terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Universal x Folha

Parece que a coisa tá pegando fogo entre a Igreja Universal e a imprensa. Depois de algumas denúncias feitas pela Folha de S. Paulo, na matéria da jornalista Elvira Lobato, que comentava sobre os 30 anos da IURD, dizendo que havia indícios de lavagem de dinheiro em paraísos fiscais, vários fiéis da IURD por todo o país, entraram com ações de indenização por danos morais contra a Folha e contra a jornalista, alegando que se sentiam ofendidos pelas suspeitas levantadas. Alegam eles que, segundo as denúncias, o dinheiro de seus dízimos estaria sendo usado em atividades ilícitas, o que lhes causava profundo desconforto emocional, razão pela qual acionaram o Judiciário em busca de uma reparação.

Bem, usar o Judiciário para causar problemas a alguém não é nenhuma tática nova. Isto existe desde que o primeiro juiz se pôs a julgar. Num caso que ficou famoso, o Paulo Francis disse que diretores da Petrobrás tinham contas na Suíça (ver aqui), e, mesmo podendo abrir um processo no Brasil, a Petrobrás resolveu processá-lo por danos morais nos Estados Unidos (onde o jornalista morava), já que as indenizações lá, sabidamente, são arbitradas pelos juízes americanos em valores gigantescos, nada parecidos com o "dinheiro de pinga" que alguns juízes brasileiros condenam, quando condenam. Dizem que este processo afetou tanto o Francis que ele veio a morrer pouco tempo depois.

É claro que um monte de ações distribuídas por todo o país, em cidades pequenas, vai prejudicar bastante a defesa da Folha e da jornalista. Isto envolve uma série de custos em deslocamentos, custas processuais e contratação de advogados, só para começo de conversa. Alguns juízes já extinguiram ações dizendo que os fiéis da Universal não teriam nenhum interesse legítimo em processar a Folha. Entretanto, outros processos estão correndo, e isto, queiram ou não, intimida a imprensa. Se tal não bastasse, a IURD tem usado seus braços midiáticos, com a Record no topo, para se defender e atacar ainda mais a Folha e a jornalista, chegando a expor uma foto sua no último domingo, no programa Domingo Espetacular, como se ela fosse uma criminosa. Parece que esses processos estão se alastrando por todo o país, agora inclusive contra o jornal Extra, do grupo Roberto Marinho, no Rio de Janeiro.

Duas circunstâncias me saltam aos olhos, analisando esta situação. De um lado, é claro que a liberdade de imprensa deve ser preservada, que não se deve usar nem, principalmente, abusar do direito de acesso à Justiça. Não se deve usar o processo judicial como mero instrumento de vingança, nem com a intenção de se perseguir jornalistas ou quem quer que seja. Quanto a isto, é pacífico que algo tem que ser feito para coibir esse tipo de iniciativa. Por outro lado, entretanto, me parece que a imprensa brasileira está sendo vítima do seu próprio veneno. Ainda que não precise acionar o Judiciário, a imprensa tem, neste país, um poder gigantesco de condenar sem julgar, às vezes com documentos fornecidos (quando não forjados) por uma verdadeira indústria do "denuncismo". Quando um órgão de imprensa qualquer decide perseguir alguém, as portas estão escancaradas para que este objetivo seja atingido, mesmo que aleguem ter oferecido ao "denunciado" o direito de resposta, que geralmente é mostrado ou publicado contra o próprio, quando isto acontece. Será que Globo, Folha e Estadão nunca perseguiram ninguém? Eles vão jurar de pés juntos que não, mas eu tenho cá as minhas dúvidas.

Resta saber, portanto, quem vai vencer a batalha que está sendo travada nos tribunais e na mídia. De um lado, Edir Macedo e seu aspirante império na imprensa, e seu aspirante império na imprensa; de outro, a Folha e a Globo, e quem mais aparecer. Se me pedissem um palpite, eu diria que vai dar empate. Quando este tipo de briga acontece, sempre aparece a turma do "deixa disso", e os interesses em disputa tendem a se acomodar, porque, afinal, há muita grana em jogo, e, até onde sei, lobo não come lobo.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails