segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Torcedores brahmeiros e igrejeiros

Neste festival consumista que o século XXI nos reservou, salta aos olhos do observador mais atento o comportamento de massa regido pelos ideais bélicos, às vezes com os objetivos mais nobres, como vemos nos protestos antiaquecimento global em Copenhague e anticorrupção em Brasília. 

Mas há metas menos nobres, como vimos recentemente nos atos ensandecidos da torcida coxa-branca no Estádio Couto Pereira, depois do rebaixamento do Coritiba na partida contra o Fluminense. 

Apesar da diversidade das propostas e dos tipos de manifestação, o traço comum entre esses protestos é a urgência de se obter resultados e a união momentânea na defesa de um objetivo comum, ainda que seja produto da louca frustração de um momento negativo, como o acontecido em Curitiba, ocasião em que vemos claramente como a publicidade se mimetiza com o comportamento que pretende produzir, só que da pior maneira, como sugere a atual propaganda da Brahma, ao dizer aos 190 milhões de guerreiros que “vamos para a guerra juntos”:




Por sinal, o Ugo Giorgetti escreveu um excelente artigo sobre isso no Estadão do último domingo. Registre-se também que o Pe. Marcelo Rossi anda flertando com a liberação do consumo de cerveja nos estádios de futebol. Afinal, a publicidade (e a violência) não diferencia católicos de evangélicos.

O fato é que este mesmo comportamento guerreiro é comum no meio evangélico brasileiro. Muitos seguidores de determinadas igrejas agem como se fossem brahmeiros, movidos por uma intensa paixão por seus líderes, que beira o fanatismo mais desenfreado e se mimetiza com o que chamam de “paixão por Jesus”. 

Esta atitude é perceptível tanto nas conversas mais simples, do tipo “minha igreja tem 5.000 novos membros” (que não costuma gostar da pergunta “e quantos são salvos?”), como nas variadas manifestações de apoio aos líderes sobre os quais pesam denúncias escandalosas, como é o caso da igreja Renascer. 

A própria Marcha para Jesus deste ano foi utilizada como uma demonstração de poder político (ideológico, portanto), em que muitas pessoas ingênuas e contrárias ao escândalo tiveram sua boa fé usada para respaldar a defesa dos líderes da Renascer. 

Qualquer semelhança com a pregação do utilitarismo (“os fins justificam os meios”) não é mera coincidência. 

Além disso, durante o período em que eles estiveram presos nos Estados Unidos, foi muito comum ver e ouvir as frases guerreiras “Renascer até morrer” e “espada pelo apóstolo e pela bispa” sendo proclamadas e – muitas vezes – tatuadas pelos seus adeptos.

Este comportamento belicista em nada difere, em essência, daquele protagonizado pelas torcidas organizadas nos estádios de futebol e nas ruas do país. 

Ao contrário do que dizia o conselho popular, hoje futebol e religião não só se discute como se misturam. 

Muitos seguidores de líderes denominacionais estão mais preocupados com a demonstração pública (e apaixonada) de poder político do que propriamente com o evangelho. 

Sequer percebem que a violência não está apenas nos gestos, mas principalmente na intimidação e nos coros de guerra. 

Dizem seguir a Jesus, mas se envergonham de anunciar a mensagem da Sua cruz (a verdadeira Paixão – sofrimento, martírio), preferindo se posicionar agressivamente na defesa da reputação de seus comandantes, num comportamento de manada que mal consegue disfarçar que prefere torcer pela sua igreja como se fosse seu time de futebol. 

Apregoam a prosperidade de suas agremiações como se observassem um placar no estádio, em que seu time está ganhando, e em vez de gols aparecem cifrões. 

O problema é que, a exemplo dos campeonatos reais de futebol, podem terminar sendo rebaixados para a segunda divisão.

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