Há exatos 100 anos, no dia 25 de abril de 1915, começava a campanha terrestre que passou para a história da humanidade como a batalha de Gallipoli (ou de Çanakkale, como os turcos a chamam), que duraria pouco menos de 9 meses e consumiria cerca de 500 mil vítimas.
A Primeira Guerra Mundial havia começado no dia 28 de julho de 1914, como relembramos aqui, e de um lado estava o Império Britânico com suas colônias e seus aliados tradicionais (os mais importantes - naquele momento - eram a França e a Rússia), e do outro a Alemanha, o Império Austro-Húngaro e o Império Otomano.
Todos os Impérios listados no parágrafo acima seriam dissolvidos no século XX. O Britânico resistiria até a Segunda Guerra (1939-1945), mas o Austro-Húngaro e o Otomano se esfacelariam após o fim da Primeira.
O Império Otomano se transformou, com muita perda de possessões, na atual Turquia, em cujo território fica a península de Gallipoli, que se converteria na carnificina cujo centenário é tristemente lembrado hoje.
Os britânicos acreditavam que era de vital importância estratégica a conquista da península, o que lhes garantiria uma rota segura para o abastecimento da Rússia, o controle do estreito de Dardanelos e a conquista de Istambul, capital do Império Otomano.
Em 18 de março de 1915, um ataque naval confuso e precipitado havia sido ordenado pelo então Primeiro Lorde do Almirantado britânico, Winston Churchill, que mais tarde seria o grande líder dos aliados contra a Alemanha nazista na guerra que se seguiu.
A resistência turca foi ferrenha e a tentativa de um desembarque naval resultou num retumbante fracasso.
A invasão por terra começou no dia 25 de abril de 1915, especialmente com forças australianas e neozelandesas, cujos países haviam sido - até alguns anos antes - colônias do Império Britânico.
Embora tenha estabelecido cabeças-de-ponte no território de Gallipoli, o exército aliado mal conseguiu avançar frente à feroz resistência otomana, comandada por Mustafá Kemal.
No combate corpo-a-corpo, centenas de milhares de soldados de ambos os lados foram massacrados, expostos que eram à linha de tiro do adversário sem nenhuma piedade.
A batalha de Gallipoli terminou com a derrota das forças aliadas, mas forjou dois grandes líderes mundiais e o sentimento de identidade nacional da Austrália e da Nova Zelândia.
Churchill, diante da fragorosa derrota, renunciaria ao Almirantado e, após um tempo recluso, decidiu combater com a Infantaria nas trincheiras europeias.
Isso lhe devolveu o amor próprio e o respeito de seus pares, preparando-o para ser o grande líder aliado que venceria a Segunda Guerra Mundial.
Atatürk, o "Pai da Turquia" |
Mustafá Kemal, grande político e estrategista militar, se tornaria no grande líder da formação da Turquia, abolindo o califado e o sultanato, além de modernizar e ocidentalizar o país que até hoje vive às turras com a estrutura laica e a influência islâmica.
Kemal chegou ao ponto de abolir o alfabeto árabe e transliterar o idioma turco para o alfabeto latino, a fim de adequá-lo ao mundo ocidental.
Não por acaso, portanto, o grande comandante otomano passaria para a história acrescentando o apelido de Atatürk, que significa "pai dos turcos".
Por outro lado, as imensas perdas humanas que sofreram Austrália e Nova Zelândia sob o comando desastrado de oficiais britânicos fizeram com que os dois povos recém-independentes reforçassem sua identidade nacional.
Gallipoli aglutinou a tragédia comum e funcionou, portanto, como uma espécie de "mito fundador" da nacionalidade de australianos e neozelandeses.
Gallipoli aglutinou a tragédia comum e funcionou, portanto, como uma espécie de "mito fundador" da nacionalidade de australianos e neozelandeses.
ANZAC (Australian and New Zealand Army Corps) era o nome do contingente de ambos os países que combateu em Gallipoli, que até hoje relembram a tragédia no ANZAC Day que é celebrado todo dia 25 de abril.
Gallipoli foi nome, também, de um excelente (impactante e triste) filme de 1981, com a melancólica trilha sonora do Adágio de Albinoni, dirigido por Peter Weir e estrelado pelo então novato Mel Gibson, cujo trailer e íntegra (com legendas) podem ser vistos abaixo:
Nada de novo, infelizmente. Milhares de jovens perdendo suas vidas na estupidez de uma guerra ordenada por senhores engravatados.