Matéria publicada no Brasil Post:
Bullying na adolescência pode estar relacionado à depressão quando adulto
Uma pesquisa publicada nesta semana no The BMJ, um dos mais influentes jornais de medicina do mundo, sugere que bullying na adolescência está fortemente associado com depressão no início da idade adulta. De acordo com o estudo, jovens frequentemente assediados moral e fisicamente têm duas vezes mais chances de ter a doença, em comparação com aqueles que nunca foram intimidados.
A equipe de cientistas, liderada por Lucy Bowes, professora do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de Oxford, realizou um dos maiores estudos sobre a associação entre intimidação na adolescência e depressão na idade adulta. A pesquisa examinou a relação entre o bullying aos 13 anos e a depressão a partir dos 18.
Os pesquisadores estudaram dados de bullying e depressão em 3 898 participantes do Estudo Longitudinal Avon de Pais e Filhos (ALSPAC), análise de um grupo de nascidos em 1991 e 1992, no ex-condado de Avon, na Inglaterra. Aos 13 anos, os participantes preencheram um questionário de autorrelato sobre bullying e, aos 18, completaram a avaliação que identificou os indivíduos com sintomas da depressão.
Dos 683 adolescentes que, aos 13 anos, relataram bullying frequente mais de uma vez por semana, 14,8% estavam deprimidos aos 18 anos. Já dos 1 446 adolescentes que, na mesma faixa etária, sofreram algum assédio físico ou moral, de uma a três vezes ao longo de seis meses, 7,1% estavam depressivos no início da fase adulta.
No geral, 2 668 participantes compartilharam informações sobre assédio moral e sintomas depressivos, bem como outros fatores que podem ter causado a depressão, tais como problemas mentais e de comportamento, conflitos familiares e eventos traumatizantes.
Além disso, para efeitos de comparação, apenas 5,5% dos adolescentes que não sofreram bullying estavam depressivos aos 18 anos.
O tipo mais comum de assédio moral foi o por xingamentos: 36% dos participantes eram agredidos verbalmente com frequência. Enquanto 23% tinham pertences furtados.
A maioria dos adolescentes nunca contou a um professor - de 41% a 74% dos entrevistados - ou para os pais - de 24% a 51% dos participantes. Mas 75% dos jovens disseram a um adulto ter sofrido bullying físico, como ser atropelado ou agredido.
Em um editorial que acompanhou o estudo, Maria Tofi, professora de psicologia criminal da Universidade de Cambridge, escreve que este artigo tem mensagens claras que devem ser endossadas pelos pais, escolas e profissionais.
Ela também pede maior investigação para estabelecer as relações causais entre assédio moral e depressão e ressalta a importância de intervenções antibullying nas instituições de ensino.