Alguém me contou que testemunhou um diálogo numa cidade pequena do interior, em que uma pessoa foi cobrar uma cesta básica de um vereador eleito. Diante da surpresa do eleito, a pessoa em questão retrucou:
- Mas você tem que me dar uma cesta básica. Eu votei em você, agora você tem obrigação de retribuir.
Tudo indica que o diálogo não tenha sido exatamente assim, mas eu imagino que ele se repita aos milhares Brasil afora, sem se importar com o tamanho da cidade. As pessoas não percebem que o voto é livre, comprá-lo é crime, e que se algum candidato consuma esta suspeitíssima "caridade", vai arranjar outro jeito (geralmente ilícito) de recuperar o prejuízo. Assim, na próxima eleição, o voto será trocado novamente por uma cesta básica, enquanto os recursos públicos que deveriam ter sido destinados à saúde e educação, por exemplo, foram "interceptados" no meio do caminho. É um círculo vicioso sem fim.
É fácil criticar a postura desta pessoa, mas no fundo ela é vítima, mais do que da sua imbecilidade, da política de (des)educação deste país. Houvesse educação de qualidade para todos, o voto seria mais consciente e muito pouca gente se submeteria a uma "vantagem" deste tipo. Sai governo, entra governo, passa partido, mas a educação é sempre a prioridade de todos na campanha, esquecida no dia seguinte à eleição. Há um motivo claro, ideológico, para isso: só assim os maus políticos se perpetuam no poder, independentemente da cor partidária que vistam. O que a mão direita faz, a esquerda faz também. Afinal, estão todos unidos pela ideologia da esperteza que condena o Brasil à mais perene mediocridade.