terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O evangelho de Lucas - parte 3

Ainda fruto dos estudos que estamos fazendo no Forum Atos, vou colocar aqui também os textos que o Gustavo preparou para o tópico em questão. Assim, vamos retornar um pouco no que vínhamos analisando até aqui, para depois retomarmos os capítulos restantes. O texto abaixo é de autoria do Gustavo.
Bem, iniciando então nosso estudo, algumas considerações sobre o evangelho de Lucas. Ele é o único dos evangelhos que tem uma continuação. Além disto, os versículos 1 a 4 do primeiro capítulo constituem um prólogo, que também pode ser chamado de exordium, muito usado por outros escritores gregos. O autor é definido como Lucas, apesar dele não se identificar no texto. Esta atribuição é dada por causa de narrações do livro de Atos, que é sequência deste evangelho, onde algumas trazem a narrativa em primeira pessoa do plural. São narrativas de Paulo, e a única pessoa que o acompanhava que preenche o pré-requisito é Lucas. Além disto, o evangelho sempre foi atribuído a ele. Lucas era médico (Cl 4:14). Provavelmente foi o último evangelho sinótico escrito. Como Atos foi escrito depois, e por causa de sua conclusão súbita, o livro de Lucas deve ter sido escrito nos anos 50 D.C. Também o fato de Lucas não mencionar a destruição de Jerusalém coloca este livro como escrito antes de 70 D.C.Há uma concordância geral que o livro não tenha sido escrito na Palestina.

Quem seria Teófilo?

O nome significa amigo de Deus. Não se sabe quem seria ele, mas é possível que ele fosse um magistrado, pois Lucas o trata da mesma forma que Paulo trata Festo (Atos 26:25). É interessante vermos aqui, um cristão obedecendo o preceito de dar honra a quem é devido. Nos mostra um grande exemplo. Pois devemos sempre ser educados e civilizados, acima de tudo. Estudar a motivação do livro é algo primordial, e para mim, a grande motivação do livro, acima de qualquer outra, é o próprio Teófilo. Como ele é chamado de "excelentíssimo", concluímos que ele seja um governante, pois é o mesmo tratamento recebido por Festo, como eu já tinha mencionado. Talvez por ser um governante, é que Lucas tenha feito questão de verificar todos os fatos como ele mesmo diz no início de seu Evangelho. Talvez Teófilo tivesse alguma familiaridade com a filosofia, e um relato com todos os detalhes o faria acreditar mais no que lhe foi relatado. Lucas disse que o intuito era revelar melhor o que Teófilo já tinha sido instruído. O verbo aqui pode significar também informado, o que poderia mostrar que Teófilo como governante, foi informado sobre alguns cristãos e seus ensinos. Lucas poderia ter escrito o evangelho como forma de informar Teófilo sobre eles, algo que era comum no meio cristão antes de Constantino. Se for assim, o texto até poderia ser inserido no contexto das disputas entre cristãos e judeus (algo amplamente relatado no livro de Atos). Talvez, aproveitando ainda esta linha de raciocínio, Lucas continua o relato escrevendo o livro de Atos, para informar Teófilo sobre toda a história de Cristo até aquele momento. Assim vejo os dois livros de Lucas como um relatório para um governante, para o contextualizar sobre uma disputa que até então não fazia idéia que existia, e para mostrar que os cristãos eram inocentes. Como Atos termina com a ida de Paulo para Roma, penso que Teófilo seja algum governante daquela cidade, talvez aquele que fosse julgar o caso. Isto explicaria também uma linguagem mais familiar a um pagão.

Lucas inicia sua narração pelo nascimento de João Batista, e sua concepção. Lucas menciona Herodes como rei. Herodes era um rei pagão, e isto para já indicava o cumprimento de uma profecia:
(Gn 49:10) O cetro não se arredará de Judà, nem o bastão de autoridade dentre seus pés, até que venha aquele a quem pertence; e a ele obedecerão os povos.
Lucas nos informa que Zacarias é da turma de Abias. Abias foi o oitavo escolhido para o serviço no templo, de 24 turmas (1Cr 24:10), e tomavam o serviço no templo por uma semana. Ele era casado com Isabel, segundo o evangelista, descendente de Aarão. É realizando seu serviço que ele recebe a revelação que sua oração foi ouvida. Muitas vezes nossas orações são ouvidas nos momentos que mais esperamos.Ele cita Elias, aludindo à profecia de Malaquias:
(Lc 1:17) irá adiante dele no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, a fim de preparar para o Senhor um povo apercebido.
(Ml 4:5) Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor;
(Ml 4:6) e ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição.
(Ml 3:1) Eis que eu envio o meu mensageiro, e ele há de preparar o caminho diante de mim; e de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais, e o anjo do pacto, a quem vós desejais; eis que ele vem, diz o Senhor dos exércitos.

Não acreditando, Zacarias questionou o anjo. Este emudeceu suas dúvidas até o dia que ele as visse. Por seis meses ficaram ocultos, até que o anjo visitasse Maria também. Esta não respondeu com incredulidade, mas com fé. Depois de seu chamado, Maria visita Isabel, ficando com ela por mais três meses, provavelmente até o parto de João Batista, onde seu pai recobra novamente a fala.É interessante os detalhes sobre os costumes da época. Os nomes dos recém-nascidos são dados no momento da circuncisão, atestado nos dois casos. É interessante também que pelo que parece, os nomes naquela época eram dados como uma espécie de homenagem a algum membro da família, geralmente o pai.

No segundo capítulo, vemos novamente Lucas situando o relato historicamente. Há algumas controvérsias sobre Quirínio, mas que podem ser explicadas pela existência de mais de um recenseamento. Lucas não relata sobre a reação de Herodes neste ponto, se limitando ao relato do nascimento.Mais uma vez vemos Cristo cumprindo outra profecia em Lucas, onde ele alude Miquéias:
(Mq 5:2) Mas tu, Belém Efrata, posto que pequena para estar entre os milhares de Judá, de ti é que me sairá aquele que há de reinar em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.
Como José era descendente de Davi, algo que também foi previsto em profecia, ele deveria se alistar em Belém. É quando Maria dá a luz. Procurando uma estalagem para passar a noite, não conseguiram, por não haver lugar. Talvez por transportar uma mulher grávida, eles demoraram mais durante a viagem, chegando após muitas pessoas. Ela dá a luz e coloca Jesus em uma manjedoura. Lucas não informa onde está esta manjedoura, que muitos colocam em uma caverna.

A cena dos pastores mostra algo muito interessante para todos nós: a alegria tanto dos pastores quanto dos anjos, com as notícias do nascimento de Cristo. É desta alegria que se recorda no Natal, os mesmos motivos de comemoração daqueles pastores e anjos são os nossos motivos hoje. E contra aqueles que condenam a comemoração do Natal por não ter sido ordenados a fazer isto, os anjos que não foram alvo desta Salvação, comemoraram o nascimento de Cristo louvando e dando Glória a Deus. Um motivo simples foi dado por eles: "É que vos nasceu hoje, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor". É o cumprimento da promessa, é a demonstração real do amor de Deus, e por isto os homens comemoraram, e por isto temos alegria como foi dito pelos anjos.Depois do nascimento, alguns manuscritos dizem "dias da purificação deles", mas segundo a Lei, a purificação era feita somente pela mãe (Lv 12:2). Como eram pobres, não precisaram levar um cordeiro:
(Lv 12:8) Mas, se as suas posses não bastarem para um cordeiro, então tomará duas rolas, ou dois pombinhos: um para o holocausto e outro para a oferta pelo pecado; assim o sacerdote fará expiação por ela, e ela será limpa.

O texto ainda menciona dois fiéis, e seu testemunho sobre Cristo. Sempre haverá fiéis a Deus, e estes dois que estavam inseridos no judaísmo são demonstração deste fato. Simeão era sacerdote, Ana era profetisa.Não se costuma falar muito sobre a infância de Jesus, apesar de atualmente haver muita especulação. O que Lucas nos disse é que iam todos os anos a Jerusalém, o que indica que eles viveram pelas redondezas. Jesus, mesmo com 12 anos, já tinha conhecimento sobre sua missão. Isto é importante para se afastar a interpretação gnóstica que o homem Jesus foi tomado pelo Cristo aos 30 anos.Lucas por duas vezes comenta que Maria guardava todos os fatos, meditando neles. Isto talvez indique que a própria Maria foi uma das fontes consultadas por Lucas.

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