Para os adeptos da assim chamada "adoração extravagante", fenômeno que andava meio esquecido pelo nome, mas continua em alta em muitas igrejas evangélicas brasileiras (além dos católicos carismáticos), uma declaração do papa Francisco deve tê-los reconfortado.
Na sua homilia durante a missa matinal realizada ontem, 27 de janeiro de 2014, na Casa de Santa Marta, no Vaticano, ao comentar o texto bíblico em que Davi vai dançando à frente da Arca da Aliança (2ª Samuel 6:13-16), não por acaso o preferido por aqueles que pregam que "vale qualquer coisa" para louvar a Deus, o papa Francisco disse que "Davi dançava com todas as forças diante do Senhor".
Acrescentou que que essa imagem alegre da Bíblia mostra que todo o povo estava em festa porque a Arca regressava à sua casa.
O louvor de Davi, segundo o papa, "o levou a deixar toda compostura de lado e a dançar diante do Senhor com todas as forças", concluindo que esta "era precisamente a oração de louvor".
Então, o pontífice recordou a história de Sara, que - numa tradução católica um tanto quanto liberal de Gênesis 21:6 ("Deus me tem feito riso") - teria "dançado de alegria diante do Senhor".
Com essa imagem recorrente em mente, o papa observou que "a nós é fácil entender a oração para pedir alguma coisa ao Senhor, e também para agradecer ao Senhor, mas devemos também entender a oração de louvor, de adoração, o que não é tão difícil". E -imaginando um diálogo fictício com um fiel tradicionalista reticente - acrescentou:
"Mas, padre, isso é para aqueles da Renovação Carismática, não para todos os cristãos!". Não, a oração de louvor é uma oração cristã para todos nós. Na missa, todos os dias, quando cantamos o Santo... esta é uma oração de louvor: louvamos a Deus por sua grandeza, porque é grande! E lhE dizemos coisas bonitas, porque gostamos que seja assim. "Mas, padre, eu não sou capaz... eu devo...". Mas você é capaz de gritar quando teu time de futebol faz um gol e não é capaz de cantar os louvores ao Senhor? É difícil sair um pouco de sua contenção para cantar isto? Louvar a Deus é totalmente gratuito. Não pedimos, não agradecemos: louvamos!
Entretanto, no nosso modesto ponto de vista, a comparação da oração, ou da adoração, com o comportamento de uma torcida de futebol, ainda que faça certo sentido no raciocínio peculiar e inconcluso do papa, é perigosa quando percebemos que muitos fiéis das mais diferentes denominações têm um comportamento de torcida organizada quando se trata de defender sua placa de igreja ou seu líder, conforme já comentamos aqui em dezembro de 2009, no artigo "Torcedores brahmeiros e igrejeiros".
Comparações como essas, jogadas ao léu, podem até ser ferramentas de embelezamento e popularização de um discurso (para não dizer que são sofismas), mas dificilmente resistem a um melhor escrutínio e tampouco apontam para o céu.
Agora o que vai ter de gente pegando carona na adoração extravagante futebolística do papa não é brincadeira! Seguuuuuuura, peão!
A fonte das informações acima é o Religión Digital.