sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Tribos da fé

É comum vermos algumas pessoas se reunirem em um determinado grupo religioso, sectarista, que despreza aqueles que não comungam da mesma fé. Muitas vezes, é criada toda uma linguagem própria, uma indumentária peculiar, usos e costumes que identificam os membros daquela igreja ou confissão religiosa, num verdadeiro comportamento tribal, vedado aos não iniciados ou a quem pensa diferente.

Longe de propor um tratado sobre o tema, quero me concentrar no fato de que muita gente encara a religião como uma forma de integração e ascensão social, dentro do seu pequeno mundo em que as oportunidades de conseguir isso são ínfimas. Nesses casos, se freqüenta a igreja não por uma fé pura e simples, mas por um processo de racionalização em que os fins justificam os meios. Assim, uma igreja ou religião se transforma em um gueto, na base do "nós x eles", e a pessoa (e o grupo) precisa sempre estar reafirmando a si mesmo que eles são especiais, únicos, exclusivos, e que aquilo que a vida não lhes deu (trabalho, educação, bens), é trocado por uma suposta superioridade espiritual que dispensa essas coisas, e descarta inclusive o convívo do próximo, afinal, na visão deles, o próximo vai queimar no mármore do inferno mesmo, então não há necessidade de se relacionar com ele, até porque ele representa uma ameaça à coesão tribal tão duramente alcançada e mantida sob rédeas curtas.

Obviamente, esses são processos que se travam no inconsciente individual e coletivo desses grupos, e ainda que esta conduta seja reprovável sobre todos os aspectos, deve ser pelo menos compreendida não como um preconceito (ainda que, tecnicamente falando, seja), mas como uma defesa dessas pessoas sofridas contra as agruras da vida, pois esta foi a única maneira que eles encontraram de aliviar o seu sofrimento.

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