sábado, 8 de novembro de 2008

A "caridade" que condena

Alguém me contou que testemunhou um diálogo numa cidade pequena do interior, em que uma pessoa foi cobrar uma cesta básica de um vereador eleito. Diante da surpresa do eleito, a pessoa em questão retrucou:

- Mas você tem que me dar uma cesta básica. Eu votei em você, agora você tem obrigação de retribuir.

Tudo indica que o diálogo não tenha sido exatamente assim, mas eu imagino que ele se repita aos milhares Brasil afora, sem se importar com o tamanho da cidade. As pessoas não percebem que o voto é livre, comprá-lo é crime, e que se algum candidato consuma esta suspeitíssima "caridade", vai arranjar outro jeito (geralmente ilícito) de recuperar o prejuízo. Assim, na próxima eleição, o voto será trocado novamente por uma cesta básica, enquanto os recursos públicos que deveriam ter sido destinados à saúde e educação, por exemplo, foram "interceptados" no meio do caminho. É um círculo vicioso sem fim.

É fácil criticar a postura desta pessoa, mas no fundo ela é vítima, mais do que da sua imbecilidade, da política de (des)educação deste país. Houvesse educação de qualidade para todos, o voto seria mais consciente e muito pouca gente se submeteria a uma "vantagem" deste tipo. Sai governo, entra governo, passa partido, mas a educação é sempre a prioridade de todos na campanha, esquecida no dia seguinte à eleição. Há um motivo claro, ideológico, para isso: só assim os maus políticos se perpetuam no poder, independentemente da cor partidária que vistam. O que a mão direita faz, a esquerda faz também. Afinal, estão todos unidos pela ideologia da esperteza que condena o Brasil à mais perene mediocridade.

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