Falar de política no Brasil seria algo cômico, não fosse trágico. Amanhã teremos eleições municipais em todo o país, e longe dos grandes centros é mais fácil observar alguns "fenômenos" que revelam o quanto ainda nos falta para termos governos sérios. Em geral, as cidades pequenas ainda são dominadas pelos mesmos velhos coronéis de um século atrás. As caras (e alguns sobrenomes) mudaram, mas as práticas ainda são idênticas. Ao redor de uma determinada figura que, pelo seu poderio econômico, se sobressai nas comunidades menores, gravita uma legião de puxa-sacos que dependem do seu coronel para receber o seu minguado salário todo mês. A Prefeitura Municipal é, invariavelmente, o maior empregador, e indispor-se com o mandatário de plantão equivale a um passaporte para a desgraça. Muitas vezes, esses coronéis são também corruptos, e constroem seus pequenos impérios às custas das verbas públicas. Na chamada "cara dura", se apropriam dos recursos que seriam destinados à saúde e à educação, por exemplo. Entretanto, fazem questão de passar uma imagem de decência, honestidade e desapego ao material, ainda que isso fique apenas no discurso, não porque têm uma queda inevitável para a mentira. É que eles realmente precisam de um consolo, que é acreditar que não são corruptos, e a mentira, muitas vezes repetida para si mesmos, termina por travestir-se de verdade. Nesta ilha da fantasia particular, os seus cupinchas também são de grande serventia, porque participam desta farsa coletiva que é colocar o coronel acima do bem e do mal, de preferência com uma caneta na mão para nomear seus apaniguados que perpetuam a lenda da sua honestidade. Esses, por sua vez, comportam-se como uma torcida de futebol. Torcem pelo seu deus nessa terra como se fossem os mais apaixonados e doentios corinthianos ou flamenguistas. Esquecem-se facilmente de que política é algo muito mais sério, e suas conseqüências afetam muito mais gente do que uma simples partida de futebol. Assim, a santa e pura democracia se embrenha nesse matagal das misérias e das vaidades humanas, e, diante de tanta promiscuidade, não lhe resta outra alternativa senão, envergonhada, exilar-se para - talvez - nunca mais voltar. Amanhã à noite, o astronauta de plantão na estação orbital será a testemunha privilegiada do clarão dos fogos que espoucarão pelo nosso território. Imaginará ele, provavelmente, que ganhamos uma Copa do Mundo extemporânea, quando na verdade, estaremos cavando - um pouco mais - o nosso lamentável rebaixamento à mediocridade.