sexta-feira, 9 de março de 2012

Ateu Alain de Botton chama Dawkins e Hitchens de "dolorosamente agressivos e destrutivos"

A batata está assando um pouco mais da conta no arraial ateísta, depois que Richard Dawkins criticou a proposta do filósofo suíço Alain de Botton de construir um templo ateu. Haja fogueira de vaidades para propiciar combustão a egos tão inflados. De Botton, autor do livro "Religião para Ateus", se defendeu em artigo publicado ontem, 8 de março, no The Washington Post, em que tenta justificar sua pregação de que os ateus precisam - sim! - da religião (e nela devem se inspirar), se esquecendo de que, formal e ideologicamente falando, o neoateísmo já é uma religião, tendo o objetivo declarado no próprio artigo de vir a substituir aquilo que combate num futuro próximo. Dizendo que escreveu o livro em questão porque "estava profundamente frustrado pela raiva e intolerância dos neoateístas como Richard Dawkins e Christopher Hitchens", chamando o "tipo de ateísmo deles" de "dolorosamente agressivo e destrutivo", Alain de Botton considera que eles "se focavam - num grau bastante inconfortável - na questão de se Deus existe ou não".  O filósofo suíço entende que "a pergunta mais entediante que você pode formular a respeito da religião é se tudo o que a envolve é verdadeiro", criticando a obsessão ateísta com essa questão, que segundo ele, envolve "um grupo radical de crentes fanáticos se batendo com um grupo igualmente pequeno e fanático de ateus". Alain de Botton prefere uma abordagem diferente. Embora reconheça que a religião não deve ser compreendida como "dada por Deus", conclui que "é possível permanecer como um ateu comprometido e, apesar disso, achar que as religiões são esporadicamente úteis, interessantes e consoladoras - além de se manter curioso ante a possibilidade de importar algumas de suas ideias e práticas para o reino secular". Isto tudo como uma espécie de antídoto ao individualismo, ao "endeusamento" da tecnologia e ao perigo de se perder o referencial: "ver o nosso tempo como tudo que temos, esquecer da brevidade do momento presente e parar de apreciar (numa maneira boa) a natureza minúscula das nossas conquistas. E, finalmente, sem Deus, pode haver o perigo de que a necessidade de empatia e comportamento ético seja descartada". O filósofo suíço termina dizendo que quer chamar a atenção dos ateus para algumas dessas lacunas, "algumas das quais podem vir a desaparecer se nós dispensarmos Deus tão bruscamente". Ao menos, Alain de Botton não está sendo contraditório: mesmo que queira terminar eliminando a religião, reconhece que precisa dela a ponto de construir um templo que pelo menos a imite. É mais paradoxo do que contradição, na minha humilde opinião. No fundo, apesar do gnosticismo desenfreado que acomete os novos "papas da iluminação sapiencial", Alain de Botton tem uma preocupação mais estética do que filosófica, mas este é um tema que merece ser melhor explorado, ao qual voltarei em outra ocasião. O ato falho é que, ao tentar responder positivamente à pergunta do título do seu artigo - "Ateus precisam de religião?" - Alain de Botton se esqueceu que eles - de fato - já a têm...




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