“Na verdade, todo homem anda qual uma sombra; na verdade, em vão se inquieta, amontoa riquezas, e não sabe quem as levará." (Salmo 39:6)

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Como a generalização mata o diálogo entre evangélicos e gays


Uma análise muito abrangente e interessante sobre o atual confronto entre evangélicos emergentes e movimentos gays no Brasil, de Bruno Cava, publicada no Quadrado dos Loucos, que - independentemente da posição político-ideológica de quem quer que seja (e da própria generalização difícil de ser evitada) - merece ser lida com a devida atenção, debatida e divulgada:

Jean Wyllys, os tabus e as contradições da “questão evangélica”

No último dia 21, compareci na Glória para o lançamento do livro Religião e política, que trata “da atuação de parlamentares evangélicos sobre direitos das mulheres e de LGBTs no Brasil”.

Na mesa, estavam duas pesquisadoras, um membro da secretaria de direitos humanos do Rio, o deputado Jean Wyllys e um pastor metodista da rede política de evangélicos Fale. O auditório era eclético, com militantes de movimentos LGBT e negro, ativistas do campo evangélico, um sacerdote muçulmano, mais pesquisadores e estudantes em geral. Uma composição que poderia propiciar, pela vontade construtiva, pontes entre os vários “campos”, diante das perplexidades da política brasileira contemporânea. É salutar ir além dos “campos” que a grande imprensa e o senso comum delimitam diariamente, em conveniente reducionismo, mas que certamente não correspondem à complexidade das forças políticas envolvidas.

As exposições foram boas, sobre a difícil luta das minorias num país com ainda poucos direitos às mulheres, negros, LGBT, índios etc. As pesquisadoras falaram sobre a pesquisa e basicamente expuseram os desafios do movimento, no contexto de aberto discurso antiminorias por parte de parlamentares das bancadas evangélica, católica e da família brasileira. Jean, como sempre, fez uma boa fala ao rememorar a história dos preconceitos no Brasil, se referir à permanente desqualificação de seu discurso e atuação corajosa, por ser homossexual assumido, bem como a constância da violência homofóbica e do bloqueio a pautas inadiáveis, por exemplo, a legalização do aborto ou o casamento igualitário. A modernização do Brasil Maior não está contemplando as minorias, o que fica óbvio quando um deputado homofóbico como Marco Feliciano encabeça uma comissão de direitos humanos e minorias.

Até aí, não poderia concordar mais.

O problema começou quando Jean Wyllys foi além da pauta imediata que ele trabalha, para apresentar sínteses sobre a “questão evangélica” no Brasil. Embora tenha citado alguns aliados entre grupos e lideranças religiosas, a meu ver, terminou por reproduzir vários preconceitos e generalizações. O que é duplamente problemático. No final das contas, essas generalizações atuam exatamente para fortalecer os homofóbicos evangélicos, e o conservadorismo que grassa em muitos coletivos e grupos sociais brasileiros, de matiz religioso ou não.

Faço obviamente uma interpretação do que ouvi:

Para Jean, existe um avanço do neopentecostalismo no Brasil. O governo Lula não só foi conivente com esse avanço, ao se aliar com forças políticas do campo evangélico, como adubou as suas condições nas bases. É que ocorreu um declínio do ensino público no governo Lula. O déficit educacional abriu as portas para a maior alienação das pessoas. Quem melhor aproveitou a situação foram as igrejas evangélicas e os pastores. Oportunistas, eles trataram de manipular mentes e corações, e foram construídas fortunas, verdadeiros negócios e bancadas parlamentares em cima disso. As conquistas sociais do governo Lula foram muito limitadas: teria acontecido uma inclusão pelo consumo. Daí os pobres sejam mais induzidos a comprar carro, casa e ipad, do que em lutar por direitos. Sem senso crítico, enfim, não é possível acolher a diferença no mundo da vida (nessa altura, o deputado citou Hanna Arendt). Isto é, não é que os pobres tenham culpa: o problema central é a educação.

Simplesmente não dá pra engolir essa narrativa. Alguém que se construiu politicamente ao redor do discurso da abertura à diferença, não pode se fechar de maneira tão reducionista, à beira da intolerância. Os evangélicos presentes, em sua maioria (provavelmente todos) também contra Feliciano, se sentiram atingidos pela fala. O último a falar, o pastor metodista da rede Fale (que apresentou uma petição com 20.000 assinaturas de evangélicos contra Feliciano), pontuou que não se podem desconsiderar as tensões internas e divisões no que a imprensa e o senso comum apresentam monoliticamente como “campo evangélico”. Que qualquer estratégia de resistência à bancada conservadora, que inclui deputados evangélicos, não pode prescindir dos próprios evangélicos. No entanto, naquele momento, a ideia de erigir pontes praticamente se esfacelava na esteira da fala do deputado.

Evidentemente, nas intervenções de apoiadores de Jean e/ou do movimento LGBT, ele foi muito aplaudido. Isso apenas me deixou mais angustiado com o fogo cruzado. Parecia incorrermos numa dicotomização que reforça tanto os evangélicos homofóbicos e autoritários, quanto certo discurso ambíguo por dentro dos movimentos pró-diferença, quando ampliam os horizontes de análise, e que acabam reproduzindo preconceitos contra o pobre brasileiro e sua “ascensão” na última década. Por sinal, essas tendências conservadoras, no movimento evangélico ou gay, não estavam ali presentes, ou pelo menos não majoritariamente.

Parte do problema, em que Jean pelo menos esbarrou nalguns momentos, está na aplicação da famosa “hipótese Lula”, quase um “padrão PSOL” de crítica ao governo e o governismo. Para desqualificar a massificação de políticas sociais, lhes atribui um caráter meramente assistencialista e eleitoreiro. O que se nivela com os argumentos da direita brasileira, desde sempre desqualificadora do pobre, e para quem a grande referência do Brasil moderno é a classe média branca e ilustrada (eles mesmos). O discurso educação-vem-primeiro tem muito a ver com a percepção de que os pobres sejam deseducados, sem “consciência política”, suscetíveis à “sedução”, e que antes de lhes conferir poder e influência devam ser salvos da ignorância por quem já estudou. Sustentam, ainda que nas entrelinhas, que o pobre necessita de formação para chegar no patamar crítico, esse que a esquerda branca e ilustrada já teria atingido, a única ainda capaz de razão desinteressada. Sem isso, não se pode ter democracia voltada ao interesse geral, e recaímos todos cronicamente no patrimonialismo, o qual, segundo a tese conservadora, é a grande doença do estado brasileiro.

E parte do problema está na equação evangélico = fundamentalista = direita reacionária e obscurantista. Essa generalização não só contorna a complexidade de tendências e forças dentro do “campo evangélico”, como fortalece os vetores conservadores, como, por exemplo, o que mantém o mandato de Marco Feliciano. A bancada evangélica é minoria em relação à bancada da família brasileira — por que o foco frequente só nela? Vamos, sim, combater Feliciano, os evangélicos homofóbicos, mas com igual raiva e empenho os católicos homofóbicos, os ateus racistas, os socialistas machistas. Afinal, nada é mais fundamentalista e ameaçador, como comprova a história das lutas, do que a elite brasileira, obscurecida por histerias e temores e ódios intestinos, e a quem serve uma ordem social violentamente racista, patriarcal e classista que assassina diariamente as minorias. Como se o “avanço dos evangélicos” fosse uma onda ameaçadora, obscurantista, um perigo contra o “estado laico” e a tolerância, num país que jamais conheceu democracia na base, e cujo único momento de real mudança se deu nos últimos 10 ou 15 anos.

Vivemos a versão brasileira da islamofobia: o avanço evangélico equivale ao “perigo árabe”. Mas, no nosso caso, em vez de a Europa ocupar o lugar da civilização assaltada pela mancha bárbara, aqui é a classe média branca e ilustrada, quer dizer, a nossa própria mini-Europa pretensiosamente evoluída, que não por acaso adora passear em pontos in de cidades charmosas do velho mundo (Jessé Souza). É como se a própria Europa não tivesse se construído a partir dos bárbaros, árabes e imigrantes; como se a própria classe média brasileira, branca e ilustrada, com sua boa consciência forjada num mérito a-histórico, pudesse existir sem a exploração sistemática dos pobres, a violência e o racismo.

Quando se perseguem os crentes e se demonizam os cultos neopentescostais, é favorecido o discurso pastoral mais achatado, que robustece uma “identidade evangélica” e uma pauta voltadas à pior moral cristã. Estamos fazendo o jogo do inimigo, como naquelas disputas entre extremistas que se alimentam reciprocamente. A bancada evangélica agradece. Nesse aspecto, falta vivência e pesquisa para a esquerda branca e ilustrada, contumaz no erro histórico de não compreender o funcionamento dos arranjos produtivos e subjetividades entre os pobres. No Brasil, esse é um erro clássico que vem desde a aparição das primeiras camadas médias urbanas, passa pela esquerda pré-1964, atravessa a luta contra a ditadura (que não soube valorizar as bases), até o movimento antineoliberalismo dos anos 1990 (preso aos slogans estatólatras).

Uma das poucas vezes em que se pôde compreender politicamente a relação dos pobres com a religião e o cristianismo, foi na época da fundação do PT e do MST, quando as pastorais católicas exerceram um papel fundamental e incontornável.

Só durante o governo Lula, que soube compreender e se deixar atravessar por essas dinâmicas e subjetividades, foi possível agenciar uma força política com os pobres. Esse agenciamento atravessa, sem dúvida, o trabalho de base realizado pelas igrejas em todo o território nacional. Nenhuma força de esquerda tem influência política à altura dessa cauda longa de igrejinhas, cultos e comunidades. O governo Lula soube se ligar ao movimento, como a muitos outros “desde baixo”. Não à toa, o tremendo realinhamento eleitoral a partir de 2006, quando o voto do pobre migrou decisivamente da direita à esquerda partidária. Momento próximo, aliás, de quando parte da velha esquerda, ainda que repaginada com o colorido da diferença, porém reproduzindo os mesmos erros de 100 anos, passou a acusar o governo de traição. Quando se passam a sínteses mais amplas sobre a realidade brasileira, muitas vezes o discurso centrado na diferença se torna ambíguo em relação ao protagonismo dos pobres, sua feição, sua “consciência”. Para mim, isso ficou bem claro naquele embate entre “progressistas” da pauta LBGT e “progressistas” do campo evangélico, embora a questão transcenda esse recorte.

Parte fundamental do problema, e isso consiste num tabu, está no preconceito da esquerda que inverte o sinal desse empoderamento político dos pobres, muito acelerado no governo Lula. Mobilizados produtivamente por renda e consumo, os pobres galgaram um poder político inigualável em épocas anteriores. A ascensão dos evangélicos está assentada, de fato, nesses arranjos produtivos e subjetividades. É por isso mesmo que, dentro do “campo evangélico”, também pulsem tendências e tensões “progressistas”, quiçá um devir-minoritário! Obviamente, testar essa hipótese não passa pelos esquemas retrógrados da grande imprensa e do senso comum, nem do esquerdismo cuja militância não vai longe, que fala entre si e encontra sempre as mesmas figuras.

É preciso mudar as coordenadas de tempo e espaço da militância. Isso exige vivência, copesquisa, sair da zona de conforto onde temos um discurso pronto e esquemático, que inclusive nos constitui, mas que falha no critério básico da prática. E que bateu no teto, não tendo como reunir mais forças para ser efetivo.

Trata-se mesmo de uma tarefa emergencial. Ficando apenas na zona de conforto ativista, o avanço, esse sim, dos homofóbicos, racistas e machistas vai continuar. Até se pode derrubar Feliciano, mas as manchas obscuras e desconhecidas, para nós, continuarão a avançar, gerando perplexidade e contradição. Os bárbaros já estão dentro. São os pobres. É preciso reaprender tudo, voltar à prancheta, e sem preconceitos mergulhar na composição de classe, a única que pode, em escala, mudar o mundo para melhor. Eles já estão fazendo isso, e não vão continuar pedindo a nossa opinião por muito tempo, se não soubermos mudar de perspectiva.



Comments (15)

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Creio que foi o texto mais lúcido que li a respeito do tema. Nada mais a acrescentar.
Hélio,

Me perdoa por estender este assunto com você, mas eu fico um tanto preocupado quando eu vejo um cristão "flertando" com movimentos esquerdistas com forte lobby político e caindo em seus truques.

Esse texto, apesar de inicialmente tentar se passar por neutro na questão "evangélicos x LGBT'S", de neutro não tem é nada.

A posição do seu autor é nitidamente posicionada no quadrante da esquerda em apoio ao movimento LGBT. A única coisa que ele citou contra o Jean Willys foi a sua generalização de que todos os cristãos são "homofóbicos", querendo deixar claro que não existem cristãos "homofóbicos", coisa e tal. É como se isso fosse positivo para os cristãos. Não, não é. Pelo contrário.
O título dessa postagem é: "Como a generalização mata o diálogo entre evangélicos e gays". Pelo contexto da leitura ele quis dizer sobre a generalização do Jean Willys de que todo o cristão é homofóbico, que apoia o Marco Feliciano, o Silas Malafaia ou coisa do tipo.

Ora pois! O que ele esta querendo dizer com isso?

Hélio, para esse pessoal qual seria a definição de um "cristão homofóbico"?

Você já parou para pensar nisso? Qual a definição deles para "cristão homofóbico"?

Será que um cristão que afirma que o homossexualismo é uma abominação (tal como os profetas e apóstolos afirmaram em diversas partes nas escrituras) ele seria taxado de "cristão homofóbico" pela militância? Pode ter certeza que sim.
E qual a sua definição para "cristão homofóbico?"

Você se considera um "cristão homofóbico"? Em caso negativo no tocante as opiniões sobre as práticas e as condutas homossexuais por que o Marco Feliciano e o Silas Malafaia seriam "homofóbicos" e você não?

A bíblia sagrada comporta diversas passagens que ensinam que o homossexualismo é uma abominação. Ela seria então um livro "homofóbico"?

Hélio, me desculpe em escrever essas linhas, mas quando você compartilha esses textos sem uma devida nota sobre o que você pensa do mesmo passa a impressão que você esta caindo nos truques lingüísticos daqueles que tratariam você como homofóbico ao saberem a sua posição sobre as práticas e as condutas homossexuais.
Para um cristão que acredita que as Escrituras Sagradas é a Palavra de Deus tentar fazer um "meio de campo" entre os evangélicos e os militantes LGBT sem conhecer qual a real intenção desses últimos é muita ingenuidade.

Cai nessa não, Hélio.

Falo como seu irmão em Cristo.

Deus te abençoe.
7 replies · active 621 weeks ago
Obrigado pelo comentário, xará!

Vamos por partes, então.

Primeiro, acho que não há nenhum segredo ou pegadinha no texto do Bruno Cava. Ele se declara de esquerda, simpatizante do PT, o que não o impede de fazer a sua crítica ao deputado Jean Willys, do PSOL. Qualquer pessoa de mínima instrução que ler o texto perceberá isso, o que não o impedirá de fazer a sua própria análise crítica do tema abordado. Acho que contribui para o debate.

Segundo, não tenho qualquer problema em ser tachado de "cristão homofóbico". Por uma razão muito simples: quando evangelizo, e já evangelizei, evangelizo e continuarei evangelizando homossexuais, nunca aponto para o pecado do homossexualismo, mas sim para a nossa condição humana de que "todos pecamos e destituídos estamos da glória de Deus" (Romanos 3:23)
Jamais um homossexual vai me ver evangelizando-o acusando-o de ser pecador pelo simples fato dele ser gay. Não me preocupo com o que eles fazem entre quatro paredes, e desconfio que muita gente se preocupe com isso por muito ódio, muito preconceito ou - pior - por algum fetiche inconfessável. Aliás, tenho sérias dúvidas se este tipo de pessoa que tem tanto ódio e preconceito no coração vá realmente se preocupar em evangelizar um homossexual.

Portanto, não é o que um homossexual faz entre 4 paredes que me vai fazer evangelizá-lo, ou, em outras palavras, falar da cruz de Cristo com ele ou com ela. Quem vai convencê-lo(a) do pecado, da justiça e do juízo, não sou eu, mas o Espírito Santo, prerrogativa que é dEle (João 16:8) e eu não usurpo jamais.
Se, eventualmente, como acontece de vez em quando (mas não é regra), a conversa evolui e este(a) homossexual me pergunta se o que ele(a) faz entre 4 paredes é pecado, eu pedirei orientação a Deus para responder a questão, e se me sentir autorizado a tocar neste assunto naquele específico momento, direi que quem dirá a ele(a) se aquilo é pecado ou não é o próprio Deus (não preciso entrar em detalhes teológicos sobre a Trindade nesse momento), mas se ele(a) quer saber o que eu acho daquela prática para a minha pessoa, eu direi a ele que, para mim é pecado e eu estaria pecando se praticasse aquilo, mas que o pecado dele(a), existente ou não, deve ser tratado entre ele(a) e Deus, sem qualquer interferência humana.

Agora, se por isso eu tiver que ser processado e preso por falar o que penso, se tiver que responder por isso, usarei os meios legais para me defender dentro de limites razoáveis permitidos para mim, mas não retrocederei nem que tenha que pagar com a própria vida. Isso por duas razões básicas:
1) Aprendi com Sadraque, Mesaque e Abedenego (ou Hananias, Misael e Azarias) em Daniel 3:17, que não preciso me defender diante do rei mesmo que ele queira me jogar na fornalha ardente;

2) Aprendi com Pedro que só não posso padecer como homicida, ladrão ou malfeitor, ou alguém que se intromete em negócios alheios, coisa que - infelizmente - parece que certos cristãos no Brasil não dão muita bola pra o que está escrito em 1ª Pedro 4

14 Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória, o Espírito de Deus.
15 Que nenhum de vós, entretanto, padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se entremete em negócios alheios;
16 mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus neste nome.
17 Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e se começa por nós, qual será o fim daqueles que desobedecem ao evangelho de Deus?

Talvez porque o ódio os consuma e só se preocupem com gays.
Em terceiro lugar, eu passo muito longe dessa conversa de direita e esquerda, porque acho um tremendo anacronismo querer dizer que a Bíblia é de direita ou de esquerda. Para mim, utilizar a Bíblia para justificar posicionamentos ideológicos de direita ou de esquerda é uma aberração típica, por exemplo, da teologia da libertação católica (com algumas vertentes marxistas protestantes) ou da direita evangélica norteamericana, em que eu tive o desprazer de ver líderes reformados que eu respeito saírem à disputa política dizendo que a política de universalização da saúde do Obama era antibíblica.

Não consigo entender, portanto, esta tentativa de “sequestro ideológico” de textos bíblicos para justificar posições e/ou o alinhamento automático à esquerda ou à direita, ou para invalidar o discurso de alguém só porque este alguém tem preferências e filiações partidárias à direita e à esquerda.

Confesso que até tentei entender o argumento de quem penetra por essa seara, mas é algo completamente fora da minha compreensão.
Claro que todos nós temos posições à direita ou à esquerda, e votamos em um ou outro lado segundo o nosso discernimento nos revela naquele momento, mas acho que a Bíblia passa muito longe desse tipo de “engessamento ideológico do pensamento”.

Prefiro “sofrer como bom soldado de Cristo Jesus”, já que “nenhum soldado em serviço se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra” (2ª Timóteo 2:3-4)

Agradeço, por fim, a oportunidade que você me deu de expor um pouco mais do que penso.

Abraços!
Hélio,

Dessa vez eu não vou te responder ponto a ponto como eu fiz no ultimo comentário que eu me dirigi a você, vou ser breve, prometo.

Vou estabelecer duas observações:

1) É muito diferente o diálogo entre um homossexual e um militante do movimento LGBT, tais como o Jean Willys, o Tony Reis e o Luiz Mott, por exemplo.

Eu concordo plenamente contigo quando afirma que ao evangelizar um homossexual não tem por que ficar apontando o pecado do homossexualismo. Não é disto que estou falando ou tratando contigo. Meus comentários giraram em torno do lobby político do sindicalismo gay. Para eles tanto você, quanto eu junto com o Feliciano, o Silas Malafaia e o ex - Papa Bento XVI jogam todos no mesmo time, o time dos "homofóbicos". Entende o que eu digo?

Com essa turma não tem diálogo e nem negociação. O que eles querem é somente uma coisa: Estatizar a nossa consciência e redefinir a nossa "religiosidade". E o meio que eles procuram para atingir este fim esta na política. Se a bancada evangélica tentar criar leis criminalizando, por exemplo, aqueles que criticam quem lê a bíblia vai se levantar um bocado de apologeta contra a bancada evangélica. Mas por que esses mesmos apologetas não se levantam contra os sindicalistas do movimento LGBT quando eles começam com essa idéia maluca de querer colocar na cadeia quem, em algum tom, criticar a conduta homossexual?

O Marco Feliciano e o Silas Malafaia estão fazendo isso e, por esta razão, pelo menos nisso eles merecem o nosso apoio. Apoia-los nesse aspecto não significa ir a favor das coisas que eles fazem de errado, mas ir contra as loucuras e excessos dos militantes LGBT.

2) Em nenhum momento dos meus comentários eu afirmei que a bíblia sagrada é de direita, ou coisa do tipo. Citei que o movimento LGBT é de esquerda, somente isso. Ora, o fato da bíblia sagrada afirmar que a prática homossexual é uma abominação e os militantes LGBT elevarem a homossexualidade a
um patamar onde nem Cristo chegou aos olhos dos homens (pois criticar Cristo no Brasil não dá cadeia) não significa que a Bíblia é de direita (?). Eu até estranhei você tocar nesse assunto em seus cometários posto que em nenhum momento eu dei vazão para tal entendimento em meus textos. Para quem estudou história sabe muito bem que a dicotomia "direita-esquerda" só passou a fazer sentido com a queda da monarquia na Revolução Francesa. A bíblia foi escrita muito antes disso. Taxar a bíblia como de "direita" é tão estranho quanto a afirmação de que o governo do Egito Antigo era de "esquerda" (?).

Eu acho que é só isso.

Espero ter me feito entender também.

Valeu pelo espaço e pela oportunidade.
Excelente texto! Parabéns! Faço parte da imensa maioria, isto é dos pobres,e amo a Jesus e não pela falta de riqueza ou de canudo, mas porque compreendi e recebi sua graça. É lamentável essa polarização, será que haverá um fim para isso?
Em tempo: amei a "cauda longa de igrejinhas, culto e comunidades".
1 reply · active 621 weeks ago
Obrigado pelo comentário, Clara, fico feliz que o texto tenha sido bom e útil para você. Abraços!
Bruno Góes's avatar

Bruno Góes · 621 weeks ago

Ninguém pode impôr qualquer ideia a outrem como "verdade". Não existe a verdade. Existe a relativização costumeira de certos padrões, os quais são abrigados em categorias de valoração. Estas, felizmente, às vezes podem ser mais complexas do que as da simples dicotomização "Bem-Mal". Por que gostei tanto desse texto? Ora, porque ele denuncia uma característica de todo o povo brasileiro, que abarca desde analfabetos até prestigiados intelectuais, que consiste na visão maniqueísta responsável por colocar todas as questões sociais ao nível de embate, em que cada um joga em uma equipe com o objetivo de aniquilar o adversário. Afinal de contas, esta é a única maneira de angariar consensos, numa população temerosa e que joga sempre na linha de defesa. A dualidade Evangélicos VS LGBT, notoriamente instrumentalizada pela grande imprensa, é exemplo disso.
Com todo o respeito pelos Bolsonaro's e Malafaias que bradam pelo que eles entendem por "família", sou heterossexual e a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Notem que usei a conjunção "e" Sinceramente, acho que essa questão vai se resolver de forma automática com o passar dos anos. Daqui a cinquenta anos, passaremos pelas ruas em que vários casais de homens estarão se beijando, e ninguém vai parar para olhar ou fazer comentários. Não adianta lutar contra os tempos. A História seguiu seu curso quanto à aceitação das mulheres no mercado de trabalho, quanto à aceitação dos negros, quanto aos divórcios... Por que Ela teria de se comportar de forma diferente agora?

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