quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Preconceito ou Posição?

O preconceito religioso existe de todas as partes, mas é preciso diferenciá-lo de um simples posicionamento, ainda que dogmático, a respeito das crenças de uma determinada religião, ou mesmo da descrença na ausência dela. 

Muitas vezes os crentes são criticados por pregar contra o preconceito, mas vivê-lo na prática.

Todos nós temos o nosso sistema de crenças, independentemente de sermos religiosos ou não, crentes ou descrentes. 

E isto varia de povo para povo, de cultura para cultura, e, de etnia para etnia. 

Para mim, preconceito é uma atitude mecânica, automática, de excluir o outro de antemão. 

Alguém é preconceituoso quando se nega a interagir com o outro em qualquer nível, apenas porque ele tem uma etnia, crença, cultura, idioma, origem social, etc., diferente da sua. 

"Pregar" contra o preconceito não tem nada a ver com crença ou descrença. 

Eu, como cristão, posso muito bem me unir a um ateu para pregar contra o preconceito racial, por exemplo. 

De fato, há muitos religiosos que excluem de antemão pessoas de outras religiões, ou que não creiam em nada, assim como há muitos ateus que excluem religiosos sem nem pensar no assunto. 

O fato deles agirem assim não deve ser generalizado, nem se pode confundir as diferenças doutrinárias entre grupos que dizem seguir uma mesma base religiosa, por exemplo. 

O fato de eu ser enquadrado como protestante não pode nem deve me impedir de conversar com um ateu, um católico ou o espírita. 

O fato de eu crer em alguns dogmas da minha religião, não me impede de debatê-los respeitosamente com quem quer que seja, e esta minha crença neste determinado dogma não se confunde com "preconceito", porque não excluo ninguém da possibilidade de discuti-lo. 

Apenas o tenho por certo devido à minha experiência de vida, que me permitiu pensar e repensar sobre ele durante muito tempo, e, embora não creia que alguém venha a mudá-lo um dia, não tenho medo de expô-lo a um debate crítico sério que me permita, inclusive, aprender muito mais sobre ele quando o submeto à avaliação de alguém que pensa diferente.

A mesma coisa vale para TODAS as nossas relações sociais. 

Se, por um desses acasos do destino, eu tenho que interagir com um muçulmano polígamo, ainda que a minha cultura (e a lei do meu país) diga que a monogamia é o relacionamento conjugal aceitável, eu tenho toda a liberdade de interagir com um polígamo, por entender que na cultura, na legislação e na religião dele, esse comportamento é admissível. 

Aí não se trata de preconceito, mas de uma questão cultural. 

Da mesma maneira, eu não posso excluir alguém porque gosta de um estilo musical que eu abomino, que é típico da sua cultura e da sua região. Aí também não se trata de preconceito, mas de gosto musical. 

E o que dizer de quem come cachorro, escorpião, barata, gafanhoto, etc., como acontece na China? Vou desistir de ir lá só porque eles tem um paladar diferente do meu? 

Posso até sentir asco quanto à comida, mas de maneira alguma eu vou deixar de interagir com os chineses por causa disso. 

E falando de China ainda, eu acho que é um país que tem um governo autoritário e ditatorial, e que oprime o Tibete. 

Sei, entretanto, que há uma série de fatores que fazem com que esta situação perdure até hoje, mas não tenho preconceito contra o governo chinês. O que eu tenho é uma oposição política.

Quanto a "julgar", todos nós julgamos todos os dias, em todos os instantes da vida.

Estamos sempre avaliando o que é melhor para nós, para nossa família, nossos amigos, nossa cidade, nosso país, nossa cultura. 

O problema acontece quando nós condenamos imediatamente, sem dar ao outro a oportunidade de interagir conosco e, se for o caso, defender o seu ponto de vista. 

Portanto, todos nós, crentes e ateus, temos o direito de pregar contra o preconceito, porque diferença de opinião não deve ser confundida com preconceito, é apenas uma questão de posicionamento.

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