segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Igreja batista atacada no Texas pode ter sido primeira vítima do programa "Igreja com partido"


Ainda é cedo para fazer uma análise profunda da barbárie que acometeu ontem a Primeira Igreja Batista de Sutherland Springs, uma pequena comunidade de 400 habitantes situada a cerca de 56 km de San Antonio, a metrópole mais próxima, e a cerca de 123 km de Austin, outra metrópole não tão longe assim.

O ataque à pacífica Igreja em questão deixou 26 fiéis mortos, 8 da mesma família, segundo as informações mais recentes, com uma faixa etária das vítimas entre 5 e 72 anos de idade, deixando ainda 20 feridos em estado grave.

O acusado do massacre é Devin Patrick Kelley, americano branco (infelizmente, esta referência é necessária dada as circunstâncias atuais dos episódios racistas nos Estados Unidos) de 26 anos de idade, que terminou morto ainda não se sabe se por suicídio ou por ter sido alvejado por alguém das forças de segurança que acudiram imediatamente a igreja que estava sendo atacada.

Dado o pouco tempo transcorrido desde o incidente terrorista de domingo à noite, o  que se sabe até agora é que Devin Patrick Kelley teria se identificado em uma rede social como professor de estudos bíblicos para crianças e, ainda que as informações estejam desencontradas a essa altura dos acontecimentos, parece que ele chegou a frequentar a igreja batista de Sutherland Springs até algum tempo atrás.

É cedo demais, portanto, para entender o que levou Kelly a perpetrar o ato de terror, mas já começam a surgir algumas pistas.

O fato é que a Primeira Igreja Batista de Sutherland Springs não é exatamente uma igreja conservadora no sentido mais estrito da palavra, o que pode ser um pecado mortal no atual estado de coisas que impera no meio evangélico fundamentalista norte-americano, todo ele alinhado com Donald Trump, o atual (e polêmico) presidente do país.

O Estado do Texas, com 38 votos no colégio eleitoral que elege o presidente, é o segundo maior nos Estados Unidos, atrás apenas da California (com 55 votos), e foi maciçamente pró-Trump nas eleições de 2016.

E foi exatamente neste meio fundamentalista que a Primeira Igreja Batista de Sutherland Springs ousou postar em sua página no facebook - em maio de 2016 - um artigo que defendia o direito da rede varejista Target (uma gigante do porte do Walmart, para você ter uma ideia) de autorizar pessoas transgênero a utilizarem o banheiro com o qual se identificassem nas suas lojas, fato que gerou uma comoção entre os mais conservadores (em sua maioria evangélicos fundamentalistas), que se opõem a qualquer iniciativa que vise a reconhecer o direito dos transgêneros em, digamos, existir.

A igreja de Sutherland Springs criticou o boicote organizado pelos evangélicos e disse, através do artigo em questão, que isto causava mais danos ao evangelho do que tolerar a prática institucional da Target.

Ao fazer isto, ela se colocou na contramão da maioria dos evangélicos norteamericanos que creem piamente que o conservador Donald Trump é inspirado por Deus a comandar a nação, conforme a gravura abaixo, que circula nos meios fundamentalistas:



Teria esta atitude maleável e tolerante da igreja acionado o gatilho que perpetrou o abominável ato terrorista?

Ainda não é possível responder afirmativamente a esta questão, mas nestes tempos bicudos em que os evangélicos de todo lugar estão mais preocupados em combater ideologias que não são as suas (sim, eles têm partido...), e defender o programa "Escola Sem Partido" para que seus filhos não sejam educados a conviverem com o diferente, talvez a barbárie ocorrida no Texas seja um símbolo trágico do risco que estão correndo mesmo aqueles evangélicos que ousam discordar da guinada ideologicamente conservadora e partidária que suas igrejas estão seguindo. 

O fim realmente está próximo.

Quem viver, responderá...

First Baptist Church of Sutherland Springs, uma igreja pacífica de gente querida que merece ser lembrada.




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