quarta-feira, 28 de maio de 2008

O evangelho de Lucas - parte 28

No capítulo 17 de Lucas, temos uma continuação da narrativa do capítulo anterior. No entanto, como diz o evangelista, agora Cristo se dirige aos seus discípulos.

É impossível que não venham tropeços. Assim começa o ensino de Cristo, por isto entendemos que muito do que aconteceu durante toda a história humana, e por que não dizer também da história da igreja, é causada por isto. O ser humano é um pecador desde a queda de Adão, por isto sempre haverá tropeços, como Paulo falará mais adiante:

(Rm 3:9) Pois quê? Somos melhores do que eles? De maneira nenhuma, pois já demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado;
(Rm 3:10) como está escrito: Não há justo, nem sequer um.
(Rm 3:11) Não há quem entenda; não há quem busque a Deus.
(Rm 3:12) Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só.
(Rm 3:13) A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo dos seus lábios;
(Rm 3:14) a sua boca está cheia de maldição e amargura.
(Rm 3:15) Os seus pés são ligeiros para derramar sangue.
(Rm 3:16) Nos seus caminhos há destruição e miséria;
(Rm 3:17) e não conheceram o caminho da paz.
(Rm 3:18) Não há temor de Deus diante dos seus olhos.


Por isto, é de se esperar que venham tropeços, até na igreja, confirmando assim as palavras de Cristo e dos próprios apóstolos. Talvez o maior tropeço já inventado pelo homem é que a igreja cristã esteja livre dos tropeços, e seja constituída por santos irrepreensíveis. Pessoas que alegam isto o fazem para atrair pessoas com vãs filosofias, se igualando aos fariseus, que condenavam as pessoas como pecadoras, enquanto estes se justificavam diante dos homens (Lc 16:15), com "evidências" como as riquezas, o que foi combatido no capítulo anterior.

Mas Cristo disse que seria melhor que uma pedra fosse amarrada a seus pescoços, e fosse jogada ao mar. Este era um tipo de condenação comum da época, que evidentemente está em contraste com o relato sobre Lázaro do capítulo anterior. Aqui não há espaço para o aniquilacionismo: se o fim de todo condenado por Deus é a aniquilação, então não há vantagens ou desvantagens em nenhum tipo de morte, pois no fim das contas, todos deixarão de existir para sempre.

Talvez para mostrar aos seus discípulos que este "espírito de santidade", ou esta falta de humildade é sim uma pedra de tropeço, Ele ensina aos seus discípulos ali o perdão. E para tal, usa a palavra "irmão", não um homem qualquer, mas um irmão, uma pessoa que congrega com você, uma pessoa da igreja. E neste ponto nosso Senhor demonstra como devemos agir: quando um irmão pecar, que ele seja repreendido. E toda a repreensão deve buscar o arrependimento, por isto quando esta pessoa se arrepender, você tem a obrigação de perdoar. Você sabe que sempre haverão tropeços. Não façamos como alguns que humilham, excluem e pisam em pessoas que pecaram e se arrependeram.

Para reforçar ainda mais a questão do perdão, Jesus diz que se o seu irmão pecar 7 vezes em um dia, e 7 vezes disser para você "arrependo-me", você tem que perdoar. Observem como deve ser nosso proceder. Não devemos sequer imaginar se aquela pessoa se arrependeu de coração, se ele está fingindo arrependimento. Devemos perdoá-lo por que ele disse que se arrependeu. Somente Deus esquadrinha o coração dos homens, portanto não devemos pretender fazer isto na questão do perdão. Se houve ou não arrependimento sincero, que Deus julgue isto.

Neste momento os discípulos pediram para Jesus dar-lhes mais fé, talvez por imaginar que a tarefa de perdoar assim seja muito difícil. No entanto, Jesus nos diz que a fé do tamanho de um grão de mostarda, a menor semente conhecida, seria suficiente para operar milagres. O que nosso Senhor quiz dizer aqui, é que não é a quantidade de fé que é importante, mas sim sua qualidade. Devemos ter uma fé autêntica.

O que é esta fé autêntica? Cristo passa a falar para seus discípulos, que é esperado que o servo não faça nada esperando estar em dívida com seu senhor, mas que tudo que ele faz é algo que seu senhor já havia mandado. Somos servos inúteis, por que sempre fazemos aquilo que nos foi mandado, e nada mais. Estamos sempre em dívida, não é Deus que está em dívida conosco. A fé autêntica portanto reflete a humildade. Perdoamos os irmãos, por que é isto que Deus espera de nós. Não devemos ser como os fariseus que iniciaram este diálogo, que se achavam santos demais, e esperavam com isto recompensas terrestes como riquezas (por isto foram chamados de gananciosos no capítulo anterior).

A narrativa então passa para outro local, definido como a divisa entre Samaria e Galiléia. Neste local, 10 leprosos provavelmente sabendo de sua fama, foram até ele pedindo-lhe que os curasse. Ele tendo misericórdia daqueles leprosos, primeiro os enviou aos sacerdotes. No caminho, eles são curados, mas apenas um volta para se agradecer. Vemos aqui uma aplicação prática do que foi dito sobre perdão no começo do capítulo: Jesus perdoa e cura todos os 10, mesmo conhecendo o coração dos homens, e provavelmente sabendo que apenas um voltaria. Lucas faz questão de mencionar que o que retornou era samaritano, para deixar claro que era um estrangeiro, um homem que muitos despresavam como pecador, é que teve a atitude correta.

Notem aqui como Jesus menciona que foi a fé daquele homem que o salvou. Muitos hoje em dia vinculam doenças e situação desfavorável como pecado, o que foi tema também do capítulo anterior, entre eles estão os espíritas. Mas vejam, todos os 10 foram curados, mas somente 1 foi salvo, o que desvincula a espiritualidade com seu estado de saúde, ou financeira (cap. 16).

A narrativa agora muda para uma questão dirigida a Jesus pelos fariseus. Quando viria o reino de Deus? Isto por que fariseus tinham a crença que o Messias viria para restaurar o reino temporal de Israel.

A primeira resposta de Cristo é que este reino não viria com "aparência exterior". Isto significa que o reino de Deus viria de forma espiritual, não era para ser procurado aqui ou ali, mas dentro de nós. Aqui é interessante comentar que entre Testemunhas de Jeová, que crêem que o reino de Cristo viria apenas em 1914, costumam contestar esta afirmação dizendo que o reino de Deus não poderia fazer parte do coração de fariseus infiéis. No entanto, "dentro" é o significado mais provável de entov. A única outra vez que entov aparece no Novo Testamento é em Mateus 23:26. Além do mais, ao pregar sobre o Reino de Deus, Cristo sempre o menciona como algo concreto. Mesmo para estes fariseus infiéis, Cristo diz que o Reino chegou para eles (Lc 11:20), não querendo dizer com isto que o Reino de Deus veio exclusivamente para aqueles fariseus.

Voltando-se a seus discípulos, Jesus fala de seu dia. Muitos vão querer ver os dias de Jesus, mas não poderão. Esta espectativa fará com que muitos se levantem dizendo que ele retornou, e que está aqui ou ali. Mas nenhum discípulo deve se enganar, pois quando Jesus retornar, ele será visto por todos, assim como nós vemos um relâmpago no céu. Por este relato vemos que há uma diferença entre a vinda do Reino de Deus e a segunda vinda do próprio Cristo, que Testemunhas de Jeová costumam igualar. Como vimos, a volta de Cristo será vista por todos, então não há meios de seus discípulos serem enganados. As Testemunhas de Jeová, pelo contrário, acreditam que ele retornou de forma invisível, o que não condiz com as Escrituras.

E assim como nos dias de Noé, a vida estará correndo normalmente. Todos estarão ocupados com seus afazeres, quando Cristo retornar. Como no dia que Ló saiu de Sodoma, todos serão pegos desprevenidos. Devemos nos lembrar da mulher de Ló, e nunca olhar para trás, ou seja, nunca olhar para as coisas que ficaram no mundo.

O provérbio "onde estiver o corpo, aí estarão os abutres", segundo William Barclay era um provérbio comum que significava que algo aconteceria se determinadas condições fossem cumpridas.

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