Aproveitei o último fim de semana para preparar as biografias de Ário e Atanásio para o site e-cristianismo.
Consultando os livros enquanto procurava passar a melhor ideia possível do que significaram as vidas dos dois personagens marcantes da história da igreja, me deparei com uma série de pessoas e circunstâncias que me fizeram pensar um pouco mais sobre essa tal "cristofobia" que virou a palavra da moda nas últimas semanas.
Era tão gritante a discrepância entre aquilo que chamam atualmente de "cristofobia" com a situação real e aflitiva da Igreja primitiva, que foi inevitável fazer uma comparação.
Ário e Atanásio foram contemporâneos, e serviram a igreja cristã em Alexandria quando o patriarca era Alexandre, só que de maneira bem distinta.
Atanásio, o mais jovem deles, sempre foi submisso a seu bispo e muitos dizem que, conforme amadurecia, se tornou a sua maior influência intelectual.
Já Ário foi o responsável pela difusão da heresia que leva o seu nome - o arianismo - que basicamente pregava que Jesus Cristo não participava da mesma natureza divina de Deus Pai (isto num resumo sofrível, já que a questão da terminologia é central nessa controvérsia).
Essa polêmica levou à convocação do Concílio de Niceia pelo imperador Constantino, que se realizou em 325, e no qual foram estabelecidos os dogmas centrais do cristianismo, que seriam aperfeiçoados e definitivamente "fechados" nos Concílios de Calcedônia (ano 451) e Constantinopla II (em 553).
A controvérsia ariana atacava principalmente o pensamento cristológico ortodoxo da Igreja, com as suas inevitáveis imbricações com a doutrina da Trindade.
Alexandre morreu um ano depois de Niceia, Ário em 336, e coube a Atanásio combater os muitos seguidores de Ário nas décadas seguintes, isso numa época em que os arianos tinham uma influência política muito grande, pela proximidade com Constantino e seus parentes, enquanto à ala ortodoxa restava pouca margem de manobra.
Constantino, inclusive, teria sido batizado apenas no leito de morte, em 336, e quem lhe ministrou o batismo foi um bispo ariano, Eusébio de Nicomédia.
Fica difícil, portanto, argumentar que ele teria imposto a sua visão particular ao cristianismo, já que - se dependesse dele - a igreja primitiva inteira se converteria em ariana.
Aliás, apesar de sua, digamos, "arianofilia", em todas as decisões cruciais que teve que tomar sobre os dogmas da Igreja, Constantino sempre decidiu a favor da ortodoxia.
Talvez fizesse isso a contragosto para apaziguar as facções teológicas contrárias, mas é mais provável que não tinha ideia da importância de suas decisões.
Atanásio não teve tempo para pensar em "cristofobia".
A ele cabia pregar o evangelho tal como o havia recebido de seus pais na fé.
Não encontrou vida fácil com nenhuma autoridade política.
Durante a sua vida, enfrentou CINCO exílios e esteve debaixo do poder de vida ou morte de OITO imperadores: Constantino I; seus filhos Constantino II, Constâncio II e Constante; Juliano; Jovano; Valentiniano e Valente, dos quais apenas dois, Constante e Jovano, lhe foram favoráveis e, mesmo assim, por curtíssimo período.
Juliano o definiu como "seu pior inimigo", e os demais apenas o toleravam, mas não hesitavam em mandá-lo para novos exílios.
A disputa com os arianos serviu de combustível para que Atanásio seguisse em frente.
Nada disso serviu de desculpa para que ele se furtasse a cumprir sua missão de pastor.
Se a ortodoxia da Igreja cristã (e naquele tempo não havia diferença entre católicos, ortodoxos e protestantes) foi vitoriosa, isso se deveu, em primeiro lugar, à ação de Deus na História; e, em segundo, a pastores corajosos como Atanásio.
Consultando os livros enquanto procurava passar a melhor ideia possível do que significaram as vidas dos dois personagens marcantes da história da igreja, me deparei com uma série de pessoas e circunstâncias que me fizeram pensar um pouco mais sobre essa tal "cristofobia" que virou a palavra da moda nas últimas semanas.
Era tão gritante a discrepância entre aquilo que chamam atualmente de "cristofobia" com a situação real e aflitiva da Igreja primitiva, que foi inevitável fazer uma comparação.
Ário e Atanásio foram contemporâneos, e serviram a igreja cristã em Alexandria quando o patriarca era Alexandre, só que de maneira bem distinta.
Atanásio, o mais jovem deles, sempre foi submisso a seu bispo e muitos dizem que, conforme amadurecia, se tornou a sua maior influência intelectual.
Já Ário foi o responsável pela difusão da heresia que leva o seu nome - o arianismo - que basicamente pregava que Jesus Cristo não participava da mesma natureza divina de Deus Pai (isto num resumo sofrível, já que a questão da terminologia é central nessa controvérsia).
Essa polêmica levou à convocação do Concílio de Niceia pelo imperador Constantino, que se realizou em 325, e no qual foram estabelecidos os dogmas centrais do cristianismo, que seriam aperfeiçoados e definitivamente "fechados" nos Concílios de Calcedônia (ano 451) e Constantinopla II (em 553).
A controvérsia ariana atacava principalmente o pensamento cristológico ortodoxo da Igreja, com as suas inevitáveis imbricações com a doutrina da Trindade.
Alexandre morreu um ano depois de Niceia, Ário em 336, e coube a Atanásio combater os muitos seguidores de Ário nas décadas seguintes, isso numa época em que os arianos tinham uma influência política muito grande, pela proximidade com Constantino e seus parentes, enquanto à ala ortodoxa restava pouca margem de manobra.
Constantino, inclusive, teria sido batizado apenas no leito de morte, em 336, e quem lhe ministrou o batismo foi um bispo ariano, Eusébio de Nicomédia.
Fica difícil, portanto, argumentar que ele teria imposto a sua visão particular ao cristianismo, já que - se dependesse dele - a igreja primitiva inteira se converteria em ariana.
Aliás, apesar de sua, digamos, "arianofilia", em todas as decisões cruciais que teve que tomar sobre os dogmas da Igreja, Constantino sempre decidiu a favor da ortodoxia.
Talvez fizesse isso a contragosto para apaziguar as facções teológicas contrárias, mas é mais provável que não tinha ideia da importância de suas decisões.
Atanásio não teve tempo para pensar em "cristofobia".
A ele cabia pregar o evangelho tal como o havia recebido de seus pais na fé.
Não encontrou vida fácil com nenhuma autoridade política.
Durante a sua vida, enfrentou CINCO exílios e esteve debaixo do poder de vida ou morte de OITO imperadores: Constantino I; seus filhos Constantino II, Constâncio II e Constante; Juliano; Jovano; Valentiniano e Valente, dos quais apenas dois, Constante e Jovano, lhe foram favoráveis e, mesmo assim, por curtíssimo período.
Juliano o definiu como "seu pior inimigo", e os demais apenas o toleravam, mas não hesitavam em mandá-lo para novos exílios.
A disputa com os arianos serviu de combustível para que Atanásio seguisse em frente.
Nada disso serviu de desculpa para que ele se furtasse a cumprir sua missão de pastor.
Se a ortodoxia da Igreja cristã (e naquele tempo não havia diferença entre católicos, ortodoxos e protestantes) foi vitoriosa, isso se deveu, em primeiro lugar, à ação de Deus na História; e, em segundo, a pastores corajosos como Atanásio.
As duas biografias (mais a do patriarca Alexandre) podem ser lidas nos seguintes links: