Tia Eron abraça seu queridinho Eduardo Cunha, e nenhum portal evangélico "ético" baterá panela por isso. Se bem que ela corre o risco de dar um "abraço de afogado gospel", né não? |
Que pena que está cada dia mais difícil, para não dizer estranho, usar as palavras "evangélico" e "ética" na mesma frase.
A matéria é do Extra:
Primeira vereadora negra de Salvador, Tia Eron iniciou militância na igreja
Renan Xavier - O Globo
BRASÍLIA — No olho do furacão por ser o voto decisivo para a cassação do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a deputada Tia Eron (PRB-BA), ou Eronildes Vasconcelos Carvalho, nasceu em uma das regiões mais pobres de Salvador e iniciou sua bem sucedida trajetória política atendendo crianças carentes em programas sociais da Igreja Universal. Daí seu nome político: Tia Eron.
Em seu primeiro mandato como deputada federal, tem atuação discreta e acabou nas fileiras do baixo clero que sustenta Cunha. Pressionada por todos os lados, seu nome bombou nas redes sociais nesta terça-feira e chegou a figurar em segundo lugar entre os assuntos mais comentados do Twitter, a lista dos trending topics, como o nome mais citado por causa do seu desaparecimento durante a votação no Conselho de Ética.
Egressa do antigo PFL e com fortes ligações com o ex-governador Paulo Souto e com o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), Tia Eron teve uma atuação expressiva e premiada durante os quatro mandatos de vereadora em Salvador, com aprovação de projetos importantes na área de inclusão social e proteção a mulheres e negros. Em 2012, recebeu o Prêmio Internacional Mulheres Distintas (Brazilian Women in Power) em Hartford, Connecticut (EUA).
Viúva e mãe de um casal de adolescentes, Tia Eron é evangélica, assim como a maioria dos companheiros de partido, o PRB. Quando criança, a mãe já a levava aos cultos da nascente Igreja Universal do Reino de Deus na capital baiana. O apelido de Eronildes surgiu lá, ainda adolescente, quando passou a dar aulas na escola bíblica do bairro de Saramandaia, tido como um dos mais violentos da cidade.
Sua estreia na política aconteceu no extinto PFL, em 2000, quando tornou-se a primeira mulher negra a ocupar o cargo de vereadora na Câmara Municipal de Salvador. Reeleita por três vezes, ficou no cargo até 2014, quando disputou pela primeira vez o cargo de deputada federal. Com o apoio da força da igreja no estado, alcançou quase 117 mil votos.
Em 17 de abril, votou pela admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma. Na ocasião, se disse honrada por representar o voto da mulher negra e nordestina, "daquela que tem dignidade de trabalhar para vencer". Aclamada por companheiros deputados favoráveis ao afastamento, estendeu a bandeira brasileira no plenário.
O gesto virou sua marca: a foto do momento da votação ilustra suas páginas nas principais redes sociais na internet. Entre registros de reuniões, sessões plenárias e entrevistas à imprensa, há sequências de publicações de passagens da bíblia e de cultos evangélicos. E é do ambiente online que vem a maior pressão contra Tia Eron pela cassação de Cunha.
Recolhida desde que começou a ser apontada como a parlamentar que vai decidir o placar do Conselho de Ética, a deputada tem se limitado às manifestações nas redes sociais. Os perfis públicos da parlamentar se tornaram alvo de uma enxurrada de comentários contrários a Cunha e à indefinição do voto da deputada.
Nas fotos em que aparece ao lado de Cunha, eleitores cobram da deputada uma "atitude positiva" e pedem que o voto dela seja favorável à cassação do presidente afastado. Titular do Conselho de Ética desde 14 de abril, após a renúncia de Fausto Pinato (PP-SP), Tia Eron tem sido cobrada por eleitores e internautas para que o voto dela siga o relatório de Marcos Rogério (DEM-RO) e seja favorável à cassação de Cunha.
Antes de ser indicada ao Conselho de Ética, a deputada se mostrava simpática ao presidente afastado da Câmara e fazia questão de registrar os encontros com ele. Em um deles, presenteou o parlamentar com uma lembrança de uma viagem oficial feita por ela ao México. Em outro registro, aparece em um jatinho ao lado de Cunha e de outras deputadas.
A bacharelanda em Direito, mesmo com atuação discreta, já se envolveu em polêmicas, como a assinatura do pedido de veto ao decreto que autoriza o uso de nome social por travestis e transsexuais. Em maio, enquanto voava da capital baiana para Brasília, foi vaiada por militantes pró-Dilma.