domingo, 23 de fevereiro de 2014

A síndrome do zumbi


Não, zumbis como aqueles da série The Walking Dead não existem. Pelo menos por enquanto. Há pessoas vivas, entretanto, que - patologicamente - se veem como zumbis.

É o que explica o artigo abaixo, do io9, traduzido e adaptado por Natasha Romanzoti para o HypeScience:

Como tratar um zumbi psicologicamente

A síndrome de Cotard, delírio de Cotard ou síndrome do cadáver ambulante é uma condição que leva as pessoas a acreditar que estão do lado errado da série The Walking Dead. Ou seja, elas pensam que estão realmente mortas. E como você convence alguém de que ele ainda está vivo?

Em 1880, o médico Jules Cotard reportou o primeiro caso desta doença. Sua paciente, conhecida como “Madame X”, acreditava que certas partes do seu corpo haviam desaparecido e que ela não precisava comer. A mulher ainda dizia que sua alma tinha sido roubada pelo diabo, portanto, ela estava morta e não podia morrer. Claro que isso levou a sua real morte, de fome.

Ao longo do século que se seguiu, muitas pessoas foram diagnosticadas com síndrome de Cotard. Seus delírios cobriam vários ângulos de um tema similar: ou elas pensavam que partes de seu corpo estavam mortas, em decomposição, ou faltando, ou simplesmente acreditavam que elas, como pessoas já mortas, não podiam morrer.

Uma mulher filipina de 53 anos de idade foi internada em um hospital psiquiátrico gritando aos médicos que podia sentir o cheiro de sua carne apodrecendo e que deveria ser levada para o necrotério. Um homem no Irã insistiu que estava morto, que era um lobisomem, e que seus filhos haviam se transformado em ovelhas. Duas mulheres chinesas diferentes acreditavam que suas entranhas – coração, fígado ou estômago – haviam sido retiradas e as cavidades preenchidas com água.

Casos mais famosos e clássicos são raros. Um homem de 46 anos acreditava que o seu corpo tinha sido transformado em imaterial, e ele tinha virado um fantasma. Ele parou de comer, já que “não precisava”, e perdeu 14 quilos em dois meses. Acabou internado em um hospital para impedir sua morte por desnutrição. Outro homem foi internado depois de um acidente de moto que o deixou convencido de que ele estava morto. Uma viagem posterior para a África do Sul com sua mãe o convenceu de que ele tinha ido para o inferno (por causa do calor) e que o espírito de sua mãe estava lhe dando um passeio pelo purgatório.

Delírio de Cotard parece ser apenas um aspecto de uma doença mental maior. A maioria dos pacientes são esquizofrênicos, depressivos ou bipolares. Madame X teve a infelicidade de ter a síndrome quando a psiquiatria ainda estava em sua infância, mas hoje a medicina já tem uma visão melhor da condição.

Infelizmente, esta é uma área onde a terapia da conversa raramente tem efeito. Pessoas simplesmente não podem ser convencidas de que estão vivas. No entanto, uma vez que elas já pensam que estão mortas, raramente temem os riscos de tratamentos.

Antipsicóticos e antidepressivos podem ajudar bastante. Além disso, energia elétrica parece ser uma boa forma de trazer as pessoas de volta dos mortos. Uma mulher que acreditou ser um cadáver por sete anos admitiu estar viva novamente após a segunda rodada de eletroconvulsoterapia. Outro homem, que teve lesões em seu cérebro e que afirmava que seu estômago havia desaparecido, não sentiu nenhuma mudança depois de receber medicação, mas respondeu a eletroconvulsoterapia.

Tratamento de choque não é uma coisa brutal como a que vemos em filmes antigos. Os pacientes são anestesiados, recebem choques breves, e só depois são acordados de novo. Pacientes de Cotard muitas vezes se sentem melhor depois de apenas algumas sessões, e começam a socializar, cuidar de si mesmos e aceitar que estão vivos.



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