sábado, 30 de setembro de 2017

Mórmons abrem ao público seus acervos genealógicos


A matéria foi publicada no Estadão em 25/09/17:

Mórmons ajudam a descobrir raízes

Grupo libera acesso a arquivos de cartórios e igrejas para quem pesquisa sobre antepassados

Edison Veiga

SÃO PAULO - Vocês querem catalogar a humanidade inteira, é isso? A pergunta deste repórter não tirou o foco de Mario Silva, gerente de relacionamento do FamilySearch no Brasil. “Olha, sabemos que é algo impossível. Mas nossa pretensão é fazer o máximo possível nessa direção”, respondeu ele, ciente de que dados de sua instituição guardam 3,5 bilhões de cópias de documentos, microfilmados, em um imenso arquivo-cofre de mais de 6 mil metros quadrados localizado na Granite Mountain, em Salt Lake City, nos Estados Unidos.

Estamos falando do maior acervo de registros genealógicos do mundo, trabalho iniciado em 1894 pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, os mórmons. Para esses religiosos, pesquisar a genealogia é mais do que uma curiosidade. “De acordo com nossa doutrina, os laços familiares são eternos”, explica Silva. “Assim, somos incentivados a conhecer os antepassados.”

Aos poucos, em esforço que hoje mobiliza 10 mil arquivos e mais de 200 mil voluntários em todo o mundo, o FamilySearch foi montando seu impressionante acervo. No sistema, hoje digitalizado, estão livros de cartórios e de cemitérios, fichas de imigrantes, certidões emitidas por igrejas católicas e diversos outros tipos de documentos que ajudam a reconstituir árvores genealógicas.

Essas informações sempre estiveram ao alcance de todos, religiosos ou não religiosos, nos Centros de História da Família que funcionam anexos aos templos dos mórmons. De graça. “Entendemos que seria egoísmo restringir essas informações apenas aos membros da igreja”, afirma Silva. Desde 1999, entretanto, com o lançamento do site www.familysearch.org, o acesso a tais materiais pode ser feito de qualquer lugar – com algumas restrições, já que por razões de segurança alguns documentos ainda só podem ser visualizados dos centros físicos.

Atualmente, o site recebe 10 milhões de visitantes por dia. Já são 9 milhões os usuários cadastrados. No sistema, há um banco de 6 bilhões de nomes com pelo menos um documento cada. “Todo indivíduo tem o desejo, ainda que latente, que descobrir de onde vem”, acredita o gerente.

Dos 305 Centros de História da Família do Brasil, um terço está no Estado de São Paulo. A reportagem esteve no maior deles, que fica na sede da instituição no bairro paulistano do Caxingui. Voluntários e funcionários da igreja auxiliam nas pesquisas em computadores e incentivam as pessoas a mergulharem fundo nas suas genealogias. Por mês, o endereço recebe cerca de 300 pesquisadores. “A maior parte é da igreja mesmo. Mas ultimamente tenho observado um número cada vez maior de interessados em descobrir detalhes de antepassados para pleitear dupla cidadania”, comenta Marisa Cuellar, diretora desse Centro de História da Família.

De volta para o passado. Quando um antepassado é encontrado, a comemoração costuma ser compartilhada. Foi assim quando a advogada Magna Pereira da Silva, de 65 anos, encontrou o registro de nascimento de seu avô, Afonso Aloi, italiano da Calábria. “O único documento dele que eu tinha era sua certidão de óbito, já que ele morreu aqui no Brasil há 53 anos”, conta. “Mas nela não estava informado o local de nascimento na Itália, então tive de olhar página por página, de várias cidades, até encontrar.”

Muito além da simples curiosidade, o documento será importante para os planos futuros de Magna. Ciente da localização e data exata do nascimento de seu antepassado, ela vai solicitar agora à Itália a cópia da certidão de nascimento do avô para que possa dar início ao processo de reconhecimento de cidadania italiana.

Uma das mais assíduas pesquisadoras é a administradora de empresas Adriana da Cunha Sinibaldi, 39 anos, frequentadora do centro desde os 16. “Pesquisa genealógica não é algo rápido”, diz ela, que vai ao local presencialmente pelo menos uma vez por semana e diariamente também busca informações de sua casa. “Na igreja a gente dá valor à família, à importância de conhecer os antepassados”, explica ela, que é mórmon.

Como o sistema permite que o usuário vá alimentando sua própria árvore genealógica e esta se cruze com outros pesquisadores com antepassados em comum, as ramificações vão recuando no tempo. “No mais longo ramo da minha família cheguei a 166 gerações”, diz Adriana.

A dona de casa Silvana Lemos Noronha Santos, de 49 anos, já está nos anos 1600 em sua própria genealogia. Tomou gosto pelas pesquisas de família por conta do pai, o funcionário público Expedido Justiniano de Noronha, que morreu em 2006. “Aprenda a amar seus antepassados e serás eterno na lembrança dos que vierem depois”, dizia ele. E então, fazia das férias sempre uma peregrinação por cartórios, cemitérios e igrejas espalhadas pelo País, em busca de algum fragmento que ajudasse a compor sua genealogia. “Colocava a gente no fusquinha azul e íamos todos. Depois escrevia tudo à mão. Fui eu quem passei para o computador”, conta Silvana.

Mas de onde vem toda essa informação? No Brasil, é o gerente Mario Silva quem se encarrega de fazer as parcerias. Firma acordos com cartórios, com igrejas católicas, com arquivos públicos. “Oferecemos a digitalização gratuita de todo o material em troca de termos uma cópia. Não há dinheiro envolvido”, afirma. No País, os mórmons têm 30 câmeras trabalhando simultaneamente. Cada uma tem capacidade de produzir 50 mil imagens por mês.



quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Vaticano lança moeda homenageando os 100 anos das aparições de Fátima


A informação é da Rádio Vaticano:

Moeda vaticana recorda centenário das aparições de Fátima

O centenário das aparições de Fátima será recordado pelo Departamento Filatélico Numismático do Governatorato do Vaticano com a emissão de uma moeda comemorativa de 2 euros, em 5 de outubro.

Em reconhecimento à Lúcia dos Santos, Francisco e Jacinta Marto – as três crianças que em 1917 tiveram visões da Virgem Maria e são o símbolo da inocência que permite aos homens reconhecer a Deus - a artista Orietta Rossi decidiu dedicar a eles o primeiro plano da composição, retratando-os como aparecem numa célebre fotografia de época que percorreu o mundo. Ao fundo, a imponente basílica construída no local das aparições.

O Papa Francisco recordou o centenário das aparições da Virgem Maria em Fátima com uma Viagem Apostólica realizada em 13 de maio do corrente ano, durante a qual canonizou os pastorinhos Jacinta e Francisco Marto, diante do túmulo dos quais recolheu-se em oração. Lúcia dos Santos por sua vez, falecida em 2005, foi proclamada Serva de Deus e seu processo de beatificação ainda está em andamento.

A moeda de 2 euros do Vaticano terá, como aquela emitida no passado 1 de junho e dedicada aos 1950 anos do martírio dos Santos Pedro e Paulo, uma dupla produção: uma em "FDC - fior di conio" - que é o mais alto grau de conservação, sem nenhum sinal de circulação, conservando o seu brilho natural - com tiragem de 80 mil peças, “comercializadas na fonte” ao preço de 18 euros a unidade e outra em uma pequena caixa, com tiragem de 10 mil exemplares, que o UFN (Ufficio Filatelico e Numismatico) colocará à disposição de coleccionadores e de comerciantes numismáticos ao preço de 37 euros. (BS/JE)



quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Governo Temer quer exportar para o Irã. Pode, Malafaia?

Malafaia é aquele sujeito que, em 2010, publicou artigo nos principais jornais do país criticando o acordo nuclear que o Brasil e a Turquia negociaram com o Irã, em condições muito melhores para o Ocidente do que o acordo atual proposto por Barack Obama.

É que o governo brasileiro, naquela época, não era aliado de Malafaia.

Talvez por isso mesmo ele apoiou o golpista Michel Temer que o sucedeu, e ficou caladinho quando o Brasil apoiou o Irã na ONU a mando do Nosferatu tupiniquim.

Agora, olha que horror: esse mesmo governo apoiado por Malafaia quer burlar o boicote internacional ao Irã para vender bilhões de dólares (sim, isso mesmo que você leu: bilhões) em produtos agrícolas ao Irã.

Será que Malafaia vai publicar algum anúncio nos jornais contra essa ajudinha do Temer ao Irã?

Hipocrisia, a gente vê por aqui...

Malafaia aparece filando uns salgadinhos e dando um abraço gostoso num camarada no vídeo abaixo, gravado quando Michel Temer foi elevado à condição de presidente do ex-país chamado Brasil e a "pastorzada" foi lá demonstrar-lhe o seu apoio incondicional, dizendo-lhe que "Deus o escolheu".

Para ajudar o Irã?

Agora, o Temer dá mais uma banana para eles...

E você ainda acredita nesses caras, né?

Vocês se merecem...

Confira o vídeo antológico:




E leia a matéria do Estadão, então:

Agricultura pede que BB financie exportações ao Irã

O Irã, que foi submetido a embargo dos EUA, é o maior cliente brasileiro do setor no Oriente Médio

O Ministério da Agricultura pediu à Câmara de Comércio Exterior que o Banco do Brasil seja o agente financiador de exportações do agronegócio para o Irã, maior cliente brasileiro do setor no Oriente Médio, com US$ 2,2 bilhões em importações no ano passado. Em 2017, as principais aquisições foram de milho, soja, carne bovina e açúcar. Por causa do embargo dos Estados Unidos, grandes instituições financeiras não operam naquele país. Fonte da diretoria do BB, no entanto, revela à coluna que o banco, por atuar nos EUA, tem de seguir as sanções impostas ao país árabe e não se submeteria a nenhum risco de retaliação do governo norte-americano.

Para a instituição, a prerrogativa de autorizar outros bancos para o financiamento de exportações é do governo federal, mas a maioria deles também tem operações globais e está sujeita aos mesmos riscos do BB.



terça-feira, 26 de setembro de 2017

Data venia, vem aí o robô-advogado

E tem gente que fica falando que advogado (humano) não tem coração...

Vocês ainda vão pagar sua língua (risos).

A matéria é da revista Exame:

Funções típicas de advogados já são feitas por softwares e robôs

Robôs estão assumindo cada vez mais funções em grandes escritórios - que vivem as mesmas pressões por eficiência de qualquer negócio

Por Naiara Bertão

São Paulo — Um em cada quatro empregos conhecidos hoje deverá ser substituído por softwares e robôs até 2025 — e há quem aposte numa proporção ainda maior. O fato é que a tecnologia ameaça não apenas trabalhos braçais, mecânicos e técnicos mas também profissionais de carreiras tradicionais, como medicina, jornalismo, engenharia e, agora, direito. Os robôs estão assumindo cada vez mais funções nos grandes escritórios de advocacia — que, não é de hoje, são tocados como empresas e vivem as mesmas pressões por eficiência de qualquer negócio. “Nos próximos três anos, vamos ver outro mundo jurídico”, diz Guilherme Horn, diretor executivo da consultoria Accenture.

Os softwares de última geração não só compreendem significados como também fazem correlações. Além de analisar milhões de documentos em segundos, eles sugerem decisões a ser tomadas e alertam para qualquer mudança que possa afetar o caso. É o que o “robô” Ross faz, por exemplo. Desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, com base na tecnologia de computação cognitiva Watson, da IBM, o Ross já está “trabalhando” em alguns escritórios de advocacia dos Estados Unidos. Outro exemplo é o Luminance, criado na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que promete acelerar o processo de auditoria em fusões e aquisições — quando um time completo de advogados analisa centenas de documentos complexos sobre uma empresa a ser comprada para determinar a viabilidade do negócio. Outras iniciativas, que vão de softwares de gestão de processos a plataformas virtuais de documentos e serviços ao consumidor, também estão ganhando espaço.

A possibilidade de redução de custo, obviamente, é um dos principais atrativos — no Brasil, as empresas gastam, em média, 2% de seu faturamento com litígios. Foi nesse ambiente que, em 2013, foi criada a Finch Soluções, como braço de um dos maiores escritórios do país, o JBM e Mandaliti, do interior paulista. A necessidade de automatizar procedimentos e reduzir despesas fez com que as áreas de suporte e tecnologia se unissem para desenvolver softwares que fazem em segundos o trabalho que dezenas de advogados demorariam meses — e analisa até mesmo o histórico de decisões de determinado juiz e a chance de sucesso de cada causa. O negócio deu tão certo que, em 2014, a Finch se mudou para São Paulo e começou a atuar de forma independente. “Não queremos substituir o advogado, mas dar ferramentas a ele para não perder tempo e ter o máximo de dados qualificados para tomar decisões”, diz Renato Mandaliti, um dos fundadores da Finch, que faturou cerca de 50 milhões de reais em 2016.

Assim como a Finch, outras companhias se apropriaram da tecnologia para atacar ineficiências na área jurídica. A paulista Looplex, por exemplo, padroniza e consegue diminuir para 5 mi-nu–tos a criação de uma peça jurídica de dezenas de páginas que levaria de 2 a 3 horas. A também paulista Justto faz a intermediação de impasses — casos de defesa do consumidor, por exemplo — sem que tenham de passar pela Justiça. A baiana JusBrasil, primeira startup brasileira a receber investimento de fundos, conta com um banco de dados de processos na Justiça e seu site recebe mais de 20 milhões de visitas por mês. Os aportes, que somam 10 milhões de reais de fundos como o brasileiro Monashees e o americano Founders Fund, do Vale do Silício, ajudarão a expandir o serviço de informação e busca por advogados. “Ajudamos as pessoas a encontrar um advogado, e isso chamou a atenção dos investidores”, diz Luiz Paulo Pinho, um dos fundadores da startup.

A eficiência dos robôs também tem seu preço. A contratação de assistentes virtuais mais sofisticados ultrapassa a casa do 1 milhão de reais por ano. Mas, como em outros setores, a expectativa dos empresários é que a inteligência artificial fique cada vez mais barata; e os serviços, mais acessíveis. Um mundo em que ninguém precisará se deslocar para participar de uma audiência ou para assinar documentos no cartório está mais próximo? Certamente vai levar muito tempo até que nossos abarrotados e caretas tribunais sejam transformados pela tecnologia. Mas a pressão por mais eficiência é real. O Instituto de Direito Público de São Paulo acaba de lançar o curso de extensão em ciência de dados aplicada ao direito para ensinar noções básicas de análise de dados aos advogados. “A carreira de analista e estrategista de dados deve ganhar muita relevância no meio jurídico”, diz Alexandre Zavaglia Coelho, coordenador do curso. Assim como os médicos estão se valendo de tecnologia para melhorar a qualidade de seu trabalho, os advogados também podem usar os novos serviços a seu favor — o robô, afinal, está vindo para ficar.



segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Traficante se converte e denuncia grupo que planejava matar promotor em SP


Curioso é que deram à operação o nome de "Judas Iscariotes"...

De qualquer maneira, isso sim é um claríssimo sinal de arrependimento (Lucas 3:8). Quisera outras pessoas que "viram evangélicos" tivessem o mesmo comportamento...

A informação foi publicada no Estadão de 23/09/17:

Operação prende 25 de organização que ameaçava matar promotor em Rosana

De acordo com a investigação, o grupo é suspeito de planejar a morte do promotor público Renato Queiroz de Lima, que atua no município.

José Maria Tomazela

SOROCABA - Uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual (MPE), na manhã deste sábado (23), prendeu 25 integrantes de uma organização de traficantes de drogas que atuava em Rosana, no Pontal do Paranapanema, extremo oeste do Estado de São Paulo. De acordo com a investigação, o grupo é suspeito de planejar a morte do promotor público Renato Queiroz de Lima, que atua no município. Foram cumpridos também 30 mandados de busca. A Polícia Civil ainda apura a ligação dos suspeitos com outras organizações criminosas.

De acordo com o delegado Ramon Euclides Guarnieri Pedrão, as investigações foram iniciadas a partir de denúncias anônimas e ganharam corpo depois que um dos envolvidos se tornou evangélico e decidiu “entregar” o grupo – a operação foi batizada de “Judas Iscariotes”, numa referência ao traidor de Jesus Cristo. “Observamos que pequenos grupos de traficantes formavam uma rede em que os líderes se comunicavam e faziam referência a uma liderança maior. Eles se ajudavam e trocavam informações”, disse. A cidade fica na divisa com o Mato Grosso do Sul e está na rota dos carregamentos de drogas procedentes do Paraguai.

O plano de atentar contra a vida do promotor foi revelado por uma testemunha que prestou depoimento sob sigilo. “Foi uma menção clara de dar um tiro no promotor de Justiça que atua no enfrentamento do tráfico de drogas no município. Com as prisões, vamos prosseguir as investigações, em parceria com o Ministério Público”, disse. A Polícia Militar e a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) colaboraram com a operação, com cães farejadores para a busca de drogas. A PM participou com um helicóptero.

Com os suspeitos, foram apreendidos entorpecentes, celulares e rádios comunicadores. Conforme o delegado, os grupos trabalhavam com pequenas quantidades de drogas, uma espécie de varejo do crime. A investigação vai prosseguir para identificar o esquema de fornecimento da droga. Os detidos tiveram as prisões temporárias decretadas pela Justiça por 30 dias. Todos foram levados para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Caiuá, na mesma região.



domingo, 24 de setembro de 2017

Bispos católicos do Togo pedem retorno à Constituição em meio a crise política


A informação é da Rádio Vaticano:

Bispos do Togo: para resolver a crise voltar à constituição de 1992

"As reformas constitucionais revestem-se de uma importância particular, sem as quais é impossível trazer a paz e a coesão social no nosso País", escrevem os Bispos do Togo na Carta Pastoral sobre a situação do País, abalado por fortes protestos populares que exigem uma restrição do número dos mandatos presidenciais, para permitir uma alternância nos vértices do Estado, guiado desde 2005 pelo Presidente Faure Gnassingbé Eyadéma, filho do general Gnassingbé Eyadéma, que reinou por 38 anos até à sua morte.

"A Conferência Episcopal do Togo - continua o documento citado pela Agência Fides – exprime profunda preocupação pela repressão das manifestações, bem como as incitações ao ódio étnico difundidas através das redes sociais”.

Os bispos condenam a violência cometida pelas forças de segurança "sobre as populações de algumas localidades, depois das manifestações de 6 e 7 de setembro, e o uso excessivo da força contra os próprios concidadãos, nalguns casos ate mesmo dentro de suas casas". A Carta Pastoral também pede ao exército a permanecer neutral "evitando qualquer intrusão no debate político, de acordo com a Constituição". Depois de ter exortado os líderes políticos, da maioria e da oposição, e a cidadania a não ceder aos apelos à violência, os bispos concluem convidando todos a rezar pela paz.

Comentando a Carta Pastoral, Dom Nicodemos Anani Barrigah-Benissan, bispo de Atakpamé e que foi presidente da Comissão Verdade, Justiça e Reconciliação, recordou que a Comissão que ele presidiu, em fevereiro de 2012 tinha entregue ao Presidente Gnassingbé um relatório de 68 recomendações "para consolidar a democracia e pacificar o clima social" que, porém, não foram postas em prática. "Nós, Bispos, pensamos que é necessário iniciar um debate sobre as reformas de acordo com a Constituição de 1992, para resolver a situação e podermos depois avançar", concluiu.

A Constituição de 1992 tinha sido aprovada depois de uma onda de protestos que haviam forçado Gnassingbé Eyadema, o pai do atual Presidente, a lançar uma temporada de democracia multipartidária e a limitar a dois o número máximo de mandatos presidenciais. Dez anos depois, o Parlamento eliminou o limite de mandatos para permitir que Faure Gnassingbé Eyadéma voltasse a candidatar-se, depois de já ter superado os dois mandatos.



sábado, 23 de setembro de 2017

O médico e o monstro


Farah Jorge Farah, ao que tudo indica, se suicidou ontem, 22/09/17, em circunstâncias tão bizarras e mórbidas, cujos detalhes sórdidos decidimos poupar os nossos leitores, mas se alguém não resistir à tentação e curiosidade de saber o que aconteceu, recomendamos a leitura cautelosa do Vice, mas alertamos que as pessoas mais impressionáveis e/ou depressivas não devem ler o artigo.

Isto porque tanto a morte como o crime brutal que cometeu em 2003 indicam que Farah era uma alma perturbadíssima, em níveis bem maiores do que aquelas perturbações que assolam tantas pessoas por aí.

Por isso, decidimos relembrar uma matéria do portal R7 de abril de 2010, na qual ele se dizia adventista, mas parecia atormentado demais para ter algo que minimamente parecesse com "vida".

Farah cumpriu apenas 4 anos de cadeia. 

¿Haverá, em algum lugar do universo, compaixão para Farah?

Eis a matéria de 2010:


“Perante Deus, já paguei meus pecados”,

diz ex-médico que esquartejou paciente


Dois anos após condenação, Farah Jorge Farah diz esperar a hora da morte

João Varella, do R7

Farah Jorge Farah, 61 anos, estudante de direito e gerontologia [estudo de questões relacionadas à velhice], diz sentir falta de ternura e carinho. Ele sabe que, se não fosse pelo “ocorrido”, receberia mais abraços e beijos, demonstrações de afeto das quais diz ter saudade.

O “ocorrido” a que ele se refere é o assassinato da ex-amante Maria do Carmo Alves, em 2003, pelo qual Farah foi condenado a 13 anos de prisão por esquartejamento e ocultação do fígado e do coração da vítima. A decisão da Justiça, da qual ele apela em liberdade, completa dois anos neste sábado (17). Após quatro anos preso, o advogado de Farah, Roberto Podval, o mesmo do caso Isabella, conseguiu decisão judicial que permite ao condenado ficar solto até que se esgotem todos os recursos.

Não há data para o julgamento da apelação no STF (Supremo Tribunal Federal). Os processos de Farah não têm movimentação desde 2008 em todas as instâncias, segundo consultas processuais nos sites da Justiça.

Desde que o caso veio à tona, Farah passou a ser reconhecido como “estripador” ou “assassino”, rótulos que ele refuta por dar a ideia de “alguém que já cometeu vários crimes”. Apenas uma vez, ele matou e guardou os pedaços do corpo de Maria do Carmo em cinco sacos plásticos no porta-malas de seu do carro.

A reportagem do R7 almoçou com ele no refeitório da USP Leste (Universidade de São Paulo), onde Farah cursa gerontologia, e viu quando ao menos duas jovens apontaram o dedo para o condenado, do lado de fora do salão. Na Fuvest, o vestibular da USP, ele passou em 17º, entre os 210 admitidos no curso – o R7 noticiou com exclusividade a entrada dele no campus leste da instituição. Por ter sido aprovado, Farah teve que trancar a faculdade de filosofia que fazia na Unesp (Universidade Estadual Paulista).

Antes do crime, ele chamava atenção por suas habilidades como cirurgião plástico. Maria do Carmo conheceu Farah quando o então médico removeu uma marca da perna dela. Ele recorda como era respeitado por colegas de profissão e pela família.

– Eu era o grande doutor Farah. Hoje sou apontado como o esquartejador na rua.

Depois do crime, Farah foi expulso de todas as associações de que participava. Seu registro no CRM (Conselho Regional de Medicina) foi cassado em 2006. Com voz levemente aguda, Farah diz que é o mesmo homem de antes do crime, salvo pela decadência de seu corpo.

– Depois dos 60 anos, o corpo humano começa a definhar. Eu estou aqui fazendo hora extra no mundo. Estou esperando a hora da morte.

Farah tem uma carteirinha de posto de saúde cheia de registros de consultas. A saúde frágil fica clara já no caminhar. Ele usa uma bengala, porque teve um nódulo retirado das costas e, por isso, perdeu parte do equilíbrio da perna esquerda.

– Eu, não tenho a menor vergonha de admitir, estou usando fraldas desde o ano passado. Meus pais também usaram fraldas um ano antes de morrer.

Farah, que hoje vive sozinho num apartamento da Vila Mariana (zona sul), fica visivelmente agitado quando fala sobre os pais; o hábito de roçar as unhas compridas das mãos umas nas outras fica mais evidente. Mas, longe desse assunto, o ex-médico mistura, com propriedade, filosofia e questões cotidianas. Nas duas horas em que esteve com o R7, Farah citou os iluministas franceses Voltaire e Montesquieu e os pensadores gregos clássicos Platão e Sócrates – a este, chegou a chamar de “titio”. Quando usa um desses nomes difíceis, pede desculpa e diz que não quer parecer “esnobe”.

Os pais de Farah morreram enquanto ele cumpria pena na carceragem do 13º Distrito Policial, na zona norte de São Paulo. Ao saber da notícia, tentou se matar três vezes. Por isso, passou a ser vigiado 24 horas pelos policiais. Quando pensa no que o levou a tentar se matar, Farah diz não querer lembrar. E chora. Para ele, a pena de morte é melhor do que a vida na cadeia, "uma escola de criminosos que não ressocializa ninguém".

O crime

Sobre o assassinato, Farah conta que sua última lembrança foi a luta que travou com Maria do Carmo em seu consultório. Quando fala disso, Farah puxa uma folha da pasta em que carrega. É a notícia de um vereador que surtou e virou catador de papel, em 2007 - história que compara ao seu "surto". Farah e Maria do Carmo começaram uma relação atribulada em 1996, com vários registros de boletins de ocorrência de ameaças.

Ele diz que não é “anjinho” e que tem culpa. Questionado se a punição é suficiente, Farah tenta desviar do assunto, dizendo que ainda está estudando e não poderia avaliar o caso. Além do curso de gerontologia, o ex-médico está no terceiro ano de direito na Unip (Universidade Paulista). Promete que, “se estiver vivo, um dia vai concluir os todos os cursos” - a rotina se divide entre as faculdades e as consultas médicas.

Questionado mais uma vez sobre a condenação, Farah não altera a voz suave, em ritmo pausado, e vai ao ponto com apenas uma frase.

– Perante Deus, já paguei os meus pecados.

Adventista, Farah não deixou de frequentar os cultos, onde tem amigos. O ex-cirurgião, que também diz seguir alguns dogmas judaicos, afirma não ver incoerência na mistura ecumênica. Apesar de ser apontado nas ruas como "aquele" Farah Jorge Farah, o ex-médico não se intimida e segue em frente com a nova vida. Nas faculdades, diz ter sido discriminado quando os colegas se davam conta de seu passado. Já foi abordado por pessoas indignadas no ônibus e no metrô, mas não deixa de usar o transporte público.

– Aqui as pessoas não abraçam, não beijam. Na cadeia, eu recebia até mais carinho do que aqui fora.



sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Fotógrafo norueguês clica homens que afirmam ser Cristo

Inri Cristo é só um deles...
Segundo a BBC Brasil:

Não é só brasileiro Inri Cristo: fotógrafo registra homens que acreditam ser Jesus

Em seu novo livro, 'O Último Testamento', o fotógrafo norueguês Jonas Bendiksen registra homens que alegam ser a reencarnação de Jesus Cristo.

Foram dois anos viajando pelo mundo acompanhando o cotidiano deles e de seus seguidores, incluindo o do brasileiro Inri Cristo.

"Meu objetivo não era apontar quais desses homens é o verdadeiro 'Messias', mas, na verdade, ouvir tudo o que eles diziam como a mais absoluta verdade", conta Bendiksen à BBC.

"Quis tentar mostrar como eles veem o mundo, quais são as implicações para nós, para a humanidade, se essa pessoa realmente for Jesus Cristo", acrescenta.

Bendiksen explica ter seguido “alguns critérios” para selecionar quem fotografaria.

"Teriam que ser pessoas que já tivessem se assumido publicamente como 'Messias' e cuja revelação se estendia por um longo período de tempo, talvez décadas", explica. "Elas também deveriam ter uma teologia como o próprio Jesus Cristo, ou seja, que já tivessem publicado escrituras", completa.

Para o fotógrafo, esses homens não são "doentes mentais, como os que você vê em hospícios...é algo diferente, mas não sei o quê", assinala.

Bendiksen também não acredita que os homens que acompanhou sejam “manipuladores”.

"Tive a impressão de que todos realmente acreditam que são a reencarnação de Jesus Cristo. Dos homens com quem me encontrei, acredito que eles querem o melhor para a humanidade", diz.

"Também acho que isso é um fardo para muitos deles, que eles só estão fazendo o que Deus lhes instruiu e o melhor para todos nós".

"Se você está fazendo isso para controlar as pessoas, então diria que há muito mais pessoas no mundo que fazem isso melhor do que eles", conclui.



terça-feira, 19 de setembro de 2017

Deputados evangélicos viram fiscais de tudo

Quadro "Não matarás", de José Zaragoza. Não se sabe se os deputados evangélicos o compreenderam...






Para desgraça do Brasil, infelizmente.

Bons tempos aqueles em que Marco Feliciano era "só" "fiscal de fiofó", né...

Bem que meu pai me dizia que o primeiro sinal da contaminação irreversível pelo vírus da política é a perda do senso de ridículo.

Logo, logo, queimarão livros e quadros em praça pública (e o mundo já viu este filme antes).

A matéria é do Congresso em Foco:

Deputados evangélicos inspecionam mostra sobre ditadura, e não encontram o que censurar

EDSON SARDINHA E JOELMA PEREIRA

Uma comitiva de deputados federais evangélicos fez uma “inspeção” no Museu Nacional Honestino Guimarães, em Brasília, para saber se havia conteúdo impróprio para crianças na exposição “Não matarás”, mostra coletiva que faz uma releitura da ditadura militar. Mas eles não encontraram nada para censurar.

O grupo, capitaneado pelo coordenador da Frente Parlamentar Evangélica, Takayama (PSC-PR), e pelo Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), decidiu visitar o museu depois de receber pelo WhatsApp “denúncia” de uma mãe que alegou ter ficado incomodada ao levar o filho menor de idade ao espaço cultural e se deparar com imagens de corpos nus. Depois de ver as obras e ouvir as explicações de um funcionário, os parlamentares concluíram que não havia qualquer motivo para contestar a exposição.

A inspeção dos parlamentares, feita nessa quarta-feira (13), ocorreu três dias após o banco Santander cancelar a exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, que abordava a diversidade sexual, para atender pedido do Movimento Brasil Livre (MBL), entre outros grupos. Eles acusaram os organizadores da mostra de incentivar a pedofilia, a zoofilia e a blasfêmia. O recuo, porém, gerou uma grande onda de indignação e protestos nas redes sociais contra o Santander e o MBL, acusados de censurar manifestações artísticas e culturais.

A visita dos deputados ao Museu Nacional, em Brasília, foi organizada por Takayama. Além dele e de Feliciano, também participaram os deputados Arolde de Oliveira (PSC-RJ), Lincoln Portela (PRB-MG), Marcos Soares (DEM-RJ) e Luciano Braga (PRB-BA).

Embora não tenham encontrado conteúdo impróprio, os parlamentares informaram ao Congresso em Foco, por meio de sua assessoria, que vão discutir a necessidade de apresentar um projeto lei fixando classificação etária indicativa para espaços que abriguem exposições artísticas.

Não censurarás

Para o diretor do Museu Nacional, o artista plástico Wagner Barja, o simples fato de uma comissão sair da Câmara para “inspecionar” um espaço cultural é preocupante. “No meu entender, um museu existe para as pessoas entrarem e saírem diferentes, pensando em alguma coisa, assim como num templo religioso, que tem o mesmo propósito. Os propósitos são distintos, mas temos em comum o objetivo de melhorar as pessoas. Museu tem linguagem subjetiva. A exposição tem caráter político, mas não acusamos ninguém, mostramos uma interpretação livre dos artistas de um tempo do país. Não trabalhamos com censura”, afirmou o artista plástico ao Congresso em Foco.

Barja diz que os deputados não seriam atendidos se pedissem o cancelamento da exposição ou tentassem censurá-la. “Nem por mim nem pela secretaria de Cultura do Distrito Federal, que é quem me respalda para fazer esse trabalho. É diferente de uma outra instituição financeira que tem dinheiro envolvido. Não é por descontentamento de um ou outro que se fecha uma exposição. O museu é um serviço público. A gente vive em uma democracia, pelo menos que eu saiba”, ressaltou.

O diretor do museu diz não acreditar que os parlamentares tivessem a intenção de censurar a exposição. “Eles também têm direito de ir ao museu e fazer avaliação crítica ou não de uma obra ou exposição. Agora, fechar ou censurar uma exposição não compete aos deputados.”

Referência metafórica

Segundo Barja, a exposição “Não matarás” estimula a reflexão sobre a ditadura militar e não faz menção a qualquer presidente ou outro personagem especificamente. “Há uma referência de forma metafórica a um período em que a censura predominou”, explicou.

A exposição reúne um conjunto das obras pintadas e doadas ao museu pelo publicitário José Zaragoza, espanhol radicado no Brasil que faleceu em 2013. Também foram incluídas peças de outros 45 artistas com releitura sobre a ditadura militar. “Uma frase que nos inspirou é do grande crítico de arte e pensador Mário Pedrosa: em tempos de crise, o bom é ficar do lado dos artistas”, disse Barja.

Queermuseu

A polêmica em torno da censura a exposições artísticas ganhou força no início da semana. Ao anunciar o cancelamento da “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, o Santander Cultural pediu desculpas àqueles que se sentiram ofendidos por alguma obra da mostra.

“Ouvimos as manifestações e entendemos que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo. Quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde seu propósito maior, que é elevar a condição humana”, destacou trecho da nota. A exposição só seria encerrada em 8 de outubro. O banco anunciou que vai devolver os R$ 800 mil captados por meio da Lei Roaunet, de incentivo à cultura.

“Rumo ao passado. E que vergonhosa a nota do Santander, querendo justificar, valendo-se de hipócrita retórica corporativa, o ato de censura que cometeu. Viva a diversidade!”, protestou no Facebook o crítico de arte Moacir Dos Anjos, ex-curador da Bienal de São Paulo. Na quarta-feira, duas pessoas foram detidas em frente ao Santander Cultural, na capital gaúcha, após confronto entre grupos defensores e contrários à exposição.



segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Novo fim do mundo está marcado para sábado, dia 23/9


Essa turnê do fim do mundo é o show bizarro que não termina nunca de circular, não é mesmo?

A data do apocalipse da vez foi divulgada no Estadão:

Numerólogo defende que 'fim do mundo' será daqui a uma semana

De acordo com David Meade, o mundo vai acabar no dia 23 de setembro, quando um planeta chamado Nibiru vai colidir com a Terra

Teorias sobre quando será o "fim do mundo" surgem o tempo todo – e um numerólogo britânico garante que esse fim está muito próximo. David Meade é autor do livro Planet X - The 2017 Arrival e acredita que o mundo vai acabar no dia 23 de setembro.

De acordo com sua teoria, um planeta chamado Nibiru, que ele também chama de Planeta X, vai colidir com a Terra em breve. Entretanto, a Nasa nega que esse planeta sequer exista.

Meade diz que passagens bíblicas reforçam sua teoria. Anteriormente, ele havia dito que a colisão entre a Terra e Nibiru seria em outubro, mas agora ele adiantou o "fim". O numerólogo ainda disse que o Grande Eclipse Americano que aconteceu no dia 21 de agosto, indicava a aproximação do Planeta X à Terra.

"O Grande Eclipse Americano do dia 21 de agosto é um grande, enorme prenúncio", disse o numerólogo ao The Daily Star, jornal da Inglaterra.

Ele conta que se baseia em trechos do 13º capítulo do livro de Isaías no Velho Testamento da Bíblia, que diz: "Vejam, o Dia do Senhor está vindo – um dia cruel, com ira e fúria – para tornar a Terra desolada e destruir os pecadores dentro dela. As estrelas do céu e suas constelações não vão se iluminar. O sol será escuro e a Lua não mostrará sua luz".

Além disso, Meade ainda fala que sua teoria tem como base uma série de coincidências com o número 33. "A lua vai ficar preta. Isso ocorre a cada 33 meses. Na Bíblia, o nome de Elohim [um dos nomes de Deus] aparece 33 vezes em Gênesis. O eclipse começou em Oregon, o 33º Estado", falou ele ao Daily Star.



domingo, 17 de setembro de 2017

Igreja da Suécia elege hoje pelo voto direto quem lhe comandará nos próximos 4 anos

Bispos eleitos nas eleições gerais de 2013 da Igreja da Suécia, de confissão luterana.

A matéria é da BBC Brasil:

Suécia terá eleições neste domingo para eleger a cúpula da Igreja

Claudia Wallin

Na democracia sueca, a Igreja também tem seu dia de eleições gerais: no próximo domingo, cidadãos suecos vão às urnas para escolher os representantes da cúpula da Igreja da Suécia (Svenska kyrkan), a instituição protestante de confissão luterana que é a maior organização religiosa do país.

A cada quatro anos, os cidadãos filiados à instituição elegem uma espécie de "Parlamento" da Igreja Sueca - que é composto tanto por representantes do clero como por leigos. E este Parlamento eclesiástico tem o poder de decidir não só questões mundanas, assim como a reforma das paróquias e o valor de doações a países pobres, como também assuntos de ordem teológica - a exemplo do casamento entre pessoas do mesmo sexo, aprovado pela Igreja Sueca em 2009.

"A Constituição sueca é clara: a Igreja deve ser democrática e aberta", diz à BBC Brasil a padre sueca Jenny Sjögren, chefe do Departamento de Teologia e Ecumenismo da Igreja Sueca.

"Pode-se dizer que a Igreja Sueca tem um sistema eleitoral único no mundo, no sentido de que todas as instâncias do poder decisório da instituição são eleitas de forma direta. Embora as igrejas protestantes de países como a Noruega realizem algum tipo de eleições, em geral os pleitos ocorrem apenas a nível paroquial. Já na Suécia, desde a virada do milênio o próprio Sínodo Geral, que pode ser definido como o Parlamento da Igreja Sueca, é eleito nas urnas", acrescenta Sjögren, que se tornou padre há 17 anos: desde 1958, a Igreja da Suécia aceita a ordenação feminina.

Para participar das eleições - seja como eleitor, ou como candidato -, o cidadão deve ser membro da Igreja Sueca. A idade mínima para votar é de 16 anos, e a partir de 18 anos é possível se candidatar ao pleito.

No total, cerca de 5,2 milhões de suecos têm direito a votar nas eleições do próximo domingo, neste país de pouco mais de 10 milhões de habitantes.

Também a eleição de bispos e arcebispos na Suécia costuma ser realizada com a participação popular: 50 por cento do eleitorado deve ser composto por leigos.

"Em várias partes do mundo protestante, as eleições de bispos e arcebispos se dão através do voto tanto de clérigos como de leigos. Isto se dá por razões históricas: ao contrário do que ocorre no Catolicismo, a participação de leigos nos processos decisórios representa um papel importante nas igrejas luteranas, e nas congregações protestantes em geral", diz Jenny Sjögren.

Em 2013, a Suécia elegeu elegeu pela primeira vez uma mulher como arcebispa - a até então bispa da cidade de Lund, Antje Jackelén.

Campanha Eleitoral

Na mídia sueca, a cobertura da campanha para as eleições gerais da Igreja segue, ainda que em menor dimensão, o figurino dos pleitos políticos. Nesta reta final da corrida eleitoral, candidatos leigos e religiosos duelam na TV e no rádio, jornais debatem as diferentes propostas, e os "partidos" - chamados de "grupos" - apresentam filmes de campanha publicitária. Nas ruas, cartazes e panfletos reforçam o clima de eleição.

"Todo o processo das eleições eclesiásticas é muito semelhante ao processo eleitoral para o Parlamento, assim como as regras democráticas que regem o funcionamento das assembléias eleitas pelos membros da Igreja", diz à BBC Brasil o membro da Igreja David Axelson Fisk, que participou do comitê organizador das primeiras eleições gerais, na virada do milênio.

"Até o ano 2000, a Igreja Sueca realizava apenas eleições a nível paroquial, como ocorre em outros países protestantes. Mas quando a separação entre Igreja e Estado entrou em vigor, naquele ano, entendeu-se que a forma mais democrática de gerir a instituição deveria ser através de eleições gerais e diretas para todas as instâncias do poder eclesiástico", observa David.

As eleições da Igreja Sueca são organizadas em três níveis, num único dia de votação: a nível local, os membros de cada uma das 2.225 paróquias do país elegem uma Assembléia da Paróquia (Kyrkofullmäktige). A nível regional, os eleitores das 13 dioceses escolhem a Assembléia da Diocese (Stiftsfullmäktige), com 81 representantes. E a nível nacional, é eleito o Sínodo Geral da Igreja da Suécia (Kyrkomötet) - a mais alta instância da instituição, composta por 251 integrantes.

A Arcebispa sueca é a representante da Igreja para eventos ecumênicos e conferências internacionais, mas a autoridade máxima de poder decisório da instituição é o Sínodo Geral. E pelas regras suecas, os bispos não fazem parte do Sínodo, embora devam estar presentes nas sessões do órgão.

"Os 13 bispos do país podem se pronunciar ou apresentar propostas nas sessões do Sínodo, mas não estão autorizados a votar", esclarece Ewa Almqvist, do departamento de Comunicação da Igreja sueca. Por outro lado, segundo Jenny Sjögren, os bispos detêm influência no poderoso Comitê Doutrinário do Sínodo.

Em sua composição atual, 187 dos 251 assentos do Sínodo Geral são ocupados por representantes leigos. Entre os 64 clérigos da assembléia, estão 61 padres e três diáconos. Os valores suecos da igualdade de gênero também se refletem na formação da assembléia nacional eleita no último pleito: são 124 mulheres e 127 homens, segundo dados fornecidos à BBC Brasil pela Igreja da Suécia.

Os representantes eleitos não ganham salário: recebem apenas compensação pelas horas que deixam de trabalhar em seus empregos regulares, a fim de exercer suas atividades do Sínodo. E em cumprimento às práticas suecas de transparência, as atividades e finanças da Igreja Sueca também são disponibilizadas para a fiscalização pública.

Críticas

Um dos principais temas do debate da campanha eleitoral deste ano foi o questionamento sobre a participação política nas eleições da Igreja. Embora as agremiações que concorrem ao voto não tenham a denominação de "partido", o fato é que três dos oito partidos políticos tradicionais do país disputam o pleito com suas próprias legendas, ao lado de grupos independentes - o Partido Social-Democrata, o Partido do Centro e o Democratas da Suécia, de extrema-direita.

"Há diferentes pontos de vista, e o tema é complexo", diz a padre sueca Jenny Sjögren.

"Um eleitor pouco familiarizado com as questões da Igreja, por exemplo, pode sentir-se mais seguro ao votar no candidato de um partido político com o qual ele tem afinidade. Este seria um lado positivo de se ter representantes de partidos políticos tradicionais na disputa. Por outro lado, muitos começam a questionar esse envolvimento político na Igreja. Mas cada vez mais, surgem novos grupos independentes que não possuem conexão com partidos. Portanto, este é um processo em evolução", ela ressalta.

Êxodo

Apesar do caro e complexo aparato democrático para a realização de eleções diretas nos três níveis decisórios da Igreja, o comparecimento às urnas tem sido relativamente baixo. Especialmente nestes novos tempos, em que a Igreja Sueca enfrenta uma perda considerável de seu rebanho.

Nas últimas eleições gerais da Igreja, em 2013, apenas 700 mil pessoas votaram. O índice de comparecimento às urnas não costuma ultrapassar 15% do eleitorado - em claro contraste com o percentual registrado nas eleições políticas para o Parlamento sueco, que costuma girar em torno de 86%.

O êxodo têm preocupado as autoridades eclesiásticas. Em 2016, mais de 90 mil pessoas deixaram de ser membros da Igreja - praticamente o dobro do índice registrado no ano anterior. Segundo pesquisa conduzida pelo instituto sueco Norstat, o principal argumento dos fiéis que decidiram abandonar a instituição é franco: eles não acreditam em Deus.

A Igreja da Suécia abandonou a Igreja Católica Romana no século XVI, quando aderiu à Reforma Protestante.

Na virada do milênio, quando a Suécia se tornou oficialmente um Estado laico, 82% dos suecos eram membros da Igreja Sueca - mais por tradição, segundo muitos comentam, do que por uma real afirmação de fé. Atualmente, segundo os números oficiais, a instituição possui 6,1 milhões de membros (cerca de 62% da população). Mas cada vez mais, a tradição religiosa perde força neste país de descrentes.

Até meados da década de 90, os filhos de membros da Igreja Sueca se tornavam automaticamente, ao nascer, também membros da instituição. Na era do Estado laico, a nova geração tende a desfazer esses tênues laços religiosos: hoje, pelos cálculos da agência central de estatísticas da Suécia (Statistiska centralbyrån), somente cinco por cento dos suecos costumam frequentar algum tipo de igreja.

Apenas 29% da população afirma ter alguma crença religiosa. E na hora de casar, um em cada três casais optam por uma cerimônia civil.



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