Agora que os ânimos estão mais serenados, está na hora de começar a fazer uma avaliação do comportamento do voto religioso no 2º turno das eleições presidenciais de 2010, em que o tema do aborto mobilizou muitas lideranças das mais diferentes denominações contra a candidatura Dilma Rousseff (PT) e a favor de José Serra (PSDB). Muitas conclusões serão tiradas ao longo das próximas semanas, mas é interessante começar pelos dados da última pesquisa do Datafolha, fechada em 30/10/10. Como, ao contrário do que aconteceu no 1º turno, as pesquisas do 2º anteciparam o que se confirmou nas urnas eletrônicas, as intenções de voto do Datafolha parecem ser confiáveis para se avaliar o comportamento final do voto religioso, que teria se manifestado da seguinte maneira entre as religiões:
1) Católicos - Dilma 53% x 40% Serra
2) Evangélicos Pentecostais - Dilma 47% x 44% Serra
3) Evangélicos Não-Pentecostais - Dilma 45% x 45% Serra
4) Espíritas kardecistas - Dilma 44% x 48% Serra
5) Sem religião - Dilma 53% x 37% Serra
Percebe-se, numa primeira análise, que houve uma distribuição equilibrada dos votos entre os diferentes grupos, o que leva a crer que toda a campanha religiosa teve um efeito pequeno no resultado final. Os católicos e os não-religiosos teriam sido mais dilmistas e os espíritas ligeiramente mais serristas, enquanto os evangélicos teriam se dividido ao meio, com pequena vantagem para Dilma entre os pentecostais.
É curioso verificar que a campanha enfática de muitos líderes, inclusive com o papa Bento XVI se manifestando a três dias da eleição, não foi suficiente para influenciar a decisão de seus seguidores. Em Cachoeira Paulista (SP), por exemplo, sede do movimento católico carismático Canção Nova, Dilma teve 50,25% dos votos contra 49,75% de Serra, um resultado bem diferente do Estado de São Paulo como um todo, em que o tucano teve 9 pontos percentuais a mais que a petista. Também em Guarulhos (SP), onde o bispo católico local, D. Luiz Gonzaga Bergonzini, fez uma intensa campanha contra Dilma, a candidata teve 49,05% dos votos.
Por seu lado, regiões de forte presença evangélica também não acompanharam o juízo político de seus líderes. Em Quinze de Novembro (RS), tida como a cidade proporcionalmente mais evangélica do país (cerca de 80% dos 3.600 habitantes), houve um quase empate (Serra 50,19% x 49,81% Dilma). Já Arabutã (SC), que tem a mesma proporção de evangélicos, deu a Dilma a vitória por 59,78% a 40,22%. Palmas (TO), que é a capital mais evangélica do Brasil (cerca de 1/4 da população) também preferiu Dilma (54,13%) a Serra (45,87%). A petista também teve enorme votação no Estado do Rio de Janeiro, de forte presença evangélica, onde ganhou por 60,48% a 39,52%. É bom lembrar que um dos maiores apoiadores de Serra no meio evangélico, Silas Malafaia, está sediado no Rio. Parece mesmo que o "profeta" não tem sucesso na sua própria terra, pois pior sorte teve o autointitulado "paipóstolo" Renê Terra Nova, que produziu exegeses bíblicas absurdas no afã de eleger Serra, e terminou vendo Dilma com cerca de 80% dos votos em Manaus e no Estado do Amazonas.
Obviamente, há uma série de fatores que terminam influenciando o voto, pelo que fica difícil particularizar qual deles é decisivo no momento da eleição. Circunstâncias regionais, pessoais, políticas, culturais, etc., se compõem (ou decompõem) conforme o cenário local. Espera-se que análises mais aprofundadas sejam promovidas a fim de entender este fenômeno, mas, ao que tudo indica, o fator religioso é apenas mais um ingrediente desse caldeirão de motivações que envolvem o eleitor, sem, entretanto, ter esta importância gigantesca que lhe foi atribuída na recente campanha política.
1) Católicos - Dilma 53% x 40% Serra
2) Evangélicos Pentecostais - Dilma 47% x 44% Serra
3) Evangélicos Não-Pentecostais - Dilma 45% x 45% Serra
4) Espíritas kardecistas - Dilma 44% x 48% Serra
5) Sem religião - Dilma 53% x 37% Serra
Percebe-se, numa primeira análise, que houve uma distribuição equilibrada dos votos entre os diferentes grupos, o que leva a crer que toda a campanha religiosa teve um efeito pequeno no resultado final. Os católicos e os não-religiosos teriam sido mais dilmistas e os espíritas ligeiramente mais serristas, enquanto os evangélicos teriam se dividido ao meio, com pequena vantagem para Dilma entre os pentecostais.
É curioso verificar que a campanha enfática de muitos líderes, inclusive com o papa Bento XVI se manifestando a três dias da eleição, não foi suficiente para influenciar a decisão de seus seguidores. Em Cachoeira Paulista (SP), por exemplo, sede do movimento católico carismático Canção Nova, Dilma teve 50,25% dos votos contra 49,75% de Serra, um resultado bem diferente do Estado de São Paulo como um todo, em que o tucano teve 9 pontos percentuais a mais que a petista. Também em Guarulhos (SP), onde o bispo católico local, D. Luiz Gonzaga Bergonzini, fez uma intensa campanha contra Dilma, a candidata teve 49,05% dos votos.
Por seu lado, regiões de forte presença evangélica também não acompanharam o juízo político de seus líderes. Em Quinze de Novembro (RS), tida como a cidade proporcionalmente mais evangélica do país (cerca de 80% dos 3.600 habitantes), houve um quase empate (Serra 50,19% x 49,81% Dilma). Já Arabutã (SC), que tem a mesma proporção de evangélicos, deu a Dilma a vitória por 59,78% a 40,22%. Palmas (TO), que é a capital mais evangélica do Brasil (cerca de 1/4 da população) também preferiu Dilma (54,13%) a Serra (45,87%). A petista também teve enorme votação no Estado do Rio de Janeiro, de forte presença evangélica, onde ganhou por 60,48% a 39,52%. É bom lembrar que um dos maiores apoiadores de Serra no meio evangélico, Silas Malafaia, está sediado no Rio. Parece mesmo que o "profeta" não tem sucesso na sua própria terra, pois pior sorte teve o autointitulado "paipóstolo" Renê Terra Nova, que produziu exegeses bíblicas absurdas no afã de eleger Serra, e terminou vendo Dilma com cerca de 80% dos votos em Manaus e no Estado do Amazonas.
Obviamente, há uma série de fatores que terminam influenciando o voto, pelo que fica difícil particularizar qual deles é decisivo no momento da eleição. Circunstâncias regionais, pessoais, políticas, culturais, etc., se compõem (ou decompõem) conforme o cenário local. Espera-se que análises mais aprofundadas sejam promovidas a fim de entender este fenômeno, mas, ao que tudo indica, o fator religioso é apenas mais um ingrediente desse caldeirão de motivações que envolvem o eleitor, sem, entretanto, ter esta importância gigantesca que lhe foi atribuída na recente campanha política.
Bem feito. Eu votei na Marina!
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