Depois que Agostinho abandonou o grupo maniqueu, caiu no ceticismo, como em geral acontece quando nos desiludimos de algum sistema de verdades. Passamos a duvidar de todas as possibilidades da verdade. Além disso, nessa ocasião, o ceticismo estava na moda. Até mesmo na escola platônica, conhecida pelo nome de Academia, o ceticismo sobre o conhecimento expressava-se com o nome de probabilismo. Somente as declarações prováveis eram possíveis; a certeza não era possível. Todos os primeiros escritos filosóficos de Agostinho estudam o problema da certeza. Trata-se de importante elemento em seu pensamento porque pressupõe o fim negativo da filosofia grega. A heróica tentativa grega de construir um mundo baseado na razão filosófica se acabava catastroficamente no ceticismo. A tentativa de criar um mundo novo, em termos da doutrina das essências, fracassou. É a partir daí que se deve entender a nova ênfase na revelação. O ceticismo, fim da filosofia grega, foi o pressuposto negativo da maneira como o cristianismo veio a receber a idéia da revelação. O ceticismo é, em geral, a base da doutrina da revelação. As pessoas que dão ênfase na revelação, em termos mais absurdos e supernaturalistas, são precisamente as que se comprazem em ser céticas sobre todas as coisas. O ceticismo e o dogmatismo, a respeito da revelação, se correlacionam. A maneira como o cristianismo valorizou a revelação até o Renascimento, relaciona-se com o tremendo choque com que a razão ocidental experimentou o fracasso de todas as tentativas filosóficas gregas de alcançar a certeza.
(TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. São Paulo: 2000, 2. ed., p. 121)
(TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. São Paulo: 2000, 2. ed., p. 121)
Faz tempo não vinha aqui. Encontrei este texto maravilhoso, impecável.
ResponderExcluirUm abraço.