quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Papai Noel não pode mais pegar criança no colo em SP

OK, todo cuidado com pedofilia é pouco, mas exageros podem ser evitados com boa informação e vigilância adequada, né não?

Ainda mais quando se pode preservar - com os cuidados cabíveis - essa coisa tão inocente que é a fantasia infantil. A notícia é do Estadão:

Papai Noel de shoppings evita dar colo a crianças

Tradição de mais de 40 anos nos centros de compras passa por mudanças; barba natural, por exemplo, tornou-se pré-requisito

EDISON VEIGA

O "ho ho ho" grave e o jeito bonachão permanecem os mesmos. Mas dos anos 1970 - quando a presença de Papai Noel começou a ser comum nos shoppings de São Paulo - para os dias de hoje, muito mudou na maneira de ser e de agir do personagem. Um exemplo bastante atual - e característico - é que em alguns endereços paulistanos, como o Shopping Cidade Jardim, crianças já não são bem-vindas no colo do bom velhinho.

"É apenas um cuidado de abordagem", minimiza a superintendente do shopping, Renata Fava. A assessoria de comunicação, entretanto, confirma que a direção preferiu ter um assento ao lado do trono para a criança. No Frei Caneca, a situação é parecida. "A orientação é para que o Papai Noel procure colocar a criança ao lado, em vez de pegar no colo", comenta a gerente de marketing, Andreia Perini. "É claro que ele não pode frustrar uma criança que chega já se jogando no colo, mas pedimos para fazer de tudo para evitar."

A mesma orientação é seguida pelo Anália Franco. "Instalamos um trono mais largo, com lugar para que a criança se sente ao lado do Papai Noel", explica a gerente de marketing, Fabíola Soares. "Não se trata de proibição ou de regra rígida. Deixamos a decisão final, sobre sentar no colo ou não, a critério da família."

Papais Noéis ouvidos pelo Estado foram unânimes em criticar a medida. "Imagine só a frustração da criança, que espera o ano inteiro para correr para o colo ganhar um abraço do Papai Noel...", diz um deles que, com receio de perder contratos futuros, pediu para não ter seu nome revelado. "É preciso jogo de cintura, mas não pode haver esse tipo de restrição", comenta José Sakatauskas, de 64 anos, que foi Papai Noel por 16 e atualmente está afastado da função.

Considerado o Papai Noel brasileiro mais antigo em atividade - são 45 anos de profissão -, Silvio Ribeiro, de 63, explica que essa preocupação surgiu depois que um shopping americano foi processado por um pai que fotografou o bom velhinho com a mão sobre a perna de sua filha. "Mas essa 'proibição' de alguns shoppings é algo meio irreal", pondera. "A criança quer se sentar no colo do Papai Noel. O relacionamento da criança com o Papai Noel é uma coisa bonita, lúdica. Ela se sente confortável no colo do Papai Noel."

Especialistas também tendem a ver esse excesso de zelo como uma postura neurótica. "Não vejo nenhum mal no fato de o Papai Noel botar uma criança no colo", diz o psicólogo Carlos Eduardo Carvalho Freire, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Por outro lado, ele diz que não acredita que essa proibição possa atrapalhar o lugar do bom velhinho no imaginário da criança. "Vejo um problema no fato de que hoje vivemos em uma sociedade que visa ao controle total de tudo. O que é impossível e evidencia nosso medo dos riscos inerentes ao existir."

Transformações. Mas essa não é a única mudança em curso. Atualmente, a atividade dos cerca de 400 Papais Noéis que atuam na cidade é muito mais profissional - e cara. "Quando eu fui Papai Noel do Shopping Iguatemi pela primeira vez, em 1975, ganhava o equivalente hoje a R$ 2 mil", calcula Silvio Ribeiro. Hoje, um Papai Noel de barba natural fatura de R$ 5 mil a R$ 7 mil por temporada - de um mês a 45 dias de trabalho. "Muitos jogam lá em cima. Já ouvi dizerem que ganham R$ 25 mil. Mas é lenda", comenta Ribeiro.

A barba natural também virou item obrigatório - até 10 anos atrás, era uma exceção bem-vinda. "Hoje, é pré-requisito. Os shoppings exigem", diz Ribeiro - e todos os dez centros de compras ouvidos pelo Estado afirmaram fazer questão dessa característica. "Acho uma bobagem. Não é a barba que faz o Papai Noel", defende o Papai Noel mais antigo do Brasil.

Também há a questão dos presentes. Antigamente, menino pedia carrinho, caminhão. Menina ia de boneca. "As crianças mudaram e chegam com aspirações tecnológicas. Nosso Papai Noel não sabia o que eram essas coisas e decidiu se atualizar: visitou lojas para entender todos os gadgets e agora consegue falar a mesma língua das crianças", relata Daniela Fae Vallejo, gerente-geral do Shopping Market Place.



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