segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Sobre o sentido da vida

Atualmente venho travando um debate com alguns ateus ou defensores do ateísmo, em um fórum que reúne ex-integrantes das Testemunhas de Jeová. O tema preferido destes é o conhecido problema do sofrimento. Confesso que desviei a discussão de seu tema, mas eu tinha meus motivos. Geralmente as pessoas que desafiam o cristão com este assunto, são pessoas que não fariam nada para mudar o que eles chamam de sofrimento. Dentre as várias respostas que surgiram, havia uma onde um texto ateu mostrava Deus como um ditador frio. Claro, o texto apelava para o lado emotivo dos leitores, quando a proposta era de se fazer uma análise racional. E já que se podia apelar para o lado emocional, citei alguns pontos onde o ateísmo não é uma boa alternativa emocional.

Entre estes pontos, citei a falta de "sentido da vida". Esta declaração minha criou um grande alvoroço entre os foristas, pois para todos, ateus possuem sentido para suas vidas sim. Ao meu ver, existem dois tipos de "sentido para a vida", que expliquei a todos. Uma forista me disse que ateus possuem os dois sentidos que enumerei, e disse que o segundo sentido (que explico adiante) para um ateu pode ser visto na sobrevivência. Respondi então:

Hum... Agora você colocou algo interessante. Pois em meu segundo significado para "sentido da vida", quando aponto para Deus ou uma inteligência, aponto para uma fonte externa ao ser, que dá um sentido a este ser. Esta fonte "espera algo" daquele ser. E agora sim, posso perceber que o ateu pode possuir uma fonte de sentido alheio a si, o que não muda o fato das consequências de sua cosmologia mostrar que sua vida é descartável a qualquer momento. Esta sim foi minha real crítica neste ponto. Como disse, poderíamos classificar os sentidos da vida em duas categorias básicas, que agora com os dados que você apresentou, divido melhor como originadas no próprio ser e originadas externamente ao ser. Sentidos originados no próprio ser são como objetivos pessoais, como estabelecer trabalhar em uma grande empresa, morar na beira da praia, etc... Os sentidos originados externamente ao ser são em grande maioria, atribuídos à deidades, mas você apontou também a sobrevivência em si. Eu estava com dúvidas se a maternidade e a paternidade poderia dar este sentido também, e acho agora que isto é possível. Os pais podem ter um objetivo para seus filhos, mesmo que estes não o desejem seguir (isto foi o que me deixou na dúvida se deveria colocar este ponto aqui). Você citou Romeu, e acho importante mencionar o que ele disse. Para ele, não há diferenças entre sentidos. Isto por que para ele, seja qual for o sentido, ele é originado internamente. Se você está dizendo que ele tem razão, então você continua se contradizendo. Você aponta um sentido externo, mas diz que Romeu que aponta apenas sentidos internos está correto. Ou você se decide por um ou por outro. Eu te digo que a resposta dele é a confirmação cabal do que eu disse. Que o ateu só verá o primeiro sentido, aquele que se origina internamente. Sinceramente, a posição do Romeu é simplória demais. Tanto que você foi capaz de refutá-lo, mesmo tentando me refutar. Os sentidos para a vida não podem ser originados apenas internamente. Não vivemos em uma bolha, escolhendo o que queremos. Alguém nos colocou neste mundo (mesmo que seja nossos pais). Minha crítica original não foi quanto à falta de sentido, mas quanto às implicações desta. Pode-se como você demonstrou, apontar para um segundo sentido naturalista, mas este segundo sentido acaba possuindo o mesmo problema de se possuir apenas o primeiro sentido. O problema do primeiro sentido, o interior, é que ele é temporário. Você só tem o objetivo de trabalhar em uma grande empresa enquanto não trabalha ali. Quando conseguir, você poderá até mudar seu sentido para se manter ali. Ele é temporário, por que você é temporário. Sua vontade é temporária. Suas condições são temporárias, e estão sempre se atualizando. Assim que você morre, morre a fonte deste sentido interno para a vida. Agora, se seu sentido para viver é apenas este, então este sentimento subsiste em petição de princípio. Esta vida se torna uma ilusão, que vai durar enquanto o ser quiser. E neste estado, morrer ou viver se torna duas alternativas igualmente atraentes. A alternativa que você propôs foi citar a sobrevivência como sentido exterior para a vida. Neste caso, em nome da sobrevivência, o ser não vê mais a morte como alternativa atraente. Eu diria que é o segundo sentido que mantém o ser com a vontade de viver. O segundo sentido é aquele que evita que seja normal uma pessoa ser suicida. De fato, a pessoa se torna suicida quando perde seu segundo sentido. Ninguém resolve se matar quando não consegue morar na praia. Alguém decide se matar quando não vê mais razão para querer qualquer coisa, inclusive morar na praia. Quando vê que sua morte não fará mais diferença para ninguém, nem para ele. Felizmente, ateus não são automaticamente suicidas, o que nos mostra que eles conseguem viver com seus sentidos temporários, sem se dar conta de que tudo se trata de uma ilusão. Ou apontam a sobrevivência como sentido exterior. E neste momento, eles deificam a sobrevivência, transformando-a em Sobrevivência. Não é a primeira vez que isto acontece. Ateus da Revolução Francesa já deificaram a Razão, o que nos leva a crer que mesmo de forma inconsciente, tenta-se colocar algo no lugar de Deus. Mas Sobrevivência não é uma boa fonte de sentido da vida. Assim como a vontade humana, Sobrevivência é algo temporário. Segundo a cosmologia naturalista, nem sempre houve Sobrevivência. E se uma catástrofe acontecer no planeta, Sobrevivência deixará de existir. Se é temporário, então ela acaba trazendo os mesmos problemas... Porém, é melhor que se basear apenas no sentido interior, pois ela é bem mais sutil. Além do mais, Sobrevivência apesar de ser deificada, não possui inteligência. Então, se o ser se dar conta de que Sobrevivência não se dará conta de que ele não existe mais, acabará chegando ao mesmo ponto descrito acima. E assim, se baseando em fontes temporárias de sentido para a vida, o ser se torna totalmente descartável. Esta foi minha crítica.

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