sábado, 19 de agosto de 2017

O que fazer quando seu filho é neonazista?

Foto: Evelyn Hockstein / The Washington Post

Pergunta dura e atual inclusive para brasileiros que veem assustados o crescimento do fascismo no Brasil, especialmente nos arraiais que se dizem "evangélicos".

A matéria é do Estadão:

Quando seu filho se torna um neonazista

Se em outros tempos o racismo era absorvido em casa, internet mudou a lógica da radicalização

Jessica Contrera / THE WASHINGTON POST

Durante o fim de semana inteiro, Tefft ficou de olhos fixos na TV. Em sua casa, em Dakota do Norte, passava de um canal de notícias para outro, vendo os manifestantes agitando bandeiras com suásticas, gritando “vocês não nos substituirão”, levantando o braço como nos tempos de Hitler.

E pensou em seu pai, que lutou na 2.ª Guerra, e em sua mãe, que cuidou dos soldados que quase morreram lutando contra os ideais nazistas de superioridade racial. Agora via na TV esses ideais sendo exaltados, pensando se veria o rosto conhecido de um manifestante em meio aquela multidão.

No domingo, esse manifestante bateu a sua porta. Fugira de Charlottesville, Virgínia. Tefft deixou que ele entrasse. Afinal, ainda era seu filho. Há mais de dois anos Tefft vinha discutindo com Peter, seu filho de 30 anos, na esperança de que ele abandonasse todo esse “lixo” racista e sexista que encontrou online. Agora tinha a prova inegável de que seu filho mais novo havia assimilado tais ideias. Como pai, o que deveria dizer?

Durante o fim de semana inteiro, Tefft ficou de olhos fixos na TV. Em sua casa, em Dakota do Norte, passava de um canal de notícias para outro, vendo os manifestantes agitando bandeiras com suásticas, gritando “vocês não nos substituirão”, levantando o braço como nos tempos de Hitler.

E pensou em seu pai, que lutou na 2.ª Guerra, e em sua mãe, que cuidou dos soldados que quase morreram lutando contra os ideais nazistas de superioridade racial. Agora via na TV esses ideais sendo exaltados, pensando se veria o rosto conhecido de um manifestante em meio aquela multidão.

No domingo, esse manifestante bateu a sua porta. Fugira de Charlottesville, Virgínia. Tefft deixou que ele entrasse. Afinal, ainda era seu filho. Há mais de dois anos Tefft vinha discutindo com Peter, seu filho de 30 anos, na esperança de que ele abandonasse todo esse “lixo” racista e sexista que encontrou online. Agora tinha a prova inegável de que seu filho mais novo havia assimilado tais ideias. Como pai, o que deveria dizer?

“Disse-lhe que suas ações eram inaceitáveis e o que eu pretendia fazer”, lembra Pearce Tefft. O que fez foi publicar uma carta no jornal local de Fargos, o Forum, e denunciar abertamente as crenças do seu filho. A carta seria publicada na manhã seguinte.

“Tenho compartilhado minha casa e meu coração com amigos e conhecidos de todas as raças, gêneros e crenças. Ensinei a meus filhos que homens e mulheres são criados iguais. Que temos de amar a todos da mesma maneira. Evidentemente Peter não quis aprender essas lições”, disse em sua carta.

Em outros tempos, se uma pessoa era abertamente racista, supunha-se que suas convicções já vinham de casa, ensinadas pela família. Mas hoje esses conceitos racistas estão disponíveis para qualquer um que tenha uma conexão de internet.

Do mesmo modo que contribuiu para a radicalização de muçulmanos e disseminar as teorias de conspiração, a internet oferece um terreno fértil para os supremacistas brancos, neonazistas e a ciência mentirosa que pretende apoiar suas crenças. Uma pessoa pode digerir e internalizar tudo isso, alterando drasticamente seus conceitos sem nunca ter encontrado aqueles que as persuadiram a pensar desse modo.

Quando jornalistas disseram à mãe de James Alex Fields Jr. que seu filho de 20 anos fora preso por lançar seu carro contra pessoas contrárias aos manifestantes em Charlottesville, ela se surpreendeu quando soube de que tipo de manifestação seu filho estava participando. “Não sabia que se tratava de um encontro de supremacistas brancos”, disse Samantha Bloom. E acrescentou que seu filho já teve um amigo negro.

Investigadores averiguavam fotos de manifestantes que participaram da concentração para identificar seus nomes, idades, cidade natal e empregadores. Com cada nome descoberto, havia a possibilidade de que em algum lugar mais um pai descobrisse em seu filho era um racista declarado. E no caso dos que já sabiam – bem, agora era de conhecimento geral também, e muitos não hesitariam em expor sua repulsa.

Como Tefft, esses pais se defrontarem com uma pergunta: o que fazer quando descobre que seu filho simpatiza com nazistas? Amá-lo incondicionalmente, sabendo que sofrerá a ira da sociedade? Ou acusar publicamente o filho e perder a chance de fazer com que ele mude seus hábitos?

Basta perguntar a Sherry Spencer, mãe de Richard Spencer. Seu filho ficou conhecido por uma conferência logo após a eleição de 2016, quando encerrou seu discurso gritando “Heil Trump! Heil nosso povo!”, enquanto o público fazia a saudação nazista. Ele se tornou um líder da “direita alternativa”, que defende um Estado só de brancos.

Na cidade natal da família, Whitefish, Montana, membros da comunidade exigiram que Sherry renegasse publicamente as crenças do filho. Um corretor de imóveis enviou a ela uma declaração para que assinasse, na qual ela reconhecia que a presença do filho na cidade estava “causando danos aos moradores”. Ela não assinou e fez uma postagem em um blog afirmando que o corretor a estava ameaçando.

Os membros da família de Tefft, especialmente a mãe de Peter, receberam uma avalanche de mensagens na mídia social e telefonemas de pessoas que compartilhavam ou aprovavam suas opiniões. A situação se agravou no fim de semana quando a conta no Twitter @YesYoureRacist postou uma foto de Peter na manifestação de Charlottesville com a legenda: “Esse encantador nazista é Pete Tefft, de Fargo, ND”.

Seu pai disse que as mensagens recebidas de “culpa por associação” eram tão infames que não as repetiria. E cancelou sua linha de telefone fixo.

Tefft soube pela primeira vez das ideias do filho há alguns anos, quando Peter insistiu para que ele visse os sites que estava lendo. Tefft sempre insistiu com os filhos para tentarem compreender o mundo a partir de múltiplas perspectivas. Assim, não se surpreendeu com o fato de Peter procurar ampliar seu conhecimento. Mas o que encontrou nos sites não tinha nada a ver com os valores que procurava incutir na família.

“Eu apontava o que estava errado e ele rejeitava, dizendo ‘não, você não está entendendo’. Dizia a ele que os judeus são brancos e ele respondia, ‘não são’. E também sempre negou o Holocausto. É ridículo”.

Eles discutiam sobre evidências e por que o avô, seu irmão, os irmãos mais velhos de Peter, todos haviam prestado o serviço militar. “Para lutar por um país onde todos se respeitam”, dizia o pai. E discutiam também sobre igualdade das mulheres e essa parte foi a que mais inquietou Tefft.

“Ele dizia coisas estúpidas quando começava a comparar mulheres e assuntos do gênero”, disse Tefft. Ele dizia ao filho: “Deus, você tem quatro tias, quatro irmãs, o que acontece com você?”

Nada funcionou. Quando Peter retornou a Dakota do Norte no domingo, Tefft disse que a partir de então ele não seria mais bem-vindo nas reuniões de família. Prometeu que sempre falaria com ele, mas outros parentes tinham dito que se retirariam se ele aparecesse. Estavam muito zangados com o ódio do qual eram vítimas por causa do ódio que Peter disseminava.

Às 8h21 da segunda-feira a carta foi publicada no site do jornal local. Nessa carta, Tefft lembrou-se de algo que o filho disse certa vez: “A questão é que nós, fascistas, não acreditamos em liberdade de expressão. Você pode dizer o que quiser, nós simplesmente lançamos no forno”. “Peter, você terá de colocar nossos corpos no forno, também. Por favor, renuncie ao ódio, aceite e ame a todos”, suplicou na carta. Depois disso, não teve mais notícias do filho. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

"Mulher atingindo o neonazi com uma bolsa", clássica imagem
do fotógrafo sueco Hans Runesson




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