quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Alegrias do silêncio


"O mundo dos homens vive esquecido das alegrias do silêncio, da paz desfrutada na solidão necessária, até certo ponto, a uma vida humana vivida em plenitude. Nem todos os homens são chamados à vida eremítica, mas todos necessitam de certa dose de silêncio e solidão, para permitir-lhes ouvir, ao menos ocasionalmente, a voz interior profunda do seu verdadeiro "eu". Quando essa voz não é ouvida, quando o homem não consegue atingir a paz espiritual que vem do fato de estarmos em perfeita união com o nosso ser verdadeiro, a vida se torna desgraçada e exaustiva. Pois o homem não pode por muito tempo ser feliz se não se mantiver em contato com as fontes de vida espiritual, ocultas nas profundezas de sua alma. Se vive constantemente alheio ao que em si possui de mais íntimo, exilado da própria morada interior, impossibilitado de se encontrar com a solidão espiritual, deixa de ser uma pessoa. Não vive mais como um ser humano. Nem é mesmo um animal sadio. Torna-se uma espécie de autômato; funciona sem alegria porque perdeu toda espontaneidade. Não é mais movido por dentro, mas apenas do exterior. Não toma as próprias decisões, deixa que os outros o façam. Não age sobre o mundo exterior, consente que este aja sobre ele. É empurrado, atravessando a vida por meio de uma série de choques com forças externas. Sua vida não é mais a de um ser humano, mas a de uma bola de bilhar passiva, de um ser sem finalidade e sem nenhuma correspondência profunda e válida para com a realidade."

(Thomas Merton, 1915-1968, em "A Vida Silenciosa", Ed. Vozes, pág. 153/154)

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