sábado, 23 de junho de 2012

Crônica de um golpe anunciado

Implicações religiosas também atuaram no "golpe branco" contra o presidente paraguaio, o ex-bispo católico Fernando Lugo, segundo artigo do Brasil 247:

Como elite, mídia e Igreja católica jantaram Lugo

Leonardo Attuch _247Ainda que a constituição paraguaia permita o juízo político de seus governantes, um processo de impeachment que se desenrola em apenas dois dias só pode ser definido com uma única palavra: golpe. Foi isso o que aconteceu no Paraguai, por mais que vozes conservadoras, daqui e de lá, defendam a legalidade do processo. Ponto.

Até aí, não há muita surpresa, uma vez que a história paraguaia é marcada por golpes, ditaduras e quarteladas. A diferença, desta vez, foi a sutileza de um “golpe parlamentar”, um “golpe democrático”. Em resumo, um golpe branco, imposto pela elite oligárquica do país.

Surpresa em si foi a reação do presidente Fernando Lugo, que não opôs resistência alguma e se ofereceu passivamente ao martírio. A que se deve essa atitude? Talvez seja fruto da sua formação católica. Ex-padre, e achincalhado por muitos pelas dezenas de filhos que fez, Lugo tem alma cristã. Ao deixar o poder, ele ofereceu a outra face. “Saio pela porta maior, a do coração”, disse o ex-presidente. Lugo ainda tentará – em vão – recuperar seus direitos políticos, mas essa é uma batalha perdida.

No Paraguai, tudo parece estar dominado: Congresso, meios de comunicação e a própria Igreja Católica. Nos jornais paraguaios de hoje, não se encontrará uma única referência ao golpe. Periódicos como "ABC Color" e "Cronica" tratam a deposição de um presidente eleito como um fato corriqueiro, tal qual uma partida de futebol do Cerro Porteño. O ABC, por sinal, trouxe a seguinte manchete no dia de ontem, que já antecipava a decisão do Congresso: "Se não renunciar, Lugo será cassado".

Assim como os meios de comunicação, a Igreja Católica paraguaia também se uniu à elite conservadora na trama do golpe de Estado. Horas antes do “juízo político”, Lugo recebeu, na residência oficial do país, um grupo de bispos da Conferência Episcopal, que equivale à CNBB no Brasil. Um deles, Claudio Giménez saiu afirmando à imprensa que os padres pediram a Lugo que renunciasse para “evitar enfrentamentos”.

Passivo, Lugo assim resumiu sua queda: “Não é Lugo o destituído, é a história paraguaia”. Errado. A história paraguaia não foi destituída. Ela foi restituída.




Corrobora a versão acima noticiada a informação do Ultima Hora de que o núncio apostólico (embaixador do Vaticano) em Asunción, D. Eliseo Ariotti, foi a primeira autoridade diplomática a reconhecer o novo governo paraguaio.

Alegando que "me agrada muito que o povo simples e todas as autoridades tenham pensado no bem do país", o núncio apostólico se apressou em ter uma reunião com Federico Franco, o novo presidente do país.

Como não bastasse o apoio eufórico do Vaticano ao golpe parlamentar, D. Ariotti ainda convocou uma missa para as 4 da tarde de hoje, a pretexto de "rezar pela paz no Paraguai".



LinkWithin

Related Posts with Thumbnails