domingo, 31 de março de 2013

Ressurreição: o fim do começo


por Lloyd John Ogilvie:

Leitura bíblica: João 19:30; 17:4-13; 6:38

Versículo-chave: “Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito.” (João 19:30)

Meditação: O que estava consumado? Jesus não disse: “Estou consumado”, mas “está consumado”. A obra que ele veio realizar, com o clímax da cruz, estava completa. Ele viera revelar o amor de Deus, comunicar a graça, trazer a realidade do Reino e libertar as pessoas do poder do pecado e da morte. Sua obra estava realizada, e, contudo, apenas havia começado.

Pense por um instante no que teria sido a obra consumada de Cristo sem a ressurreição. Pode ser que nos lembrássemos dele como um grande líder que sacrificou tudo, mas teria a sua mensagem e os seus atos continuado a viver? Não, temos certeza de que teriam sido enrolados nas páginas da história e esquecidos.

Deus deu a palavra final. Ele tomou a obra consumada de Cristo e fê-la o fundamento da salvação do homem para sempre. Terminada sua obra na carne, sua obra eterna continua. O episódio seguinte no drama da revelação de seu propósito e plano foi a ressurreição.

A obra de Cristo não está consumada. Continua em mim e em você. Devemos experimentar a morte do eu e a ressurreição para uma nova qualidade de vida. Jesus Cristo está vivo, e continua a fazer o que começou tanto tempo atrás.

Quando, ao máximo de nossa capacidade, terminamos o que Deus nos deu para fazer, a ressurreição de nossos fracos esforços encontra-se próxima. Ele tomará nossas tentativas humanas e as usará para sua glória, fazendo algo glorioso daquilo que batalhamos por fazer grande.

Pensamento do dia: Ao terminarmos, Cristo estará apenas começando.

(Lloyd John Ogilvie, “O que Deus tem de melhor para a minha vida”, Ed. Vida, meditação de 08 de abril)




Cristo já ressuscitou, aleluia!




sábado, 30 de março de 2013

Que fim levou Barrabás?


Esta é uma pergunta que certamente nunca será respondida, já que os rastros de Barrabás se perderam na história depois da crucificação de Jesus, mas não deixa de ser interessante a crítica sobre o filme homônimo que Marcello Scarrone fez para a Revista de História.

É uma daquelas resenhas que conseguem ser muito melhores que o próprio filme analisado:

O homem que não podia morrer

Os últimos dias da vida de Jesus foram representados inúmeras vezes no cinema. O drama épico ‘Barrabás’, clássico dos anos 1960, conta a história do sujeito que foi salvo, literalmente, pela morte de Cristo

Muitas vezes e com abordagens diferentes o cinema se aproximou dos eventos históricos ligados às raízes do cristianismo. Tema presente de forma preponderante na arte figurativa sobretudo do mundo ocidental, da Idade Media à Renascença, do barroco aos estilos posteriores, tanto na representação do nascimento de Cristo quanto na transposição sobre tela, parede ou tapeçaria de milagres ou pregações dele, a fé cristã e os fatos que estão em sua origem encontraram tratamentos pictóricos dos mais variados. Como dito, também a sétima arte se interessou do objeto, e como aconteceu pelas outras formas artísticas, os resultados foram dos mais diversificados. Mas uma coisa salta aos olhos: o peso decididamente superior que em todas as releituras artísticas têm os últimos dias da vida de Jesus, isto é, os eventos ligados à sua paixão, sua morte de cruz e sua misteriosa ressurreição.

De Nicholas Rey (“O Rei dos Reis”, 1961) a Scorsese (“A Última Tentação de Cristo”, 1988), de Zeffirelli (“Jesus de Nazaré”, 1977) a Denys Arcand (“Jesus de Montreal”, 1989), passando por musicais como “Jesus Cristo Superstar” (1974) e até chegar a Mel Gibson (“A Paixão de Cristo”, 2004), a representação cinematográfica daqueles momentos finais desafiou vários diretores. Sem falar de outras produções que tocaram no tema da Páscoa cristã de forma tangencial, como o interessantíssimo “A Investigação” (1986), de Damiano Damiani, com o “tarantiniano” Harvey Keitel no papel de um Pilátos empenhado na tentativa de camuflar os indícios da ressurreição, ou o próprio “Ben-Hur” (1959), drama épico de Wyler. Nesta linha se coloca também “Barrabás”, filme de Richard Fleischer de 1961.

Marcado pela vida inteira por aquilo que lhe ocorrera, isto é, sua misteriosa e incompreensível libertação pela autoridade romana em ocasião da condenação à morte de Jesus Nazareno, o ladrão e assassino Barrabás vive o resto de sua existência carregando um estigma. Não mais o estigma de seus crimes que o levaram à captura e prisão, e sim o de ser um “agraciado”. O primeiro homem a ser salvo, literalmente, pela morte de Cristo. O primeiro homem para o qual a perspectiva da própria morte é afastada graças à morte do outro. Barrabás, por causa disso, acaba sendo um deslocado, tendo sua identidade alterada. Entre seus antigos companheiros de crimes e rapinas, não encontra mais acolhida. Os seguidores de Jesus o veem como o que causou, mesmo que de forma indireta, a morte do Mestre. Não há mais lugar para ele no mundo que conhecia.

Mesmo assim, sua vida vai seguindo, e, entre um evento e outro, acaba percorrendo, quase sem querer, as pegadas daquele que o libertou. Em várias ocasiões se depara com pessoas que encontraram e conheceram aquele homem, aquele estranho profeta: do apóstolo Pedro a Lázaro, o homem que Jesus ressuscitara dos mortos; de sua antiga companheira, agora convertida e até apedrejada por isso, a um prisioneiro e condenado como ele que carrega no pescoço uma cruz. Sim, porque Barrabás ainda é homem de impulsos repentinos, e por defender violentamente sua companheira, é novamente preso: e mais uma vez “agraciado”, pois ao invés da sentença capital, lhe cabe uma condenação aos trabalhos nas minas da Sicília. Aqui, o encontro com outro condenado, que de Cristo é seguidor, o inquieta. Amarrados à mesma corrente, Barrabás e o companheiro são os únicos sobreviventes de um terremoto: salvo mais uma vez. E, enfim, a transferência dos dois para Roma, a capital do Império, para servir como gladiadores na arena. Aqui, tempos depois, a luta com o líder do grupo, até então invicto, e sua improvável vitória que leva o imperador Nero a libertá-lo. A morte parece fugir diante dele: não há evento natural ou justiça humana que parece capaz de elimina-lo da existência.

Contínuos episódios de graça, de salvação. Mas Barrabás não é homem de fé, não entende o que está passando na trama de sua vida. Nem o martírio do amigo o faz confessar a fé cristã: diante do governador romano, declara não ter nenhum tipo de crença. Desnorteado, incrédulo, é o símbolo do homem que não tem um deus, mas que o busca. Está sozinho perante e vida e a morte, e também sua passagem pelas catacumbas, local de sepultura cristão e de memória, se torna quase um pesadelo, do qual quer escapar. Sua derradeira adesão à ação dos discípulos de Cristo, acusados pela voz pública de estarem colocando fogo na cidade, soa como uma atrapalhada e confusa tentativa de entender, de fazer algo para responder ao mistério daquele homem que ele não conheceu mas que está tão presente na sua vida. De uma vida sem deus, como era a dele antes, para uma vida ainda sem deus, mas que talvez o busque.

O final fica aberto a várias interpretações. Mas o filme se coloca como a parábola do ser humano diante do infinito, do divino, do outro diante de si. Crer, se abandonar, aceitar e seguir, ou lutar se rebelando e negando. Ou ainda buscar, como Barrabás, sem, todavia, chegar ao fim, se abrir tentando entender, mesmo chegando somente no limiar da fé. Um homem que admite seu agnosticismo, que gostaria talvez de crer, mas que fica nisso. Ou não?

O filme, realizado nos estúdios romanos de Cinecittá, conta também com a intensa interpretação de Anthony Quinn, rosto mexicano emprestado a um judeu rebelde (no filme de Zeffirelli, anos depois, ele mesmo interpretará o sumo sacerdote Caifás). A produção é uma adaptação para as telas do romance homônimo do escritor sueco Pär Lagerqvist, que lhe valeu o premio Nobel de 1951. Agnóstico como o seu personagem principal, Lagerqvist transpõe para a página escrita sua pessoal inquietação diante do infinito, sua dúvidas, seu laico deter-se no limiar da fé. Um poema dele pode dar pistas para a leitura de sua obra assim como da película que apresentamos.

É meu Amigo um desconhecido, alguém que não conheço. / Um desconhecido distante, distante. / Por ele o meu coração está cheio de saudades / Por que ele não está junto a mim? / Talvez porque não exista de verdade? / Quem és tu que preenches o meu coração com tua ausência? / Que preenches toda a terra com a tua ausência?







sexta-feira, 29 de março de 2013

Papamania anima mas não garante recuperação do número de católicos no Brasil

É o que diz matéria publicada na Folha de S. Paulo de 28/03/13:

Papa Francisco deve animar católicos brasileiros, dizem especialistas

MORRIS KACHANI

A nomeação de um papa latino-americano, com nome de um santo bastante reverenciado e que provavelmente visitará o Brasil em um importante evento voltado para jovens no final de julho, no Rio de Janeiro (a Jornada Mundial da Juventude), tende a animar o segmento católico nacional, na avaliação de especialistas ouvidos pela Folha.

"Sua simplicidade e sua tradição de trabalho junto ao povo pobre são dados característicos do que existe de melhor no clero latino-americano e isso ajudará a população a se encontrar com mais facilidade com esse papa do que com Bento 16", afirma Francisco Borba, coordenador do Núcleo de Fé e Cultura da PUC de São Paulo.

Contudo, se o foco do papa Francisco for o de contribuir de modo significativo para ao menos reduzir o declínio católico no Brasil, não será uma tarefa simples.

A proporção de católicos, que foi superior a 90% ao longo do século 20, caiu para menos de 3/4 no ano 2000 e menos de 2/3 em 2010. Outro aspecto relevante é o crescimento dos sem religião, que eram 0,8% em 1970 e chegaram a 8% em 2010.

Se as tendências das duas últimas décadas se mantiverem, o Brasil do século 21 terá uma configuração diferente da que teve durante seus primeiros 500 anos de história: deixará de ser hegemonicamente católico nos próximos 20 a 30 anos, passando a evangélico.

E esse é um processo não necessariamente sincronizado com o resto da América Latina. Na Argentina por exemplo, impressionantes 92% se dizem católicos.

O crescimento evangélico também acontece, mas com muito menos intensidade. "A média de católicos no continente é de 75% e o Brasil puxa esta média para baixo", explica Fernando Altemeyer, professor de teologia da PUC.

Luiz Eduardo Wanderley, também da PUC, afirma que o Brasil sempre foi mais aberto e crítico em termos religiosos do que a Argentina. "O novo papa é representante de um dos segmentos mais conservadores daquele país", diz.

Em 2011 havia 22.119 padres brasileiros, para 47.805 centros pastorais. E são 9.336 os seminaristas que em até sete anos se tornarão padres, se não mudarem de ideia durante os estudos.

Um padre leva em média sete anos para se ordenar, enquanto um pastor evangélico, dependendo da igreja, pode levar apenas três meses.

"O deficit de padres no Brasil é um problema grave de atendimento pastoral, porque o povo acaba ficando sem missa", diz Altemeyer.

Para tentar reverter esse quadro, a Igreja Católica criou novas formas de inserção, como os diáconos permanentes, que hoje já são 2.711 em atividade no Brasil.

Os diáconos são casados e não podem celebrar missa ou ouvir confissão. Mas podem batizar, fazer a extrema unção ou a liturgia da palavra.

Para Borba, o Brasil nunca foi a maior nação católica do mundo: "se somos a maior nação católica, é só no número. Muitos se dizem católicos em respeito à tradição da família, mas poucos frequentam a igreja.

E há também o elemento sincrético, muito presente nas camadas populares", diz.

André Ricardo de Souza, sociólogo da Universidade Federal de São Carlos, diz que a quantidade de católicos brasileiros que vivenciam a experiência na igreja "não passa dos 15%".

Não há consenso entre os especialistas sobre quais são as principais vertentes da Igreja Católica no Brasil.

Todos concordam porém, que a Teologia da Libertação perdeu influência e o cenário atual é dominado pelos conservadores, que têm em Odilo Scherer um dos seus principais expoentes.

O grande destaque, em termos de apelo de público, continua sendo a Renovação Carismática, representada pela Canção Nova ou Shalom e os padres cantores.

Os carismáticos já contam com 15 milhões de adeptos e continuam crescendo.

"Eles propõem uma renovação apenas litúrgica. Politicamente ou em termos de moral sexual, são bastante conservadores", explica André Ricardo.

Outros movimentos que crescem, mas em proporção bem menor, são os focolares, com uma abordagem mais ecumênica, ou o Comunhão e Libertação.

Diferentes uns dos outros, todos esses movimentos surgiram no pós-Segunda Guerra e serviriam, de uma maneira ou de outra, como um caminho alternativo ao proposto pelos evangélicos.

Em comum, apresentam Cristo como uma figura fascinante e próxima. O aspecto emocional é muito importante. Agem de uma forma diferente: o encontro com Jesus pode acontecer e mudar a vida do fiel.



quinta-feira, 28 de março de 2013

Católicos são os religiosos mais liberais no Brasil



Os dados consolidados pela pesquisa do Datafolha não foram divulgados em sua totalidade, mas os resultados abertos até aqui não deixam de ser curiosos, segundo a matéria publicada na Folha de S. Paulo de 27/03/13:

Análise Datafolha: Católicos são os mais liberais entre religiosos

REINALDO JOSÉ LOPES

A pesquisa feita pelo Datafolha sobre a eleição do papa Francisco consolida a impressão de que há uma grande diferença entre o que a igreja prega e o que os católicos brasileiros pensam ou praticam --com algumas nuances importantes.

Em primeiro lugar, chama a atenção o fato de que, em temas polêmicos, ligados à moral sexual ou aos pilares do funcionamento da igreja, os católicos do Brasil são, com frequência, mais "liberais" que os membros de todas as demais igrejas cristãs.

É no mínimo curioso, por exemplo, que num país onde já há "bispas" e "pastoras" com status de celebridade, mais católicos defendam que uma mulher pode celebrar a missa (64% deles) do que evangélicos pentecostais (56%) e entre os não pentecostais (58%).

O contingente católico da população também é o grupo mais aberto, entre os membros das igrejas cristãs, à possibilidade de uniões homossexuais (41%).

Esse número só não é maior do que o registrado entre espíritas (64%) e adeptos da umbanda (53%), os únicos grupos religiosos do país que têm uma maioria favorável a esse tipo de união, de acordo com o levantamento do Datafolha.

E os resultados são parecidos quando se pergunta o posicionamento sobre a legalização do aborto.

A questão, claro, é como explicar o abismo entre o Magistério (o ensinamento oficial da igreja) e a prática, coisa que pesquisas de opinião de larga escala não foram projetadas para fazer.

Um primeiro aspecto importante provavelmente é o simples gigantismo e peso histórico da Igreja Católica no Brasil. O "catolicismo cultural", o hábito de batizar os filhos e ir à igreja apenas para casamentos e funerais, ainda é uma força considerável, embora esse tipo de católico esteja virando evangélico ou "sem religião" com frequência cada vez maior.

PESO E TESOURO

Há ainda a influência duradoura do Concílio Vaticano 2º (1962-1965), encontro de todos os bispos do planeta que redefiniu a relação da igreja com o mundo moderno.

Muitos sacerdotes e fiéis ainda interpretam as afirmações do concílio sobre a primazia da consciência de cada pessoa como uma abertura para tomar suas próprias decisões sobre temas que não afetariam o cerne da fé.

(Por outro lado, o concílio também condenou o aborto como "crime abominável", e só 41% dos católicos do país aceitam abrir brechas para o procedimento.)

Outro detalhe interessante é a diferença entre o que os fiéis acham correto e o que o papa deveria fazer a respeito.

Nem todo mundo que é a favor da camisinha ou da pílula anticoncepcional acha que o papa deveria sair em defesa delas, por exemplo.

E, apesar da associação entre celibato clerical e casos de abuso sexual envolvendo padres, metade dos católicos (52%) ainda prefere um clero celibatário. A tradição católica estaria, então, mais para um fardo ou para um tesouro? Para muita gente, talvez seja as duas coisas.



quarta-feira, 27 de março de 2013

Líbano tem primeiro casamento civil da sua história

Nidal Darwish e Kholoud Sukkarieh: o amor vencerá no Líbano?

Sempre é bom lembrar que o casamento civil no Brasil só veio a ter força de lei pela primeira Constituição republicana, de 1891, já que até então o que valia era o casamento católico, a então religião oficial da Constituição imperial de 1824.

Portanto, já em 2013, num tempo em que a sociedade ocidental debate intensamente o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, é uma enorme surpresa saber que isso sequer existia (entre um homem e uma mulher) no conturbado Líbano até recentemente, e isto pode causar sérias consequências ao corajoso casal, conforme publicou a Folha de S. Paulo de 26/03/13:

Casal encontra brecha para driblar proibição ao matrimônio civil no Líbano

DIOGO BERCITO

Nidal Darwish e Kholoud Sukkarieh celebraram o primeiro casamento civil feito no Líbano, tornando-se marido e mulher --até que a fatwa os separe.

O matrimônio, realizado em novembro, é a bandeira da visão de país que o casal compartilha: uma nação com base em princípios seculares (não religiosos).

Contrariadas, lideranças islâmicas locais emitiram uma fatwa, espécie de ordem religiosa, afirmando que é dever de todo muçulmano opor-se ao matrimônio civil.

"Estamos vivendo num país sectário, que divide as pessoas em grupos", diz Sukkarieh à Folha. "Não queremos mais isso. Queremos uma nação que respeite a todos."

O Líbano é exceção entre países árabes ao não basear sua Constituição nas leis islâmicas. No entanto, as leis familiares estão sob jurisdição religiosa.

Assuntos como casamento e, se preciso, divórcio ainda são decididos por autoridades religiosas. Não há opção de um casamento civil.

Ativistas pelo secularismo, no entanto, convenceram Darwish e Sukkarieh a forçar o sistema, escorregando por fresta aberta na legislação.

O fato de ela ser muçulmana do ramo sunita, e o marido, do xiita, não os impedia de ter um casamento religioso. No entanto, eles encamparam a ideia da união civil.

"Alguém me disse que precisavam de pessoas corajosas para fazer o primeiro casamento civil no Líbano", diz Sukkarieh. "Eu e meu marido aceitamos os sacrifícios."

Apoiados em um texto de 1936, que permite que um cidadão não se identifique com nenhum dos 18 credos oficiais, Sukkarieh e seu marido retiraram a filiação religiosa de suas identidades oficiais. Assim, afirmaram que a união entre eles não era mais assunto de fé - e, portanto, não havia impedimento legal.

Assessorados gratuitamente pelo Centro Civil para a Iniciativa Nacional, eles levaram o pedido a um notário e oficializaram o casamento.

"Tivemos de manter segredo por dez meses", diz Sukkarieh. "Alguns dos documentos que tivemos de providenciar eram novos. Foi necessário prepará-los sem poder dizer às autoridades o porquê."

A união, porém, não foi validada pelas autoridades responsáveis, e o casal ficou sem os direitos familiares, como aqueles relativos a herança e guarda de filhos.

"Isso balança o sistema e força os legisladores a rascunhar uma lei civil para o casamento", diz à Folha o parlamentar Ghassan Moukheiber, um dos fundadores do Centro Civil. "É uma mudança importante no modo com que o país está lidando com os seus próprios processos."

A união foi desafiada pelo sistema e atacada pelas lideranças religiosas. Mas, em um sinal de que o buraquinho aberto no dique da lei pode levar a uma enxurrada laica, políticos de peso, como o presidente Michel Suleiman e o ex-premiê Saad Hariri, saíram em defesa de realizar o matrimônio secular no país.

Pela lei atual, apesar de não ser possível fazer o casamento civil no Líbano, o país reconhece matrimônios seculares contraídos no exterior. Dessa maneira, virou tradição casar-se em Chipre ou na Turquia.

"Alguns casais estavam planejando fazer isso em breve, mas, quando ouviram falar sobre nós, cancelaram suas viagens", diz Sukkarieh.

Criticados por amigos e familiares, esse casal libanês afirma estar orgulhoso de sua união servir de símbolo para um país secular ainda por vir.

"Nós ouvimos milhares de vozes contrárias", diz Sukkarieh. "Mas estamos orgulhosos de nunca ter desistido."





Pechinchas do dia para kindle

Começamos hoje a - vez ou outra - compartilhar com os leitores do blog algumas boas compras que podem ser feitas por quem tem o e-reader kindle da subsidiária brasileira da Amazon.com.

Ressaltamos, por oportuno, que não ganhamos nada com isso (a não ser o prazer de dividir boas leituras e bons preços), nem temos qualquer vínculo profissional ou comercial com a Amazon, mas consideramos que o que é bom e barato merece ser divulgado.

Priorizamos, entretanto, os livros que têm algo a ver com os assuntos filosóficos, literários e teológicos que são tratados aqui no blog.

Devido à facilidade que o kindle oferece para se comprar livros em inglês com bons descontos, em moeda nacional, sem frete astronômico e com "entrega" instantânea, indicamos hoje três livros (com as respectivas descrições) nesse idioma, que nos parecem muito bons, ressaltando que os preços promocionais indicados valem apenas para hoje, 27/03/13, e talvez para mais alguns dias apenas, o que deve ser confirmado em cada um dos links apontados:

1) The Insanity of God (R$ 6,01)
The Insanity of God is the personal and lifelong journey of an ordinary couple from rural Kentucky who thought they were going on just your ordinary missionary pilgrimage, but discovered it would be anything but. After spending over six hard years doing relief work in Somalia, and experiencing life where it looked like God had turned away completely and He was clueless about the tragedies of life, the couple had a crisis of faith and left Africa asking God, "Does the gospel work anywhere when it is really a hard place? It sure didn't work in Somalia.

Nik recalls that, “God had always been so real to me, to Ruth, and to our boys. But was He enough, for the utter weariness of soul I experienced at that time, in that place, under those circumstances?” It is a question that many have asked and one that, if answered, can lead us to a whole new world of faith.

How does faith survive, let alone flourish in a place like the Middle East? How can Good truly overcome such evil? How do you maintain hope when all is darkness around you? How can we say “greater is He that is in me than he that is in the world” when it may not be visibly true in that place at that time? How does anyone live an abundant, victorious Christian life in our world’s toughest places? Can Christianity even work outside of Western, dressed-up, ordered nations? If so, how?

The Insanity of God tells a story—a remarkable and unique story to be sure, yet at heart a very human story—of the Ripkens’ own spiritual and emotional odyssey. The gripping, narrative account of a personal pilgrimage into some of the toughest places on earth, combined with sobering and insightful stories of the remarkable people of faith Nik and Ruth encountered on their journeys, will serve as a powerful course of revelation, growth, and challenge for anyone who wants to know whether God truly is enough.
2) Embracing Obscurity (R$ 6,01)
No matter how famous someone might be, the fact remains; most of the other seven billion people on Earth wouldn’t know him or her from the next person. Add this reality to one’s shrinking recognizability among the multiple billions down through history, and the worldly emphasis on standing out really falls flat; we’re all in this obscurity thing together.

Ironically, the trouble with me and you and the rest of humanity is not a lack of self-confidence but that we have far too much self-importance. To live and die unnoticed would seem a grave injustice to many. It’s all too easy to think we’re somebody if our portfolio is strong, there are a few letters after our name, or we’re well-known at work, church, or school.

As pride creeps in, we are tempted to want more: more recognition, more admiration, more influence, more, more, more. Few have ever given thought to wanting less. That’s why we need Embracing Obscurity.

Putting the premise into immediate action, an established Christian author electing to remain anonymous writes about living and dying in simplicity, contending that true success, as modeled by Jesus, starts with humility, service, sacrifice, and surrender. Such a life involves mystery and banks on the hope that today is just a dress rehearsal for eternity.

When we stop imitating the world and instead choose to embrace obscurity, real life -- chock full of significance, purpose, and renewed passion -- begins.
Take Words With You" is a comprehensive compilation of approximately 1500 promises and Scripture prayers (ESV) to provide tangible traction to our prayers. It is intended to fortify our prayers with God’s Word and to build a strong faith in God in the one praying. It is also intended to better align the believers praying with the will of God, which God has promised to answer:

This is the confidence that we have toward him, that if we ask anything according to his will he hears us. (1 John 5:14)




terça-feira, 26 de março de 2013

Milhares de porcos aparecem mortos em rio chinês

É... coisas estranhas estão acontecendo no mundo. Os caçadores de mensagens apocalípticas devem ter ficado frenéticos com essa notícia do Terra, lembrando a manada de porcos (a "Legião") endemoninhados que se atirou no mar segundo o relato bíblico (Marcos 5 e Lucas 9).

China: retirada de 13 mil porcos não afeta qualidade da água em rio

Embora 13 mil porcos mortos tenham sido retirados do rio Huangpu nos últimos dias, a qualidade da água corrente em Xangai segue sem ter sido afetada, segundo as autoridades da cidade mais povoada da China, com mais de 23 milhões de habitantes.

Cerca de 80% dos corpos retirados são de animais jovens, revelou o porta-voz do governo de Xangai, Xu Wei, que afirmou que a qualidade de água tanto no rio como nas torneiras ainda é normal, e após seis dias de inspeção, não foi detectada carne duvidosa nos mercados locais.

Após uma semana de retirada de centenas de cadáveres diariamente, as autoridades da prefeitura enviaram parte das mais de 230 embarcações empregadas nas tarefas de limpeza rumo à fronteira com a província de Zhejiang, em cujo lago Dianshan nasce o Huangpu e de onde parece que os corpos são provenientes.

Estas embarcações são encarregadas de vigiar a zona nos próximos dias e de recolher todos os corpos que apareçam perto de Xangai, explicou Xu ao jornal oficial Shanghai Daily.

Há uma semana a Comissão de Agricultura de Xangai detectou na água do Huangpu, que atravessa a cidade até desembocar no rio Yang Tsé, próximo ao mar, a presença de um circovírus suíno potencialmente letal para os animais, embora não contagie os humanos.

Contudo, não foi decretado nenhum alarme por parte das forças de saúde por enquanto e nem consta uma epidemia suína na região.

A Comissão averiguou neste fim de semana várias fazendas de Xangai que os internautas locais acusaram de lançar porcos no rio, embora tenha descoberto que uma delas já não cria porcos, enquanto as autoridades não conseguiram provar que a outra atirasse corpos na água.

A empresa chinesa de carne envasilhada, Xangai Maling Aquarius, também foi acusada na internet de utilizar carne de porcos mortos ou doentes, mas as autoridades também não acharam provas nem em seus produtos e nem em suas instalações.

Até agora, só foi localizado um culpado pelo problema, embora a prática seja bastante estendida na zona, sobretudo na vizinha cidade de Jiaxing, em Zhejiang.

Como primeiro fruto das investigações iniciadas desde que o caso ficou conhecido, uma fazenda dessa cidade reconheceu na quarta-feira ter jogado vários porcos mortos ao rio Huangpu, embora não tenha sido identificado o estabelecimento responsável e nem o número de cadáveres jogados ao rio.

A confissão foi obtida depois que as investigações preliminares indicassem, pelos rótulos das orelhas de 14 dos animais recolhidos, que todos eles tinham nascido em Jiaxing.



segunda-feira, 25 de março de 2013

Avanço de cristãos no Irã gera mais perseguição

Apesar de toda a repercussão de qualquer ação do governo e da diplomacia iraniana no complicado cenário da geopolítica mundial, parece que o país está enfrentando um inimigo interno e oculto muito mais perigoso.

A recente perseguição a cristãos no Irã, da qual a prisão e condenação à morte do pastor Yousef Nadarkhani parece ser o maior exemplo, ao que tudo indica não tem surtido o efeito desejado pelos seus líderes religiosos.

E é justamente na cidade islâmica de Mashhad, local de peregrinação por ser a terra natal do supremo lider do país, o aiatolá Seyyed Ali Khamenei, que o avanço do cristianismo se faz sentir mais forte.

Embora não tenham mostrado nenhuma evidência de suas alegações, clérigos muçulmanos têm criticado abertamente aquilo que chamam de "onda de evangelismo" por todo o país, com livros e folhetos cristãos sendo distribuídos de porta em porta, "o que não é algo novo", segundo declarou o aiatolá Mohammad Hassan Akhtari numa conferência na cidade sagrada xiita de Qom.

Na ocasião, Akhtari afirmou ainda que "o cristianismo está sendo pregado em muitas lojas na cidade islâmica de Mashhad e seus folhetos estão sendo enviados aos endereços das pessoas sem nenhuma restrição".

Algum tempo atrás, o diário Jomhouri-Eslami, uma espécie de porta-voz oficioso do governo iraniano, publicou uma reportagem afirmando que "nos últimos meses, tem crescido o número de igrejas nas casas em Mashhad. Outros informes, por sua vez, dão conta de que 200 igrejas domiciliares são reconhecidas na cidade islâmica".

E não é só o cristianismo que tem crescido na República Islâmica do Irã, mas também uma religião autóctone, a fé Baha'i, fundada por Bahá'u'lláh na Pérsia do século XIX, que enfatiza a unidade espiritual de toda a humanidade, e sobre a qual também recai forte perseguição das autoridades religiosas do país.

Curiosamente, esta atitude de misturar cristãos e baha'is no mesmo balaio de restrições gera dificuldades para os líderes xiitas, já que, como o próprio Alcorão ensina, o cristianismo é também uma religião abrâmica, e portanto não deveria ter o mesmo tratamento que outra religião que não segue o "povo do livro", como são conhecidos os judeus e cristãos.

Entretanto, os evangelistas estão tão ativos por todo o país que as autoridades iranianas (onde a política é intimamente relacionada ao Islã) estão incentivando uma espécie de contra-evangelismo por parte dos muçulmanos, felizmente na base de folhetos, livros e internet, mas sempre fica o receio justificado de que a reação venha por meios físicos mais violentos.

Tanto isso é verdade que as próprias fontes iranianas suspeitam que todo esse discurso anticristão tenha mesmo o objetivo subliminar de provocar as forças de segurança do país a perseguir ainda mais os cristãos, o que - infelizmente - não será nenhuma surpresa.

Agora, uma coisa é certa: onde há fumaça, há fogo. Se os cristãos estão provocando tanta reação, é porque estão incomodando. Oremos por eles e que possam fazer seu trabalho em paz.

Fontes: ASSIST News Service e Mohabat News



domingo, 24 de março de 2013

Por que comentários em blogs podem virar um festival de baixarias?

A matéria foi publicada no IHU:

Baixaria em comentários online agrava distorções informativas

"As conclusões mostraram que as pessoas com pouca familiaridade com novas tecnologias como a nanotecnologia tendem a valorizar mais o lado negativo do tema em questão quando os comentários postados nos textos do blog resvalaram para a baixaria e ofensas pessoais", escreve Carlos Castilho, jornalista, pesquisador de jornalismo online, em artigo publicado pelo Observatório da Imprensa, 04-03-2013.

Eis o artigo.

Os comentários grosseiros e ofensivos em páginas informativas na Web têm uma influência muito maior do que se imagina na formação de opiniões, pois a baixaria online é causa e consequência do tipo de informação publicada em blogs, redes sociais e sites noticiosos. Este fenômeno aumenta a polêmica em torno da complexidade da circulação de informações na internet.

A constatação foi feita por um grupo de cinco pesquisadores da universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, que investigaram a influência de comentários pouco civilizados na forma como as pessoas desenvolvem opiniões sobre fatos, dados, eventos e processos sobre os quais têm pouco conhecimento.

O trabalho envolve um estudo das reações aos textos de uma amostra de 2.338 pessoas – escolhidas conforme o perfil da população norte-americana – que comentaram as informações fictícias publicadas em um blog sobre nanotecnologia. Os pesquisadores escolheram propositalmente um tema neutro para evitar o passionalismo inevitável, caso o assunto fosse política, esporte, religião ou terrorismo, por exemplo.

As conclusões mostraram que as pessoas com pouca familiaridade com novas tecnologias como a nanotecnologia tendem a valorizar mais o lado negativo do tema em questão quando os comentários postados nos textos do blog resvalaram para a baixaria e ofensas pessoais. Como mais da metade dos participantes da pesquisa tinha um conhecimento mínimo sobre materiais inframicroscópicos, as pessoas destacaram mais os riscos do que as vantagens das pesquisas nessa área supernova na atividade cientifica.

Se a polarização de posicionamentos e a radicalização de percepções aconteceram num debate em torno de um tema relativamente pacífico, não é necessário muito esforço para deduzir o que aconteceria se a pesquisa envolvesse comentários sobre eleições, futebol, sexo ou religião. O festival de baixarias,por exemplo, é quase uma característica inevitável das campanhas eleitorais online.

Mas a internet não pode ser culpada pela falta de civilidade evidenciada por milhares de internautas. Também não é um fenômeno apenas brasileiro e nem muito menos um processo irreversível. Os cinco professores norte-americanos (três mulheres e dois homens) afirmam que a baixaria se tornou mais visível na internet pela ampliação exponencial do número de pessoas que podem publicar comentários na rede mundial de computadores tendo, teoricamente, acesso a uma audiência de mais de um bilhão de internautas.

A tendência a baixaria, radicalização e sectarismo já existia, mas não assumia as proporções do fenômeno online por falta de mecanismos de circulação massiva e instantânea de opiniões. O fenômeno é mundial e assume características específicas segundo o país em questão. O estudo da universidade de Wisconsin-Madison mostrou que os norte-americanos também apelam para a baixaria online para defender pontos de vista.

O preocupante é que a universalização e a instantaneidade da internet permitem que as distorções informativas também sejam cada vez mais amplas e imediatas. Isso pode ter consequências trágicas se levarmos em conta que hoje estamos submetidos a uma avalancha informativa na qual nos defrontamos diariamente com problemas complexos sobre os quais temos escasso conhecimento. A possibilidade de sermos envolvidos inconscientemente em processos de radicalização e xenofobia aumenta muito.

Os autores do estudo também assinalam que, embora os comentaristas pouco civilizados sejam os responsáveis pela criação de um clima de radicalização de posições num debate online, a causa, o gatilho que dispara a polêmica, é a noticia ou o texto analítico original publicado num blog, rede social ou página web de referência. A pesquisa mostra que uma notícia descontextualizada, enviesada ou uma análise crítica posicionada contra alguma ideologia, projeto político, postura religiosa ou proposta partidária tende a acirrar ânimos.

Nessas condições, a justificativa de liberdade de expressão perde consistência diante das prováveis consequência da radicalização e passionalismo. Não se trata de culpar A ou B ou C. A questão não é achar um bode expiatório. O problema é desenvolver a consciência de que uma vez deflagrada a baixaria, ela se torna incontrolável, no curto prazo, e vai exigir tempo, paciência e muita conversa para ser revertida.

Aqui no Código Aberto, a área de comentários foi bastante tumultuada durante quase dois anos por trocas de ofensas entre leitores impacientes, pouco acostumados a terem suas opiniões contestadas por outros. Mas desde 2006 a situação mudou depois de uma longa conversa entre os leitores, da qual também participei. Mas a questão continua em pauta.



sábado, 23 de março de 2013

Governo saudita destrói relíquias sagradas do Islã


Independentemente do que você creia ou deixe de crer, todo o patrimônio religioso construído ao longo dos milênios pertence, de certa forma, a toda a humanidade, retrato que é da peregrinação do engenho humano por todo o planeta desde priscas eras.

Não se trata, obviamente, de ficar cantando "ah ah uh uh, o Islã é nosso!" ou "o Vaticano é nosso!", mas de respeitar os lugares sagrados e os objetos de culto de todas as religiões, lembrando a seus seguidores que eles fazem parte, também, da nossa herança comum.

São relíquias das pegadas que nossos ancestrais nos legaram em suas aventuras pessoais e coletivas ao redor do globo, para que seguíssemos, admirássemos e/ou investigássemos seus rastros.

Assim, por exemplo, nos indignamos quando radicais islâmicos destruíram boa parte dos tesouros arqueológicos de Timbuktu, no Mali, ou quando o Talebã explodiu as enormes estátuas de Buda no Afeganistão.

Como é do conhecimento comum, Meca (مكة - Makka), localizada na Arábia Saudita, é a cidade mais sagrada do islamismo, onde nenhum não muçulmano pode entrar e à qual todo muçulmano deve peregrinar pelo menos uma vez na vida, se tiver condições para tanto, a fim de cumprir o Hajj (حج).

Entretanto, boa parte da enorme tradição islâmica, construída em Meca a partir de sua conquista definitiva pelo profeta Maomé no ano de 630 d. C., pode não resistir às atuais investidas do governo saudita, segundo denuncia o jornal britânico The Independent.

É que, a pretexto de seguir com o plano bilionário de reformar e expandir a Grande Mesquita, a mais importante do Islã, conhecida como Masjid al-Haram (المسجد الحرام), tratores e escavadeiras demoliram as suas antigas estruturas dos tempos do Império Otomano, como mostram as fotos publicadas pelo diário inglês, uma das quais está acima.

A Grande Mesquita foi edificada ao redor da Kaaba (الكعبة‎), a construção em forma de cubo com a rocha sagrada (a Pedra Negra - الحجر الأسود - al-Ḥajar al-Aswad), em torno da qual milhões de muçulmanos fazem suas orações durante as peregrinações.

Muitas das antigas colunas - agora derrubadas - da Grande Mesquita continham inscrições dos tempos otomanos, em que os nomes do profeta Maomé e seus companheiros estavam marcados, bem como descrições de momentos fundamentais de sua jornada.

Uma coluna em especial parece ter sido derrubada, justo aquela que, segundo a tradição islâmica, marca o ponto em que o profeta teria começado sua última viagem no ano 632, num cavalo alado que o teria levado a Jerusalém antes de sua ascensão aos céus na mesma noite.

Suspeita-se que tanto Meca como Medina, a segunda cidade mais sagrada do Islã, estão sucumbindo ao consumismo desenfreado que caracteriza (agora não somente) o mundo ocidental.

O governo saudita justifica as reformas dos últimos anos em ambas as cidades, dizendo que precisa adequá-las ao crescente número de peregrinos (contados em milhões) que visitam os locais sagrados durante o Hajj.

Há quem diga, com uma certa dose de razão, que os interesses empresariais e imobiliários em hospedar e entreter os milhões de peregrinos estão transformando as cidades sagradas numa espécie de Las Vegas das Arábias.

Curiosamente, a construtora que ganhou a licitação para a obra bilionária é do grupo saudita Binladin, cujo nome - como você deve ter percebido - remete a um certo Osama Bin Laden, já que foi seu pai, Mohammed bin Laden, que fundou o império da construção civil na península arábica.

Alguns líderes islâmicos, entretanto, incentivam a destruição das relíquias históricas sob o argumento de que as mesmas, sob qualquer pretexto, não podem se converter em centros de idolatria, atitude que o Islã repele veementemente.

Por outro lado, a exemplo do ocorrido em Timbuktu, é preciso ter sempre em mente a noção de que os inúmeros legados religiosos do passado pertencem não só a uma religião específica, mas a toda a humanidade, ainda que sejam maltratados e desprezados aqui e ali.

A repercussão do fato foi tão grande que o príncipe Charles, do Reino Unido, e sua esposa, a Duquesa da Cornuália, desembarcaram esta semana em Riad, capital da Arábia Saudita, para uma agenda não revelada, mas que, ao que tudo indica, levará as legítimas preocupações do mundo inteiro ao monarca saudita, o rei Abdallah, e a seus príncipes, a fim de se evitar ainda mais destruição do patrimônio histórico-cultural-sagrado do Islã (e de todos nós, indistintamente).



sexta-feira, 22 de março de 2013

Só Marco Feliciano ganha com a crise que ele criou


Esta conclusão é do seu colega de partido, o deputado Hugo Leal (PSC/RJ), repercutindo a  suspeita dos demais colegas da Câmara e corroborando o que já dizíamos aqui em novembro de 2009: radicalismo dá grana.

A matéria é da Folha de S. Paulo:

Análise: Deputado pastor parece ter bom senso de oportunidade

RICARDO MENDONÇA

"Estou me sentindo perseguido como aquela cubana lá. Como é o nome? A Yoani Sánchez", disse o deputado e pastor Marcos Feliciano (PSC-SP), alvo diário de protestos desde o instante de sua indicação para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

Interessante aí é reparar na escolha da personagem. Talvez diga algo sobre o senso de oportunidade do pastor. É atualizado, rápido. Tem até um certo link ideológico: "A inimiga do meu inimigo é minha amiga", ele poderia dizer.

Feliciano disse muito mais nos últimos dias. Apresentou-se como um homem "perseguido por sua fé". A ideia de perseguição religiosa, muito cara na doutrina evangélica, tem sido repetida à exaustão em cultos, entrevistas e em sua ativa conta no Twitter.

A turma do YouTube não ficou para trás. Foi contemplada com o vídeo que ele não sabe quem fez, mas curiosamente divulgou e aparece chorando (ou supostamente chorando) em close no final.

VÍTIMA

Numa entrevista negociada para ser exclusiva, Feliciano disse que é ele a vítima de discriminação. E que seus direitos estão sendo tolhidos.

Feliciano continuou dizendo. Afirmou nos últimos dias que estava recebendo ameaças de morte. Aos microfones, anunciou que iria pedir proteção para a Polícia Legislativa e para a Polícia Federal.

O Feliciano que disse tudo isso também disse na tal exclusiva que está sofrendo tudo "caladinho". Caladinho?

Quem melhor matou a charada foi o deputado Hugo Leal (RJ), seu colega de partido, conforme reproduziu o jornal "O Globo" ontem.

Numa reunião da bancada, Leal teria dirigido a seguinte reclamação a Feliciano: "Você é cantor, vende CDs, faz palestras. O problema não é você defender o que pensa, mas a forma como está fazendo. Só você ganha com isso. Dessa forma, está sendo ruim para o partido e para a Câmara".



quinta-feira, 21 de março de 2013

CFM defende direito ao aborto e à não transfusão de sangue das testemunhas de Jeová

A notícia pra lá de polêmica vem do UOL:

CFM compara direito a aborto ao do paciente terminal que morre em casa

Camila Campanerut

O Conselho Federal de Medicina (CFM) apresentou nesta quinta-feira (21) uma proposta de alteração no Código Penal Brasileiro para dar à mulher o direito de realizar um aborto de forma legal até a 12ª semana de gestação. São favoráveis à proposta 80% das entidades que compõem o CFM.

Em coletiva à imprensa na tarde desta quinta-feira (21), o presidente do conselho, Roberto D´Ávila, disse que a entidade defende que a vontade da mulher seja respeitada, assim como defende que testemunhas de Jeová tenham o direito de recusar transfusões de sangue, e que pacientes terminais possam morrer em casa, caso prefiram.

"Desde 2006, nós lutamos pelo respeito do paciente terminal de não querer ir para UTI [Unidade de Tratamento Intensivo], não se submeter a procedimentos fúteis e inúteis e ter alta para morrer em casa. Foi uma verdadeira defesa da sua autonomia, chamada autonomia da vontade", afirmou o médico.

"Estamos nos debruçando fortemente em relação à autonomia dos testemunhas de Jeová que, para muitos de nós, têm o direito da recusa de sangue, mesmo que isso lhe tire a vida. É um direito seu que deve ser garantido", continuou.

D'Ávila reforça que a intenção da entidade não é incentivar a prática do aborto, mas garantir que a mulher tenha autonomia sobre o seu corpo. "Apenas estamos sinalizando que, nós, médicos, não todos, mas a maioria da autarquia caminha no sentido de defender uma autonomia plena da mulher de decidir sobre o aborto", resumiu.

De acordo com o médico, a justificativa da escolha da 12ª semana de gestação como limite para o procedimento se deve ao fato de que, até este período, o sistema nervoso do feto ainda não está completo, por isso não haveria sofrimento. Além disso, o aborto traz mais riscos de complicação para a mãe após essa fase.

O aborto é ilegal no país, com exceção dos casos de estupro, quando há risco de vida da mãe ou quando o feto for anencéfalo (má formação que causa a ausência total ou parcial do cérebro).

Entre as discussões da reforma na legislação, uma quarta opção foi debatida sobre a permissão do aborto até a 12ª semana, desde que as mulheres tenham um atestado médico ou psicológico. O CFM, no entanto, é contrário à necessidade de um atestado para este fim.

A decisão dos representantes do CFM foi tomada no Encontro Nacional de Medicina 2013, realizado de 6 a 8 de março em Belém (PA) e divulgado, oficialmente, hoje. O conselho encaminhará a proposta até a próxima semana para incluir o assunto na reforma do Código Penal Brasileiro, que é discutido por um grupo de juristas no Congresso Nacional.

Todas as propostas para a reforma ainda estão sendo reunidas e deverão passar pela análise e voto de deputados e senadores, em um processo que pode demorar meses.

"Hipocrisia social"

De acordo com D´Ávila, o aborto é quinta causa de mortalidade materno no país, que sofre com a subnotificação devido à ilegalidade.

O médico chama de "hipocrisia social" o fato de mulheres com maior poder aquisitivo pagaram para médicos fazerem o aborto, enquanto outras, de baixa renda, tentam sozinhas ou com uso irregular de remédios interromper a gravidez.

"É proibido por lei [o aborto], somos uma autarquia. Vamos continuar obedecendo a lei, e continuar punindo os médicos que fazem aborto até o dia em que este país, após um grande debate, conseguir transformar o aborto em legal", afirmou D´Ávila. "A decisão pertence à sociedade brasileira, através do Congresso Nacional; o que nós faremos foi encaminhar uma proposta de mudança no código penal aos 15 juristas que estudam o assunto."

Debate político

A polêmica em torno do tema sempre volta à tona durante o período eleitoral. Nas últimas eleições presidenciais, em 2010, o assunto chegou a causar mal-estar entre a presidente Dilma Rousseff e líderes religiosos.

A Igreja Católica recomendou a bispos brasileiros que não votassem em políticos que defendiam o aborto e, então, a candidata petista teve de mudar a forma de abordar o assunto.

Nos ministérios, a secretária de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci, conhecida por ser favorável ao aborto, disse em sua primeira entrevista depois da posse que sua opinião pessoal não vinha mais ao caso, e sim a "posição do governo".

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, também se esquiva do assunto e diz que a discussão cabe à sociedade e ao Congresso Nacional.

No Congresso, a bancada religiosa já demonstrou ser contrária à proposta, que ainda não foi colocada em votação.



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