sexta-feira, 30 de maio de 2014

Hitler e a espiritualidade contemporânea

Hitler comanda ataque nazista em caricatura soviética de 1942

Artigo de Mateus Prates Mori, a quem agradecemos por ter gentilmente autorizado sua reprodução aqui:

ESPIRITUALIDADE CONTEMPORÂNEA:
O que Hitler tem a ver com isso?

Muitos hoje baseiam qualquer tipo de espiritualidade com algo absorvido ou criado por eles mesmos. Como diz o ditado, no Mundo há tantas pessoas como religiões. Mas, o que Hitler tem a ver com tudo isso?

A grosso modo, pode-se dizer que hoje a religião imperante é uma espécie de Unismo. Como explica o Dr. Peter Jones, no Unismo acredita-se que se há um deus, ele está em todas as coisas e é todas as coisas. Em uma analogia, deus seria o conjunto dos números reais, ou seja, todos os números. Nesse bem bolado, você necessita ter olhos para ver o todo. Você faz parte do Cosmos sendo uma parte muito importante do Universo. Você deve exercitar olhar para dentro de si e achar o seu deus interior. Não é um exercício fácil e você pode e deve fazer o uso de várias técnicas, como meditação transcendental, questionamento da moralidade vigente, esvaziamento e libertação da mente em direção a um estado de harmonia com o universo, algo semelhante a um Nirvana. Seja como for, o que se deve buscar é toda a capacidade dentro de si para ser feliz e ser uma pessoa realizada, amando a si mesmo primeiro, para enfim entrar em harmonia consigo e com o universo. Só assim você entenderá o seu papel. Somente dessa forma você pode oferecer ao próximo o seu melhor. Você deve ser satisfeito sozinho e buscar a completude sem haver a necessidade de encontrar a felicidade em alguém. Você pode ser tudo o que você desejar, sendo capaz de realizar seus sonhos sempre tendo em mente que isso faz parte de um plano geral.

Tudo isso é muito bonito, muito belo e com certeza fala ao coração da humanidade. Não acredito que haja um ser humano que em sua essência natural deseja ser um fracassado. Esse discurso se assemelha bastante com a filosofia de Nietzsche destacando que "A sociedade nunca considerou a virtude outra coisa senão um meio para a força, o poder e a ordem". Em 'A vontade de poder', Nietzsche profetizou a vinda de uma raça de dominadores, "uma espécie humana particularmente forte, altamente dotada de inteligência e vontade". Quase todo tipo de ideologia mama, de alguma forma, nesse fundamento. A teologia da prosperidade que cresce no meio evangélico não é diferente. Afinal, se o Todo-Poderoso o salvou, Ele o salvou para ser um vencedor. Você é um campeão de Deus e como tal deve determinar a sua vitória sobre todas as coisas, pois se Ele prometeu nos dar todas as coisas, assim Ele fará.

De modo muito interessante esse tipo de pensamento rondava a mente de Adolf Hitler. Ouve-se, por vezes, que Hitler era cristão católico. Não era, sabemos, mas não também era abertamente anticristão. Sempre usou a Igreja como massa de manobra para impor sua ideologia e quando necessário distorcia as Escrituras. O Führer apoiou a ala da Igreja denominada de Cristãos Alemães que criaram o 'Cristianismo Positivo'. Uma similaridade que se nota com a espiritualidade atual e a doutrina propagada pelos Cristãos Alemães era o DESPREZO AO ENSINO DO PECADO E DA GRAÇA. O próprio Hitler considerava a pregação cristã de "mansidão" inútil à ideologia nacional-socialista da época, dizendo: "Temos a desgraça de que a nossa religião não nos convém.

Por que não temos a religião dos japoneses, cuja aspiração máxima é o sacrifício pela pátria? Para nós a religião maometana teria sido melhor que o cristianismo, uma religião frouxa e paciente". Em seu livro 'A cruz distorcida: o movimento cristão alemão do Terceiro Reich', a historiadora Doris Bergen escreveu que "os Cristãos Alemães pregavam um cristianismo como o polo oposto do judaísmo, Jesus como líder antissemita, e a cruz como símbolo de guerra contra os judeus". O Evangelho da cruz de Cristo era aquém e negativo demais para recuperar o orgulho e a força do povo alemão após a humilhação no Tratado de Versalhes. Admitir a derrota não é uma opção.

Se você leu até aqui, espero que você possa trazer à memória o que traz esperança. Sim, Jesus Cristo venceu todas as coisas e nos deu a salvação eterna oferecendo-se a si mesmo, de uma vez por todas, como sacrifício vicário (substitutivo) pelos nossos pecados (Hb 7.27). Porém, Cristo jamais pregou e viveu como se dele emanasse poder autogerado. Todo poder por ele exercido emanava do Pai das Luzes (Tg 1.17) e vinha como resultado da perfeita submissão do Filho ao Pai (Mt 11.27; Jo 8.28; Jo 12.49). O Evangelho de Jesus veio revelar que o homem é pecador e que não há esperança de salvação para ninguém abaixo dos céus senão por uma ação ativa de amor do Pai revelando esse favor imerecido por intermédio de Jesus (Mt 19.16-26). O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm 8.16). Mas apesar de sermos filhos de Deus, nós não somos deuses. "A igreja possui um único altar, o altar do Todo-Poderoso [...] perante o qual toda criatura deve se ajoelhar. Aquele que procura coisa diferente disso deve se afastar; não pode se juntar à casa de Deus [...]. A igreja possui um único púlpito, e, do púlpito, a fé em Deus (que está em Cristo Jesus) será pregada, e nenhuma outra fé, e nenhuma outra vontade que não a vontade de Deus, por mais bem-intencionada. [...] não podemos simplesmente não estar atento com o fato de que a causa de Deus nem sempre é o sucesso; nós realmente podemos ser 'malsucedidos': e, ainda assim, estar no caminho certo" (Dietrich Bonhoeffer).

Na verdadeira espiritualidade, para Deus sucesso é:

  • Humildade para o reconhecimento de sua natureza pecaminosa.
  • Arrependimento do que te leva a se distanciar de Deus (inclusive, eventualmente fazer tudo "certinho" e não dar glória a Deus pelo privilégio de ser participante de Sua Obra)
  • Submissão à vontade de Deus (que é naturalmente contrária a sua, o que inclui negar-se a si mesmo).
  • Fidelidade à promessa da Palavra de Deus de que Ele irá cumprir a transformação que começou em cada um dos crentes até o dia que encontraremos com o nosso Senhor Jesus Cristo, mesmo diante dos fracassos e derrotas que tivermos aqui nesse mundo.


Disse Jesus: "Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo" (Jo 16.33).

"Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou" (Rm 8.36 e 37).



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