quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Celibato católico cresce no Ceará

A notícia foi publicada no Estadão. O - no mínimo - curioso interesse do Estadão no celibato será comentado em seguida.

Cresce no Ceará número de celibatários católicos

LAURIBERTO BRAGA

Cresce no Ceará o número de celibatários na Igreja Católica. São pessoas que não são padres nem freiras, mas leigos que fizeram a opção de dedicar a vida a serviço da Igreja. Um exemplo é um grupo de 45 leigos que se consagrou no celibato no mês passado, em cerimônia na Comunidade Católica Shalom, em Fortaleza.

A Shalom, maior representante da Renovação Carismática Católica no Brasil, abriga em suas residências casais, sacerdotes e celibatários. Os celibatários - que são reconhecidos pelo Vaticano -correspondem hoje ao grupo que mais cresce na Shalom. Segundo o assessor de imprensa da Shalom, Vanderlúcio Souza, "os celibatários, no lugar de dedicar amor exclusivo a uma pessoa, escolhem amar a todos e continuar o legado de Cristo. E Cristo é a maior referência de celibato, pois ele viveu como celibatário quando esteve entre os homens". Os celibatários, portanto, mantêm-se solteiros e sexualmente abstinentes. Na Igreja Católica, todos os sacerdotes fazem voto de castidade.

Consagração. A ex-estudante de Medicina Gabriella Dias é uma das celibatárias que foram consagradas em Fortaleza. Ela integra a comunidade Shalom há 15 anos e agora recebeu a consagração perpétua no Celibato pelos Reinos dos Céus. "Após discernimento com as autoridades da Shalom, escuta de Deus e retiros, chego ao último estágio para a consagração definitiva", diz Gabriella.

Para o Shalom, a decisão de Gabriella remete "à eternidade e vai na contramão do senso comum da vivência de provisoriedade".

Gabriella cursou até o sétimo semestre de Medicina e resolveu abrir mão de ser médica para se dedicar à Shalom, onde atualmente comanda a missão de produzir grandes eventos como o Festival Halleluya, o retiro Renascer e a Exponatal. Ela representa a Shalom na Arquidiocese Metropolitana de Fortaleza e na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A Shalom hoje tem mais de 15 mil membros engajados no Ceará.



É de conhecimento geral que o Estadão é um dos órgãos mais conservadores da imprensa brasileira, condição que não o descarta como uma voz influente na política do país, principalmente porque é bem escrito e faz questão de dizer de que lado está, sem dissimulações, como acontece com o seu maior concorrente, a Folha de S. Paulo.

Com a presente extinção sistemática dos jornais de papel, engolidos pela internet, não demorará muito tempo para que ambos os jornais deem adeus ao meio impresso, mas a cruzada conservadora católica do Estadão, ao que parece, continuará por um bom tempo.

Alguém poderia sugerir que isso se deve à ligação do jornal com a Opus Dei, já que a família Mesquita hoje responde apenas pelo editorial do órgão.

Afinal, Carlos Alberto Di Franco, 66 anos de idade, colunista influente do Estadão e celibatário autoproclamado virgem, seria numerário da Opus Dei no Brasil e daria "formação cristã" ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, conforme notícia da revista Época de janeiro de 2006:

Entrevista com Carlos Alberto Di Franco, um dos numerários mais influentes e bem relacionados do Opus Dei

Eliane Brum e Débora Rubin

Ligações poderosas

Carlos Alberto Di Franco dá formação cristã ao governador Geraldo Alckmin e treinou mais de 200 editores da imprensa

Carlos Alberto Di Franco, 60 anos, é um dos numerários mais influentes e bem relacionados do Opus Dei. Representante no Brasil da Escola de Comunicação da Universidade de Navarra e diretor do Master em Jornalismo, um programa de capacitação de editores que já formou mais de 200 cargos de chefias dos principais jornais do País, é citado no livro Opus Dei - Os Bastidores como o executor da política da Obra para a mídia do Brasil e na América Latina. Nos últimos anos, tem feito periodicamente uma preleção sobre valores cristãos na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes a convite do governador Geraldo Alckmin (confira matéria na página xx). O encontro, apelidado de 'Palestra do Morumbi', reúne um seleto grupo de empresários e profissionais do Direito, entre eles o vice-presidente da Fiesp, João Guilherme Ometo. Na sede do Master, em São Paulo, em cujos andares superiores funciona o centro da Obra onde vive, Di Franco deu a seguinte entrevista a Época.

ÉPOCA - A partir do final dos anos 80 a Universidade de Navarra, que é do Opus Dei, passou a dar cursos nas redações brasileiras. Como surgiu essa estratégia?
Carlos Alberto Di Franco - Vários professores de lá participaram de um seminário no Rio e chamaram atenção pela sua visão de Jornalismo. Esse foi o início de um trabalho não de universidade, mas de consultoria de alguns profissionais que também são professores em Navarra. Mais recentemente Navarra montou uma empresa de consultoria que atualmente está sendo reestruturada, e eu tenho uma empresa e contrato consultores de Navarra e também daqui.

ÉPOCA - O Master em Jornalismo é uma estratégia do Opus Dei para influenciar a imprensa brasileira e da América latina?
Di Franco - Absolutamente nada a ver. É um trabalho profissional meu. A única coincidência é que Carlos Alberto Di Franco é do Opus Dei. A imprensa tem suficiente discernimento e filtros próprios para se deixar submeter a qualquer coisa deste tipo.

ÉPOCA - O senhor é numerário do Opus Dei, é representante da Escola de Comunicação da Universidade de Navarra, que é do Opus Dei, o Master traz professores de Navarra que também são numerários, mas o senhor afirma que não há nenhuma estratégia do Opus Dei em influenciar a imprensa através de um curso de formação de editores?
Di Franco - Muitos professores de Navarra que vêm não são do Opus Dei. O Master é um programa técnico de capacitação de editores e não de Religião. O Master tem uma identidade cristã? Claro. Quando eu abro o Master, a primeira coisa que eu faço é dizer que o centro conta com serviço de capelania entregue à prelazia do Opus Dei. Isso implica numa série de serviços de atendimento espiritual para quem queira recebê-los. Deixo absolutamente claro o que acontece aqui. O prestígio do Master não depende do número de gotas de água benta, mas de sua qualificação profissional.

ÉPOCA - Quantos professores tem o Master e, destes, quantos são do Opus Dei?
Di Franco - Onze fixos, seis são da Obra.

ÉPOCA - São Escrivá disse que era preciso embrulhar o mundo em papel-jornal...
Di Franco - Qualquer pessoa que pense dois minutos percebe que os meios de comunicação são um poderoso facho para o bem e para o mal. Essa preocupação de evangelização tendo em conta os meios de comunicação social é legítima. Mas você poderá difundir a mensagem cristã não com água benta e nem metendo-se a montar estruturas piegas, mas atuando na sua atividade profissional. Estou convicto de que se o mundo tiver mais cristãos ou gente comprometida com sua fé será um lugar melhor.

ÉPOCA - O senhor publicou um artigo no jornal O Estado de S.Paulo criticando o Código da Vinci, um livro de ficção que mostra o Opus Dei como uma seita capaz de assassinar para alcançar seus objetivos. O senhor assina como jornalista e professor de ética. O senhor não acha que deveria ter informado ao leitor que é um numerário?
Di Franco - Não, porque não acrescenta nada. Na mídia todo mundo sabe.

ÉPOCA - O senhor acredita que todos os leitores do jornal sabem?
Di Franco - Todos os leitores não, mas eu não sei o que ser membro do Opus Dei acrescenta ao meu currículo. O que eu fiz foi uma análise do Dan Brown mostrando a sua desonestidade intelectual que qualquer jornalista poderia fazer, budista ou ateu.

ÉPOCA - Poderia. Mas o senhor não acha que a informação de que quem criticava um livro contra o Opus Dei era alguém do Opus Dei teria sido relevante para o leitor?
Di Franco - Eu fiz uma crítica técnica e não movida por razões religiosas.

ÉPOCA - Como começaram as 'palestras do Morumbi', que acontecem na última quarta-feira do mês, no Palácio, com o governador Geraldo Alckmin e um grupo de empresários e profissionais do Direito?
Di Franco - Não é uma reunião regular, depende das agendas. O governador é cristão, muito católico. Nesta reunião tratamos temas relacionados a práticas ou virtudes cristãs.

ÉPOCA - De quem partiu essa idéia?
Di Franco - Nasceu de uma conversa do governador com um sacerdote da Obra com quem ele tem direção espiritual periódica.

ÉPOCA - O Padre (José) Teixeira, confessor do governador?
Di Franco - Isso, o Padre Teixeira. Aí eu e o governador conversamos sobre a melhor maneira de fazer e sobre quem participaria. O grupo é formado por amigos comuns, todos católicos. Eu sou o palestrante. Uma coisa rápida, meia-hora, um cafezinho. A última foi em agosto ou setembro. Depois teríamos outra, mas eu não pude. Agora ele entrou em campanha. Acredito que no final de janeiro combinaremos a próxima.

ÉPOCA - Essas palestras são pagas?
Di Franco - Não é um trabalho profissional, é uma atividade de formação cristã.

ÉPOCA - O senhor não acha que a proibição de ir ao cinema, teatro ou estádio de futebol conflitua com seu trabalho de jornalista?
Di Franco - Para mim nunca foi problema. Não é que não pode, a expressão está mal colocada. Não vai ao cinema porque não quer ir ao cinema. Os numerários vivem, voluntariamente, uma série de abstenções em função de sua entrega como numerários.

ÉPOCA - Como o senhor faz com o cilício?
Di Franco - O cilício é uma mortificação corporal ultratradicional na Igreja. Se você falar com qualquer pessoa que viva o cristianismo é a coisa mais corriqueira e comum.

ÉPOCA - O senhor usa, duas horas por dia?
Di Franco - Sim, como qualquer numerário.

ÉPOCA - Quando o senhor está com o cilício se concentra no sofrimento de Cristo?
Di Franco - Essa pequena mortificação você oferece por várias intenções. A partir de hoje vou oferecer para você.

ÉPOCA - Não é necessário.
Di Franco - Como colega. O incômodo se oferece.

ÉPOCA - É muito difícil o celibato?
Di Franco - Qualquer pessoa tem desejo, é normal. Eu sinto atração pelas mulheres, claro que sinto, sobretudo pelas bonitas.

ÉPOCA - O senhor é virgem?
Di Franco - Você está entrando em território perigoso. Mas sou, se quer saber sou.



E apenas para continuar na mesma seara, é bom lembrar da matéria do Financial Times sobre a Opus Dei, que foi traduzida e publicada no Radar Econômico do Estadão em dezembro de 2010:

Financial Times’: Opus Dei injeta cristianismo no capitalismo

Sílvio Guedes Crespo

O jornal britânico “Financial Times” examinou uma das escolas de negócios mais proeminentes do mundo, a Iese Business School, que pertence à organização católica Opus Dei. O diário tenta explicar a relação entre esse segmento religioso e o capitalismo.

A conclusão aparece no início do texto: essa escola “é o centro dos esforços dos movimentos mais conservadores da Igreja Católica para injetar princípios cristãos no capitalismo global”.

A Iese, fundada em 1958 como parte da Universidade de Navarra, tem também cursos técnicos e escolas de negócios em outros países, incluindo unidades recém inauguradas em Lagos (Nigéria) e Nova York (Estados Unidos). Projetos na América Latina, no Leste Europeu e na África estão em curso.

A escola se destaca entre as instituições de ensino e pesquisa ligadas ao cristianismo “por sua absoluta qualidade”, afirma o “FT”. “Mas por que ela é tão boa? E qual o papel da sua afiliação religiosa?”

A organização acredita que as pessoas devem aspirar a santidade nas atividades rotineiras, inclusive no trabalho, disse ao jornal o padre Domènec Melé. “Seria estranho oferecer a Deus uma coisa ‘meia-boca’. Se você está tentando dar o máximo, por Deus, então você provavelmente vai ser promovido e trabalhar direito”, afirmou um aluno.

A partir de depoimentos de membros da Opus Dei e alunos, a reportagem observa que a escola procura adotar “noções de respeito, honestidade, integridade e a ideia de que os negócios devem considerar as conseqüências humanas das decisões”. Esses princípios, avalia o jornal, “deveriam basear qualquer decisão empresarial”.

Como resultado, a Iese teve uma receita de 77 milhões de euros para o ano letivo, oriunda do apoio de mais de cem empresas, doações de funcionários e pagamento de mensalidade dos alunos (o MBA de dois anos custa 87 mil euros).

O texto é predominantemente favorável à instituição, mas não deixa de citar as críticas que normalmente são feitas. Por exemplo, as acusações de “lavagem cerebral” dos jovens e a influência na política, no Poder Judiciário e no mundo dos negócios, especificamente na Espanha e na América Latina. O jornal diz, ainda, que críticos da Opus Dei a acusam de ter uma lista de livros para cuja leitura é requerida uma autorização prévia, como obras de Jean-Paul Sartre, Karl Marx, Anthony Burgess e outros. A organização nega as acusações.




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