sexta-feira, 11 de abril de 2008

Carta aos Romanos - 20

Continuando no capítulo 16 de Romanos, imagina-se que Trifena e Trifosa (v. 12) eram velhas senhoras originárias de Icônio, que Paulo havia evangelizado. Apesar dos nomes soarem estranhos em português, a raiz grega dos nomes queriam dizer "gentil" e "delicada". Pérside, "que também muito trabalhou no Senhor", como o nome indica, talvez tivesse origem persa, e alguns estudiosos suspeitam que fosse esposa de Rufus (v. 13), que muitos identificam como o filho de Simão Cireneu, que carregou a cruz de Cristo, citado em Marcos 15:21. O fato de Paulo tê-lo chamado de "eleito do Senhor" e de ter dito que "sua mãe, que também tem sido mãe para mim" revela o profundo grau de afeição que fazia Rufus ser tão especial. Entretanto, há quem diga que Rufus também era um dos setenta e que posteriormente foi bispo em Tebas. No v. 14, Paulo lista uma série de nomes. Asíncrito e Flegonte são nomes gregos, tidos pela tradição como discípulos de Paulo, e que foram, posteriormente, bispos de Hircânia e Maratona, respectivamente. A tradição aponta Hermes também como um dos setenta (Lucas 10) e que depois foi bispo da Dalmácia. Hermas é tido como o autor do livro "O Pastor", que relata os costumes do cristianismo primitivo, embora não haja nenhuma evidência conclusiva a respeito disso. Já Pátrobas parece ser a junção de dois nomes que significam "Pai": o grego (e latim) "Pater" e o aramaico "Abba", tido também como um dos setenta e que depois foi bispo de Putéoli (Atos 28:13). Filólogo (v. 15) provavelmente fosse um apelido de alguém profundamente dedicado ao conhecimento, como o nome grego indica. Alguns escritores posteriores chegaram a avocar a si mesmos essa condição, como Ateius e Erastótenes, mas pouco se sabe a respeito de quem tenha sido verdadeiramente o filólogo, bem como Júlia, Nereu e Olimpas, listados a seguir. Provavelmente lideravam uma comunidade de cristãos que se reuniam em sua(s) casa(s). Assim, Paulo termina a sua lista de saudações aos crentes de Roma, mas, mais do que a presença desses irmãos lá, o que chama a atenção aí é a ausência de Pedro, que, como os católicos advogam, teria sido o fundador e primeiro bispo de Roma. Se Pedro já estivesse em Roma, ou tivesse passado por lá, certamente Paulo faria referência a este fato na sua carta, mas o seu silêncio revela que Pedro ainda não estava lá, e a igreja já estava devidamente estruturada, com gente de todos os estratos sociais da capital imperial, em que é digno de nota também o fato de haver muita gente importante, das classes mais altas, e algumas próximas ao imperador, isto num tempo muito curto de pregação do evangelho.

Paulo pede que eles se saudassem com ósculo santo, um beijo que era um cumprimento típico dos países do oriente e que deveria revelar a comunhão e a unidade da igreja de Roma (v. 16). Todas as igrejas de Cristo que Paulo conhecia também os saudavam, felizes por ver que na capital imperial já havia irmãos levando o nome de Cristo ao centro do poder romano. Esta era uma chamada de Paulo à unidade da igreja (v. 17), pedindo que eles evitassem divisões e escândalos num momento crucial para o evangelho, que estava prestes a sofrer a maior perseguição de sua curta história. Certamente, já havia aproveitadores (v. 18) tentando destruir a igreja de Roma ou usá-la para os seus próprios prazeres, pois tudo indica que era formada por pessoas influentes. Entretanto, a fama dos crentes de Roma era a de que eram "sábios para o bem e símplices para o mal" (v. 19) e, portanto, deviam estar atentos para que heresias que já começavam a se formar – como o gnosticismo – não os pegassem despreparados. Terminando a carta, Paulo lhes lembra que, em breve, o Deus da paz esmagaria Satanás debaixo dos pés dos romanos (v. 20), lembrando a promessa de Gênesis 3:15, da inimizade que Deus colocaria entre a mulher e a serpente.

Por fim, Paulo inclui as saudações de seus companheiros de viagem e de ministério. Timóteo estava com ele na época, e foi, junto com Silas (e o próprio Lucas), o principal cooperador de Paulo depois de sua desavença com Barnabé (Atos 15:36-40). Lúcio pode tanto ser o próprio Lucas, numa corruptela do seu nome, como Lúcio de Cirene, um dos profetas da igreja de Antioquia (Atos 13:1). Jasão ou Jasom era, ao que tudo indica, o anfitrião de Paulo e Silas em Tessalônica (Atos 17:5), que os havia protegido naquela cidade. Sosípatro parece ser uma variação do nome de Sopáter, que acompanhou Paulo na viagem à Macedônia (Atos 20:4). Tércio (v. 22) era o escriba (ou amanuense) que escrevia as cartas de Paulo, que, mediante uma saudação de próprio punho, autenticava os originais de suas cartas (1 Cor. 16:21; Gálatas 6:11; Colossenses 4:18; 2 Tess. 3:17). Alguns identificam Tércio como Silas, já que "tertius" em latim significa "terceiro", e a palavra em hebraico para "terceiro", שׁלישׁי (shelîyshîy – se pronuncia shel-ee-shee') , é muito parecida com o nome Silas. Gaio (v. 23) era quem hospedava Paulo em Corinto, e a quem o apóstolo havia batizado (1 Cor 1:14). Erasto, como Paulo indica, era o tesoureiro de Corinto, e impressiona que um homem tão importante já tivesse se convertido a Cristo. Quanto ao "irmão Quarto", nada se sabe, além do nome ser muito comum em Roma, e, provavelmente ele tinha conhecidos na igreja de lá. Por fim, Paulo faz a sua saudação final, procurando relembrar, em poucas palavras, a essência do que havia escrito em toda a carta, ou seja, que Deus era poderoso para confirmá-los no evangelho e na pregação de Jesus Cristo, conforme o mistério que havia sido "guardado em silêncio nos tempos eternos" e que finalmente fora revelado ao mundo por meio das Escrituras proféticas. Há estudiosos, entretanto, que acham que esta doxologia final não combina com as outras cartas de Paulo e que, provavelmente, tenha sido interpolada nos manuscritos originais, o que não tira a beleza e a profundidade com que ela fecha a magistral carta de Paulo aos romanos. Pouco mais de um ano depois, o próprio Paulo estaria em Roma, preso, mas mesmo assim teria autorização para alugar uma casa, na qual morou por dois anos inteiros (Atos 28:30), recebendo pessoalmente os irmãos a quem antes escrevera esta carta, "com toda a liberdade, sem impedimento algum" (Atos 28:31).

FIM


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