Coluna de Juca Kfouri no seu blog no UOL, de leitura obrigatória para todos aqueles que acompanharam em tempo real a agonia de Tancredo Neves naquele longínquo ano de 1985:
A segunda morte de Tancredo Neves
Tancredo Neves, o presidente que foi sem nunca ter sido, teve dos mais gloriosos enterros já vistos no Brasil.
Menos pelo que era, mais pela esperança que despertou depois de 21 anos de ditadura.
Conservador, malicioso, frasista, dava nó em pingo d’água.
Democrata, posicionou-se a todo risco pessoal tanto contra o golpe que levou Getúlio Vargas ao suicídio quanto contra o que derrubou João Goulart.
Pagou o preço de suas escolhas e certamente jamais apoiaria nem Lula nem Dilma Rousseff.
Do mesmo modo que desaprovou os golpes contra dois presidentes legítimos nos anos 1950 e 1960, provavelmente não aprovaria outro golpe mesmo contra adversários.
E, sem dúvida, não merece que sua história seja pisoteada de maneira tão vil e tão burra como está sendo por dois netos como Aécio e Andrea, um afastado do Senado depois de pego em gravações criminosas, e de baixíssimo calão, outra presa por cumplicidade depois de, hipocritamente, jurar inocência em nome da filha e da mãe.
Aécio e Andrea não honram a memória do avô.
Nem a teoria de Darwin.