sábado, 25 de maio de 2013

Há exatos 50 anos o Brasil era bicampeão mundial de basquete

Bons tempos...

Sim, senhores, o glorioso esporte da bola ao cesto já deu grandes alegrias aos brasileiros. Pena que tenhamos que lembrar só do passado, mas sem nunca perder a esperança de que tempos melhores e novos títulos mundiais venham por esses lados.

A matéria é da Gazeta Esportiva:

No cinquentenário do bi mundial, campeões reverenciam técnico Kanela

Bruno Ceccon

Se na virada do século a Seleção Brasileira de basquete passou 16 anos longe dos Jogos Olímpicos, na época de Togo Renan Soares, o Kanela, era uma das maiores potências do esporte. Comandados pelo treinador nos principais títulos da modalidade, os protagonistas do bicampeonato mundial, conquistado no dia 25 de maio de 1963, reverenciam o mentor.

“O Kanela é a grande personalidade do basquete do Brasil em todos os tempos. Graças a ele, a Seleção conquistou todos os seus títulos na época e alcançou um nível de excelência. Era um homem obstinado em ganhar títulos, e fazia tudo o que podia para conseguir esses resultados. Era muito hábil para tratar o aspecto psicológico dos jogadores”, enumerou Amaury Passos em entrevista à Gazeta Esportiva.net.

Sob o comando de Kanela, já falecido, a Seleção conquistou dois títulos mundiais (Chile-1959 e Brasil-1963) e ainda ficou com mais dois vice-campeonatos (Brasil-1954 e Iugoslávia-1970), além de ganhar uma medalha de bronze (Uruguai-1967). Nos Jogos Olímpicos de Roma-1960, o treinador ainda faturou o terceiro lugar. Integrante do Hall da Fama da Federação Internacional de Basquete (FIBA), ele acumulou 87 vitórias e 16 derrotas em 21 anos de Seleção Brasileira.

Então detentor do título e medalhista olímpico, o anfitrião Brasil iniciou o Mundial-1963 na condição de favorito. Responsável por 106 pontos, Amaury foi superado no quesito apenas por Wlamir Marques (108). Ao longo da campanha invicta, a Seleção de Kanela, impulsionada pelo desempenho da dupla, venceu Iugoslávia, União Soviética e Estados Unidos, as maiores potências da época.

“Sem o Kanela, a nossa geração não conseguiria os resultados que conseguiu. Da mesma forma, ele não alcançaria os feitos que alcançou sem a nossa geração. Foi realmente um grande comandante, que teve ao seu lado jovens com um potencial enorme jogando um basquete diferenciado para a época em uma simbiose que acabou dando certo”, definiu Wlamir.

Nascido na Paraíba, Togo Renan Soares se mudou para o Rio de Janeiro com apenas 11 anos e, no Botafogo, clube em que ingressou no ano de 1921, ganhou o apelido como ‘homenagem’ pelas canelas brancas. O fato de ter iniciado a carreira de técnico sem qualquer tipo de formação específica torna ainda mais impressionante os feitos do ícone.

“O Kanela não era um grande conhecedor de basquete. Na verdade, ele aprendeu os detalhes da modalidade praticamente do nada”, atesta Wlamir, acompanhado pelo ex-parceiro Amaury. “Era um homem capaz, que se cercava de profundos conhecedores dos aspectos técnicos do jogo. Dentro da quadra, era um excelente dirigente de partida”, explicou.

No Botafogo, apesar de não saber nadar, Kanela foi técnico de remo e polo aquático, além de futebol amador. No Flamengo, treinou as equipes principais de basquete e futebol, já que na época era comum os técnicos trabalharem em diferentes modalidades. O maior sucesso, no entanto, veio com o basquete, a ponto de ganhar 10 estaduais consecutivos. Em 1951, ele assumiu a Seleção Brasileira.

“Na época do Kanela, treinávamos muito. A preparação antes de um campeonato não era de 15 dias, mas sim de meses. Para o Mundial-1963, o treinamento começou em agosto de 1962 e acabou com a competição em maio do ano seguinte. Ficamos esse tempo todo confinados treinando, treinando e treinando. Nesse período, teve um Sul-americano e um Pan-americano. Por isso, chegamos ao Mundial como favoritos”, lembrou Wlamir.

Pioneiro, Kanela foi influenciado pelos ensinamentos que recebeu no colégio militar e, ainda que não tivesse formação específica, é considerado um dos responsáveis por parte das inovações nos treinamentos e no sistema de jogo do basquete. Estudioso do livro “My Basket-ball Bible”, escrito pelo técnico norte-americano Forrest Allen, o brasileiro procurava se manter atento ao cenário no exterior.

“O Kanela foi o criador de tudo, porque tomava conhecimento das coisas antes de elas chegarem ao Brasil. Hoje em dia, se eu te falo que fulano deu uma enterrada, você entende, porque vê pela televisão. Na nossa época, se alguém fazia um arremesso nos Estados Unidos, a gente só ficava sabendo cinco meses depois. O Kanela antevia alguns conceitos, como o jump. Ele dizia: pula para arremessar”, contou Paulista.

Símbolo da fase áurea do basquete nacional, Kanela deixou o comando da Seleção em 1972 e morreu aos 86 anos, em 1992. Depois de contar com a engenhosidade de um paraibano para viver seus melhores momentos, a Seleção recorreu ao argentino Rubén Magnano para disputar os Jogos de Londres-2012 e quebrar o jejum iniciado em Atlanta-1996. Cinquenta anos após o bi mundial, Amaury aprova a mudança de conceitos promovida pelo estrangeiro.

“Atualmente, a Seleção se conduz como uma equipe, com um jogo solidário e de conjunto. Não é mais aquele ‘deixa que eu chuto’ da época de Oscar e Marcel. Só os dois chutavam e os outros passavam para eles. Era bom para eles, que faziam cestas e apareciam, mas não para a equipe. Tanto é que o Oscar é cestinha de não sei quantas Olimpíadas, mas nunca ganhou uma medalhinha. Acho que agora estamos em um caminho bom”, alfinetou.

Pouco mais de 10 anos depois de deixar o comando da Seleção Brasileira, Togo Renan Soares, o Kanela, relatou suas memórias ao jornal A Gazeta Esportiva. Na edição do dia 18 de dezembro de 1983, o ex-treinador relembrou o jogo decisivo diante dos Estados Unidos no Mundial-1963 e revelou detalhes da campanha.

“Estou com 79 anos e quero aproveitar a lucidez que ainda me sobra para contar detalhes importantes das 15 vezes em que dirigi o selecionado brasileiro de basquete. Não foi fácil como muita gente pensa, nem mesmo sabendo que na época vivíamos uma fase de ouro, com craques que dificilmente serão substituídos”, iniciou.

Em 21 anos no comando da Seleção Brasileira, Kanela disputou um total de 103 partidas. A vitória diante dos norte-americanos por 85 a 81, alcançada no dia 25 de maio de 1963, foi um dos duelos mais especiais para o ex-treinador, já que garantiu o bicampeonato mundial.

“Esse jogo foi tão importante na minha vida de técnico, que até hoje ficou gravado na memória. Lembro-me que estivemos sempre na frente, até quando faltavam menos de três minutos para o final. Eu, num lampejo divino, senti que quem perdesse o pivô com cinco faltas naquele instante perderia também o jogo, e fizemos uma jogada para eliminar o Gibson”, recordou.

Exigente, ele não deixou de elogiar seus atletas. “O Amaury e o Wlamir eram os alicerces do time. Eu confesso que os considerava insubstituíveis por qualquer tempo que passasse. O Sucar, com 2,06m de altura, também era muito importante para o time, principalmente porque estava no esplendor de seu estado físico”, afirmou.

Além dos pódios em campeonatos mundiais (ouro no Chile-1959 e no Brasil-1963, prata no Brasil-1954 e na Iugoslávia-1970 e bronze no Uruguai-1967), Kanela ainda comandou o time nacional na conquista de uma medalha olímpica de bronze (Roma-1960). Em 1983, ele foi profético.

“Até hoje, nenhum técnico brasileiro de qualquer modalidade esportiva deu ao País tantos títulos como o basquete na Era Kanela. Admito que estou sendo vaidoso, mas como já dizia o General Tibúrcio, se eu não contar as coisas boas que fiz, quem poderá contá-las? Os êxitos alcançados nessas campanhas são de tal importância que por muito tempo serão insuperáveis”, vaticinou.



LinkWithin

Related Posts with Thumbnails