Em qualquer lugar do mundo, o turista é – por definição – um bobo.
Longe das suas obrigações e do seu cotidiano tedioso, destranca o bolso e se dispõe a aceitar tudo com a mais feliz – e indisfarçável - resignação.
Pacotes desorganizados, roteiros esdrúxulos, extravios de bagagem, passeios caríssimos, restaurantes medonhos, agentes desonestos ou incompetentes, paisagens deterioradas, hotéis decadentes, praias poluídas, souvenires ridículos e recuerdos inúteis, enfim, tudo se absorve com um sorriso constrangido, dentro do seu propósito maior que é não ter que admitir jamais que suas férias foram frustradas por qualquer razão, mesmo que para isso precise de doses cavalares de autoengano.
Em São Paulo, entretanto, o turista é um bobo arrogante e satisfeito só pelo fato de ser paulista, o que - na sua limitada visão - lhe faz crer que é uma criatura especial.
Alguns dias atrás, depois de três anos sem passar por lá, em razão da urgência, resolvi viajar pela rodovia Castello Branco em vez de pegar a Raposo Tavares, como costumeiramente tenho feito, economizando só em pedágios mais de R$ 70,00 em cada ida-e-volta, como já tive oportunidade de demonstrar em outro texto deste blog.
Três anos sem passar pela Castello Branco fazem com que a gente veja tudo com outros olhos.
De fato, a viagem é rápida e segura, mas o preço que se paga por isso é abusivo. Não só de pedágio, diga-se de passagem, mas também pelo combustível e pelos serviços que são fornecidos ao longo da via.
Nada justifica que se paguem valores tão exorbitantes por um litro de gasolina, uma coca-cola ou um misto quente, mas sempre haverá turistas paulistas dispostos a desembolsar o quanto for para tornar a sua viagem pretensamente mais agradável, ainda que muito mais cara.
Afinal, ele imagina que não tem outra opção, como as rodovias paralelas mais baratas, e a conveniência momentânea, ainda que cara, se torna irrecusável.
De certa forma, essa viagem espelha a situação política por que passa o Estado de São Paulo há dezesseis anos.
Com o próximo mandato garantido, o PSDB governará o Estado por vinte anos seguidos, sem que nenhum índice de desenvolvimento ou melhora dos serviços públicos justifique tamanha satisfação popular.
O eleitor paulista é uma espécie de passageiro em viagem turística pelo próprio Estado. Tudo está bom, tudo está maravilhoso, mesmo que esteja pagando muito caro por isso.
Independentemente da capacidade gerencial de um governo, a perpetuação de um partido no poder sinaliza que tudo está bem e nada precisa ser melhorado.
No monolítico sistema de partido único que evita a alternância administrativa no Estado, os eleitores paulistas são os turistas e o PSDB é o agente de viagem que distribui aqueles lindos folhetos turísticos com imagens paradisíacas, folhetos esses que são muito bem representados pelos órgãos da imprensa paulista, que vê (quando vê) o Estado pelas lentes cor-de-rosa dos discursos oficiais, omitindo as letras miúdas que ocultam o preço abusivo do custo de vida aqui.
Há um silêncio obsequioso e mórbido na imprensa de São Paulo, concentrada que está nos problemas nacionais e mundiais, talvez por (querer e fazer) acreditar que todos os problemas do Estado já foram resolvidos, o paraíso é aqui, e a inércia coletiva propulsiona a locomotiva paulista no imenso vácuo de ideias (e principalmente críticas e investigações) que envolve a todos.
Neste roteiro de convicções pré-fabricadas, cobranças inexistentes e dissensos calados, soa estranho alguém destoar dizendo que a viagem não vale a pena e a relação custo/benefício está viciada e merece - no mínimo - ser melhor analisada.
Os paulistas parecem padecer de uma estranha forma de síndrome de Estocolmo, aquela anomalia em que os reféns se ligam visceralmente a seus sequestradores.
É óbvio que o PSDB tem suas qualidades e não sequestrou ninguém, mas o eleitorado paulista, voluntariamente e a perder de vista, entregou seu coração, seu destino e um cheque em branco aos tucanos.
É sempre possível uma administração melhor e uma outra maneira de fazer política no Estado de São Paulo, mas sequer novas lideranças surgem, pois o passeio já foi estabelecido e os guias são os mesmos de décadas atrás.
O voto, para eles, é mera formalidade, um voucher perpétuo que se renova automaticamente a cada quatro anos.
Afinal, aproveitando a péssima rima, o eleitor paulista é mesmo um turista.
Longe das suas obrigações e do seu cotidiano tedioso, destranca o bolso e se dispõe a aceitar tudo com a mais feliz – e indisfarçável - resignação.
Pacotes desorganizados, roteiros esdrúxulos, extravios de bagagem, passeios caríssimos, restaurantes medonhos, agentes desonestos ou incompetentes, paisagens deterioradas, hotéis decadentes, praias poluídas, souvenires ridículos e recuerdos inúteis, enfim, tudo se absorve com um sorriso constrangido, dentro do seu propósito maior que é não ter que admitir jamais que suas férias foram frustradas por qualquer razão, mesmo que para isso precise de doses cavalares de autoengano.
Em São Paulo, entretanto, o turista é um bobo arrogante e satisfeito só pelo fato de ser paulista, o que - na sua limitada visão - lhe faz crer que é uma criatura especial.
Alguns dias atrás, depois de três anos sem passar por lá, em razão da urgência, resolvi viajar pela rodovia Castello Branco em vez de pegar a Raposo Tavares, como costumeiramente tenho feito, economizando só em pedágios mais de R$ 70,00 em cada ida-e-volta, como já tive oportunidade de demonstrar em outro texto deste blog.
Três anos sem passar pela Castello Branco fazem com que a gente veja tudo com outros olhos.
De fato, a viagem é rápida e segura, mas o preço que se paga por isso é abusivo. Não só de pedágio, diga-se de passagem, mas também pelo combustível e pelos serviços que são fornecidos ao longo da via.
Nada justifica que se paguem valores tão exorbitantes por um litro de gasolina, uma coca-cola ou um misto quente, mas sempre haverá turistas paulistas dispostos a desembolsar o quanto for para tornar a sua viagem pretensamente mais agradável, ainda que muito mais cara.
Afinal, ele imagina que não tem outra opção, como as rodovias paralelas mais baratas, e a conveniência momentânea, ainda que cara, se torna irrecusável.
De certa forma, essa viagem espelha a situação política por que passa o Estado de São Paulo há dezesseis anos.
Com o próximo mandato garantido, o PSDB governará o Estado por vinte anos seguidos, sem que nenhum índice de desenvolvimento ou melhora dos serviços públicos justifique tamanha satisfação popular.
O eleitor paulista é uma espécie de passageiro em viagem turística pelo próprio Estado. Tudo está bom, tudo está maravilhoso, mesmo que esteja pagando muito caro por isso.
Independentemente da capacidade gerencial de um governo, a perpetuação de um partido no poder sinaliza que tudo está bem e nada precisa ser melhorado.
No monolítico sistema de partido único que evita a alternância administrativa no Estado, os eleitores paulistas são os turistas e o PSDB é o agente de viagem que distribui aqueles lindos folhetos turísticos com imagens paradisíacas, folhetos esses que são muito bem representados pelos órgãos da imprensa paulista, que vê (quando vê) o Estado pelas lentes cor-de-rosa dos discursos oficiais, omitindo as letras miúdas que ocultam o preço abusivo do custo de vida aqui.
Há um silêncio obsequioso e mórbido na imprensa de São Paulo, concentrada que está nos problemas nacionais e mundiais, talvez por (querer e fazer) acreditar que todos os problemas do Estado já foram resolvidos, o paraíso é aqui, e a inércia coletiva propulsiona a locomotiva paulista no imenso vácuo de ideias (e principalmente críticas e investigações) que envolve a todos.
Neste roteiro de convicções pré-fabricadas, cobranças inexistentes e dissensos calados, soa estranho alguém destoar dizendo que a viagem não vale a pena e a relação custo/benefício está viciada e merece - no mínimo - ser melhor analisada.
Os paulistas parecem padecer de uma estranha forma de síndrome de Estocolmo, aquela anomalia em que os reféns se ligam visceralmente a seus sequestradores.
É óbvio que o PSDB tem suas qualidades e não sequestrou ninguém, mas o eleitorado paulista, voluntariamente e a perder de vista, entregou seu coração, seu destino e um cheque em branco aos tucanos.
É sempre possível uma administração melhor e uma outra maneira de fazer política no Estado de São Paulo, mas sequer novas lideranças surgem, pois o passeio já foi estabelecido e os guias são os mesmos de décadas atrás.
O voto, para eles, é mera formalidade, um voucher perpétuo que se renova automaticamente a cada quatro anos.
Afinal, aproveitando a péssima rima, o eleitor paulista é mesmo um turista.