O tempo é um enigma que a humanidade vem tentando decifrar há milênios.
Até Einstein, a ciência o considerava absoluto e imutável.
A única alternativa era esperá-lo passar.
Coube ao gênio da física inferir que, considerados à velocidade da luz, tempo e espaço eram grandezas relativas.
Trazendo o tema para o campo da fé, Deus se revela no tempo e na história, e o modo pelo qual Ele faz isso não é absoluto, nem relativo, mas - em linguagem bíblica - oportuno.
E é a Bíblia a melhor demonstração disso, contando a história do povo de Deus ao longo dos milênios.
Afinal, Jesus veio ao mundo no tempo oportuno (Marcos 12:2; Lucas 20:10; 1ª Timóteo 2:6).
Já nós, humanos, somos seres que nascemos, atuamos, interagimos, e nos despedimos num determinado momento do tempo.
Somos circunstanciais, enquanto Deus é eterno.
Tiago (4:14) descreve a vida como um vapor que aparece por pouco tempo e logo se desvanece, mas, na nossa curta existência, o Senhor coloca dentro do nosso coração este desejo, este sentimento, este vislumbre da eternidade (Eclesiastes 3:11).
No mesmo livro, onde diz que há tempo para tudo (3:1-8), o Pregador ressalta que o tempo e a oportunidade ocorrem a todos (9:11); logo, aproveitar o tempo e todas as oportunidades que ele nos oferece é um conselho sábio de Paulo (Efésios 5:16, Colossenses 4:5).
Temos sempre a oportunidade de fazer o bem, não só aos outros mas principalmente a nós mesmos (Gálatas 6:9-10, Filipenses 4:10), e há aqueles que, como aconteceu à enteada de Herodes, aproveitam a oportunidade para fazer o mal (Marcos 6:21), ou para manipular o bem que outros fizeram (2ª Coríntios 11:12).
A oportunidade sempre aparece para que digamos a palavra certa no tempo adequado.
Podemos deixá-la passar, e assim nos tornarmos omissos, ou dizer a palavra fora de tempo (ou de propósito), correndo o sério risco de sermos inconvenientes.
Salomão compara a palavra dita a seu tempo a maçãs de ouro em salvas de prata (Provérbios 25:11, ver também 15:23).
Como o servo sofredor profetizado por Isaías, podemos pedir a Deus que saibamos dizer boa palavra ao cansado.
"Ele me desperta todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que ouça como aqueles que aprendem" (Is. 50:4).
Como cristãos, temos, mais que a obrigação, o prazer de aproveitar as oportunidades de dar testemunho da nossa fé (Lucas 21:13, 2ª Coríntios 5:12), enquanto aguardamos o tempo oportuno em que nosso Senhor e Rei se manifestará em glória (1ª Timóteo 6:15), sempre alertas, entretanto, porque o mal absoluto também aproveita as ocasiões de se manifestar (2ª Tessalonicenses 2:6), conforme a própria história da humanidade insiste em comprovar.
C. S. Lewis teve oportunidade de observar isso, imaginando uma carta do Diabo a um aprendiz, em que o coisa-ruim dizia o seguinte:
Os seres humanos vivem no tempo. Porém o Inimigo os destinou à eternidade. É por isso, acredito, que ele quer que os homens atentem basicamente para duas coisas: a própria eternidade e aquele ponto do tempo que chamam de presente. O presente é o ponto em que o tempo toca a eternidade. É no momento presente, e nada mais do que no momento presente, que os seres humanos têm experiências semelhantes àquela experiência que o nosso Inimigo tem da realidade como um todo; é somente nele que lhe são oferecidas a liberdade e a realidade. É por isso que ele quer que os homens estejam constantemente ligados ou com a eternidade (o que significa mantê-lo em mente) ou com o presente – quer seja meditando sobre sua união eterna com ele ou separação dele, ou então, obedecendo à voz presente da consciência, carregando a cruz de hoje, recebendo a graça para hoje e dando graças pelo prazer no presente.
(transcrito de "Cartas do Diabo a seu Aprendiz", em "Um Ano com C. S. Lewis – Leituras Diárias de suas Obras Clássicas", Ed. Ultimato, 2005, p. 279)
Em suma, nós, cristãos, somos privilegiados porque recebemos, no nosso tempo finito – presente -, a visita do Deus infinito.
Como lembra Paulo, fomos agraciados com "uma fé e um conhecimento que se fundamentam na esperança da vida eterna, a qual o Deus que não mente prometeu antes dos tempos eternos. No devido tempo, ele trouxe à luz a sua palavra" (Tito 1:2-3), pela qual vivemos e experimentamos a doce invasão do Eterno nas nossas vidas passageiras neste mundo.
Há momentos, entretanto, em que nossas mãos fraquejam, nossos pés escorregam, nossa vida, aparentemente, se esvai, e o tempo se torna um fardo pesado demais para carregar.
É nessa hora em que todas essas verdades devem ser lembradas, para que façamos como aconselha o escritor de Hebreus (4:16): "Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno".
Afinal, como lembra o salmista, a natureza se alegra em Deus e espera dEle o seu sustento em tempo oportuno (Salmo 104:27).
O maná que sustentou o povo de Israel no deserto por 40 anos, durava apenas um dia, com exceção da provisão dupla para o sábado, recebida na sexta-feira (Êxodo 16).
Não adiantava guardar o maná para o dia seguinte, pois o tempo oportuno para comê-lo havia se esgotado.
Entretanto, sempre caía maná no dia seguinte.
Se hoje não é o tempo oportuno, não nos desesperemos, vamos com confiança ao trono da graça, lá há tempo e oportunidade, mas principalmente graça, sempre...
Que vocês (do blog) encontrem sempre tempo oportuno para escrever textos bons como têm feito. estarei de olho.
ResponderExcluirJanete