Igreja da Felicidade Universal e Bem Estar Geral - a IFUBEG |
Por que será?
A matéria saiu no Comércio do Jahu:
Série lusa trata de corrupção à brasileira
Produção, disponível gratuitamente na internet, satiriza política, religião e relação entre os dois países
Com um grande escândalo de corrupção prestes ser revelado, a ministra da Cultura de Portugal resolve distrair a população patrocinando a criação de uma telenovela grandiosa. O Brasil, que tem experiência de sobra tanto em falcatruas como nos folhetins, é escolhido como parceiro ideal nesta empreitada.
É esse o ponto de partida da série “País Irmão”, exibida agora pela RTP (televisão pública de Portugal), que recorre ao humor ácido e aos clichês das telenovelas para contar uma história política.
Gravada nos dois países, a produção traz rostos conhecidos dos brasileiros, como os atores Marcos Pasquim, Pedro Cardoso e Natália Lage.
A trama narra bastidores dessa fictícia operação abafa, mas com expedientes usados na corrupção real: preços superfaturados, produtora fictícia, edital fraudado, e muitos conflitos de interesses.
Em 18 episódios, explora a trama dos personagens conforme avança na montagem da novela luso-brasileira, escrita por pai e filho que têm uma relação complicada.
A escolha por uma telenovela como mote não foi à toa. “Portugal é provavelmente o único país da Europa que passa três horas de novela no horário nobre”, conta o escritor Hugo Gonçalves, que assina a trama juntamente de Tiago Santos e João Tordo.
“A telenovela é a forma como o Brasil mais chega aos portugueses”, conta o roteirista, que morou por quatro anos no Rio e adquiriu repertório para muitas das piadas e tiradas presentes na trama.
Em um dos episódios ambientados no Rio, a produtora Branca, vivida por Natália Lage, fica cansada de ver um colega português ser sucessivamente enrolado pelos cariocas. De maneira didática, a personagem explica para ele o funcionamento da brasileiríssima “lei de Gérson” (de se levar vantagem em tudo).
Os autores também brincam com a dificuldade que muitos brasileiros têm em entender o sotaque lusitano e as diferenças no português de cada lado do Atlântico.
A sátira política também se mistura à religiosa em “País Irmão”. É que para dar vida à novela de época “Corte Tropical”, que conta história da fuga da família real portuguesa para o Brasil, os políticos corruptos se unem a uma ambiciosa igreja evangélica.
Em troca de apoio e dinheiro para o projeto, o grupo pede que o governo ceda a concessão de um canal de TV, um prédio em área nobre da cidade e o direito de escalar uma fiel da igreja como personagem central da história.
O núcleo da Igreja da Felicidade Universal e Bem Estar Geral (Ifubeg) é recheado de tiradas ácidas. Em determinado momento, os políticos se queixam de como é difícil enrolar o alto funcionário da igreja vivido por Marcos Pasquim. “Quando se trata de aldrabice (trapaças), a religião leva milhões de anos de avanço”, diz o mafioso, resignado.
“País Irmão” pode ser assistida gratuitamente no site da RTP (www.rtp.pt).
40 anos de sucesso
Embora hoje não tenham o mesmo alcance do passado, as novelas brasileiras ainda fazem muito sucesso em Portugal. “Gabriela, Cravo e Canela”, exibida em 1977, inaugurou a obsessão local com as tramas brasileiras.
Segundo a Globo Portugal, mais de 200 folhetins da emissora já foram exibidos. Muitos em horário nobre.
O sucesso incentivou o país de Camões a criar as próprias tramas, que hoje já exportam atores para o Brasil.
“A telenovela é, e com muito mérito, a única indústria audiovisual que Portugal tem. Mas há pouco espaço e pouco dinheiro para apostar em coisas diferentes. E mesmo quando se aposta, é um combate duro. Porque chegam a estar 3 milhões de pessoas a ver novelas no horário nobre”, diz Hugo Gonçalvez.