domingo, 16 de março de 2008

O evangelho de Lucas - parte 7

O capitulo 6 de Lucas começa com Jesus e seus discípulos passando por plantações de milho num sábado, em que colhiam e comiam espigas, debulhando-as com as mãos. Certamente, eles eram seguidos por alguns fariseus que, espantados com o fato deles tomarem esta atitude num sábado. Comer espigas na plantação do vizinho era permitido (Deuteronômio 23:25), desde que se comesse apenas o suficiente para saciar a fome, mas os fariseus se incomodavam por isto ter sido feito num sábado. Jesus, então, lhes responde com o exemplo de Davi, que, junto com seus soldados, havia comido os pães da proposição que só deviam ser comidos pelos sacerdotes (Levítico 24:5-9) nos sábados. Jesus condena, portanto, o legalismo dos fariseus e termina dizendo que Ele, sim, era o senhor do sábado, e não havia ninguém melhor do que Ele próprio para interpretar a Lei. Esta questão prossegue em outro sábado (vv. 6-11) em que Jesus cura um homem que tinha a mão ressequida e novamente é criticado (em pensamento) por isto.

Depois, Lucas relata a escolha dos doze apóstolos (vv. 12-16), e passa à planura, onde Jesus cura vários enfermos, não só judeus, mas também de Tiro e Sidom. Lucas relata, então, o "Sermão da Planície" (vv. 20-49), que tem muitas semelhanças com o Sermão da Montanha dos capítulos 5 a 7 de Mateus. Entretanto, muitos estudiosos entendem que se trata de duas ocasiões distintas, em que Jesus teria dito coisas muito parecidas. No final do sermão, Lucas inclui algumas parábolas, já mostrando o seu particular gosto por este recurso literário.

No começo do capítulo 7, Lucas registra a história do centurião romano que lhe pede que curasse seu servo. O centurião já estava familiarizado com a autoridade exercida à distância, e sabia que Jesus tinha poder para fazer o mesmo. O testemunho de Jesus sobre a fé do centurião, de que não havia encontrado em Israel alguém com tamanha fé (v. 9), é dos mais bonitos da Bíblia, e ele veio de alguém que não era judeu, pelo contrário, representava o império opressor. Isto aconteceu em Cafarnaum. Chegando em Naim, Jesus vê o funeral do filho de uma viúva (vv. 11-17), e se compadece da sua situação e ressuscita o jovem. Foi algo testemunhado por muita gente e que teve enorme repercussão na região. Exatamente por isso João Batista lhe envia mensageiros perguntando se ele era de fato o Messias (vv. 18-23). Parece estranho que João tivesse este tipo de insegurança, mesmo tendo visto e ouvido tudo aquilo por ocasião do batismo. Isto revela a humanidade de João, e o acolhimento de Jesus, que, mesmo diante da dúvida de um servo que havia sido tão fiel no cumprimento do seu dever, ainda se importa em dar testemunho a seu respeito, dizendo que "entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João; mas o menor no reino de Deus é maior do que ele" (v. 28), ressaltando também a sua humildade. Jesus ainda aproveita para destacar que quem havia rejeitado o batismo de João eram os fariseus e os intérpretes da Lei, que, desta maneira, haviam rejeitado o próprio desígnio de Deus (v. 30). Lucas ainda relata o fino senso de humor de Jesus ao comparar os fariseus com os meninos da praça que gritavam uns para os outros "Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não chorastes" (v. 31).

Os vv. 36-50 registram uma cena que ocorre na casa de um fariseu que havia convidado Jesus para um jantar. Esta era uma ocasião pública, que trazia para o fariseu uma dupla sensação contraditória. De um lado, estava recebendo alguém que havia acabado de ressuscitar o filho de uma viúva da cidade, e era, portanto, um celebridade instantânea. De outro, corria o risco de ser repreendido pelos seus pares. Durante o jantar, a casa ficava aberta para que as pessoas pudessem ver o que estava acontecendo lá dentro, e, num desses intervalos, uma mulher de má fama da cidade (Lucas a apresenta como prostituta), sabendo que Jesus estava lá, vai à casa do fariseu com um vaso de alabastro, que era um recipiente transparente para um bálsamo perfumado. Sem dizer nada, apenas chorando, ela lava os pés de Jesus com as próprias lágrimas, usando seus cabelos como toalhas, ungindo-lhe os pés com o perfume. Jesus compara a recepção que o fariseu lhe havia dado com aquela simples e espontânea da prostituta. Certamente, a mulher havia sido profundamente tocada por Deus para um gesto como aquele, e Jesus, elogiando a sua atitude, a perdoa e a despede em paz, o que causa espanto nos presentes, já que a pergunta que lhes ocorreu era justamente esta: "Quem é este que até perdoa pecados?" (v. 49). Jesus ressalta, então, que a fé da mulher lhe havia salvo (v. 50), e ela podia ir em paz.

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