quinta-feira, 7 de abril de 2011

De Columbine ao Realengo

O alerta vermelho já está aceso há muito tempo. Talvez agora alguém o veja piscando, embora a atenção esteja voltada para socorrer os feridos e consolar as famílias dos mortos (11 até as 11 hs. do dia 07 de abril, mas tudo indica que - infelizmente - o número aumentará no decorrer das horas). Depois, durante o rescaldo da tragédia, pararemos para pensar e avaliar melhor a razão de tudo isso. O momento é de reação, porque a ação já devia ter sido tomada por governos e autoridades há muito tempo, e como pouco ou nada fizeram, a "ação" foi tomada refém por um atirador de 24 anos de idade, identificado como Wellington Menezes de Oliveira, ex-aluno da escola Tasso da Silveira, na rua General Bernardino de Matos, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), que retornou à instituição dizendo que ia dar uma palestra e terminou atirando a esmo com vários pentes de revolver calibre 38, segundo informa o UOL Notícias.

Pensávamos que estávamos imunes a este tipo de ocorrência, que isso era coisa de norteamericanos, mais afeitos às armas e ao militarismo, e os Estados Unidos seriam o local em que esta bomba, rotineiramente, estouraria. Afinal, foi também num mês de abril (dia 20) de 1999 que aconteceu o massacre da escola de Columbine, no Estado do Colorado, com 13 mortos e 21 feridos, que se tornou um símbolo da luta contra a loucura das armas e de uma sociedade em que a vida se tornou banal e não tem sentido algum vivê-la. O documentário "Tiros em Columbine" de Michael Moore (Oscar de melhor documentário em 2003) retrata bem essa tragédia americana.

Entretanto, as semelhanças entre o Sul e o Norte da América param por aí. Se é verdade que os Estados Unidos têm uma legislação bastante permissiva para porte de armas de fogo, lá também eles têm um sistema legal e judiciário que funciona, e onde a sociedade tem uma "certeza razoável" (com o perdão da aparente contradição) de que existe prevenção, repressão, investigação e punição para o crime. O aparato legal e legislativo no Brasil é de dar dó, em que a ideologia dominante é a da impunidade. Somos todos um bando de fingidores. O Congresso finge que promulga leis que fingimos todos que são boas; os chamados "operadores do Direito" fingem que executam a tarefa de aplicar a lei; e o povo finge que está tudo bem, já que tem a garantia de que ninguém será punido de maneira justa, isto quando for punido. Esta ideologia da impunidade funciona como um acordo tácito entre governantes de todos os partidos e todas as esferas (que sabem que não serão punidos por seus atos de corrupção) e aqueles que votam neles (que sabem que, talvez, tenham que pagar uma cesta básica por um homicídio culposo, mas só se forem pegos ou não puderem pagar um bom advogado).

Nossas escolas públicas são, então, verdadeiros depósitos de crianças e adolescentes provindos de famílias pobres, numa vã tentativa de tirá-los da rua e permitir que seus pais trabalhem para sustentá-los, mas sem garantir um nível aceitável de boa educação. Deveriam ter um mínimo de infraestrutura e segurança, mas tudo é feito para maquiar a realidade de uma situação caótica e paliativa. E nisso há que culpar todas as esferas de governo e todos os partidos políticos. O discurso da educação costuma aparecer nas campanhas eleitorais, mas pouco ou nada é feito durante a administração dos eleitos. O destino do povão é a ignorância. Felizes os que fogem dela e aqueles que conseguem fugir das balas atiradas por sociopatas. Enquanto outros tipos dissimulados de sociopatas continuarem sendo eleitos, teremos que nos abraçar e nos consolar na nossa triste dor.

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