segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Amor de madrasta: a carta de despedida de D. Amélia ao enteado D. Pedro II

Feriadão, 7 de setembro, data tão querida, Dia da Independência do Brasil, ocasião oportuna para relembrar um episódio histórico pouco conhecido, em que o destaque é o amor de uma madrasta por seu enteado, no caso, aquele que seria Imperador do Brasil, conhecido como D. Pedro II.

Alguns dados biográficos são necessários para localizar o leitor na História, entretanto. Vamos lá!

D. Pedro II nasceu em 2 de dezembro de 1825, três anos após a proclamação da Independência do Brasil. 

Sua mãe era a austríaca Imperatriz Leopoldina, primeira esposa de D. Pedro I, figura emblemática e decisiva no rompimento dos laços com Portugal, que viria a falecer em 11 de dezembro de 1826, quando o herdeiro do trono acabara de completar seu primeiro ano de vida.

D. Pedro I se casou novamente em 1829 com D. Amélia de Leuchtenberg, princesa nascida em Milão, na Itália, mas descendente da nobreza franco-germânica da Casa dos Beauharnais.

Como segunda Imperatriz do Brasil, D. Amélia se desdobrou no cuidado dos enteados, filhos de Leopoldina, até que em 7 de abril de 1831, por ocasião da abdicação de D. Pedro I ao trono do Brasil em favor de seu filho, então com 5 anos de idade, ela acompanhou o marido em seu retorno imediato para a Europa.

D. Pedro II ficou sob os cuidados de seu tutor, José Bonifácio, e continuaria se correspondendo afetuosamente com a madrasta D. Amélia até a morte dela em 26 de janeiro de 1873.

É nesse contexto histórico que D. Amélia deixou essa belíssima carta escrita às pressas que vai transcrita abaixo, segundo a matéria do blog História Hoje:


Uma doce madrasta: a carta de despedida de D. Amélia ao enteado e futuro imperador D. Pedro II


Mais uma preciosidade do Correios Instituto Moreira Salles (IMS), a carta de despedida de Amélia Leuchtenberg ao seu querido enteado e futuro imperador do Brasil. No final, o link para ouvir um vídeo em que a atriz Julia Lemmertz faz uma leitura da emocionante missiva.




Uma coroa, um trono e um berço!

De Amélia de Leuchtenberg Para: D. Pedro II

Em 1831, em meio a forte crise política, dom Pedro I abdicou em favor de Pedro de Alcântara, então com seis anos de idade, filho de seu primeiro casamento com dona Leopoldina. Foi obrigado a deixar o Brasil com a segunda mulher, dona Amélia de Leuchtenberg, e, na madrugada de 7 de abril daquele ano, noite da partida, ela, que estava com 19 anos e amava os enteados, deixou esta carta ao menino e futuro imperador dom Pedro II.




Rio de Janeiro, [abril de 1831]

Meu filho do coração e meu imperador,

Adeus, menino querido, delícias de minha alma, alegria de meus olhos, filho que meu coração tinha adotado. Adeus para sempre.

Quanto és formoso nesse teu repouso! Meus olhos choro­sos não se puderam furtar de te contemplar! A majestade de uma coroa, a debilidade da infância, a inocência dos anjos cingem tua fronte de um resplendor misterioso que fascina.

És o espetáculo mais tocante que a terra pode oferecer! Quanta grandeza e quanta fraqueza a humanidade encerra, representadas por ti, criança idolatrada: uma coroa, um trono e um berço!

A púrpura ainda não serve senão para estofo, e tu, que comandas exércitos e reges um Império, ainda careces de todos os desvelos e carinhos de mãe.

Ah! querido menino, se eu fosse tua verdadeira mãe, se meu ventre te tivesse concebido, nenhuma força te arran­caria dos meus braços!

Mas tu, anjo de inocência e de formosura, não me perten­ces senão pelo amor que dediquei a teu augusto pai. Ape­nas sou tua madrasta, embora te queira como se fosses o sangue do meu sangue. Um dever sagrado me obriga a acompanhar o ex-imperador no seu exílio, através os mares, em terras estranhas… Adeus, pois, para sempre! Mães brasileiras, vós que sois meigas e carinhosas para com vossos filhinhos, supri minhas vezes: adotai o órfão coroado, dai-lhe, todas vós, um lugar na vossa família e no vosso coração.

Mães brasileiras, eu vos confio este preciosíssimo penhor da felicidade de vosso país e de vosso povo: ei-lo tão belo e puro como o primogênito de Eva no Paraíso. Eu vo-lo entrego: agora sinto minhas lágrimas correrem com menor amargura.

Dorme criança querida, enquanto nós, teu pai e tua mãe de adoção, partimos para o exílio, sem esperança de nunca mais te vermos… senão em sonhos.

Brasileiros! Eu vos conjuro que o não acordeis antes que me retire.

Adeus, órfão-imperador, vítima de tua grandeza antes que a saibas conhecer. Adeus…




Carlos Sarthou. Relíquias da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica Editora, 1961, pp. 111-112.

Você pode ouvir a leitura da carta feita por Julia Lemmertz no vídeo abaixo:




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