quinta-feira, 13 de março de 2008

O evangelho de Lucas - parte 5

Análise dos capítulos 3, 4 e 5 do evangelho de Lucas, por Gustavo:

Bem, voltando aos nossos estudos, o capítulo 3 inicia seu relato a partir do 15o. ano de governo de Tibério César. Como ele começou seu governo juntamente com Augusto, este seria o 12o. ano de seu governo sozinho. Pôncio Pilatos é mencionado aqui, como governador da Judéia. Ele manteve este título por 10 anos, sendo depois chamado à Roma por causa de acusações trazidas contra ele. Assim que chegou em Roma, Tibério morre (35 D.C), cometendo suicídio logo depois. Lucas faz uma lista dos governantes da região na época. Também relata sobre os sumo-sacerdotes, Anás, que apesar de não exercer mais o sumo-sacerdócio, ainda mantinha o respeito. E seu genro (Jo 18:13) Caifás. Lucas nos revela que a Palavra de Deus veio a João Batista, indicando assim sua comissão divina. Lucas nos relembra de outra profecia cumprida, a de Isaías 40:3:

(Is 40:3) Eis a voz do que clama: Preparai no deserto o caminho do Senhor; endireitai no ermo uma estrada para o nosso Deus.
(Is 40:4) Todo vale será levantado, e será abatido todo monte e todo outeiro; e o terreno acidentado será nivelado, e o que é escabroso, aplanado.
(Is 40:5) A glória do Senhor se revelará; e toda a carne juntamente a verá; pois a boca do Senhor o disse.

Ele pregava o arrependimento, batizando as pessoas. As origens, segundo ele, não deveriam ser motivos para se condenar ou salvar pessoas. Todos deveriam se arrepender. E como o arrependimento deve gerar uma mudança de atitude, muitas daquelas pessoas pediram conselhos a João Batista em seu novo proceder. Pedir conselhos nunca é ruim, principalmente para aqueles que estão a mais tempo na fé. A fama de João corria, e talvez ensinasse com tanta autoridade, que o povo acreditava que ele talvez fosse o Messias prometido. Quanto a isto, ele tinha consciência que não, por dizer que este Cristo ainda viria. Como todo profeta que critica as atitudes de um governante iníquo, João acaba preso, e posteriormente morto. Mas Lucas prefere aqui contar antes, o batismo de Jesus por João Batista. Este é um evento único, e que deve ter impressionado muitas pessoas. Ali estão presentes as Três Pessoas da Trindade, evento este que unicistas não costumam explicar sem diminuir o fato. Por outro lado, costumo também chamar a atenção para o Espírito Santo e sua forma corpórea (pomba). Aos que insistem dizer que Ele não é um ser pessoal, mas uma força, dificilmente é explicado como ele toma a forma de um ser vivo. Tinha Jesus 30 anos ali.

O capítulo seguinte começa com a tentação de Jesus. Pelo que parece, o diabo não tinha consciência sobre quem era Cristo. Ou talvez tivesse esta consciência, e ignorasse isto. Pois de certa forma, ele faz o mesmo com o Pai na história de Jó: ele se aproxima de Deus e o questiona sobre o caráter de Jó. Agora Satanás questiona o caráter de Cristo, ou age como se duvidasse dele. Ele inicia pela fome: pede para Cristo transformar uma pedra em pão, colocando sua divindade em cheque. Note que ele tem consciência da divindade de Cristo: ele não pede para Cristo pedir isto como milagre ao Pai, o que deveria ser feito por qualquer humano. Se Cristo é Deus, Ele deveria fazer aquilo por si só. Por isto o diabo inicia a tentação dizendo "Se tu és Filho de Deus...". Sua primeira tentação consiste no orgulho: fazer Jesus mostrar que era Deus, e que podia fazer tudo. A resposta de Jesus é completa. Quanto à fome física, Jesus responde que mais importante que isto é que sua fome espiritual seja saciada. Quanto ao orgulho, Jesus responde com humildade. Como diz Paulo:

(Fp 2:5) Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus,
(Fp 2:6) o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar,
(Fp 2:7) mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens;
(Fp 2:8) e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.

E é isto que também pode-se perceber em sua resposta: Nem só de pão viverá o homem. E com isto, não se considera em momento algum Deus, evitando até a tentação sutil de Satanás. Outra coisa importante é que Cristo recorreu à Bíblia para responder Satanás, não aos raciocínios lógicos, que algumas pessoas como espíritas recorrem. Sobre o tema espiritual, as Escrituras são nossas bases. A segunda tentação é mostrar os reinos humanos, e oferecê-los em troca de um ato de adoração. Por quê? Não é por que a missão de Cristo é resgatar esta mesma humanidade? Satanás não está oferecendo uma saída mais fácil? Nem sempre a saída mais fácil é a correta. A resposta de Jesus é contundete: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás. Por Senhor, entendemos que é Deus, acima de tudo, aquele quem coordena tudo. Mais tarde Jesus diria sobre Pilatos: "Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fora dado; por isso aquele que me entregou a ti, maior pecado tem (Jo 19:11)". No que Ele indica que as autoridades são dadas por Deus, e o próprio Satanás reconheceu que recebeu. Diz então que é a Deus, este que detém toda autoridade, é a quem devemos a adoração. Só a Ele servirás, ou seja, não serviremos às nossas próprias vontades, nem ao desejo de fazer as coisas mais fáceis. Servimos à Deus, e Jesus se colocando à vontade de Deus, vai seguir Seu Plano. Mais uma vez, Cristo recorre às Escrituras para respostas sobre espiritualidade.
A última tentação foi novamente colocar dúvidas sobre sua divindade, incitando Jesus a tentar contra Deus. Novamente Jesus responde com a humildade: Não tentarás o Senhor teu Deus. É por "teu Deus" que Jesus se coloca como servo. O diabo tinha percebido que Jesus sempre recorria às Escrituras para suas respostas, e ele astutamente tentou usar estas Escrituras para seu benefício. Antes de condenar algumas partes como inválidas, Ele se posiciona como uma pessoa que entende a Bíblia em sua totalidade. O versículo que Satanás citou é válido, mas somente quando não se faz isto para provar Deus. Pessoas mal intencionadas sempre buscam versículos isolados para tentar nos dominar. Antes, o entendimento completo nos faz escapar destas armadilhas, pois a verdade liberta (Jo 8:32). Sendo assim, percebo que além da tentação direta de Satanás a Cristo, há uma tentação sutil que Cristo responde de forma magnífica. Ela parece ser uma tentação direcionada a todas as pessoas da Trindade, onde Satanás questiona a Deidade de Cristo, depois a Soberania do Pai, e por fim a inspiração e autoridade da Bíblia pelo Espírito Santo. Lucas nos informa que Satanás fugiu para continuar este ataque em momento oportuno. Creio que este momento não está limitado apenas ao período bíblico. Estes três pontos sutis são os pontos que as heresias posteriores mais atacariam.O relato continua com a pregação de Jesus, em Nazaré, sua cidade. Naquela época a leitura da Bíblia era feita aos sábados. Jesus lê o livro de Isaías no trecho que diz:

(Is 61:1) O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos;
(Is 61:2) a apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes;Jesus realmente cumpria a profecia, o que Lucas gosta de mencionar.
Os ali presentes no entanto, incrédulos, duvidaram disto se perguntando se aquele ali não era o filho de José. Jesus então critica a incredulidade daqueles, que certamente pediriam sinais para Cristo. A fé é necessária para a conversão, e todos ali deveriam ter tido fé, pois reconheciam Cristo ao falar bem dele. Fugindo das pessoas que ficaram furiosas, foi para Carfanaum, onde ele expulsa um demônio. Depois ele "expulsa" uma febre da sogra de Simão. Todos os relatos de obras de Jesus no início do relato de Lucas visam confirmar Cristo como o Messias prometido, cumprindo aquela promessa que Ele leu do capítulo de Isaías: de pregar boas-novas aos mansos (versículo 31), proclamar libertação aos cativos (versículo 35), restauração da vista aos cegos (versículos 39 e 40, entendendo-se como cura de doenças), pôr em liberdade os oprimidos (versículo 41), proclamar o ano aceitável do Senhor (versículo 43). Tudo isto é dito aqui, penso eu, como sequência da leitura de Cristo, como uma forma de validar aquilo que ele disse.

O capítulo 5 fala da conversão de Pedro. Este já chamava Cristo de Mestre, o que indica que já o conhecia. Além disto no capítulo passado se fala de Cristo ter visitado sua sogra. Provavelmente Pedro já era casado ao ser chamado. Jesus realiza um milagre para chamar Pedro, o qual respondeu imediatamente. Com ele estavam Tiago e João. O convite de Jesus é aceito por eles então.Devemos ser como o homem leproso. Devemos pedir que Cristo nos purifique. Basta o pedido, como este homem fez. Mesmo realizando um milagre, Cristo ainda pede para aquele homem que realize todas as cerimônias necessárias para a purificação. Um detalhe importante é que Jesus pede àquele homem que não revele o que aconteceu, diferentemente dos milagreiros de hoje. E não tem agido Deus assim? A fé é uma questão entre você e Deus, e qualquer dádiva é questão pessoal. Muitos pedem sinais até hoje, e imaginam que se Deus existe, ele deve se mostrar. Jesus pelo contrário, evitava mostrar seus milagres, apesar do povo acabar comentando sobre eles.
Continuando o capítulo Lucas fala do paralítico, e como ele fez para se aproximar de Cristo. Este garante ao paralítico que os pecados dele estavam perdoados, vendo a fé deles. É a nossa fé que obtém a salvação, a graça divina, o perdão dos pecados. Os judeus entendiam bem o que estava por trás da declaração de Cristo: somente Deus pode perdoar pecados. E foi Cristo quem perdoou os pecados cometidos contra Deus. Jesus por outro lado, demonstra que ele de fato pode perdoar pecados. O mesmo que perdoa pecados é aquele que realiza milagres. Deus não apoiaria uma pessoa que realiza milagres em seu próprio nome, como a história de Moisés mesmo atesta. Por isto Cristo atribuindo a si o milagre, ordena o paralítico que ande.

Por fim, Lucas fala de Levi, o publicano. Ainda em conexão com o perdão de pecados, Jesus o chama e come com ele, atitude que era desaprovada pelos fariseus. O motivo de Jesus é simples: eles são pecadores, e são eles que precisam d'Ele. As parábolas de Jesus refletem o novo clima de liberdade desempenhada pelos discípulos de Cristo. Enquanto o velho regime era ascético, o novo era libertário. Não se pode instruir discípulos nesta nova liberdade em Cristo, colocando-os sob as regras ascéticas do velho regime. Do contrário, eles confundiriam os dois, achando que o novo regime era de asceticismo, se dividindo novamente com questões sobre a lei, como faziam os fariseus. O asceticismo só destrói a liberdade em Cristo.

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