quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Ser, ter, crer, ser...

Uma das críticas que se fazem à religião é que ela anula o ego, pois "ter um crer escraviza o ser". 

Bonita afirmação que, entretanto, não resiste a uma análise mais profunda, pois pressupõe que exista um ser totalmente liberto, o que sabemos que não é verdade. 

Pode até ser liberto da religião organizada, mas não do senso (ou instinto) moral. 

Pelo contrário, um ser totalmente liberto tem uma tendência preocupante a ser um psicopata, como vemos nos crimes mais absurdos cometidos pelo mundo.

Além disso, arrisco-me a dizer que todo mundo tem um "crer", não necessariamente religioso. 

Dizer o contrário é admitir que o ser humano é totalmente imune a um senso (ou instinto) místico, qualquer que seja, mas a história da humanidade desmente essa visão, já que não há registro confiável de qualquer civilização, primitiva que fosse, que não inculcasse nos seus membros um mínimo de senso místico, como regulador e organizador social.

O "eu", portanto, se faz tanto de ser, como ter como crer. 

O que varia é o que se é, o que se tem, e o que se crê. 

E tudo retorna ciclicamente ao velho e conhecido "ser".

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