terça-feira, 13 de setembro de 2016

Circo da cassação de Cunha expõe idiossincrasia evangélica na política brasileira

Clarissa Garotinho e Eduardo Cunha,
"amor cristão" explícito...
Quem teve o desprazer de acompanhar a votação da cassação do deputado evangélico Eduardo Cunha (PMDB/RJ) ontem à noite na Câmara dos Deputados em Brasília (DF), se deparou com o pior que a política (e suas benesses) pode fazer a quem se identifica como cristão para se eleger, mas não age como tal.

A ruína de Cunha foi uma pantomima grotesca, um teatro de mímicas e gestos ridículos, discursos e posturas que destroçaram publicamente a ideia de "bancada evangélica" que age em bloco contra as vicissitudes do mal que insistem em atacar nosso impoluto país.

O discurso da deputada (também evangélica) Clarissa Garotinho (PR/RJ), chamando Cunha de "fariseu", "psicopata" e "mafioso" (vídeo abaixo), enquanto citava o versículo de 1ª Timóteo 6:10, "o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males", foi a cereja no bolo do circo gospel de horrores que é a atuação de alguns parlamentares evangélicos no Congresso Nacional.

Ainda que se refira mais a uma disputa regional, o show de golpes abaixo da cintura entre os dois deputados fluminenses mostrou o quanto é volátil o apoio evangélico a este ou aquele candidato dependendo da temporada eleitoral e - claro - dos interesses em jogo.

Para quem não se recorda nem associa a vestimenta ao santo, Clarissa Garotinho é filha de Anthony Garotinho, que foi o candidato a presidente da República apoiado pelos evangélicos em 2002, quando concorria pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro), e houve até "profetadas" de gente gospel importante dizendo que - finalmente - o Brasil teria um líder evangélico no seu cargo máximo de poder, ô glória!

Sim, é isto mesmo que você leu, prezado ideólogo evangélico, já houve época neste país, não muito tempo atrás, em que seres do seu naipe gospel tinham orgasmos múltiplos ao utilizar a palavra "evangélico" e "socialista" na mesma frase.

Caixas de correio eletrônico ficaram entupidas de e-mails (sim, a gente já usou isso!) que circulavam a mancheias no início do terceiro milênio, prometendo o paraíso na Terra a quem votasse em Anthony Garotinho, o messias "gospolítico" da época.

Como você já sabe, isto não aconteceu, mas convivemos até hoje com esse espetáculo rotineiro de caras lavadas e cabelos lambidos de gente que não conta até três para usar o nome de Deus em vão.

Que ninguém acuse os fluminenses e cariocas de votarem mal, afinal todos eles de todos os rincões do país estão lá em Brasília graças aos erros, deseducação, preconceitos e desinteresse geral da nação.

Não houve jeito ontem no Distrito Federal e o ocaso de Cunha foi sacramentado por 450 deputados, além de abstenções e ausências majoritariamente do suposto partido evangélico intitulado PSC - Partido Social Cristão, cujo recém-convertido e filiado Jair Bolsonaro, quem diria, votou pelo defenestramento do hoje ex-deputado.

Ah... apesar de todas as evidências contrárias, além dos epítetos nada simpáticos que sua "irmã" Clarissa Garotinho atribuiu a Eduardo Cunha, o saltitante deputado gospel Marco Feliciano foi um dos dez beatos que votaram contra a sua cassação.

Tudo joio do mesmo saco...

Resta saber se Cunha irá sozinho para o limbo.




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