quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Para os restaurantes, clientes paulistanos são os mais chatos do mundo



Finalmente, alguém conseguiu colocar em palavras algo que eu já havia percebido nos meus muitos anos em que fui um feliz habitante da capital bandeirante, e que eu já havia comentado sob outro ângulo no texto intitulado "A síndrome do turista paulista".

O artigo foi publicado no blog Cozinha Bruta do portal da Folha de S. Paulo:

Cliente paulistano é o mais chato do mundo – e paga caro por isso no restaurante

POR MARCOS NOGUEIRA

Mimado, exigente, arrogante e rude, o cliente de restaurantes paulistano é o mais chato do mundo. É por isso que ele paga caro pela comida.

Eu, tão paulistano quanto a estátua do Borba Gato, estou no balaio. Ouso dizer que já fui mais chato do que a maioria dos chatos – depois de medicado corretamente pela minha psiquiatra, melhorei bastante.

Claro que existem chatos de muitos tipos (caso você tenha interesse em se aprofundar no assunto, sugiro a deliciosa leitura do “Tratado Geral dos Chatos”). Em algumas partes do país, é corriqueiro o tipo de cliente que chega ao restaurante e se comporta como se fosse dono do lugar. Fala alto para caramba e deixa as crianças quicando pelo salão. Se a mesa estiver perto da entrada, estaciona o carro em frente e liga o som. Em geral, fala com os funcionários como se fosse seu melhor amigo. E não estressa com a lentidão do serviço.

Essa modalidade não é muito comum em São Paulo. Não nos lugares que eu costumo frequentar.

O cliente paulistano é folgado à sua própria maneira. Por ser pagante, ele julga merecer tratamento de realeza.

O indivíduo – gênero neutro, repare – chega ao restaurante e pede uma mesa. Caso haja espera, a pessoa supõe que haja também uma área em que ela possa esperar sentada. Se a espera não permitir o consumo de bebidas e petiscos, o sujeito fica contrariado. A espera muito longa irrita sobremaneira essa gente.

(Reservar mesa não é para o paulistano médio. Ele presume que a mesa estará à sua disposição em qualquer hora e situação.)

Uma vez acomodado, trata os garçons como serviçais particulares.

O cliente exige disponibilidade total. O atendente anota as bebidas e, quando as entrega, comanda o suco de acerola da Valentina, que a mamãe esqueceu de pedir antes. Ao trazer o suco, é instado a substituir o copo do pequeno Enzo, que queria apenas gelo, não gelo e limão. Com o copo em mãos, alguém na mesa resolve pedir lula frita. O garçom anota. Assim que ele entrega a comanda na cozinha, é chamado de volta porque deve trocar a lula por mandioca – o João Vítor é alérgico a frutos do mar, mas o tio não sabia. Então, eu um ato audaz, ele sugere que a mesa peça os pratos principais: todos entram em pânico e solicitam o cardápio novamente, numa clara manobra protelatória.

E assim vai até o pagamento da conta.

Quando viaja dentro do país, o paulistano quase enlouquece nos restaurantes. Especialmente se o destino é Salvador. No estrangeiro, se comporta bem. Porque sabe que vai tomar uma bela invertida de quem serve a mesa – e porque não tem repertório linguístico para encarar uma discussão.

Em países mais, hum, desenvolvidos, os restaurantes informais costumam ser familiares. Os pais são donos e os filhos servem as mesas, ou algo do tipo. Mesmo quando o negócio é um pouco maior, o número de garçons é muito limitado. A pessoa tem pouco tempo de atenção a dispensar para cada mesa. Então, ela supõe que o freguês peça tudo ao mesmo tempo – a cozinha se encarrega de soltar primeiro as entradas, depois os principais.

Menos funcionários no salão, menos custo. Matemática elementar.

Em São Paulo, esperamos que o botequim tenha o mesmo padrão de serviço do Fasano. Essa pressão faz com que as casas contratem mais gente. E o custo, é evidente, aparece na dolorosa.



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