Deus poderia fazer milagres em seu próprio nome, e Cristo fazia assim. Se fosse somente um profeta, como disseram alguns, então Deus não estaria com ele, e ele certamente sofreria as consequências.
Por fim, Jesus vai comer com um fariseu. Os fariseus cometiam muitos erros, mas Jesus sempre lhes davam chances, principalmente àqueles que eram sinceros, pois eles estavam dispostos a aprender. E justamente aquele fariseu achou que Jesus não conhecia os pecados da mulher que a tocava. Mas Cristo sabia, e explicou para Simão, aquele fariseu, que um grande perdão gera um grande amor. Retomando o ensino do capítulo anterior sobre as árvores e seus frutos, e expandindo, temos um grande exemplo disto. A mulher que era muito mais pecadora que Simão, foi muito mais perdoada que ele. É por isto que ele quase não fez nada para Cristo como demonstração da gratidão e amor, enquanto a mulher fez tudo aquilo como gratidão. Ela tinha sido mais perdoada que o fariseu Simão, é por isto que ela agia daquela forma.
E Jesus confirma aquilo para a mulher: a fé é salvadora. E todos ali presentes mais uma vez se assustaram do fato de Cristo perdoar pecados. Todos eles entendiam que somente Deus poderia fazer isto.