O crescimento das igrejas evangélicas no Brasil é um fenômeno relativamente novo, e, ao que parece, pode ser mensurado muito mais quantitativa do que qualitativamente.
Atribui-se o sucesso recente à massificação da pregação de algumas igrejas, nem sempre comprometidas com o evangelho, diga-se de passagem.
Este não deixa de ser um fator importante na atual conjuntura, mas gostaria de ir mais fundo na busca das raízes deste crescimento, sem preocupações metodológicas, mas apenas pelo prazer de investigar.
Para tanto, vou desconsiderar também, como ferramenta de análise(por óbvio) o fator espiritual.
É claro que, como cristão, creio firmemente que o Senhor incentiva e fortalece a pregação da Sua palavra.
Entretanto, a abordagem que proponho é mais histórica.
A partir desse pressuposto, creio que o fenômeno do crescimento da população evangélica brasileira tem suas raízes na década de 70.
A ditadura militar deu o golpe de 1964 com muito apoio de todas as igrejas, mas principalmente a Católica, que era majoritária.
Com o passar dos anos, e as torturas e tudo mais, a Teologia da Libertação ganhou força e muitos padres e bispos passaram a combater a ditadura abertamente, enquanto as poucas igrejas evangélicas que havia no país continuavam ao lado dos militares, com raras exceções.
Curiosamente, o papa João Paulo II, depois de assumir o Vaticano em 1978, passou a combater a Teologia da Libertação, e enquanto os católicos brigavam entre si, sem o apoio da ditadura, houve um desencanto de muitos católicos que saíram da Igreja, e com a abertura democrática em 1985, o terreno estava aberto para novas igrejas, com muitas se aproveitando da abertura e desenvolvimento dos meios de comunicação.
Houve também um movimento mundial de teologia da prosperidade, que já era forte na década de 70, mas fazia parte da ideologia americana de promover o capitalismo, promover também a teologia da prosperidade contra a teologia da libertação socialista.
Afinal, vivíamos em plena Guerra Fria, que só acabou no começo dos anos 90.
O final do século XX presencia também o fortalecimento de uma corrente filosófica majoritária hoje em dia, o utilitarismo, ou seja, a ideia de que "os fins justificam os meios" e é sempre importante "maximizar os lucros e minimizar as perdas", que hoje você pode reparar como é predominante na mensagem de algumas igrejas em que eles apelam para os "resultados" que apresentam, ou seja, a fé verdadeira é, para eles, a fé que apresenta resultados.
Qualquer semelhança com o utilitarismo não é mera coincidência.
Suponho, portanto, que a proliferação das igrejas evangélicas no Brasil tenha se dado num contexto em que múltiplos fatores concorreram para promovê-la.
Tudo isto, é claro, apenas a título de contribuições iniciais e despretensiosas para um debate que precisa ser aprofundado.
Urgentemente!