segunda-feira, 5 de outubro de 2009

¡Colômbia, mi amor!


O Forum Atos reproduz notícia do Estadão, que fala da morte de entre 30 e 40 membros da FARC num ataque do Exército colombiano. Sempre me perguntam a minha opinião, porque conheço a Colômbia, e já estive lá duas vezes, e portanto me sinto autorizado a comentar o assunto com algum conhecimento de causa.

Primeiro, trata-se de um lindo país com um povo muito bacana. Bogotá é uma das cidades mais agradáveis de se viver que eu conheci na vida, por incrível que pareça, e eu moraria lá sem medo algum. Andava pela cidade à noite muito mais seguro do que em São Paulo, e não vejo a hora de voltar.

Segundo, o buraco na Colômbia é mais embaixo. Não há nenhum santo na direita ou na esquerda colombiana, já que toda a crise política e institucional deriva do Bogotazo de 1948, em que o candidato a presidente Jorge Eliécer Gaitán foi assassinado. A partir daí a Colômbia nunca mais foi a mesma.

Terceiro, da falência paulatina das instituições colombianas, a partir do Bogotazo, resultou o tráfico de drogas, que obviamente, não foi impulsionado por um mercado consumidor local, mas pelas "necessidades" drogadictas européias e norte-americanas, com todo o jogo sujo que isso foi (e é) capaz de fazer com as nossas repúblicas bananeiras más al sur.

Quarto, a Colômbia recebe bilhões de dólares todo ano a pretexto de combater o tráfico de drogas, e isso HÁ DÉCADAS. ¿Não é estranho que todo esse dinheiro não foi ainda capaz de resolver o problema? Por que será? Qualquer semelhança com o plano de despoluição do rio Tietê não é mera coincidência. A "despoluição" imaginária, que patina há 20 anos, já torrou bilhões de dólares, mas o rio continua lá cheio de sujeira.

Quinto, muita gente fatura com esta crise institucional, tanto à direita como à esquerda. A gente percebe isso quando se mistura aos colombianos e vai ao interior, perto de Bogotá, e passa desapercebido inclusive pela zona de guerrilha (a composição étnica da Colômbia não é muito diferente da brasileira). Quando você passa pelo gigantesco reservatório de água de Bogotá e percebe ali - em cada uma das 2 entradas - um tanque de guerra com um garoto soldado em cima, você percebe que tudo não passa de um grande teatro de horror. Se algum guerrilheiro da FARC quisesse, era só passar ali e pedir pro garoto descer do tanque que ele ia levar pra dar uma volta, mas a coisa é tão encenada que fica ali apenas pra dar a aparência de uma zona conflagrada, o que de fato é, mas com o único fim de desviar a atenção daquilo que realmente interessa - O TRÁFICO - em que todas as partes em conflito saem lucrando, com exceção obviamente da molecada que, seja no Exército, nos paramilitares, nas FARC, é dragada pra máquina de moer carne dos senhores da guerra, TODOS eles com as mãos manchadas de sangue.

Portanto, notícias como esta apenas me despertam nojo e tristeza. Nojo porque mais jovens foram parar no açougue de donos ocultos, e tristeza porque a Colômbia é um lindo país de um povo maravilhoso, e eles certamente não merecem este show de horrores.

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