quinta-feira, 8 de maio de 2008

O evangelho de Lucas - parte 26

Em consequência de seu ensino no capítulo anterior, no capítulo 15 vemos que os publicanos e pecadores se aproximavam de Jesus. Com ele já estava uma grande multidão (Lc 14:25), provavelmente já fora da casa do fariseu que o convidou. Devido às suas práticas, os fariseus não permitiriam que publicanos e pecadores entrassem em suas casas.Muitos acreditam que os pecadores mencionados no primeiro versículo são gentios, que se aproximaram para ouvir as palavras de Jesus.

O fato é que publicanos, os cobradores de impostos para o império romano, são separados aqui destes pecadores assim como escribas foram separados dos fariseus (Lc 5:21,30; Lc 6:7; Lc 9:22; Lc 11:53). No versículo 2 são separados novamente, o que pode indicar que mesmo sendo agrupados juntos em algumas vezes, eles possuem diferenças básicas.

O motivo do murmuro destes fariseus e escribas seria o fato de que um profeta deveria saber quem é ou não pecador e publicano, e não comer com estes. As práticas ascéticas destes judeus eram tão exageradas, que não se permitiam comer com o que eles consideravam pecadores.

Nosso Senhor demonstra então que sabe sim que são pecadores, e que muito mais do que isto, ele quer comer com eles por que é desejo d'Ele e do Pai que estes pecadores se arrependam e retornem a Deus. Para ilustrar isto, Jesus conta três parábolas, que são o destaque do capítulo.
A primeira parábola é a parábola do pastor. O povo de Israel sempre foi um povo de pastores, então a figura do pastor sempre está presente na Bíblia. A comparação neste caso é clara: Deus é o nosso pastor, como já foi várias vezes dito:

(Gn 48:15) E abençoou a José, dizendo: O Deus em cuja presença andaram os meus pais Abraão e Isaque, o Deus que tem sido o meu pastor durante toda a minha vida até este dia,

(Sl 23:1) O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.

(Sl 80:1) Ó pastor de Israel, dá ouvidos; tu, que guias a José como a um rebanho, que estás entronizado sobre os querubins, resplandece.

É a Sua atividade de cuidar das ovelhas, que representam os fiéis, que está representado em buscar as ovelhas perdidas. De fato, no Velho Testamento mesmo Deus diz que procurará suas ovelhas dispersas, além de mostrar Seu cuidado com elas:

(Is 40:11) Como pastor ele apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará no seu regaço; as que amamentam, ele as guiará mansamente.

(Jr 31:10) Ouvi a palavra do Senhor, ó nações, e anunciai-a nas longinquas terras maritimas, e dizei: Aquele que espalhou a Israel o congregará e o guardará, como o pastor ao seu rebanho.

(Ez 34:12) Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que está no meio das suas ovelhas dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas. Livrá-las-ei de todos os lugares por onde foram espalhadas, no dia de nuvens e de escuridão.Por fim, o próprio Cristo é retratado como pastor

(Ez 34:23) E suscitarei sobre elas um só pastor para as apascentar, o meu servo Davi. Ele as apascentará, e lhes servirá de pastor.

(Ez 37:24) Também meu servo Davi reinará sobre eles, e todos eles terão um pastor só; andarão nos meus juízos, e guardarão os meus estatutos, e os observarão.

(Jo 10:11) Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.

(Hb 13:20) Ora, o Deus de paz, que pelo sangue do pacto eterno tornou a trazer dentre os mortos a nosso Senhor Jesus, grande pastor das ovelhas,

(1Pd 2:25) Porque éreis desgarrados, como ovelhas; mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo das vossas almas.

Portanto, aqueles judeus, tão habituados com o pastoreio, sabem da vontade divina de reunir suas ovelhas. Esta primeira parábola deve ter deixado muito claro o que Deus sente em relação aos pecadores. Jesus queria ilustrar a alegria no céu por tal arrependimento, e que esta alegria é igual à alegria de um pastor ao achar sua ovelha.

Reforçando sua ilustração, Jesus passa a falar de uma mulher que perde uma moeda. A dracma era a moeda de cunhagem grega com o menor valor. Certamente Jesus está falando de uma noiva, pois parte do dote de casamento era colocado sobre o cabelo da noiva. Isto simbolizava o compromisso, o pacto. Perder uma destas moedas causaria muita ansiedade, por isto a mulher procura pela moeda até achar, e por isto ela fica tão feliz por encontrá-la. É interessante aqui que Cristo nos fala que ela acende uma candeia para procurar a moeda. As casas da época eram escuras por causa da forma que eram construídas. Para procurar um objeto pequeno, certamente era necessário acender uma candeia.A ilustração novamente mostra a alegria de uma pessoa ao encontrar algo perdido. E conhecendo os detalhes podemos perceber quão profundo é seu significado. A mulher perde uma dracma, que é a moeda de menor valor. Até mesmo aqueles que são menos valorizados são motivo de preocupações por parte de Deus. Ele tem um pacto conosco.

Finalmente é apresentada a parábola do filho pródigo, muito conhecida. Jesus a apresenta para reforçar ainda mais a idéia. Percebemos que como Jesus conta 3 parábolas sobre o tema, Ele valorizava muito o tema, e queria que todos tivessem isto em mente.

A primeira coisa que nos é dita é que o filho mais novo de um certo homem resolveu pedir sua parte da herança e partir. É interessante notar aqui, que isto basicamente significava que para o filho, aquele pai estaria "morto". Mesmo assim, ele recebeu sua parte. Naquela época, os primogênitos tinham o direito de receber uma parte dupla. Portanto, aquele filho pródigo teria recebido a terça parte dos bens do pai. Partindo da casa de seu pai, aquele jovem desperdiçou todos os seus bens com glutonaria e festas, em um país distante, provavelmente uma terra de gentios. E havendo grande fome, aquele jovem resolveu pedir ajuda a um cidadão da terra. Vemos o desprezo daquele cidadão pelo rapaz, quando nos é dito que não foi dado comida a ele, mas trabalho. Vigiar porcos para o judeu era uma das tarefas mais degradantes possível. Mais degradante ainda era desejar a comida destes porcos, por não ter recebido comida para si. Quando chegamos no fundo do poço é quando nos damos conta dos nossos erros. É quando nós refletimos sobre nossas vidas, é quando descobrimos que aquilo que fizemos achando que iria dar certo na verdade deu tudo errado. Há várias possibilidades de ações a tomar neste momento, e a ação que este rapaz teve foi a correta: se arrepender, e pedir perdão. Mais do que isto, ele se arrependeu a ponto de não querer se considerar filho mais, mas um empregado. Foi com esta mente que o rapaz retornou a sua casa.E muito nos maravilha que o pai sequer deixa o seu filho se desculpar. O pai primeiro vai correndo até seu filho, coisa não muito natural na época, e o abraça. Não deixa o filho sequer se desculpar: antes que ele peça para ser servo, o seu pai já está ordenando a seus empregados que façam uma festa para receber seu filho.Chegando mais tarde, o filho mais velho questiona primeiro os motivos da festa. Quando descobre que seu irmão voltou, se revolta, por que o pai dele nunca lhe deu tal festa, mesmo com sua fidelidade. O pai lhe explica que o filho, aquele que estava "morto", voltou. O mais velho não deveria estar chateado, por que tudo que é do pai, já é dele. Mas aquele filho mais novo não estava com eles, ele estava "morto". Agora ele está com eles. Nosso papel como fiéis não é ter inveja dos pecadores que se arrependem e recebem de Deus uma "festa" por este arrependimento. Nosso papel como fiéis é festejar também, pois nossos irmãos estão retornando ao pai. Por isto, se algum dia estiver alguém no céu, e ver um irmão seu que você acreditava ser pecador e que não se salvaria, festeje. Certamente e felizmente seu padrão de justiça não é igual ao de Deus.
P. S.: Para acessar o estudo feito pelo Hélio sobre Lucas 15, clique aqui.

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